Ilustrações: JORGE VIEIRA
(1922 - 1998. Lisboa / Portugal)
Mexendo no “baú de guardados”
encontrei uma crônica de juventude, pertinho do comecinho de tudo. Na
época, eu publicava artigos em um jornal grapiúna.
Unicamente como exercício literário. Textos curtos polêmicos ou líricos,
agrupados em livro inédito, “A Língua Apunhalada”, no capítulo “Crônicas Grapiúnas”.
A LITERATURA
(1993)
A
literatura é um território inesgotável de emoções. O mais puro deleite
para um coração por vezes esgotado e intolerante. Existem pessoas que
aprendem a viver acompanhando telenovelas, outras constroem o seu
caráter mergulhando na linguagem de Dostoievski ou Hermann Hesse. Na
adolescência, costumava levar dois ou três livros como companheiros de
acampamentos (em Olivença, Morro de São Paulo, Trancoso, Barra Grande,
Itacaré etc.). O professor de literatura Ruy do Carmo Póvoas e o
jornalista-ator Gideon Rosa foram os primeiros a me incentivarem ao
hábito de ler. Logo a seguir, surgiu a poeta Genny Xavier na minha vida,
passando a amar a lírica. Se bem que ela admirava Carlos Drummond de Andrade e eu a
técnica seca de João Cabral de Mello Neto. Juntos escrevemos a peça bucólica “O Mundo Visto Através dos Olhos de Duas Mulheres Pálidas”.
Uma bela amizade que perdura. Graça Viana e Kátia Vieira,
funcionárias da Ceplac em sua fase áurea, apresentaram-me suas
fantásticas bibliotecas. O saudoso jornalista Luis Wilde revelou-me escritores de vanguarda,
e com a intimidade literária, apaixonei-me por personagens do calibre
de Werther, Ofélia, Heathcliff, Ana Karenina, Carmem, Gregor Sansa e
Giovanni. Cercado de livros por todos os lados, pergunto o que me leva a
viver amancebado às palavras? O que significa escrever da juventude à
maturidade? Talvez escreva, por assim dizer, para agradar. É isso que,
de certo modo, todo escritor faz. Sou um ser seduzido pela literatura,
homem viciado em papéis, celulóide e imaginação. Encontro emoção e bons
sentimentos ao ler um livro, ver um filme, ouvir uma música ou escrever
um texto. Mereço perdão, caro leitor? |
março 10, 2012
................................................................... A LITERATURA
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2 comentários:
Caro amigo, muito interessante sua reflexão e penso que este amor pelas palavras tem várias vertentes. Podemos amar ler e ter os personagens e as situações e a geografia, etc como companheiros por um bom tempo e isso ser tão intenso que (não deixe que me escutem) que equivale a uma experiência, filmes e peças de teatro podem produzir isso também, mas são mais rápidas. Escrever já é "sair" do corpo e entrar em outro ou outros é uma muito mais complexo....imagino eu. As outras artes tenho que pensar...rs
È só algumas idéias amigo, estou longe de ser uma teórica, sou só alguém que também gosta de ler.
beijos
Bela crônica dos primórdios Antônio! A literatura realmente é apaixonante e é um "mundo" onde nós, ávidos por cultura, nos aventuramos com imenso prazer. Abraços!
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