“Morrer é uma arte, como tudo o mais.
Que eu pratico surpreendentemente bem”
SYLVIA PLATH
O romancista cubano Alejo Carpentier acreditava que escritores são os seres mais indefesos do mundo. Talvez por isso, na trajetória da
literatura universal, o histórico suicida se apresente recorrente. Famosos (ou não) escritores
decidiram pelo rompimento da própria vida, ou por desespero, ou por dívidas, frustração
literária, doença, homossexualidade, mal de amor ou pela decidida desistência de
viver. Muitas razões podem ser estudadas para tentar entender o ato trágico-suicida no universo
literário. Sabe-se que o fantasma da depressão, apresentando facetas diferentes, está presente
em muitos casos.
Se o suicídio tem sido sempre um ato rodeado
por convicção, vergonha e ocultação, imagine como Joseph Conrad deve ter se sentido
após sobreviver a uma bala no peito, ou Edgar Allan Poe ao tentar sem sucesso se
matar com láudano, após a morte da sua mulher, como aconteceu com Dante Gabriel
Rossetti. O poeta francês Jacques Prévert pulou da janela de um prédio, mas
morreu trinta anos depois de causas naturais. Talvez nada possa ser mais triste
do que o acontecido com a escritora norte-americana Carson McCullers: sobreviveu
a uma tentativa de se matar, mas seu marido, obcecado com um suposto pacto de suicídio, morreu pouco depois.
ALFONSINA STORNI
(Argentina. 1892 - 1938)
Poetisa. Descobre ser portadora de câncer de
mama em 1935. O suicídio de um amigo, o também escritor Horacio Quiroga, em
1937, abala-a profundamente. Em 1938, três dias antes de se suicidar, envia de
um hotel de Mar del Plata para um jornal o soneto “Voy a Dormir”. Consta que se
suicidou andando para o mar — poeticamente registrado na canção “Alfonsina
y el Mar”, gravada por Mercedes Sosa. Tinha 46 anos.
ANA CRISTINA CÉSAR
(Brasil. 1952 - 1983)
Um dos principais nomes da
geração mimeógrafo dos anos 1970, vinculada
ao movimento de Poesia Marginal. Mantém uma fina linha entre o
ficcional e o autobiográfico. Cometeu suicídio aos 31 anos, atirando-se pela
janela do apartamento dos pais, no oitavo andar de um edifício da rua Tonelero,
em Copacabana.
ÁNGEL GANIVET
(Espanha. 1865 - 1898)
Ensaísta, cuja obra mais importante é “Idearium
Español” (1899). Com cargo diplomático
em Riga, na Letônia, afogou-se nas águas do rio Dvina, vítima de um surto de
loucura que sofria desde 1896.
ANNE SEXTON
(EUA. 1928 - 1974)
Conhecida por sua poesia confessional, venceu
o prêmio Pulitzer em 1967. Os temas de seus poemas incluem a longa
batalha contra a depressão, tendências suicidas e vários detalhes íntimos de
sua vida privada, incluindo o relacionamento com familiares. Enquanto seu trabalho se tornava conhecido, também se afundava em problemas com barbitúricos e
álcool. Tentou várias vezes contra sua própria vida, até que em 04 de outubro
de 1974 se trancou na garagem, acelerando o carro, e morreu por intoxicação com
monóxido de carbono.
CAMILO CASTELO BRANCO
(Portugal. 1825 - 1890)
Um dos mais prolíficos escritores da
literatura portuguesa. Entrou em desespero com a crescente cegueira provocada
pela sífilis. Com a confirmação da gravidade da situação, desferiu
um tiro em sua têmpora.
CESARE PAVESE
(Itália. 1908 - 1950)
Balançando entre verso e prosa, entre romance
e poema, o escritor conseguiu dar voz ao seu dilacerante sentimento de
inadequação, à angústia de uma condição dolorosamente imperfeita, desembocando
no tédio de viver de forma sempre parcial. Aos 42 anos incompletos,
em 1950, suicidou-se em um quarto de hotel, em Turim, deixando apenas a frase
“A todos perdoo e a todos peço perdão”, inscrita na primeira página de seu romance “Diálogos com Leucó” (1947), pousado na mesa-de-cabeceira.
