junho 29, 2020

......................... O ELOGIO CONSERVADOR: 21 ESCRITORES

gilberto freyre


“Quem não lê, não pensa, e quem não pensa será para sempre um servo.”
PAULO FRANCIS


Após décadas de doutrinamento de esquerda, ser de direita já não provoca constrangimento. Não significa ser socialmente insensível e reacionário. Nem sequer indica conservadorismo dos costumes. Já não é um sinal de inferioridade intelectual, nem de indiferença à injustiça ou ideologia das classes altas. E tudo isto é novo. Afinal, a esquerda tem sido invasora nos media, na cultura. Para nem falar da política, onde os partidos mais à direita se dizem centristas. Durante muito tempo, ser de direita era quase um crime. Para muitos, algo inconfessável. Felizmente as redes sociais democratizaram o debate. A blogosfera e os canais no Youtube tornaram possível aos cronistas de direita ocuparem lugares que eram monopolizados pelos de esquerda. Agora não há filtros, qualquer um pode exprimir-se e conquistar audiências. 

Mas afinal o que é realmente o conservadorismo? É um pensamento político que defende a manutenção das instituições sociais tradicionais – como a família, a comunidade local e a religião -, além dos usos, costumes e tradições. Enfatiza a continuidade e a estabilidade das instituições, opondo-se a movimentos revolucionários e ao politicamente correto. O conservador pensa na política como um meio de preservar a ordem, a justiça e a liberdade. 

O assunto, depois de anos de silêncio, vem circulando em inúmeros livros. Além dos livros editados, ou reeditados, uma série de analistas de direita está ocupando espaço na internet. Tudo começou com os blogues, depois uma série de cronistas que se instalaram nos media tradicionais, publicam livros, fazem conferências, comentam em seus canais. Olavo de Carvalho, Bernardo Küster, Flávio Morgenstern ou Luiz Felipe Pondé são nomes que nos últimos anos ascenderam a um estatuto de estrelato até então reservado aos intelectuais de esquerda.

Figuras das gerações anteriores, como Paulo Francis ou Roberto Campos, ganharam mais exposição mediática. Jornalistas e cronistas de direita criaram blogues, alguns populares, e surgiu um jornal, online, com tendência assumidamente de direita, o “Brasil Sem Medo”. A cultura de direita está finalmente ocupando o seu espaço. Os novos gurus expõem as suas teorias e comentam a realidade como só era costume brotar da escrita de esquerda. E têm muitos seguidores.

O Brasil sempre contou com grandes intelectuais conservadores. Entre eles, o polêmico Paulo Francis, famoso pela língua afiada, que anunciou sua mudança para a direita após o final do regime militar. Outro nome importante, o professor Wilson Martins brilhou em seu papel de crítico literário. O consagrado Machado de Assis também era conservador, embora sua obra literária não seja engajada, tratando dos sentimentos humanos. Um dos maiores estudiosos da cultura brasileira, o potiguar Câmara Cascudo, autor de trabalhos como O Dicionário do Folclore Brasileiro”, foi coordenador do movimento integralista no Nordeste, mantendo-se próximo do Tradição, Família e Propriedade e de militares pós 1964.

Certamente o conservador mais amado - e citado - do Brasil, Nelson Rodrigues, nunca se envergonhou desse status. Ao contrário, fez de sua ideologia sua marca registrada, com frases e tiradas espirituosas que ainda hoje são repetidas. Era, acima de tudo, um provocador: “Sou reacionário. Minha reação é contra tudo que não presta”. Não perdia uma chance de atacar o feminismo: “As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado”. Profundo observador da alma humana, investia contra o comunismo incansavelmente: “Eu amo a juventude como tal. O que eu abomino é o jovem idiota, o jovem inepto, que escreve nas paredes ‘É proibido proibir’ e carrega cartazes de Lenin, Mao, Guevara e Fidel, autores de proibições mais brutais”.

Com tantos escritores conservadores resgatados, pode ser difícil saber quem ler. Esta lista abaixo oferece uma mistura de escritores brasileiros com diferentes estilos de escrita. Cada um deles escreveu sobre questões importantes, incluindo economia e mercado livre, política externa e nacional, ficção, ensaios literários e poesia. Sinta-se livre para viajar na obra deles.

