SWOON
Antonio Nahud
para Sylvia Plath
(Londres, 1998)
preparo-me para não entender o idioma,
as melhores intenções.
não quero convite de anjos.
me angustia
ter que deixar estas ruas sujas,
a poesia tortuosa,
a memória gravada em diários.
louco como sou,
descontente entre vítimas
que rastejam ao meu lado,
cada vez estou mais distante,
em chamas,
à espera do consolo de quimeras,
sabendo da desimportância de nomes.
se me contempla a lua cheia?
ela sabe que aqui estou.
ardendo sem réplica,
pronto para tomar um chá pleno
na Maison Bertaux, no Soho,
pleno,
um
chá,
é o que posso me oferecer
para remediar a situação.
A poeta SYLVIA PLATH nasceu em Boston (EUA), em 1932. Teve uma passagem melancólica por Nova York, tentando o suicídio por mais de uma vez. Casou em 1956 com o poeta inglês Ted Hughes, e foi com ele para Cambridge, Inglaterra. Teve dois filhos. Descasou em 1962, escreveu seus poemas capitais, publicados postumamente em “Ariel” (1965). Dois anos antes, em 1960, lançara o seu primeiro livro, “Colossus”. Em 11 de fevereiro de 1963, aos 30 anos de idade, cometeu suicídio respirando gás na cozinha de sua residência.
POEMAS de SYLVIA PLATH
ESPELHO
Sou prateado e exato. Eu não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo imediatamente
Do jeito que for, desembaraçado de amor ou de aversão.
Não sou cruel, apenas verdadeiro –
O olho de um deusinho, de quatro cantos.
O tempo todo reflito sobre a parede em frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto
Que a sinto como parte de meu coração. Mas vacila.
Faces e escuridão insistem em nos separar.
Agora sou um lago. Uma mulher se inclina para mim,
Buscando em domínios meus o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua.
Vejo suas costas e as reflito fielmente.
Ela me paga em choro e agitação de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã sua face reveza com a escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.
OUTONO de RÃ
O verão envelhece, mãe impiedosa.
Os insetos vão escassos, esquálidos.
Em nossos lares palustres nós apenas
Coaxamos e definhamos.
As manhãs se dissipam em sonolência.
O sol brilha pachorrento
Entre caniços ocos. As moscas não chegam a nós.
O charco nos repugna.
A geada cobre até aranhas. Obviamente
O deus da plenitude
Está morando longe daqui. Nosso povo rareia
Lamentavelmente.
40 GRAUS de FEBRE
Minha cabeça uma lua
De papel japonês, minha pele de ouro laminado
Infinitamente delicada e infinitamente dispendiosa.
Não te assombra meu coração. E minha luz.
Eu sou, toda eu, uma enorme camélia
Esbraseada e a ir e vir, em rubros jorros.
Creio que vou subir,
Creio que posso ir bem alto —
As contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu
Sou uma virgem pura
De acetileno
Acompanhada de rosas,
De beijos, de querubins,
Do que venham a ser essas coisas rosadas.
Não tu, nem ele
Não ele, nem ele
(Eu toda a dissolver-me, anágua de puta velha) —
Ao Paraíso.
2 comentários:
Antonio, muito fortes, e bonitos, os poemas de Sylvia Plath. Trágica história a dela. Não é regra que a obra de um artista, poeta ou escritor, seja reflexo de sua personalidade, de seu momento, ou de seu estado de espírito, mas, a poesia forte de Sylvia me faz pensar na sua biografia.
Um abraço pra você.
Querido Amigo,
Bela postagem! Como belos são os seus versos neste poema para Silvia Plath...expressividade latente da natureza sensível e melancólica desta poetisa cheia de marcas existenciais.
Beijos e carinho.
Genny
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