DAVID
FOSTER WALLACE
(EUA. 1962 - 2008)
Romancista e contista. Em 1996, publica “Infinite
Jest”, seu livro de maior aclamação. Ministrou cursos na Universidade de Pomona, concentrando-se mais em escrever. Sua escrita caracteriza-se principalmente pela ironia. Adepto da prosa pós-modernista, repleta de
metalinguagens e autoparódias. Em 12 de setembro de 2008, o escritor foi
encontrado enforcado. Segundo seu pai, ele sofria de depressão há mais de 20
anos, mas esta vinha se tornando mais severa nos meses que precederam seu
suicídio.
EDUARD VON KAYSERLING
(Alemanha. 1855 - 1918)
Escritor e novelista. Reúnia-se em cafés com o
Grupo dos Schwabing Bohème, tendo admiradores devotos como o poeta Rainer Maria
Rilke. Discreto e tímido, vivia sempre calado sobre sua vida pregressa,
contraindo sífilis que com o tempo o levaria à cegueira e paralisia.
O dinheiro lhe faltou, a saúde piorou e a situação política com as hostilidades
entre Alemanha e Rússia o fez perder propriedades familiares. Desesperado, com
a idade de 62 anos, a 28 de setembro de 1918, suicidou-se com um tiro no peito.
EMILIO SALGARI
(Itália. 1862 - 1911)
Notabilizou-se escrevendo cerca de 200
novelas de aventuras e viagens por terras exóticas. Toda esta vasta produção
literária não lhe trouxe desafogo econômico. Viveu os últimos anos da sua vida
com problemas financeiros. Depois da morte de sua esposa, suicida-se em Turim,
no dia 25 de abril de 1911. É pacífico, porém, que jamais
sulcou outros mares que os da sua febril imaginação e nunca conheceu outros
piratas senão os sucessivos editores que o exploraram ao longo de uma vida de
indizíveis privações e que o levariam a um suicídio digno da aura de exotismo
que toda a vida cultivou: cometeu um arremedo de hara-kiri.
ERNEST
HEMINGWAY
(EUA. 1899 - 1961)
Um dos principais escritores da literatura
mundial, com livros obrigatórios como “O Sol Também Se Levanta” (1926), enfrentou sérios problemas com o álcool e a depressão. Dois dias
depois de ser liberado de uma clínica de tratamento, com uma espingarda calibre
12 de dois canos na boca estourou a própria cabeça.
ERNST WEISS
(República Checa. 1882 - 1940)
Escritor judeu do Império Austríaco. Franz
Kafka ajudou-o a publicar sua primeira obra “Die Galeere”, rejeitada por diversos editores. Num hotel, ao contemplar a entrada
dos nazistas em Paris, cortou as veias.
FLORBELA ESPANCA
(Portugal. 1894 - 1930)
A sua vida, de apenas 36 anos, foi plena,
embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube
transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização,
feminilidade e panteísmo. Tentou o suicídio várias vezes. Após o diagnóstico de
um edema pulmonar, a poeta perdeu definitivamente a vontade de viver. Não
resistiu à nova tentativa do suicídio. A causa da morte foi overdose de
barbitúricos.
GÉRARD de NERVAL
(França. 1808 - 1855)
Um dos autores mais importantes da literatura
francesa. Sofrendo de crises de psicose, foi internado algumas vezes. Em 1855
foi encontrado enforcado numa rua escura e gelada de Paris, com os últimos
capítulos do seu romance “Aurélia” (1855) no bolso.
