maio 14, 2012

............ DANIELA PACHECO entrevista ANTONIO NAHUD


JORNAL DE HOJE
(Natal, Rio Grande do Norte)
14 de Maio de 2012

O JORNAL DE HOJE - Antonio, como surgiu a ideia de produzir esse livro?

Em 2010, a Edittus, editora da Universidade de Santa Cruz (Uesc), no sul da Bahia, convidou-me para publicar algo em prosa. O prazo para entregar o material era curto, mas eu tentei não perder a oportunidade recolhendo contos meus publicados ao longo dos anos em cadernos literários, antologias e blogues, além de compilar inéditos e escrever um ou outro conto especialmente para o livro. Surpreso, notei que havia uma harmonia, um fio condutor nessas narrativas curtas. Mas a editora rejeitou o coquetel sexual, cruel e muitas vezes desiludido, pedindo algo dentro de suas normais editoriais acadêmicas. Recusei-me a suavizá-lo, passando os últimos três anos trabalhando nos originais, muitas vezes intensificando ainda mais a violência interior dos personagens.  Este ano, outra editora, desta vez do Ceará, propôs editá-lo, mas a situação se repetiu e eu resolvi assumir o risco e publicá-lo por conta própria. Algo que não acontecia desde o meu livro de estreia, “O Aprendiz do Amor”, de 1993.

O JORNAL DE HOJE - Quanto tempo você precisou para selecionar os textos que entrou neste livro? E, o que norteou as escolhas?

Não houve uma seleção propriamente dita. Antes deste livro, havia publicado apenas um livro de contos, em Portugal, “Retratos em Preto & Branco – Contos Góticos de Madrid”. Todos os outros contos estavam guardados no baú à espera de atenção. Juntei-os, num total de 64, e felizmente se casaram na irreverência emocional.

O JORNAL DE HOJE - Fale um pouco sobre esse livro?

A minha escrita procura a intuição e o intimismo, o misterioso e o ritmo cinematográfico. Destaca as obsessões humanas, os sentimentos exacerbados e a interferência do invisível. “Pequenas Histórias do Delírio Peculiar Humano” ajuda a compor o retrato, bastante nítido, de minha trajetória literária. São contos minimalistas, viscerais e até cruéis, em torno dos sentimentos mais difíceis, mas também mais definidores do homem urbano da atualidade. Um livro sem concessões num emaranhado de imagens chocantes e neo-realistas.

O JORNAL DE HOJE - Quando você fala que "os contos são minimalistas, viscerais e até cruéis" o que pretendente expressar com isso? Exemplifique.

Eles foram escritos sem amarras, como uma catarse. Não há pudor ou moralismo. Falo de solidão, esquizofrenia, ações inconsequentes, paixão, abandono, densidade etc. Tudo em poucas palavras; muitas vezes determinados contos nem completam uma única página do livro. Procuro mostrar a banalização das histórias cotidianas de todos nós. Sei que isso já foi contado e recontado, de Tchekhov a Rubem Fonseca, mas é sempre atraente descrever mais uma vez um mundo sem descanso, sem afeto e sem perdão. Trabalho com a surpresa, a estranheza e o macabro, fugindo do naturalismo regionalista ou da linguagem tosca da televisão e da web. Acredito na ficção como forma de investigar a natureza humana, não como entretenimento fácil. Os meus personagens obedecem a algum chamado, enfrentando ou sucumbindo aos seus demônios, entregando-se às próprias obsessões, entre o mítico e o real. Essas “pequenas histórias” reveladas neste livro podem ser uma odisseia perturbadora se vivenciadas. E todos nós temos nossas “pequenas histórias”.

francis bacon
O JORNAL DE HOJE - Em geral, o que lhe inspira?

