outubro 01, 2013

................. PAULO COELHO: “MEUS LEITORES são INTELIGENTES”



 
Estive com o escritor e letrista PAULO COELHO (1947. Rio de Janeiro, RJ / Brasil) em 2004, no Fórum das Culturas Barcelona, na Espanha. O diálogo entre nós, publicado no jornal A Tarde (BA), é reproduzido aqui.

Ilustrações:
WILLIAM BLAKE
(1757 - 1827. Londres / Reino Unido)


No início dos anos 1970, PAULO COELHO vivia o movimento hippie, perambulando pelo mundo em busca de uma suposta verdade esotérica. Com pouco dinheiro, loucuras na cabeça e canções em parceria com o mítico roqueiro Raul Seixas, ninguém daria um tostão por sua escrita. Trinta anos depois, aos 57 anos, a história é outra: figurinha carimbada na lista de best-sellers de dezenas de países, membro da Academia Brasileira de Letras, acumula prêmios e condecorações, além de viajar com requinte e assédio constante da mídia. Ele é um dos 120 escritores convidados para o Fórum das Culturas Barcelona 2004. Ao lado de Salman Rushdie (“Versos Satânicos) faz parte do debate “O Valor da Palavra, organizado pelo Pen Club catalão.

paulo coelho
Muitos pensam que você é espanhol. Talvez porque alguns de seus livros tenham a Espanha como cenário.

Exato. Já me perguntaram algumas vezes. Fico feliz porque gosto da Espanha, falo muito sobre este país e tenho afinidade com ele, mas sou brasileiro e vejo o mundo como brasileiro. Vivi em Madri seis meses, depois de uma peregrinação à Santiago e foi uma temporada lúdica. Sou também apaixonado por touradas. Mas jamais perderei minha raiz, minha identidade brasileira.

Mesmo incomodado com o repúdio de colegas, intelectuais e críticos brasileiros...

Não me preocupo com eles. Estou pouco ligando para tais comentários. É uma atitude natural, afinal comecei a publicar aos quarenta anos e logo me tornei um grande êxito. Eles não se conformam com isso. Existe também o fator inveja. Mas não faço parte de nenhum grupo literário, tenho meus leitores e sou Paulo Coelho, um escritor best-seller com a ajuda de Deus. Sei também que nenhum sucesso é eterno. O essencial é não perder a naturalidade, porque o leitor não aceita fórmulas, não quer repetições. Eu escrevo sobre os temas que me preocupam e não sobre as coisas que os outros gostariam de ler. Meus leitores são inteligentes. Se eles encontrassem uma fórmula perpétua nos meus livros já teriam me abandonado. Eu me surpreendo com o que escrevo. Isso é que dá vida a minha escrita.

Fica magoado quado é classificado como escritor de literatura esotérica?

Claro. Os meus livros são diferentes desse tipo de literatura. Não brinco com a inocência das pessoas. Falo da magia de pessoas comuns, do cotidiano de todos nós. Meus personagens lutam e enfrentam provas iniciáticas para seguir vivendo. Tenho um estilo que busca a simplicidade, sendo direto sem ser superficial. O chato é que as pessoas procuram situar o novo com um modelo conhecido. Já fui comparado à Castañeda, Gibran e Stephen King. Não tenho como evitar essas comparações. O que sei é que sou escritor.


O que procura exatamente ao escrever um livro?

Descobrir-me. Tenho uma inquietude e uma maneira de viver a vida que ao escrever a compreendo melhor.

Em 2000, na França, foi condecorado como Chevalier de la Legion d´Honneur. Aprecia ser homenageado?

Seria hipocrisia dizer que não ligo para homenagens, mas a melhor homenagem é a fidelidade do leitor.

Se sente vaidoso por ser o autor de língua portuguesa mais lido em todo o mundo?

Sinto que é uma grande responsabilidade. Procuro, em todos os países que visito, falar um pouco dos escritores de língua portuguesa. No entanto, penso que a literatura lusófona está cada vez mais conhecida. O Nobel de Saramago contribuiu para essa divulgação.


Cite um escritor brasileiro que costuma lembrar em entrevistas e palestras fora do Brasil.

