Ilustrações:
CARYBÉ
(1911 - 1997. Lanús / Argentina)
No dia dois de fevereiro, celebra-se Mãe Yemanjá, a senhora dos oceanos, regente absoluta dos lares e protetora da família, chamada também de Dona Janaína ou Deusa das Pérolas. A mais tradicional festa em sua homenagem acontece em Salvador, capital da Bahia, na praia do Rio Vermelho, movimentando um grande número de iniciados e simpatizantes, tanto da Umbanda como do Candomblé. Na mesma data, ela também é cultuada em diversas outras praias brasileiras, onde lhe são ofertadas velas, perfumes, espelhos, pentes, colares e flores, lançados ao mar em pequenos barcos artesanais, após o devoto pular sete ondas. No Rio de Janeiro, as comemorações marcam a passagem de ano e podem ser vistas por toda a orla marítima. Segundo o escritor baiano Jorge Amado, “Yemanjá é também conhecida por dona Janaína, Inaê, Princesa de Aiocá e Maria, no paralelismo com a religião católica. Aiocá é o reino das terras misteriosas da felicidade e da liberdade, imagem das terras natais da África, saudades dos dias livres na floresta”.
Os Orixás são deuses de origem africana que correspondem a pontos de força da natureza e os seus arquétipos estão relacionados às manifestações dessas energias. As características de cada Orixá aproximam-os dos seres humanos, pois eles manifestam-se através de emoções. Sentem raiva, ciúmes, amam em excesso, são passionais. Cada um tem o seu sistema simbólico particular, composto de cores, comidas, cantigas, rezas, ambientes, espaços físicos e até horários. Estes deuses são divididos em quatro elementos – água, terra, fogo e ar. Alguns estudiosos ainda vão mais longe e afirmam que são quatrocentos o número de Orixás, divididos em cem do Fogo, cem da Terra, cem do Ar e cem da Água. Porém, os mais conhecidos formam um grupo de 16 deuses. Eles, como resultado do sincretismo que se deu durante o período da escravatura, foram associados a santos católicos, devido à imposição do catolicismo aos negros.
O nome de Yemanjá deriva da expressão YéYé Omó Ejá, que significa, mãe cujos filhos são peixes. Na África, era cultuada pelos Egbá, nação Iorubá da região de Ifé e Ibadan, onde se encontra o rio Yemojá. Apesar de no Brasil ser celebrada nas águas salgadas, a sua origem é de um rio que corre para o mar. Inclusive, todas as suas saudações, orikís e cantigas remetem a essa origem. “Odó Iyà”, por exemplo, significa mãe do rio, já a saudação “Erù Iyà” faz alusão às espumas formadas do encontro das águas do rio com as do mar. Yemanjá é a mãe de todos os filhos, mãe de todo mundo. Ela sustenta a humanidade e, por isso, os órgãos que a relacionam com a maternidade, ou seja, a sua vulva e seus seios chorosos, são sagrados. Espelho do mundo, reflete todas as diferenças. Mãe que orienta, mostra os caminhos, educa, e explora as potencialidades do ser humano. Dissimulada e ardilosa, faz chantagem afetiva para manter os filhos sempre por perto. Suas cores são o azul claro e branco; sua bebida, o espumante ou o champanhe.
Quando Olodumaré criou o mundo, dividiu-o conforme a natureza individual dos Orixás, entregando um reino específico para cada um governar. Para Yemanjá, coube como missão, cuidar de Oxalá, de assisti-lo em suas tarefas, de cuidar de sua casa e de seus filhos. Insatisfeita, pois todos os outros Orixás pareciam ter funções mais importantes, ela reclamava o tempo todo. Teve também problemas com a maioria dos seus muitos filhos. Ossain, o mago, saiu de casa muito jovem e foi viver na mata virgem, estudando as plantas. Contra os conselhos da mãe, Oxóssi bebeu uma poção dada por Ossain e, enfeitiçado, também passou a viver no mato. Passado o efeito da poção, ele voltou para casa, mas Yemanjá, irritada, expulsou-o. Então Ogum a censurou por tratar mal o irmão. Exu, seu outro filho, encantou-se por sua beleza e tomou-a a força, tentando violentá-la. Bravamente ela resistiu à violência do filho que, na luta, dilacerou os seus seios. Arrependido pelo que fez, Exu saiu no mundo, desaparecendo no horizonte. Entre a dor, a vergonha, a tristeza e a pena que teve pela atitude do filho, ela pediu socorro ao pai Olokum e ao criador Olorum. E, dos seus seios dilacerados, a água, salgada como a lágrima, deu origem aos mares. Exu, pela atitude infeliz, foi banido da mesa dos Orixás, tendo como incumbência ser o guardião, não podendo se juntar aos outros na corte. Em conflito com os filhos, Yemanjá chorou tanto que se derreteu e formou um rio que correu para o mar.
Numa Casa de Santo, Yemanjá atua dando sentido ao grupo, à comunidade ali reunida e transformando essa convivência num ato familiar; criando raízes e dependência; proporcionando sentimento de irmão para irmão em pessoas que há bem pouco tempo não se conheciam; e também o sentimento de pai para filho ou de mãe para filho nos casos de relacionamento dos Babalorixás (Pais no Santo) ou Ialorixás (Mães no Santo) com os Filhos de Santo. É ela que proporciona boa pesca nos mares, regendo os seres aquáticos e provendo o alimento vindo do seu reino. É ela quem protege os navegantes e pescadores. Salve, Rainha do Mar!
CULINÁRIA RITUALÍSTICA para YEMANJÁ
MOQUECA de SIRI
Ingredientes:
200g de carne de siri; cebola; tomate; coentro; suco de limão; sal; dendê; 1/2 xícara de leite de coco.
Preparo:
Refogar os temperos, juntar o siri e cozinhar. Por fim, despejar o leite de coco e apurar o caldo.
MANJAR BRANCO
Ingredientes:
1 litro de leite; 1 coco; 2 colheres (sopa) de maizena; 1 xícara de açúcar; 1 prato branco grande; e mel.
Preparo:
Ralar o coco e colocá-lo num guardanapo, espremendo bem, até sair o leite, que deverá ser reservado. Numa panela, ferver o coco ralado com o leite. Depois coar, separando o coco do leite. Com uma pequena parte do leite se dissolve a maizena. Acrescenta-se o açúcar, mexendo sempre com uma colher de pau. Antes de começar a ferver, juntar o leite do coco, que ficou reservado. Quando esta mistura atingir a consistência de uma papa bem grossa, o manjar estará pronto. Despejar numa forma previamente molhada. Lavar o prato branco em água e mel. Desenformar o manjar depois de frio, para não rachar, enfeitando com coco ralado.
4 comentários:
Qual a fonte?
Muy bonito, yo tengo una postal igual que me regalastes. Besos.
Tô lendo seu blog, acabei de ler uma poesia linda. Até deixei um comentário lá, acho que foi a sua primeira postagem. Também escrevo poesias, tenho um blog meu, www.coresdobanal.blogspot.com e um outro coletivo, www.nexogrupal.blogspot.com , depois dá uma olhada
Esse belo post me fez lembrar de Clara Nunes.
Imagino essa festa linda, com as flores, e as cerimônias, os rituais, enfim. Gostei muito de conhecer a historia dos orixás, e em especial a da Rainha do Mar.
Um abraço pra você.
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