março 20, 2012

............................ PRATEADOS e EXATOS: VERSOS e IMAGENS

nahud por morvan

SWOON

Antonio Nahud 

para Sylvia Plath
(Londres, 1998)

preparo-me para não entender o idioma,
as melhores intenções.
não quero convite de anjos.
me angustia
ter que deixar estas ruas sujas,
a poesia tortuosa,
a memória gravada em diários.
louco como sou,
descontente entre vítimas
que rastejam ao meu lado,
cada vez estou mais distante,
em chamas,
à espera do consolo de quimeras,
sabendo da desimportância de nomes.
se me contempla a lua cheia?
ela sabe que aqui estou.
ardendo sem réplica,
pronto para tomar um chá pleno
na Maison Bertaux, no Soho,
pleno,
um
chá,
é o que posso me oferecer
para remediar a situação.

A poeta SYLVIA PLATH nasceu em Boston (EUA), em 1932. Teve uma passagem melancólica por Nova York, tentando o suicídio por mais de uma vez. Casou em 1956 com o poeta inglês Ted Hughes, e foi com ele para  Cambridge, Inglaterra. Teve dois filhos. Descasou em 1962, escreveu seus poemas capitais, publicados postumamente no volume “Ariel” (1965), sua obra mais importante. Dois anos antes, em 1960, lançara o seu primeiro livro, “Colossus”. Em 11 de fevereiro de 1963, aos 30 anos de idade, cometeu suicídio respirando gás na cozinha de sua residência.

POEMAS DE SYLVIA PLATH

ESPELHO

Sou prateado e exato. Eu não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for, desembaraçado de amor ou de aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro –
O olho de um deusinho, de quatro cantos.
O tempo todo reflito sobre a parede em frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto
Que a sinto como parte de meu coração. Mas vacila.
Faces e escuridão insistem em nos separar.

Agora sou um lago. Uma mulher se inclina para mim,
Buscando em domínios meus o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua.
Vejo suas costas e as reflito fielmente.
Ela me paga em choro e agitação de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã sua face reveza com a escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.

OUTONO DE RÃ

O verão envelhece, mãe impiedosa.
Os insetos vão escassos, esquálidos.
Em nossos lares palustres nós apenas
Coaxamos e definhamos.

As manhãs se dissipam em sonolência.
O sol brilha pachorrento
Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós.
O charco nos repugna.

A geada cobre até aranhas. Obviamente
O deus da plenitude
Está morando longe daqui. Nosso povo rareia
Lamentavelmente.

40 GRAUS DE FEBRE

Minha cabeça uma lua
De papel japonês, minha pele de ouro laminado
Infinitamente delicada e infinitamente dispendiosa.

Não te assombra meu coração. E minha luz.
Eu sou, toda eu, uma enorme camélia
Esbraseada e a ir e vir, em rubros jorros.

Creio que vou subir,
Creio que posso ir bem alto —
As contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu

Sou uma virgem pura
De acetileno
Acompanhada de rosas,

De beijos, de querubins,
Do que venham a ser essas coisas rosadas.
Não tu, nem ele

Não ele, nem ele
(Eu toda a dissolver-me, anágua de puta velha) —
Ao Paraíso.

nahud por morvan

março 16, 2012

............................. Na TV BANDEIRANTES

ENTREVISTANDO ANTONIO NAHUD

Programa "Conexão Potiguar" (TV Bandeirantes)
Apresentação de José Pinto Júnior
Março de 2012

PARTE I


PARTE II


março 10, 2012

................................................................... A LITERATURA


max ernst


Viajando no “baú de guardados” encontrei uma crônica de juventude, lá pertinho do comecinho de tudo. Na época, eu publicava semanalmente crônicas em um jornal grapiúna. Unicamente como exercício literário. Textos curtos polêmicos ou líricos, atualmente agrupados em livro inédito, “A Língua Apunhalada”, no capítulo “Crônicas Grapiúnas”.

A LITERATURA

Antonio Nahud
(1993)

A literatura é um território inesgotável de emoções. O mais puro deleite para um coração por vezes esgotado e intolerante. Existem pessoas que aprendem a viver acompanhando telenovelas, outras constroem o seu caráter mergulhando na linguagem de Dostoievski ou Hermann Hesse. Na adolescência, costumava levar dois ou três livros como companheiros de acampamentos (em Olivença, Morro de São Paulo, Trancoso, Barra Grande, Itacaré etc.). O professor de literatura Ruy do Carmo Póvoas e o jornalista-ator Gideon Rosa foram os primeiros a me incentivarem ao hábito de ler. Logo a seguir, surgiu a poeta Genny Xavier na minha vida, passando a amar a lírica. Se bem que ela admirava Drummond e eu a técnica seca de João Cabral. Juntos escrevemos a peça bucólica “O Mundo Visto Através dos Olhos de Duas Mulheres Pálidas”. Uma bela amizade que perdura até hoje. Graça Viana e Kátia Vieira, funcionárias da Ceplac em sua fase áurea, apresentaram-me suas fantásticas bibliotecas. O saudoso jornalista Luis Wilde revelou-me inúmeros escritores de vanguarda, e com a intimidade literária, apaixonei-me por personagens do calibre de Werther, Ofélia, Heathcliff, Ana Karenina, Carmem, Gregor Sansa e Giovanni. Cercado de livros por todos os lados, pergunto o que me leva a viver amancebado às palavras? O que significa escrever da juventude à maturidade? Talvez escreva, por assim dizer, para agradar. É isso que, de certo modo, todo escritor faz. Sou um ser seduzido pela literatura, homem viciado em papéis, celulóide e imaginação. Encontro emoção e bons sentimentos ao ler um livro, ver um filme, ouvir uma música ou escrever um texto. Mereço perdão, caro leitor?

escultura de giorgio vigno