Sou observador.  Presto atenção nas atitudes das pessoas, captando suas reações, ouvindo discretamente histórias contadas publicamente. É um exercício existencial fabuloso, minha literatura necessita disso. Desde moleque sou assim: um voyer de doidos, operários, domésticas, grã-finos, religiosos etc. Por fim, anoto os tópicos do cotidiano em um bloco, seja uma frase, o resumo de um caso cabuloso ou de reação despropositada. Eles se tornam o embrião de futuros contos. Muitas vezes, seduzido por rostos desconhecidos, invento na hora a história supostamente real deles. Por exemplo, filtrando um rosto masculino em um ônibus, imagino: Este trintão entediado chegará em casa e abrirá uma latinha de cerveja, jogando a camisa e os sapatos num canto, ligando a tevê no volume mais alto e nem mesmo dando boa noite para a esposa que está fazendo as unhas”. Meus contos surgem exatamente assim. Junto fatos cotidianos com experiências pessoais e referências artísticas.

O JORNAL DE HOJE - Conte pra gente como é o dia-dia de um escritor como você?

Sou um escritor brasileiro, nordestino, “rebolando” para sobreviver dignamente. Aprendi a aproveitar os dias ao máximo.  Pelas manhãs, atuo como assessor de comunicação do professor Diogenes da Cunha Lima. Na parte da tarde, cuido de projetos culturais de encomenda, pontuais. Quando a noite cai, escrevo crônicas para jornais e revistas de outros estados, alimento dois blogues, leio, vejo filmes, escrevo e respondo e-mails, rabisco projetos. Quase não tenho vida social. Deixei de ver televisão porque roubava o meu tempo. Como um dia me disse a poeta Hilda Hilst, e eu duvidei, “há um momento na vida que é preciso escolher: a literatura ou a vida”. Ela estava certíssima. Talvez por isso bons escritores deixem de escrever ao longo do caminhoMas não é nada fácil. Exige, acima de tudo, paixão, obstinação, perseverança e muita energia. E eu amo todas as atividades profissionais que pagam meus vícios e virtudes. Sou humildemente grato por sobreviver da escrita em seus diversos aspectos.

O JORNAL DE HOJE - Uma das suas grandes paixões é o cinema. Em algum dos contos deste livro você abordou esse tema?

O cinema faz parte de minha literatura. Eles se misturam. Algumas vezes no ritmo, outras vezes em citações. Este livro está impregnado do universo sombrio e bizarro do diretor canadense David Cronenberg. Mas não só o cinema, a literatura de outros escritores e a pintura também estão presentes nestes contos. Tem muito de Edgar Allan Poe, de Dalton Trevisan, de Lúcio Cardoso, do pintor irlandês Francis Bacon. Não é à toa que a exposição fotográfica “A Face Oculta”, do mineiro Morvan França, que fará parte do lançamento do livro, traduz em imagens esse mix de referências artísticas e humanas.

O JORNAL DE HOJE - Então, fale para gente alguns dos temas que abrilhantam este livro?

Todos nós somos criaturas frágeis. Portanto, a essência deste livro é a fragilidade humana. Mas cabe quase tudo na complexa rede de relações sociais que retrato: o policial, o fantástico, o terror, o intimismo, o erótico ou o melodrama. 

O JORNAL DE HOJE - O que o leitor pode esperar desta viagem literária?

Pretendo despertar uma reação emocional no leitor, mais do que intelectual. Quero incomodá-lo, cutucar o seu íntimo. Sendo assim, ofereço uma espécie de síntese da liberdade interior. Um terreno turvo, uma mistura explosiva de delicadeza e desassossego. Resumindo: as dificuldades impostas por um mundo de identidades partidas, ou melhor, dominadas pela insuficiência de qualquer identidade.

francis bacon
O JORNAL DE HOJE - Fale um pouco sobre a sua trajetória literária?
Escrever é excitante, uma viagem! O que procuro nesta viagem? Consolação, justificação, alegrias, inocência, amor à vida. Assim tem sido minha vida literária. Filho de um advogado intelectual, li Dostoievski e Flaubert por volta dos 13 anos. Depois do curso de comunicação, parti para São Paulo, vivenciando intimidades com Hilda Hilst, Caio Fernando Abreu e Lygia Fagundes Telles. Apaixonado pelos escritores viajantes, mudei-me para a Europa e por lá fiquei doze anos. Toda essa experiência diversificada e rica alimenta minha trajetória literária.