GILLES DELEUZE
(França. 1925 - 1995)
Uma das grandes contribuições deste filósofo foi
ter se utilizado do cinema para expor sua forma de pensamento, através dos
conceitos de imagem-movimento e imagem-tempo. Teorizou as instâncias do atual e
do virtual, construindo um olhar sobre o mundo a partir das possibilidades. Desde
1992, seus pulmões, afetados por um câncer, funcionavam com um terço da
capacidade. Em 1995, só respirava com a ajuda de aparelhos. Sem poder trabalhar, atirou-se pela janela do seu apartamento em Paris.
HEINRICH VON KLEIST
(Alemanha. 1777 – 1811)
Poeta, romancista, dramaturgo e contista,
conhecido pela novela “A Marquesa de O...” (1810). No final de 1811, pouco depois de completar 34 anos, o escritor
enfrentava sérias dificuldades financeiras. Profundamente triste e amargurado, planeja
cometer suicídio e encontra companhia em sua amiga Henriette Vogel, então
martirizada por um câncer. O escritor leva a cabo a intenção de ambos no dia 21
de novembro de 1811, nas margens do pequeno rio Wansee, atirando primeiro em sua
companheira e depois em si próprio.
HORACIO QUIROGA
(Uruguai. 1878 - 1937)
Famoso por seus contos, que geralmente
tratam de eventos fantásticos e macabros na linha de Edgar Allan Poe e de
temas relacionados à selva, sobretudo da região de Misiones, na Argentina, onde o escritor passou parte da vida. Aos dois meses de idade, o pai se matou acidentalmente
com um tiro de escopeta. A seguir, Ascenso Bargo, o padrasto, suicidou-se com
um tiro (suicídio este que ele presenciou) em 1981. Seu primeiro livro foi “Los
Arrecifes de Coral” (1901). No ano seguinte, acidentalmente Quiroga mata seu
melhor amigo, Federico Fernando, também com um tiro, enquanto examinava uma
escopeta. Foi preso, mas depois comprovou-se que foi mesmo um acidente. Em
1915, María Cires, sua primeira mulher, suicidou-se ingerindo água sanitária. Depois de anos de depressão crônica, foi
abandonado pela segunda e jovem mulher, surgiu-lhe um câncer de próstata e, a
18 de fevereiro de 1937, adquiriu cianureto e se suicidou numa casa de caridade
em Buenos Aires. Logo após a tragédia, sua filha Egle se suicidou e, algum
tempo depois seu filho Dario também faria o mesmo. Três de seus filhos
cometeram suicídio após o pai.
HUNTER S. THOMPSON
(EUA. 1937 - 2005)
Sua principal obra é “Medo e Delírio em Las
Vegas: Uma Jornada Selvagem ao Coração do Sonho Americanos” (1971). O autor defendia a legalização da maconha e outras drogas, e cogita-se
que problemas médicos influenciaram em seu suicídio com um tiro na cabeça,
enquanto a família se reunia em outra sala da casa. Seu corpo foi cremado e as cinzas foram lançadas por um pequeno foguete, em uma cerimonia bancada pelo ator Johnny Depp, seu amigo, que interpretou seus personagens na versão para o cinema de “Medo e Delírio em Las Vegas”, em 1998, e “O Diário de Um Jornalista Bêbado”, lançado em 2011.
JACQUES RIGAUT
(França. 1898 - 1929)
Abriu a primeira exposição dadaísta, na qual foram
destacadas várias demonstrações artísticas, fazendo uma performance e
publicando seu texto “Fábula” no catálogo da exibição. Alcoólatra, realizou infrutíferas tentativas de desintoxicação. Numa das
clínicas, em Châteny-Malabry, suicidou-se com um tiro no
coração. Sua morte inspirou a Pierre Drieu La Rochelle em seu livro “Fogo Fátuo –
Trinta Anos Esta Noite” (1931).
JERZY KOSINSKY
(Polonia. 1933 - 1991)
Trocou seu nome para esconder a identidade
de judeu, fugindo da captura dos nazistas. Sua literatura, com temas fortes,
muitas vezes foi criticada. Com exaustão mental, o que os alemães
não fizeram, ele mesmo fez, matando-se numa banheira quase cheia de água, com um
saco sufocante na cabeça.