21 ESCRITORES brasileiros CONSERVADORES

01
ADONIAS FILHO
(Itajuípe, Bahia. 1915 – 1990)


Três obras:
Servos da Morte (1946)
Corpo Vivo (1962)
As Velhas (1975)

02
ALCEU AMOROSO LIMA
(Petrópolis, Rio de Janeiro. 1893 – 1983)


Três obras:
Meditações sobre o Mundo Interior (1953)
Os direitos do Homem e o Homem sem Direitos (1975)
Tudo é Mistério (1983)

03
AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT
(Rio de Janeiro, RJ. 1906 - 1965)


Três obras:
Canto do Brasileiro (1928)
Pássaro Cego (1930)
Estrela Solitária (1940)

04
BRUNO TOLENTINO
(Rio de Janeiro, EJ. 1940 - 2007)


Três obras:
Os Deuses de Hoje (1995)
A Balada do Cárcere (1996)
O Mundo como Ideia (2002)

05
CORNÉLIO PENNA
(Petrópolis, Rio de Janeiro. 1896 - 1958)


Três obras:
Fronteira (1935)
Repouso (1948)
A Menina Morta (1954)

06
GERARDO MELLO MOURAO
(Ipueiras, Ceará. 1917 - 2007)


Três obras:
O País dos Mourões (1963)
Os Peãs (1982)
O Sagrado e o Profano (2002)

07
GILBERTO FREYRE
(Recife, Pernambuco. 1900 - 1987)


Três obras:
Casa-Grande & Senzala (1933)
Sobrados e Mucambos (1936)
Interpretação do Brasil (1947)

08
GUSTAVO CORÇÃO
(Rio de Janeiro, RJ. 1896 - 1978)

Três obras:
Claro Escuro (1958)
Patriotismo e Nacionalismo (1960)
O Século do Nada (1973)

09
JORGE de LIMA
(União dos Palmares, Alagoas. 1893 – 1953)


Três obras:
Tempo e Eternidade (1935)
Poemas Negros (1947)
Invenção de Orfeu (1952)

10
JOSÉ GUILHERME MERQUIOR
(Rio de Janeiro, RJ. 1941 - 1991)


Três obras:
Razão do Poema (1965)
De Anchieta a Euclides (1977)
O Marxismo Ocidental (1987)

11
JOSUÉ MONTELLO
(São Luís, Maranhão. 1917 - 2006)


Três obras:
Os Tambores de São Luís (1965)
Duas Vezes Perdida (1966)
Perto da Meia-noite (1985)

12
LUÍS da CÂMARA CASCUDO
(Natal, Rio Grande do Norte. 1898 - 1986)


Três obras:
Vaqueiros e Cantadores (1939)
Dicionário do Folclore Brasileiro (1954)
Flor dos Romances Trágicos (1966)

13
MACHADO DE ASSIS
(Rio de Janeiro, RJ. 1839 - 1908)


Três obras:
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)
Quincas Borba (1891)
Dom Casmurro (1899)

14
MANUEL BANDEIRA
(Recife, Pernambuco. 1886 - 1968)


Três obras:
A Cinza das Horas (1917)
Libertinagem (1930)
Estrela da Vida Inteira (1968)

15
NELSON RODRIGUES
(Recife, Pernambuco. 1912 - 1980)


Três obras:
Asfalto Selvagem: Engraçadinha, Seus Pecados e Seus Amores (1959)
O Óbvio Ululante: Primeiras Confissões (1968)
O Reacionário: Memórias e Confissões (1977)

16
OCTÁVIO de FARIA
(Rio de Janeiro, RJ. 1908 - 1980)


Três obras:
Desordem no Mundo Moderno (1930)
Maquiavel e o Brasil (1931)
Três Novelas da Masmorra (1968)

17
OLAVO DE CARVALHO
(Campinas, São Paulo. 1947)


Três obras:
O Jardim das Aflições: de Epicuro à Ressurreição de César - Ensaio sobre o Materialismo e a Religião Civil (1995)
O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras (1996)
O Mínimo que Você Precisa Saber para não Ser um Idiota (2013)

18
OTTO MARIA CARPEAUX
(Viena, Áustria. 1900 - 1978)


Três obras:
Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira (1951)
História da Literatura Ocidental (1959-1966)
O Brasil no Espelho do Mundo (1965)

19
PAULO FRANCIS
(Rio de Janeiro, RJ, 1930 - 1997)


Três obras:
Cabeça de Papel (1977)
O Afeto que se Encerra (1980)
Trinta Anos Esta Noite – 1964: O Que Vi e Vivi (1994)

20
ROBERTO CAMPOS
(Cuiabá, Mato Grosso. 1917 - 2001)


Três obras:
Ensaios Contra a Maré (1969)
Ensaios Imprudentes (1987)
Guia para os Perplexos (1988)

21
WILSON MARTINS
(São Paulo, SP. 1921 - 2010)


Três obras:
A Crítica Literária no Brasil (1952)
A Ideia Modernista (1965)
História da Inteligência Brasileira (1976-79)



7 comentários:

Armando Valentim Rosa disse...

Muito boa matéria. Parabéns! E viva os escritores conservadores!

Fia Freitas disse...

Nelson Rodrigues, tudo de bom

Tete Freitas disse...

Ótimo! Obrigada

Marlene Maria Schwertner disse...

O Brasil não tem problemas, só soluções adiadas. C. Cascudo.

Virgílio Medeiros disse...

Grato pela matéria. Bastante esclarecedora.

Vicente Bonifácio disse...

Grato pela lista-dica. Bom direcionamento.

Samara Cordier disse...

Muito bom. Vou divulgar em vários grupos.