O JORNAL DE HOJE - E quais são seus próximos projetos?

Vivo o presente. Nele, planejo para breve uma antologia em livro com os melhores textos do meu blog cinéfilo “O Falcão Maltês”. Penso também na possibilidade de editar um caderno cultural, publicar um romance e interpretar publicamente poemas. E como já não sou nenhum menino, sonho em ir morar no litoral potiguar, montando um jornal quinzenal e uma pequena editora. Já não me identifico com grandes cidades. A vida provinciana, por incrível que pareça, seduz-me. A vida é cheia de surpresas. Veremos o que o futuro me reserva. 


26 comentários:

Regina Braz disse...

Parabéns por mais uma cria....bjs!!!!

Vanuzia Nogueira disse...

parabéns menino de ouro lindo artigo..

Ladynha Macedo disse...

Uau! Parabéns...

DANIELA GALDINO disse...

parabéns!

Shirlei Santos disse...

Parabéns!!

Geraldo Novais disse...

Precisamos de Mais Poesias, Mais Contos, Mais Letras. Parabéns Nahud Júnior e Sucesso.

Joel Filho disse...

Valeu, grande Júnior !...Tô gostando de ver. Você vai longe, mesmo. Tem talento pra isso. Afetuoso abraço deste amigo aqui, sempre à disposição. Joel Filho

Graça Bittar disse...

Querido, Parabéns. Sucesso, vc. merece. Gostaria de estar aí p/ abraça-lo e mostrar ao povo que está lhe acolhendo que em sua terra vc. tbém é muito querido. Obrigada. Graça Bittar.

José Aloise Bahia disse...

Obrigado pelo convite... Parabéns pelo lançamento... Abraços do Josealoisebahiabhzmg: Mai2012...

CEFAS CARVALHO disse...

A entrevista contigo que saiu no jornal PN impresso desta segunda sobre o lançamento do livro, estará na íntegra no blog na manhã da quinta. Grande abraço!

Angelus Melo disse...

Sucesso, Tony! Abraços de Recife!

Ninha disse...

GOSTARIA MUITO DE ME FAZER PRESENTE...MAS A DISTANCIA...
OBRIGADA E BJS

Vanuzia Nogueira disse...

que belo amigo..

Elenilson Nascimento disse...

Aeeeeeeeeeee rapaz, parabens. Quando eu crescer quero ser igual a vc.

Fabrício Brandão disse...

Sucesso com a obra, Antonio!

Mara Magalhães disse...

Pena que estou tão longe! Mas valeu a lembrança e o convite.

Marize Castro disse...

bom-dia, antonio,
sinto muito não poder ir, pois irei logo mais à noite ao rio. boa sorte com mais este fruto seu.
abraços.
marize

Valério de Magalhães disse...

Parabéns, Antonio. Boa sorte.

Yasmine Evaristo disse...

Pena que estou em BH, mas a torcida é favorável, além da certeza de que um produto de qualidade.
Parabéns!
=D

Mara Magalhães disse...

Vá em frente, meu querido! Vc merece tudo que conquista! O resto é choro de invejoso...rsrsrs

Jô Barreto disse...

boa sorte,beijos

Tásia Medeiros disse...

E que venha ainda mais celebrações

Cleberton Santos disse...

valeu junior, parabéns

Danielle Carvalho disse...

Boa noite de autógrafos!

Norma Bezerra disse...

Parabéns amigo! O lançamento de seu livro foi um momento muito agradável!Foi óooooooooooooooooooootimo! Beijos!♥

Ana Maria Rosa disse...

Antonio, depois de ler sua entrevista, fiquei com muita vontade de ler seus contos... Costumo ler as matérias do seu blog "O falcão Maltês" que eu acho maravilhoso, adoro!