agosto 02, 2019

............................................. EL INTERROGATÓRIO: MADRI, 1995

antonio nahud em madri, 1995


“No fundo do homem, em seus mares longínquos, sonolento intranquilo em eternidade que se acaba. Lá se hospeda os escondidos. O sensato se dilui. Não há fotografia que se lembre, nem sorte nem palavras nem ardor. É o fundo mais fundo impossível de chegar.”

IMAGENS: EUSEBIO SEMPERE
(Onil, Espanha. 1923 – 1985)

Encontrei casualmente esta entrevista em um antigo diário. Na época, eu morava em Madri, Espanha. Informal, simpática e reveladora, confirma que a vida é bela.


01
Três cosas más importantes que el sexo.

Filmes clássicos, viajar, vinho tinto.

02
¿Cree que hay vida después de la muerte?

O aprendizado acumulado em nossa vã existência não se acaba de uma hora para outra.

03
Un partido para merecer su voto, debe proponerse.

Seria muito acertado candidatos independentes. Os partidos são decepcionantes, geralmente corruptos.

04
¿Prefiere amar o estar enamorado?

Após anos de leituras e filmes românticos, desejo intensidade, mistério, sabedoria, amor.

05
¿Que no perdona a un amigo?

Servidão, ironia, indiferença, mesquinhez. Mas não guardo rancor. Sei que ninguém deve estar condenado à perfeição.

06
¿Es usted delas que dice que se iría a viver al campo?

Aprecio a beleza e a generosidade da natureza, a vida terna, os valores caipiras, o ar puro.

07
¿De que no sabe nada y le gustaría saber mucho?

Botânica, biologia, ocultismo.

08
¿Que enfermedad le acosa con frecuencia?

Melancolia.

09
¿Que teme por encima de todo?

A miséria e a mediocridade.

10
¿Que disfruta y qué detesta de los niños?

O universo infantil me encanta pouco. Gastei o fervor da meninice na infância. Cresci com muitos irmãos, visitas de amigos e primos da mesma faixa etária. Não havia privacidade, era bacana e surreal.
nahud em madri, 1995

11
¿Como quisiera ser de viejo?

Culto, refinado, tranquilo. Sem ânsia sexual ou sentimental. Um Somerset Maugham, um Thomas Mann, uma Marguerite Yourcenar.

12
Una manera de mori que no quisiera para usted.

Abandonado, queimado, decadente. Prefiro a morte súbita.

13
Un deporte para practicar y otro para ver.

Não aprecio competição. Nadaria se fosse sócio de um clube com piscinas imensas, térmicas. Para ver, a elegância do tênis, o esplendor do hipismo e a energia do vôlei.

14
¿Cuál es su programa de televisión favorito?

Televisão me entedia. Interesso-me por filmes antigos, documentários, shows gravados e os contos assombrados de Spielberg.

15
¿A quién lee con mayor interés en la prensa?

Bernard-Henry Levy, em “El Mundo”. Um belíssimo cronista.

16
Entre su casa y su trabajo. ¿un bosque o una autopista?

Um parque com árvores e raros visitantes. Feito o de “Blow-up”, na cena em que David Hemmings fotografa Vanessa Redgrave.

17
¿Para que ahorra?

Não economizo. É uma virtude que Deus não me deu. Gasto tudo o que ganho.

18
¿De todo lo que ha hecho en la vida, ¿que es lo que le hace sentirse más satisfecho?   

A ligação amorosa familiar, viagens pela Europa e África, palavras escritas com honestidade, amores românticos.

19
¿Que le falta a su casa para ser perfecta?

Sou cigano, utilizo espaços para armazenar livros, cartas, textos, discos, filmes e álbuns de fotografias, para um dia perder tudo de uma só vez.

20
¿Que se trae entre manos?

A vontade de aprender, conhecer países, melhorar como ser humano e publicar alguns romances inéditos.

21
No quisiera morirse sin...

A publicação de mais alguns livros, casar-me, assistir a montagem de um texto teatral meu, conhecer a Grécia, viajar internacionalmente com Mamãe e ler os sete volumes de “Em Busca do Tempo Perdido”.