JOHN BERRYMAN
(EUA. 1914 - 1972)
Poeta. A instabilidade emocional – e a devoção ao álcool - o levou pelo mesmo caminho traçado por seu pai
anos antes, que também cometera suicídio. Em 1972, ele se matou pulando de uma
ponte.
JOHN KENNEDY TOOLE
(EUA. 1937 - 1969)
Conhecido pelo romance
póstumo “Uma Confraria de Tolos” (1980), vencedor do Pulitzer. Sofrendo
de paranoia e depressão, talvez devido a rejeição dos editores, cometeu
suicídio aos 31 anos. Dentro do carro, morreu intoxicado com monóxido
de carbono de uma mangueira colocada no tubo de escape.
JOHN O’BRIEN
(EUA. 1960 - 1994)
Autor de um único livro, “Despedida em Las
Vegas” (1990), interpretado no cinema por Nicolas Cage e Elisabeth Shue. Alcoólatra
compulsivo, separado da mulher, deixa de beber para poder dirigir. Contudo,
em estado de absoluta depressão, em 1994, duas semanas depois de ter vendido para
o cinema os direitos de seu livro autobiográfico, matou-se aos 34 anos com um
tiro na cabeça.
JOSÉ AGUSTÍN GOYTISOLO
(Espanha. 1928 - 1999)
Poeta consagrado, deprimido se jogou do terceiro andar de um prédio, no inverno de 1999, em Barcelona.
JULES LEQUIER
(França. 1814 - 1862)
Filósofo. Exaltando a liberdade e
considerado o Soren Kierkegaard francês, escreveu “La
Recherche d'une Première Verité” e “La Feuille de Charmille” - obras
fragmentadas, inacabadas e publicadas postumamente. Decepcionado com a
existência que o amargava tanto, afogou-se na baía de
Saint-Brieuc.
KLAUS MANN
(Alemanha. 1906 - 1949)
Escritor, filho do também escritor (e prêmio
Nobel de 1935) Thomas Mann e sobrinho do romancista Heinrich Mann. Viciado em
drogas - especialmente morfina -, teve uma vida atribulada por constantes
crises depressivas e instintos suicidas. Sempre lutou contra o totalitarismo e
fez apologia do homossexualismo, o que motivou sua expulsão da Alemanha
nazista. Aos 43 anos se matou, ingerindo uma overdose de soníferos, em
Cannes. Em seu funeral não se viu presença de nenhum familiar, e o pai, em suas
memórias, chamou-o de irresponsável.
MALCOLM LOWRY
(Inglaterra. 1909 - 1957)
Poeta e romancista, cuja obra prima “Sob o Vulcão” (1947) foi filmada em 1984 por John
Huston. Durante sua estadia na universidade, o seu companheiro de quarto, Paul
Frite, propôs um relacionamento homossexual. A recusa levou o amigo ao
desespero, cometendo suicídio. Este fato abalou o escritor pelo resto da vida. Alcoólatra
compulsivo, suicidou-se com fortes doses de álcool e barbitúricos.
MÁRIO de SÁ-CARNEIRO
(Portugal. 1890 - 1916)
Poeta e novelista. Após infância e
adolescência marcadas pela solidão e sofrimentos, em 1912 partiu para Paris para
estudar Direito na Sorbonne, curso que jamais concluiria. Às dificuldades materiais,
somaram-se as emocionais. Fernando Pessoa foi seu amigo e o único a ajudá-lo,
havendo farta correspondência deste período entre ambos. Autor do sensacional “A
Confissão de Lúcio” (1914). Aos 26 anos incompletos, sofreu uma crise moral e financeira, abandonou os estudos, brigou com o pai e
passou a levar uma vida boêmia. Desesperado e deprimido, trancou-se
em em seu quarto, no Hotel Nice, em Montmartre (Paris), vestiu um smoking,
deitou-se e se envenenou com cinco frascos de estricnina. Conta-se
que, obeso por natureza, seu corpo ficou monstruosamente inchado, não cabendo
no caixão que para ele se encomendou. Antes de se matar, enviou poesias
inéditas a Pessoa que apareceram em 1937, com o título de “Indícios de Oiro”.
