agosto 30, 2023

......................... MONTEIRO LOBATO: PINTANDO com PALAVRAS

 

 
“Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê.”
 
“Um país se faz com homens e livros.”
MONTEIRO LOBATO
 
Ilustrações:
DI CAVALCANTI
(1897 – 1976. Rio de Janeiro, RJ)

 
 
Escritor, jornalista e editor, MONTEIRO LOBATO (1882 - 1948. Taubaté / São Paulo) com “A Menina do Narizinho Arrebitado”, publicado em 1920, lançou-se como escritor dedicado ao público infantil e pioneiro no Brasil da literatura paradidática, ao incluir em sua criação conceitos de história, geografia e matemática. Para ele. escrever para crianças era prazeroso, dava asas à imaginação: “É semear em terra roxa virgem – e não praguejada. Cérebro de adulto é solo já praguejado”, afirmou.
 
Um dos escritores críticos mais acalorados do país, com verdades ditas sem hipocrisia, criou discípulos, mas também adversários. Uma de suas primeiras críticas foi uma carta sobre a problemática das queimadas, publicada no “O Estado de São Paulo”.Ele terminaria provando que era um ícone do sentimento brasileiro. Se hoje muitos brasileiros têm conhecimento de nosso folclore, foi graças ao amor intenso pela cultura popular e pelos mitos que MONTEIRO LOBATO soube infundir na imaginação de todos nós.
 
Desde menino ele já mostrava seu temperamento irrequieto,marcado por virtudes e genialidades.Filho de fazendeiros, formou-se em 1904 na tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, mas não se entusiasmou com a profissão jurídica. Nesse mesmo ano voltou para Taubaté onde conheceu Maria Pureza Natividade, com quem se casou um ano depois de ser nomeado promotor público, em 1907. Nesta época, escreve artigos para o jornal “A Tribuna”, de Santos, São Paulo; traduções para o “O Estado de S. Paulo”, e caricaturas para a revista “Fon-Fon!”, do Rio de Janeiro.
 
Permaneceu em Areias até 1911, quando morreu seu avô, o Visconde de Tremembé, deixando-lhe de herança uma fazenda em Taubaté, para onde se mudou. Em 1917, parte para Caçapava. Nesse mesmo ano, ficou famoso o seu polêmico artigo “A Propósito da Exposição de Malfatti”, publicado no “O Estado de São Paulo” (republicado em 1919 como “Paranoia ou Mistificação?”). Nele, criticou severamente a exposição de pintura expressionista de Anita Malfatti, e com isso ganhou uma legião de inimigos. Hoje sabe-se que MONTEIRO LOBATO criticava o colonialismo ditado pelos europeus, fosse nas artes ou na vida social.
 
Em 1918, estreia com o livro de contos “Urupês”, lançando o personagem-símbolo de sua obra, o Jeca Tatu. A história introduz esse matuto parasita, “papudo, molenga, inerte e feio”, como ele mesmo descrevia na obra. A representação de Jeca Tatu era uma espécie de alerta ao público. Era uma crítica imensa ao atraso cultural brasileiro e a situação de miséria no país. Sempre atento a novidades, montou a editora Monteiro Lobato & Cia., mais tarde Companhia Editora Nacional, e revolucionou o mundo editorial do Brasil.
 
A “Revista do Brasil”, dedicada a resgatar os valores da cultura nacional e discutir os principais problemas do país, era um espelho do pensamento de MONTEIRO LOBATO. Em 1918 ele compra a revista. Assume uma empresa deficitária, desenvolve uma estratégia de marketing, multiplica a venda de assinaturas e consegue publicidade para mantê-la viva. A sede da revista, no centro velho da capital paulista, era ponto de encontro de intelectuais. Em pouco tempo sua editora publicava obras de Oswald de Andrade, Lima Barreto, Menotti del Picchia e Guilherme de Almeida, entre muitos outros.
 