Jorge Amado. Eu o admiro, sempre foi um dos meus escritores favoritos. Ele e o argentino Borges. Eu creio no que disse Borges, há somente quatro histórias para narrar: a de um homem e uma mulher, a luta pelo poder, o triângulo amoroso e viagens. Fico com a última, onde se aprende a ser tolerante com as coisas do mundo.

O Fórum das Culturas Barcelona celebra a paz e a solidariedade em um mundo marcado pela ganância e pela violência. Como traduz este evento?

É uma proposta positiva, que poderá trazer bons resultados. Vivemos em um mundo conduzido por padrões de condutas, padrões de qualidade, de beleza, de eficiência, de sabedoria. Acreditamos que existe um modelo para tudo e que seguindo tal modelo estaremos seguros. Não é verdade. O certo é que vivemos num mundo perigoso, mas também muito rico, que ainda permite que as pessoas se aproximem e troquem impressões. Creio que é preciso uma maior preocupação com a espiritualidade, pois esta preocupação leva à solidariedade e não ao egocentrismo, como muitos querem fazer crer.

Mudando de assunto. Você está rico?

Dizem que sou o segundo escritor mais lido do mundo. Pode ser, mas a grande riqueza é ter meus livros publicados. Mas concordo que ganhar dinheiro com nossos sonhos é algo especial, que respeito.

Muitos escritores trabalham noutras atividades para sobreviver. Não é o seu caso. Se considera privilegiado?

Vivo um sonho, mas todo sonho implica desafios. E o sonho literário é um desafio permanente. Assim que terminar de conversar com você e seus colegas, irei para o computador terminar uma coluna para um jornal do Brasil e logo depois será a hora da palestra. É um desafio. Mesmo vivendo o nosso sonho, nada é fácil.


agosto 26, 2013

........... O PENSAMENTO ORIGINAL de DIOGENES da CUNHA LIMA

diogenes da cunha lima

 
Desde jovem tive o privilégio de conviver com notáveis. Adolescente, imaturo, compartilhava as reflexões eruditas do contista Hélio Pólvora, acumulando ensinamentos, e resultando em descobertas literárias e firmeza de vontade para não desistir da escrita. Cismado, taciturno, reservado, irônico e mente acesa, ele era o meu anti-herói favorito. No Rio de Janeiro, aos dezessete anos, magricela e curioso, passei tardes na Cinemateca do MAM com o escritor argentino Manuel Puig. Após exibição de filme clássico em preto e branco, entre um gole e outro de café, soube muito de cinema hollywoodiano. O autor do best-seller “O Beijo da Mulher Aranha / El Beso de la Mujer Araña” (1976) encontrava no cinema do passado fantasiosas soluções para a vida tacanha, refletindo essa obsessão nos seus romances. Nessa época, solto como Rimbaud, relacionei-me com o bardo Antonio Cícero, abrindo caminhos para a poética transcendental de Jorge de Lima, Wally Salomão e Paulo Leminski, entre outras. Enquanto isso, rabiscava versos e contos inseguros, em busca de méritos próprios.

Mais adiante, morando em São Paulo, aconteceu a amizade conluiada com a poeta Hilda Hilst. Foram dois anos passando finais de semana com ela, na Casa do Sol, em Campinas. Hildinha, rigorosa como lâmina afiada, colocou-me na parede: o mundano ou a escrita. Ela não acreditava no artista “em cima do muro, nem lá nem cá”. Abriu meus neurônios para a cultura grega, o Oculto e seus seres invisíveis, e a literatura de entrega incondicional, de Safo a Guimarães Rosa. Poucos anos depois, em Sintra, a hora e a vez da benção existencial-literária de Jorge Telles de Menezes, intelectual de nobre potencial poético e ser de dignidade cintilante. Passei uma boa temporada em sua bucólica casa à beira mar. Tive momentos de descobertas, embora curtos, com as escritoras Maria Gabriela Llansol e Doris Lessing, respectivamente em Sintra e Londres. Em Tânger, no Marrocos, passei uma tarde com o autor de “O Céu Que nos Protege / The Sheltering Sky” (1949), Paul Bowles. Parecíamos antigos amigos, abraçados pelas ruas, tagarelas, misturando espanhol e inglês, falando do ofício literário, literatura beat, Jean Genet, erotismo marroquino e a necessidade de solidão.

