"CONFISSÕES" na BAHIA
Imagens:
MÁRIO CRAVO NETO
Em
“CONFISSÕES”, o baiano Antonio Nahud conta de forma poética os bastidores de
seu íntimo. A busca por significados na vida, entre outras reflexões
existenciais não menos desafiadoras, levaram o autor a revisitar o campo dos
versos após a publicação em 2009 do “Livro de Imagens”. Depois do lançamento em
Natal (Rio Grande do Norte), onde o autor reside, o livro chega a Bahia, com
autógrafos em Salvador, dia 16 de dezembro, terça-feira, às 19h, no Espaço
Cultural Casa da Mãe (Rua Guedes Cabral, 81 - Rio Vermelho). A seguir em Itabuna,
dia 18 de dezembro, quinta-feira, às 17h30, na Livraria Novel (Av. Paulino
Vieira, 392). Dois dias depois, no sábado, às 18h30, em Ilhéus, na Academia de
Letras de Ilhéus (Rua Antônio Lavigne de Lemos, 39).
Este é
o 11º livro do autor, sendo o 5º de poesia. Ele dedica seu novo livro a
escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol (1931-2008), com quem conviveu
durante temporada em Sintra, Portugal. O livro traz 51 poemas inéditos;
prefácio de Reheniglei Rehem, doutora e pós-doutora em Teoria Literária;
apresentação dos poetas e acadêmicos Nelson Patriota e Paulo de Tarso Correia
de Melo; e capa do artista potiguar Ítalo Trindade.
Sobre o Autor
O
primeiro livro deste escritor viajante foi publicado em 1993, “O Aprendiz do
Amor”, pouco antes de viver por 12 anos na Europa. Em Portugal, publicou
“Retratos em Preto & Branco – Contos Góticos de Madri” (1996), “Ficar Aqui
Sem Ser Ouvido por Ninguém” (1998), “Caprichos” (1998) e, mais recentemente,
“Se Um Viajante Numa Espanha de Lorca” (2005). Publicou também “Suave é o
Coração Enamorado” (2006), entre outros. Antonio Nahud tem contos, poemas,
crônicas, ensaios e artigos publicados em jornais e revistas de vários países.
Ano Passado recebeu o Troféu Cultura RN de Melhor Livro do Ano.
Programação
Lançamento
do livro de poesia “Confissões”, de Antonio Nahud
Datas:
16 de
dezembro de 2014, terça-feira, às 19h, em Salvador.
18 de
dezembro de 2014, quinta-feira, às 17h30, em Itabuna.
20 de
dezembro de 2014, sábado, às 18h30, em Ilhéus.
Locais:
Salvador:
Espaço Cultural Casa da Mãe (Rua Guedes Cabral, 81 - Rio Vermelho).
Itabuna:
Livraria Novel (Av. Paulino Vieira, 392).
Ilhéus: Academia de Letras de Ilhéus (Rua
Antônio Lavigne de Lemos, 39).
Entrevista
ANTONIO
NAHUD AUTOGRAFA NOVO LIVRO
por CEFAS CARVALHO
Depois
de um livro de contos e uma biografia publicados há dois anos, Antonio Nahud volta
agora às livrarias com o gênero que deu início a sua carreira literária: a
poesia. O grapiúna radicado no Rio Grande do Norte apresenta seu novo livro de
poemas, "CONFISSÕES", em Salvador, Itabuna e Ilhéus.
Desde 2009, quando publicou “Livro de
Imagens”, Nahud se dedicou à prosa, lançando “Pequenas Histórias do Delírio
Peculiar Humano” (2012) e “Agnelo Alves – 8 Décadas” (2012). No entanto, conta
que jamais deixou de criar versos:
– O que me assustou foi uma convicção
absoluta de que havia encontrado minha voz poética. Fiquei distanciado para me
perguntar se não estava me iludindo. Depois desses cinco anos, confirmei o
lugar onde quero estar, embora aqueles que leram o livro me digam que minha voz
segue a mesma, apenas com poemas mais claros e líricos.
O lirismo é mesmo uma das marcas do novo
livro. A busca pela significância se repete ao longo das páginas, mas não há
espaço para idealizações. A afetividade é construída no cotidiano. O sentido do
fazer poético e questionamentos existenciais são outros temas recorrentes em seu
novo livro. Mais do que encontrar respostas, Nahud parece estar reafirmando uma
vocação, revelada ainda em 1993, com “O Aprendiz do Amor”, e a seguir em “Caprichos”
(1998) e “Suave É o Coração Enamorado” (2006).
Para quem vem de um mundo de fidalguia
falida, de nostalgia cacaueira, ser poeta não é nada, o que se valoriza é ser
uma pessoa bem-sucedida. Mas resolvi parar de lutar contra o descaso poético:
já sofri em dois ou três momentos nos quais tentei matar a poesia dentro de mim
– conta o autor.
Até que ponto você é
consciente da influência das imagens no seu processo criativo? Você pode
explicar um pouco esse processo interno de associações?
Desde
criança, esse estímulo aconteceu, pela vivência em cidade do interior, sendo
criado com liberdade e em contato com a natureza e, sobretudo, tendo a
convivência com pessoas e seus hábitos e costumes, além de estar cercado por um
ambiente pleno de histórias orais. Por outro lado, o hábito da leitura em
família, proporcionou a que me interessasse por livros, gibis, jornais e
revistas culturais e de variedades. Enfim, tudo era estímulo para despertar a
criatividade, aliando-se a isso à interiorização do mundo real. Para mim o que
o processo de criação visual permite é o jogo entre a imagem conjugada à
palavra ou a palavra conjugada à imagem. Um completando o outro. Na realidade o
processo criativo é muito complexo. Levo tempo para dar à luz um poema.