Sua alçada na fama contribuiu para uma imensa popularidade. Morando em São Paulo, funda a Editora Brasiliense, em sociedade com amigos. O escritor se veria próximo do governode Washington Luís, adquirindo, inclusive, o status de representante diplomático. No ano de 1927, foi nomeado adido comercial do Brasil em Nova Iorque, residindo nos EUA por cerca de 4 anos. Ao retornar ao Brasil, criticou, veemente, a lentidão no desenvolvimento nacional em comparação ao imenso processo de evolução do país norte-americano.
 
Sua ação como intelectual polêmico se estende também ao plano da luta política e social. Conservador, aspirava o progresso material e mental do povo brasileiro. Com a publicação de “O Escândalo do Petróleo” (1936) denuncia o jogo de interesses motivados pela extração do petróleo. Com isso, critica o envolvimento internacional das autoridades brasileiras. Em 1941, já durante a ditadura Vargas, foi condenado a seis meses de detenção, acusado de ataques ao governo, mas é indultado após cumprir metade da pena.
 
Em 1944, recusa indicação para a Academia Brasileira de Letras - ABL.Em 1946 vai morar na Argentina, onde funda a Editorial Acteón. Mesmo entre a literatura e o jornalismo, ele jamais escondeu sua paixão pela pintura e como gostaria de ter cursado Belas Artes. Por imposição do avô, seu tutor após a morte dos pais, acabou fazendo Direito. Desistiu das artes plásticas e se fez escritor, mas nunca se conformou: “No fundo não sou literato, sou pintor. Nasci pintor, mas como nunca peguei nos pincéis a sério (...) arranjei este derivativo de literatura, e nada mais tenho feito senão pintar com palavras”.
 
Enxadrista, industrial do petróleo, pintor, pai da boneca mais ilustre do país. Tradutor do melhor da literatura mundial infantil, como Perrault, Andersen e os Irmãos Grimm. Estas facetas de MONTEIRO LOBATO a maioria dos seus fãs conhece. Mas poucos sabem que ele foi fotógrafo. Primeiro, registrou instantâneos da família com uma câmara Kodak. Depois, com Rolleyflex a tiracolo, capturava paisagens e fragmentos do cotidiano. Também documentou as excursões que fez pelo país durante a campanha do petróleo.
Vivia permanentemente preocupado em revelar um Brasil desconhecido, a que os intelectuais brasileiros davam as costas. Essa preocupação, aliada à necessidade de se comunicar, levaram-no ao jornalismo. Seu espírito empreendedor e a necessidade de liberdade absoluta para se expressar transformou o jornalista no editor que revolucionou o mercado de livros no Brasil. Como jornalista, seu estilo simples e direto, irônico, cativava os leitores. Era um polemista contumaz. Instigava os leitores a participar de suas discussões.
 
Como escritor, situa-se entre os autores regionalistas do Pré-Modernismo e destaca-se nos gêneros conto e fábula. Foi um contador de histórias. Dono de um estilo cuidadoso, não perdeu a oportunidade para criticar certos hábitos brasileiros, como a cópia de modelos estrangeiros.Sua obra é repleta de elementos estimulantes da criatividade e da imaginação, imbuídas de valores morais e de brasilidade. Reconhecido por seu estilo simples, pela riqueza de sua literatura inovadora, recheada do ser brasileiro, da nossa identidade cultural. MONTEIRO LOBATO faleceu em 5 de julho de 1948.
 
O dia do seu nascimento, 18 de abril, é chamado de Dia Nacional do Livro Infantil. A Vila do Buquira, onde foi viver e escreveu boa parte de sua obra, recebeu o seu nome. Hoje, a cidade se chama Monteiro Lobato. A fazenda situada nessa cidade, herança do seu avô, passou a ser chamada Sítio do Picapau Amarelo, sendo atualmente visitada por muitos turistas. Além disso, existem diversas escolas, ruas e bibliotecas no Brasil que levam o nome do escritor.
 

PERSONAGENS de MONTEIRO LOBATO
 
Conhecidos por várias gerações de crianças, chegaram à televisão brasileira na década de 60 com o seriado “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Nessa história, o escritor aproveita para transmitir valores morais, conhecimentos sobre nosso país, nossas tradições, etc. Dentre os seus personagens mais conhecidos:
 
JECA TATU. Um tipo caipira acomodado e miserável. Com barba por fazer, bastante pobre, desanimado e aparentemente preguiçoso. Ele vive com sua mulher, dois filhos e é sempre acompanhado pelo seu cão.
 