Todos eles tiveram importância capital nessa errância de escritor viajante. No entanto, nenhum marcou-me tanto – consequentemente, vida e arte - como Diogenes da Cunha Lima, o Poeta do Baobá. Mestre, amigo, ele suaviza corações com personalidade cortês e generosa. Difícil escritor feito ele, com tamanha elegância moral. Não é de formalidades vazias. A arrogância, mesquinhez, inveja, vingança e deslealdade, típicas da rotina de trocentos bocós de sucesso, não fazem parte do seu universo. Para ele, a vida é bela e a literatura, a família e a amizade são joias raras que devem ser celebradas. Anda sorrindo, mesmo quando triste. Da memória baú de tesouros, inesperadamente lança numa conversa um fértil poema ou causo instigante e divertido. Lembra com frases exatas conversas com pessoas que conheceu ao longo da vida. Considerando Luis da Câmara Cascudo seu mestre, é um  dos maiores divulgadores do legado deixado pelo historiador potiguar.

De temperamento vulcânico, no bom sentido, Professor Diogenes pode a qualquer momento ter rompantes de irreverência humorada e vertente experimental. Tem uma maneira única de sobreviver, movimentando-se com intimidade no universo literário do Rio Grande do Norte e cultivando autores sofisticados como referência. Enxerga o que há de melhor no próximo, deixando-nos sem ação com elogios hiperbólicos. Mas pode ter certeza que ele acredita no que diz. Em “O Livro das Revelações” (2013) escreveu a meu respeito: “O poeta e jornalista tem um dos melhores textos do país e é mestre em fazer e conservar amigos”. Que responsabilidade! Ao ler esse comentário pela primeira vez, embasbaquei, garimpando pedaços de mim no amável julgamento. 

Fomos educados em extremidades opostas, revelando-se circular, e assim nos aproximamos. Partilhamos idêntica paixão literária e enxergamos nela o sentido da vida. Sinto-me honrado em ser amigo e trabalhar com o Professor. É fortuna das grandes, ele é de singularidade exemplar, de destreza verbal estimulante e inteligência em constante motivação. Engana-se quem pensa que pode menosprezar a grandeza do seu legado literário. Ele é um dos grandes da literatura nordestina. Não nasceu para se entregar, sofrer, desistir ou se amargar. Liberto pela imaginação, nunca descamba para a derrota, acenando com soluções. O bom senso renasce das cinzas em questão de segundos. Admiro sua escrita solidária e versátil, equilibrada entre a sabedoria e o encanto habitual do poeta diante do mundo. Ele escreve sob o compromisso de entender as pessoas, colocar-se no lugar delas, compreendê-las sem as julgar. Tenho um caderno onde reproduzo meticulosamente, há anos, os trechos que mais me comovem em seus livros, sempre acompanhados por duas ou três linhas de comentários singelos e cuidadosos. Talvez um dia eu o publique, algo assim como “A Literatura do Professor”.

Aprecio o pensamento original. Sei que se todo mundo pensa igual, ninguém pensa nada. Então, louvo o pensamento personalizado. Parafraseando George Orwell, todos os homens são iguais, mas alguns são menos iguais do que os outros. Ainda bem. Cá entre nós, Professor Diogenes da Cunha Lima é um deles. Portanto, é uma honra e uma sorte está por perto para continuar ouvindo sua palavra autêntica que não esmorece.
 
eu e diogenes da cunha lima

agosto 17, 2013

............................. “LITERATURA é UM JOGO de VIDA e MORTE”




 ENTREVISTANDO ALEXANDRE BONAFIM

Ilustrações:
ÍTALO TRINDADE
(Natal / RN)

 
Nascido em Belo Horizonte, aos oito anos de idade o poeta  ALEXANDRE BONAFIM mudou-se para a cidade de seus pais, Franca, no interior de SP. Aos 32 anos, fixou residência em São Paulo, a fim de concretizar seu curso de doutorado. Atualmente mora em Goiânia e é professor de literaturas de língua portuguesa da Universidade Estadual de Goiás, unidade de Morrinhos. Publicou poemas e contos em importantes antologias. É mestre em estudos literários pela Unesp de Araraquara e doutor em literatura portuguesa pela USP. O seu mais recente livro “O Secreto Nome do Sol” (Editora Patuá, 2013), sensual e provocador, investe numa poética inteligente e emocionada, estruturada com segurança cintilante em imagens líricas que são reafirmações do valor da vida e da própria poesia. O contraste entre a vida real e o onírico expressa uma permanente sensação de exílio. No coração deste belo livro, a honestidade – por vezes melancólica - do autor entusiasma a leitura.

