agosto 28, 2020

....... A SURPREENDENTE LITERATURA de ANTÓNIO LOBO ANTUNES



“É a mão que escreve. A nossa mão é mais inteligente do que nós. Não é o autor que tem de ser inteligente, é a obra. O autor não escreve tão bem quanto os livros.”

Ilustrações:
PAULA REGO
(Lisboa, Portugal. 1935)


A literatura de ANTÓNIO LOBO ANTUNES (Lisboa, 1942) foge da narrativa tradicional, inventa enredos paralelos, traça um quadro duro de Portugal. Uma palavra que corrói e denuncia os abusos do poder, das instituições e os absurdos do mundo moderno. Autor de “Os Cus de Judas” (1979) e “Manual dos Inquisidores” (1996), entre muitos outros, consagrou-se na França, Espanha, Alemanha e, mais recentemente, no seu próprio país. A cada criação confirma sua capacidade criativa e uma obra surpreendente, dissecando ruínas emocionais, que engrandece a língua lusófona.

Reservado e de pouca conversa, o escritor tem aversão a entrevistas, distanciando-se do entrevistador e respondendo com poucas palavras. Confira o bate bapo dele com ANTONIO NAHUD, em Lisboa, 2001.

APRECIO MUITO suas CRÔNICAS. No ENTANTO, SEI QUE NÃO se INTERESSA por ELOGIOS.

Há muitos anos me daria prazer saber que escrevo bem ou que sou um grande escritor, mas já não me interessa. Afinal o que é ser um bom escritor? Talvez aquele que eu tenho a impressão que escreve só para mim.

AINDA CRÊ que ESCREVER é um PRAZER?

É a minha vida. Há anos que escrevo e me sinto culpado se não o faço. O aborrecido é a correção. Além disso, muito do que pensamos que é bom, não é. Sendo assim, costumo destruir a maior parte do que escrevo.

O QUE PENSA dos seus ROMANCES?

Poderiam ser melhores.

GOSTA de POESIA?

Leio muito poesia. Creio que a linguagem poética dá chaves para muita coisa. Como você é brasileiro, confesso que admiro a voz poética de João Cabral de Melo Neto, um poeta de qualidade extraordinária, assim como admiro Murilo Mendes, Ferreira Gullar e Cecília Meireles, entre outros poetas brasileiros.

POR QUE NÃO ESCREVE POESIA?

Por não ter nenhum talento poético.

QUAL o SEU MÉTODO de CRIAÇÃO, se ACASO EXISTE UM?

A partir de uma ideia elaboro os personagens e escrevo o resumo de cada capítulo. Começo o primeiro capítulo e vou até o final.

O FIO NARRATIVO é IMPORTANTE na sua LITERATURA?

Nunca foi. Um romance se escreve com personagens, emoções e situações. O fio narrativo é desnecessário. Pelo menos para a minha escrita. O livro é um organismo que vive independente e surpreende-nos a cada passo. Um livro não se faz com um fio narrativo, faz-se com palavras. São as palavras que geram umas às outras. E com trabalho.

QUAIS as suas INFLUÊNCIAS LITERÁRIAS?

Eu mesmo. Aprendo comigo, mergulho no meu eu. Só assim encontro a voz autêntica.

POR QUE QUESTIONA TANTO a MORTE?

Não entendo como as pessoas que não escrevem conseguem suportar o absurdo da existência. Nossa vida é marcada pela morte, embora isso não elimine alguns momentos de alegria.

COMO VÊ a LITERATURA do seu PAÍS?

Escrever em português é complicado, nossas edições são limitadas e é sempre difícil ser traduzido. Considero que temos um extraordinário prosador, Eça de Queiroz. “O Crime do Padre Amaro” é tecnicamente seu melhor romance. Mas não temos grandes romancistas como Conrad ou Melville. A nossa forma de expressão sempre foi a poesia, muito mais do que o romance. Atualmente temos bons poetas, como o Herberto Helder.

O QUE PENSA da POLÍTICA CULTURAL de PORTUGAL?

Não temos uma autêntica política cultural. Não ensinam os portugueses a ler. Creio que esta é a missão de um bom escritor. Desde que ele faça o seu trabalho o melhor que possa e que tenha sentido ético da escrita e uma atitude justa perante a vida.

POR que EVITA ENTREVISTAS?

São arrepiantes as perguntas que os jornalistas fazem aos escritores. Incomodam-me. Além do mais, a imprensa necessita de rótulos que nem sempre são verdadeiros. Já fui o “enfant terrible” da literatura, hoje sou um escritor “profundo e desesperado”. Onde está a verdade? Não a encontro, e sou julgado por estas imagens totalmente estranhas.


TODOS os LIVROS de LOBO ANTUNES

MEMÓRIA de ELEFANTE (1979)

Os CUS de JUDAS (1979)

CONHECIMENTO do INFERNO (1980)

EXPLICAÇÃO dos PÁSSAROS (1981)

FADO ALEXANDRINO (1983)


AUTO dos DANADOS (1985)

As NAUS (1988)

TRATADO das PAIXÕES da ALMA (1990)

A ORDEM NATURAL das COISAS (1992)

A MORTE de CARLOS GARDEL (1994)


A HISTÓRIA do HIDROAVIÃO (COM ILUSTRAÇÕES DE VITORINO) (1994)

MANUAL dos INQUISIDORES (1996)

O ESPLENDOR de PORTUGAL (1997)

LIVRO de CRÔNICAS (1998)

EXORTAÇÃO aos CROCODILOS (1999)


NÃO ENTRES TÃO DEPRESSA NESSA NOITE ESCURA (2000)

QUE FAREI QUANDO TUDO ARDE? (2001)

SEGUNDO LIVRO de CRÔNICAS (2002)

LETRINHAS das CANTIGAS (EDIÇÃO LIMITADA) (2002)

BOA TARDE às COISAS AQUI em BAIXO (2003)


EU HEI-DE AMAR uma PEDRA (2004)

D'ESTE VIVER AQUI NESTE PAPEL DESCRITO: CARTAS da GUERRA ("CARTAS DA GUERRA") (2005)

TERCEIRO LIVRO de CRÔNICAS (2006)

ONTEM NÃO TE VI em BABILÔNIA (2006)

O MEU NOME é LEGIÃO (2007)


O ARQUIPÉLAGO da INSÔNIA (2008)

QUE CAVALOS SÃO AQUELES que FAZEM SOMBRA no MAR? (2009)

SÔBOLOS RIOS que VÃO (2010)

QUARTO LIVRO de CRÔNICAS (2011)

COMISSÃO das LÁGRIMAS (2011)


NÃO é MEIA NOITE QUEM QUER (2012)

QUINTO LIVRO de CRÔNICAS (2013)

CAMINHO COMO UMA CASA em CHAMAS (2014)

Da NATUREZA dos DEUSES (2015)

PARA AQUELA que ESTÁ SENTADA no ESCURO à MINHA ESPERA (2016)


ATÉ que as PEDRAS se TORNEM MAIS LEVES que a ÁGUA (2017)

A ÚLTIMA PORTA ANTES da NOITE (2018)