CARTA de DESPEDIDA de MÁRIO de SÁ-CARNEIRO
a FERNANDO PESSOA
“Meu querido Amigo.
A menos de um milagre na próxima
segunda-feira, 3 (ou mesmo na véspera), o seu Mário de Sá-Carneiro tomará uma forte
dose de estricnina e desaparecerá deste mundo. É assim tal e qual – mas
custa-me tanto a escrever esta carta pelo ridículo que sempre encontrei nas
«cartas de despedida»... Não vale a pena lastimar-me, meu querido Fernando:
afinal tenho o que quero: o que tanto sempre quis – e eu, em verdade, já não
fazia nada por aqui... Já dera o que tinha a dar. Eu não me mato por coisa
nenhuma: eu mato-me porque me coloquei pelas circunstâncias – ou melhor: fui
colocado por elas, numa áurea temeridade – numa situação para a qual, a meus
olhos, não há outra saída. Antes assim. É a única maneira de fazer o que devo
fazer. Vivo há quinze dias uma vida como sempre sonhei: tive tudo durante eles:
realizada a parte sexual, enfim, da minha obra – vivido o histerismo do seu
ópio, as luas zebradas, os mosqueiros roxos da sua Ilusão. Podia ser feliz mais
tempo, tudo me corre, psicologicamente, às mil maravilhas, mas não tenho
dinheiro. [...]
31 de Março de 1916.”
PAUL CELAN
(Romênia - agora Chernovtsy. 1920 - 1970)
Poeta e pensador romeno judeu, naturalizado
francês. Quando a Romênia caiu sob jugo nazista, foi enviado a um campo de concentração onde teve os pais assassinados. “Fuga
da Morte” é o seu poema mais famoso. Sem que se saiba o motivo, em 1970 se atirou nas águas do rio Sena, em Paris.
PEDRO NAVA
(Brasil. 1903 - 1984)
Memorialista, suicidou-se com um tiro na cabeça com uma Taurus calibre 32. Uma morte misteriosa envolvendo, segundo alguns, sua sexualidade. Aos 80 anos.
RAINER WERNER FASSBINDER
(Alemanha. 1946 - 1982)
Diretor de teatro, escritor, ator e cineasta.
Prolífico e influenciado por realizadores como Douglas Sirk e Fritz Lang, dirigiu
41 filmes e muitas peças de teatro. Seus filmes crítica os
valores e maneiras da classe média. Embora o sucesso tenha sido principalmente
de crítica, e não de público, sua morte aos 36 anos
causou amplo interesse pelo seu trabalho. Sem motivo aparentemente
conhecido, matou-se com uma overdose de drogas.
REINALDO ARENAS
(Cuba. 1943 - 1990)
Escritor, poeta e dramaturgo, passou grande
parte da vida combatendo o regime político de Fidel Castro. Durante
a década de 1970, tentou, por vários meios, abandonar a ilha de Cuba, mas não obteve
sucesso. Mais tarde, devido a uma autorização de saída de todos os homossexuais
e de outras personas non gratas, e depois de ter mudado de nome, pôde
deixar o país e passou a viver em Nova Iorque, onde anos depois diagnosticaram o vírus da Aids. Nessa época, escreveu “Antes que Anoiteça” (publicada em 1992). Terminada a
obra, suicidou-se com uma dose excessiva de álcool e droga. Dez anos mais
tarde, em 2000, estreou a versão cinematográfica, tendo
Javier Bardem no papel do escritor.
ROMAIN GARY
(França. 1914 - 1980)
Romancista e diretor de cinema. Usou os pseudônimos Émile Ajar, Fosco Sinibaldi, Shatan Bogat e
Lucien Brûlard, e recebeu duas vezes o Prêmio Goncourt, em
1956 e 1975. Suicidou-se em Paris com arma de fogo.