NARIZINHO. Menina de nariz arrebitado, cujo nome é Lúcia. Neta de D. Benta, ela tem uma boneca chamada Emília, com quem adora conversar.
 
PEDRINHO. Primo de Narizinho e neto de D. Benta. O menino de dez anos vive na cidade e nas férias vai sempre para o sítio.
 
EMÍLIA. Uma boneca de pano que fala. De personalidade forte, é a melhor amiga da sua dona, Narizinho.
 
DONA BENTA. A dona do sítio do Picapau amarelo. Adora crianças e tem prazer em lhes contar histórias.
 
TIA ANASTÁCIA. A empregada do sítio. Cozinha muito bem. Também gosta de contar histórias e fazer biscoitos de polvilho. Foi ela quem costurou Emília.
 
VISCONDE de SABUGOSA. Feito de sabugo de milho. Estudioso que sabe muitas coisas, é também bastante atrapalhado. Está sempre na biblioteca ou no laboratório, que fica no porão da casa do sítio.
 
CUCA. Uma bruxa má com aparência de jacaré que vive amedrontando as pessoas.
 

OBRA de MONTEIRO LOBATO
 
INFANTIL e JUVENIL
A Menina do Narizinho Arrebitado (1920)
O Saci (1921)
Fábulas de Narizinho (1921)
Fábulas. [edição aumentada de Fábulas de Narizinho (1922)
O Marquês de Rabicó (1922)
A Caçada da Onça: Novas Aventuras de Narizinho, Rabicó e demais Companheiros (1922)
Jeca Tatuzinho (1924)
O Garimpeiro do Rio das Garças (1925)
Aventuras de Hans Staden, o Homem que Naufragou nas Costas do Brasil, Narradas por Dona Benta aos seus Netos (1927)
O Noivado de Narizinho (1928)
O Gato Félix (1928)
Aventuras do Príncipe (1928)
Cara de Coruja (1928)
O Irmão de Pinocchio (1929)
O Circo de Escavalinho (1929)
Peter Pan, a História do Menino que Não Queria Crescer, Contada por Dona Benta (1929)
A Pena de Papagaio (1930)
 O Pó de Pirlimpimpim (1930)
Reinações de Narizinho (1931)
Novas Reinações de Narizinho (1932)
Viagem ao Céu (1932)
História do Mundo para Crianças (1933)
Caçadas de Pedrinho (1933)
Emília no País da Gramática (1933)
História das Invenções (1935)
Geografia de Dona Benta (1935)
O Poço do Visconde: Geologia para Crianças (1936)
D. Quixote das Crianças: Contado por D. Benta (1936)
Serões de Dona Benta: Ciências Físicas e Naturais Ensinadas a Seus Netinhos (1937)
Histórias de Tia Nastácia (1937)
O Picapau Amarelo (1939)
O Minotauro: Maravilhosas Aventuras dos Netos de Dona Benta na Grécia Antiga (1939)
Memórias da Emília (1939)
O Espanto das Gentes (1941)
A Reforma da Natureza (1941)
A Chave do Tamanho (1942)
Os Doze Trabalhos de Hércules (1944)
A Casa de Emília (1947)
O Centaurinho (1947)
A Contagem dos Sacis (1947)
Uma Fada Moderna (1947)
A Lampreia (1947)
No Tempo de Nero (1947)
Narizinho Arrebitado (1947)
 

CONTO
Urupês (1918)
Cidades Mortas (1919)
Negrinha (1956)
 
ROMANCE
O Presidente Negro (1926)
 
MUSEU HISTÓRICO e PEDAGÓGICO MONTEIRO LOBATO
Casa onde nasceu e viveu Monteiro Lobato na sua infância possui um acervo com objetos pessoais, as primeiras edições dos livros do escritor e uma biblioteca com obras de outros autores.
 
Endereço: Rua Campinas, s/n - Chácara do Visconde, São Paulo
Telefone: (12) 3625-5062
Horário: Terça à domingo das 9h às 17h