Por que se tornou poeta?

Eis um grande mistério: como se gesta um poeta? No meu caso, creio que desde a infância eu estive profundamente ligado à busca de Deus. Conversava muito com Ele, ainda criança, como se a divindade fosse um interlocutor presente, vivo aos meus olhos. Essa sensibilidade já era, digamos, o princípio da poesia em mim. Todo poeta acaba criando uma espécie de mito pessoal, de cunho lírio. Pois bem, para mim a poesia está intrinsecamente ligada ao sagrado. Não sou necessariamente religioso, mas sinto que na palavra, em seu cerne, palpita o enigma de tudo, a grande vertigem do movimento cósmico. Eu apenas me deixo guiar pelo sopro das palavras, permitindo que o poema teça, em mim, a sua vida, a sua seiva. Nesse sentido, o fundamento da minha existência é a poesia. Sem ela, com certeza eu seria outro ser, outra pessoa.


Dedica muito tempo à poesia?

Dedico todo o meu tempo à poesia, apesar de ela se manifestar por mecanismos secretos. Nunca escrevo um poema movido pela vontade. É necessário irromper o momento exato, iluminado, celebrante, em que a carne, num frêmito, se deixa mover pela força da poesia. Então, o poema nasce, quase sempre num jato. Depois vem o paciente trabalho de lapidar e de compor o livro. Todos os meus livros são cuidadosamente engendrados, pensados como um organismo, uma mandala. Agora, apesar desse instante rápido, fulgurante, em que poesia se mostra a mim, há a permanente labuta diária com a palavra. Todos os dias eu leio os poetas, desde os contemporâneos aos clássicos, num permanente exercício de aprendizagem. Sem leitura, sem o conhecimento do patrimônio cultural de nossa humanidade, dificilmente um escritor pode se tornar poeta legítimo. A escrita não se sustenta sem fecundação, sem germinação. É como um bailarino, um pianista, que nunca estudou, nunca treinou. Ele estanca o movimento, pois não há a seiva da aprendizagem, do estudo, da análise, o conhecimento dos mecanismos de sua arte. Por isso eu sou sempre um aprendiz. Mesmo sentindo que hoje, a minha voz já maturou, já encontrou sua dicção, seu diapasão.

Qual foi o melhor elogio que já recebeu em relação à sua poesia?

Olha, creio que tive vários momentos de felicidade ao ouvir a leitura do outro. Por exemplo, o prefácio de “A Outra Margem do Tempo”, escrito pelo grande romancista Álvaro Cardoso Gomes. Foi incrível o que ele escreveu e até hoje me emociona. Outro instante de muita beleza foi o recital, bem ao estilo grego, feito numa cidade baiana incrível, chamada Maracás. Esse recital foi apresentado por um grupo chamado Concriz, composto em sua maioria por adolescentes e crianças. A leitura desses jovens foi algo que estrondou em mim, que me deixou estarrecido ante a beleza. Eu fiquei em êxtase. Inclusive, parecia-me que a minha escrita era de outra pessoa, de um ser maior que eu... Foi um dos momentos mais lindos de minha vida. Tenho de agradecer ao querido amigo, o poeta José Inácio Vieira de Melo, que me oferendou esse instante de iluminação.


A sua poética tem reviravoltas inesperadas?