RYUNOSUKE AKUTAGAWA
(Tóquio. 1892 - 1927)
Considerado o “pai do conto japonês”, é
famoso por seu estilo e suas histórias ricas em detalhes que exploram o lado
negro da natureza humana. Paranoico, cometeu suicídio aos 35 anos, de overdose
de veronal. “Rashōmon” (1950), de Akira Kurosawa, baseou-se em suas
histórias. A maior parte do filme é uma adaptação do conto “Dentro de um Bosque”.
SERGEI IESSIENIN
(Rússia. 1895 - 1925)
Considerado um dos maiores poetas russos, foi
casado com a bailarina Isadora Duncan. Tinha problemas mentais e alcoólicos. Suicidou-se
num quarto de hotel, enforcando-se depois de escrever um último verso com
sangue. Sua morte causou grande impacto na opinião pública, e Maiakovski
escreveu um poema crítico em resposta ao suicídio e ao poema final de
Iessenin, de cuja poesia era grande admirador.
SÓCRATES
(Grécia.469 a. C. – 399 a. A.)
Filósofo ateniense do período clássico da
Grécia Antiga, creditado como um dos fundadores da filosofia ocidental, é até
hoje uma figura enigmática, conhecida principalmente através dos relatos de escritores que viveram mais tarde, especialmente dois de seus alunos,
Platão e Xenofonte, bem como pelas peças teatrais de seu contemporâneo
Aristófanes. Condenado a morte por suas opiniões políticas, ficou a ferros por
30 dias, recebendo a visita de amigos e se recusando a fugir. Chegado o momento da
execução, bebeu cicuta (Conium Maculatum) e, diante dos amigos, aos 70 anos,
morreu por envenenamento.
STEFAN ZWEIG
(Áustria. 1881 - 1942)
Escritor, romancista, poeta, dramaturgo,
jornalista e biógrafo de origem judaica. A partir da década de 1920 e
até sua morte foi um dos escritores mais famosos e vendidos do mundo.
Suicidou-se, juntamente com a esposa Elisabeth, durante seu exílio no Brasil,
deprimido com a expansão da barbárie nazista pela Europa na Segunda
Guerra Mundial. Tomaram veronal ou formicida.
SYLVIA PLATH
(EUA. 1932 - 1963)
Aos vinte anos publicou seu primeiro poema
numa revista de Nova York. Meses depois, tentou o suicídio. Foi para a Inglaterra
a estudos, onde se casou com o poeta inglês Ted Hughes, contudo, o
relacionamento foi tempestuoso e ela acabou tentando o suicídio outra vez. Descobrindo o envolvimento do marido com outra mulher, separou-se,
vivendo em Londres na solidão, anonimato e miséria. Em fevereiro de 1963, deixou
bilhete a seu terapeuta e se suicidou, pondo a cabeça dentro do forno, com gás
ligado. Antes, vedou a porta do quarto dos filhos. B iógrafos apontam seu marido como responsável pelo desespero que
culminou com sua decisão. Em 2009, quarenta e seis anos depois da morte
da poeta, seu filho Nicholas Hughes também cometeu suicídio.
TADEUSZ BOROWSKI
(Polonia. 1922 - 1951)
Escritor e poeta judeu. Na Varsóvia
ocupada pela Alemanha nazista, publicou em 1942 a coletânea de poemas
“Onde Esteja a Terra”. Levado para os campos de concentração de Auschwitz e
Dachau, foi libertado pelos norte-americanos nos fins do conflito. Depois da
guerra, na Polônia dominada pelo comunismo, publicou
sua prosa. Aos 29 anos, cometeu suicídio com um tiro de revólver na
cabeça. Morte controversa, pois há relatos de que tenha se asfixiado com gás em
seu apartamento em Varsóvia.
TORQUATO NETO
(Brasil.