Quais são algumas das
influências que marcam a sua obra: pode nos falar sobre alguns espaços rurais,
urbanos, cotidianos, espaços familiares, objetos, autores?
No
que se refere às influências marcantes na minha vida em relação à imagem, o cinema
das décadas de 1940, 1950 e 1960 teve um papel fundamental. Criança, ainda,
ficava maravilhado com os filmes e as imagens projetadas na tela. Minha atenção
captava os quadros e efeitos no conjunto dos filmes os quais me satisfaziam
esteticamente. Por outro lado, a fotografia sempre foi um estímulo. Gostava de
fixar minha vista nas fotos artísticas das cidades, das paisagens e das figuras
humanas. De resto, sempre vi o mundo
como um grande mapa geográfico por onde as pessoas interagiam, produzindo e
criando. Os autores, cujas obras me influenciaram através das leituras que
realizei, sejam eles em prosa ou em verso: Victor Hugo, Rainer Maria Rilke, Virgínia
Woof, Albert Camus, Federico Garcia Lorca, F. Scott Fitzgerald, Samuel Beckett,
e.e. cummings, Marguerite Youcenar, Paul Bowles. Entre os brasileiros, os
poetas do Concretismo, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Augusto de Campos e Ferreira
Gullar; e os poetas contemporâneos como Hilda Hilst, João Cabral de Melo Neto e
Paulo Leminski, além da prosa de Lúcio Cardoso, Autran Dourado e Clarice
Lispector. No Sul da Bahia, sou fã de Jorge Medauar, Sosígenes Costa, Adonias
Filho, Telmo Padilha, Euclides Neto, Sonia Coutinho, Hélio Pólvora, Antonio
Lopes, Ruy Póvoas, Cyro de Mattos, Jorge de Souza Araújo, Tica Simões, Rita
Santana, Piligra, José Delmo, Genny Xavier
e Iolanda Costa, entre outros. Em todos observei a exploração da
visualidade das palavras e expressões.
Qual a sua opinião
sobre a marginalização das artes? Você acredita que ainda trabalhamos assim no
século XXI?
Não
acredito que as artes sejam marginalizadas. Acredito mais no conceito que
considera a arte manifestação do espírito humano. Algo que preenche a
imaginação, mas não tem valor econômico. Há, por ela, apenas um interesse
estético e cultural.
Você não acredita que
as artes se considerem secundárias no que diz respeito às ciências, ou ao
pensamento chamado científico? Você não acredita que no ensino e nos valores atuais
ainda exista esta dicotomia?
Não
considero as artes em posição secundária em relação ao pensamento científico.
Isso porque o pensamento científico, na medida em que se desenvolve,
aproxima-se das artes ao se mostrar capaz de incorporar as dimensões sensíveis
da experiência humana em uma abordagem única na qual a física e a semântica não
sejam distanciadas uma das outra. Isso significa dizer que a ciência não se
torna distante, mas converge para o primado da arte. Pelo lado da educação,
podemos dizer que o ensino privilegia o pensamento científico, mas não
necessariamente o faz com propriedade. O pensamento humanista que nos leva à
arte, por certo é parte marcante no processo educacional. Acredito que, por
força do capitalismo, o ser humano tende a valorizar o pensamento científico
por uma questão de sobrevivência e necessidade. E não porque queira considerar
a arte como uma atividade menor.
Você, que morou tantos
anos na Europa, acha que a literatura brasileira tem alcance internacional?
Para
nós, escritores brasileiros, o fato de escrevermos no idioma português ainda é
uma barreira para o desenvolvimento da nossa literatura no mundo. Isso
significa dizer que a língua portuguesa não tem expressão suficiente para
exercer influência na cultura, até mesmo na América Latina (onde predomina a
língua espanhola), que dirá em outras partes. Há obras literárias brasileiras
significativas que podem integrar o contexto da literatura ocidental, mas não a
ponto de influenciar. Falta-nos a universalidade exigida pelo contexto
histórico da literatura.
Gostaria que comentasse sobre o tema da exploração da plasticidade da palavra na sua própria obra. Quando você compõe um poema em que sentido você trabalha este aspecto? Houve uma evolução desde a sua obra inicial?
Gostaria que comentasse sobre o tema da exploração da plasticidade da palavra na sua própria obra. Quando você compõe um poema em que sentido você trabalha este aspecto? Houve uma evolução desde a sua obra inicial?
Por
entender que o mundo é, antes de qualquer coisa, plástico e visual, e o olhar e
o ver são partes importantes da leitura desse mundo, é que entendo o poema como
um conjunto verbi-visual. Criado para ser visto e compreendido por quantos se
deparem com as imagens póeticas que ele encerra. A palavra, por si mesma, é
plástica e visual. Quando componho um poema a minha busca é sempre com o
sentido de transmitir uma mensagem que tenha caráter intimista. Não teria como
afirmar com isenção, mas penso que meus poemas iniciais (da década de 1990) tinham
mais garra. Impressionavam mais, afinal eu era cheio de esperanças. Hoje -
estabelecendo uma comparação com poemas de 20 anos atrás - meus poemas não têm
o mesmo vigor, embora sejam mais trabalhados, apurados. Mas talvez esteja
enganado. Tenho leitores que acham justamente o contrário.
CONFISSÕES
de
Antonio Nahud
Poesia,
Sol Negro Editora, 70 páginas, R$ 30.