Já teve no passado, quando eu ainda era um escritor em busca de uma voz, de uma dicção. No início, quando ainda não temos experiência, somos muito suscetíveis às nossas leituras. Eu me lembro que eu travei ao ler a obra da Orides Fontela. Tudo o que escrevia saia orideano... Hoje ainda sinto que, ao ler um poeta que me toca, eu sofro a influência, mas já há uma espécie de filtro, de entremeio. A leitura se adensa e se transforma exatamente naquilo que eu sou. O poema nasce, claro, sob o signo do outro, mas já talhado exatamente por aquilo que sou, pela linguagem já maturada. Pelo outro, empreendemos um encontro com nossa verdade essencial. Agora, é claro que não podemos nos acomodar. Escrever sempre a mesma coisa cansa. Às vezes, ao sentir que eu me esgotei, tento buscar outros rumos, detonar a minha linguagem e edificar algo diferente. Foi o que aconteceu com “O Secreto Nome do Sol”. É um livro com vários matizes, vários meios expressivos. Eu vou do poema longo ao epigrama, da linguagem explosiva ao verso conciso, enxuto. Queria um livro de vários tons, várias pinceladas. Creio que foi uma aventura muito frutífera para mim. Aprendi muito ao compor tal livro.

Gosta de leituras públicas?

Eu sou tímido... Participei apenas de uma leitura pública, o “Quinta Poética” do Raimundo Gadelha, na Casa das Rosas em São Paulo... Foi uma experiência interessante. Em breve, devo participar do “Chama Poética” da Fernanda de Almeida Prado... Vamos ver... Creio que será um desafio também muito instigante.


Sente que estamos, de fato, deixando para trás a cultura do livro?

Essa questão tem me angustiado ultimamente. Vivemos em um mundo da crise da leitura. As pessoas se perdem na balbúrdia das novas mídias, das tecnologias da última hora. Em tudo isso há linguagem, mas uma expressão rasteira, sem profundidade. Em nossa era, parece-me que o livro tornou-se obsoleto, mesmo nas versões eletrônicas. Todos querem viver intensamente, movidos pelo conto de fadas do consumo, querem viajar, postar fotos no facebook, expor-se até os ossos. Quem vai parar o bonde da correria por dinheiro para ler “A Montanha Mágica” do Thomas Mann? Hoje o que mais tem no Brasil é escritor. Mas quantos estão de fato exercitando a leitura? Elaborando um trabalho fecundado pelo estudo? Há muita banalidade, muita despretensão. Literatura é um jogo de vida e morte. É necessário doar-se até as vísceras, jogar-se nesse abismo luminoso e fraturar todos os ossos. Eu tenho pavor de literatura lúdica, de literatura engraçadinha, que quer ser vanguarda apenas para causar impacto. O verdadeiro impacto da literatura é de cunho filosófico, de húmus existencial. A forma pela forma não muda o mundo. É preciso, claro, uma preocupação com o meio expressivo, mas também é imprescindível uma cosmovisão de amplitude para se fazer verdadeira literatura.  

Existe uma idade em que o poeta está no auge de sua forma?

Depende de cada caso. Há poeta de idade avançada escrevendo coisas imaturas. O contrário também existe, é o caso do Rimbaud. Acho que depende da formação cultural de um escritor e, claro, do talento.


Qual o seu próximo projeto?

Agora estou me dedicando à prosa. Finalizando um livro de contos. O título, ainda provisório, é “Fêmea Desnuda no Campo de Girassóis”. São sete contos, com sete mulheres, cada qual vivendo um drama, uma experiência crucial. Em todos, elas se desnudam movidas por interesses e motivos diferenciados. Há também inúmeros romances martelando em minha cabeça, mas ainda sinto que não estou preparado... Também escrevi, recentemente, um novo livro de poemas. Devo lançá-lo no próximo ano...

Fale sobre “O Secreto Nome do Sol”.

Ah, esse livro foi uma aventura, uma felicidade, um encantamento supremo. Primeiro porque foi editado pelo querido Eduardo Lacerda, um poeta-editor. Depois teve a bela capa do Leonardo Mathias. Eu escrevi certos poemas movido pelo delírio da felicidade. É o caso do “Ciclo do Amigo”, onde me desnudei, criando imagens oníricas para detalhar o encontro amoroso. Em tal livro, verti a paixão pelo grande Luis Cernuda, pelo António Ramos Rosa, pelo Eugénio de Andrade e Sophia de Mello Breyner Andresen. Sou apaixonado pelos ibéricos.

CASA

Habitar-te
em tudo o que és
até onde jamais foste
e nascer de teu ventre
como a sílaba primeira
de teu riso

Morar em ti
como quem escalpela
a face contra espinhos
 
alexandre bonafim por joão alvarez