1945 - 1972)
Jornalista, letrista, agitador cultural e
poeta brasileiro, escreveu letras para musicas como “Aqui é o Fim do Mundo”, “Dia
D”, “Geleia Geral”, entre outras. Ainda que estivesse integrando à música e à
poesia tropicalistas, atuou na imprensa. No início da década de 70, dedicou-se
ao jornalismo diário, colaborando com a crônica intitulada “Geleia Geral” na
Última Hora, jornal de Samuel Wainer, e de onde surgiria seu único livro póstumo:
“Os Últimos dias de Paupéria”. Alcoólatra, de temperamento difícil, teve varias
crises emocionais, consideradas pelos seus terapeutas como surtos
psicóticos. Devido a essa patologia foi internado oito vezes em hospitais
psiquiátricos do Piauí e do Rio de Janeiro, incluindo o hospital de Engenho de
Dentro, de Nise da Silveira.
Tentou-se suicidar por quatro vezes e ao
final, nem família e nem amigos conseguiram conviver com seus humores. Afastado
dos colegas tropicalistas compôs seus últimos trabalhos com músicos iniciantes,
como João Bosco, Luiz Melodia e Geraldo Azevedo, contudo, apesar de ter uma
produção pequena, queimou quase todos os originais. Aos 28 anos, no dia do seu
aniversário, após longa conversa com sua ex-esposa, deprimido, trancou-se no banheiro,
vedou a porta e a janela com lençóis, abriu o gás do chuveiro e se matou
asfixiado. Na ocasião, escreveu um último poema, chamado “Fico”.
VLADÍMIR MAIAKÓVSKI
(Rússia. 1893 - 1930)
Poeta, dramaturgo e revolucionário, começou
a escrever quando preso numa solitária, em 1909. Autor de uma poesia assertiva e desafiante, tanto na forma quanto no conteúdo.
Vigoroso porta-voz do Partido Comunista, expressou-se de várias formas.
Escreveu torrentes de poesias panfletárias e criou textos didáticos para
crianças enquanto palestrava e recitava por toda a Rússia. Desapontado no amor,
cada vez mais alienado da realidade partido-partidária, e tendo um visto negado
para viajar ao exterior, passou a sofrer de terríveis crises de depressão. Seu legado poético influenciou vários poetas russos e estrangeiros, deixando forte
marca, principalmente na década de 1930, depois que Stalin o citou como “o melhor
e mais talentoso poeta de nossa época soviética”. Após concluir “Plenos
Pulmões” e advertir a companheira, Nora, da sua
depressão, suicidou-se na casa da praça Lubianka, em Moscou, dando um tiro no
peito.
BILHETE de DESPEDIDA
“A todos. De minha morte não acusem ninguém,
por favor, não façam fofocas. O defunto odiava isso. Mãe, irmãs e companheiros,
me desculpem, este não é o melhor método (não recomendo a ninguém), mas não
tenho saída. Lília, ame-me. Ao governo: minha família são Lília Brik, minha
mãe, minhas irmãs e Verônica Vitoldovna Polonskaia. Caso torne a vida delas
suportável, obrigado. Os poemas inacabados entreguem aos Brik, eles saberão o
que fazer.
Como dizem:
caso encerrado,
o barco do amor
espatifou-se na rotina.
Acertei as contas com a vida
inútil a lista
de dores,
desgraças
e mágoas mútuas.
Felicidade para quem fica.”
VIOLETA PARRA
(Chile.
1917 - 1967)
Considerada a mais importante compositora do
Chile e fundadora da música popular chilena. Adepta da
canção comprometida politicamente, foi autora de letras inapagáveis, como a canção “Volver a los 17”, que mereceu uma
antológica gravação de Milton Nascimento e Mercedes Sosa. Suas canções não são apenas marcadas por versos demolidores contra toda a injustiça social, há lirismo também, como nos versos de “Gracias a la Vida” (gravada por Elis
Regina), embalando o ânimo de gerações de revolucionários latino-americanos. Decepcionada
com o namorado Gilbert Favre e se sentindo esquecida, matou-se com um tiro.
VIRGÍNIA WOOLF
(Inglaterra. 1882 - 1941)
Escritora, ensaísta e editora, conhecida como
uma das mais proeminentes figuras do modernismo. Membro do Grupo de
Bloomsbury, desempenhava um papel de significância dentro da sociedade
literária londrina durante o período entreguerras. Seus trabalhos mais famosos
incluem os romances “Mrs. Dalloway” (1925), “Passeio ao Farol” (1927) e “Orlando”
(1928), bem como o livro-ensaio “Um Teto todo Seu” (1929), onde se encontra a
famosa citação “Uma mulher deve ter dinheiro e um teto todo seu se ela quiser
escrever ficção”. A escritora conviveu por muito tempo com crises de depressão.
Em nota final ao marido Leonard confidenciou que sua doença não tinha cura, mas
que foi feliz em seu casamento. Porém não o suficiente para impedi-la de entrar
no rio Ouse com um casaco cheio de pedras. Seu corpo ficou desaparecido por semanas.
YASUNARI KAWABATA
(Japão. 1899 - 1972)
O primeiro escritor japonês a ganhar o prêmio
Nobel de Literatura, em 1968. A solidão, a angústia e a atração pela
psicologia feminina foram seus temas constantes. Ao
receber o Nobel, em seu discurso condenou o suicídio,
lembrando vários amigos escritores que haviam morrido dessa forma. Em 1972,
porém, em meio a um surto depressivo se suicidou, em casa, com gás. Não deixou mensagem de despedida.
YUKIO MISHIMA
(Japão. 1925 - 1970)
Grande admirador das tradições milenares da
cultura japonesa, especialmente da conduta virtuosística dos samurais, viveu a
literatura como se fosse parte indissociável de sua existência. Além de
romances, escreveu também poemas, ensaios e peças teatrais. Crítico contumaz da
degradação do Japão moderno, permaneceu sempre em luta pela retomada dos
valores clássicos do seu país, até cometer o suicídio, em 1970. Sua morte é
emblemática de como, para ele, arte e vida não se separavam: depois de rasgar o
próprio ventre com um sabre, foi decapitado por um de seus discípulos, de
acordo com a tradição samurai.
POEMA de VLADIMIR MAIAKÓVSKI
FRAGMENTOS
1
Me quer ? Não me quer ? As mãos torcidas
os dedos
despedaçados um a um extraio
assim tira a sorte enquanto
no ar de
maio
caem as pétalas das margaridas
Que a tesoura e a navalha revelem as cãs
e
que a prata dos anos tinja seu perdão
penso
e espero que eu jamais alcance
a impudente idade do bom senso
2
Passa da uma
você deve estar na cama
Você talvez
sinta o mesmo no seu quarto
Não tenho pressa
Para que acordar-te
com o
relâmpago
de mais um telegrama
3
O mar se vai
o mar de sono se esvai
Como se diz: o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites
Inútil o apanhado
da mútua dor mútua quota de dano
4
Passa de uma você deve estar na cama
À noite a Via Láctea é um Oka de prata
Não tenho pressa para que acordar-te
com relâmpago de mais um telegrama
como se diz o caso está enterrado
a canoa do amor se quebrou no quotidiano
Estamos quites inútil o apanhado
da mútua do mútua quota de dano
Vê como tudo agora emudeceu
Que tributo de estrelas a noite impôs ao
céu
em horas como esta eu me ergo e converso
com os séculos a história do universo
5
Sei o puldo das palavras a sirene das
palavras
Não as que se aplaudem do alto dos
teatros
Mas as que arrancam caixões da treva
e os põem a caminhar quadrúpedes de
cedro
Às vezes as relegam inauditas inéditas
Mas a palavra galopa com a cilha tensa
ressoa os séculos e os trens rastejam
para lamber as mãos calosas da poesia
Sei o pulso das palavras parecem fumaça
Pétalas caídas sob o calcanhar da dança
Mas o homem com lábios alma carcaça.
Tradução de Augusto de Campos