O JORNAL de HOJE
Natal, Rio Grande do Norte
Natal, Rio Grande do Norte
14 de Maio de 2012
Daniela Pacheco
Ilustrações:
FRANCIS BACON
(1909 - 1992. Dublin / Irlanda)
Antonio, como surgiu a ideia de produzir esse livro?
Em 2010, a Edittus, editora da Universidade de Santa Cruz (Uesc), no sul da Bahia, convidou-me para publicar algo em prosa. O prazo para entregar o material era curto, mas eu tentei não perder a oportunidade recolhendo contos meus publicados ao longo dos anos em cadernos literários, antologias e blogues, além de compilar inéditos e escrever um ou outro conto especialmente para o livro. Surpreso, notei que havia uma harmonia, um fio condutor nessas narrativas curtas. Mas a editora rejeitou o coquetel sexual, cruel e muitas vezes desiludido, pedindo algo dentro de suas normais editoriais acadêmicas. Recusei-me a suavizá-lo, passando os últimos três anos trabalhando nos originais, muitas vezes intensificando ainda mais a violência interior dos personagens. Este ano, outra editora, do Ceará, propôs editá-lo, mas a situação se repetiu e eu resolvi publicá-lo por conta própria. Algo que não acontecia desde o meu livro de estreia, “O Aprendiz do Amor”, de 1993.
Quanto tempo você precisou para selecionar os textos que entrou neste livro? E, o que norteou as escolhas?
Não houve uma seleção propriamente dita. Antes deste livro, havia publicado apenas um livro de contos, em Portugal, “Retratos em Preto & Branco – Contos Góticos de Madrid”. Todos os outros contos estavam guardados no baú à espera de atenção. Juntei os 64 e felizmente se casaram na irreverência emocional.
A minha escrita procura a intuição e o intimismo, o misterioso e o ritmo cinematográfico. Destaca as obsessões humanas, os sentimentos exacerbados e a interferência do invisível. “Pequenas Histórias do Delírio Peculiar Humano” ajuda a compor o retrato, bastante nítido, de minha trajetória literária. São contos minimalistas, viscerais e cruéis, em torno dos sentimentos definidores do homem urbano da atualidade. Um livro sem concessões num emaranhado de imagens neo-realistas.
Quando você fala que "os contos são minimalistas, viscerais e até cruéis" o que pretendente expressar com isso? Exemplifique.
Eles foram escritos sem amarras, como uma catarse. Não há pudor ou moralismo. Falo de solidão, esquizofrenia, ações inconsequentes, paixão, abandono, densidade etc. Tudo em poucas palavras; muitas vezes determinados contos nem completam uma única página do livro. Procuro mostrar a banalização das histórias cotidianas de todos nós. Sei que isso já foi contado e recontado, de Tchekhov a Rubem Fonseca, mas é sempre atraente descrever mais uma vez um mundo sem descanso, sem afeto e sem perdão. Trabalho com a surpresa, a estranheza e o macabro, fugindo do naturalismo regionalista ou da linguagem tosca da televisão e da web. Acredito na ficção como forma de investigar a natureza humana, não como entretenimento fácil. Os meus personagens obedecem a algum chamado, enfrentando ou sucumbindo aos seus demônios, entregando-se às obsessões, entre o mítico e o real. Essas “pequenas histórias” podem ser uma odisseia perturbadora se vivenciadas.
Em geral, o que lhe inspira?
Sou observador. Presto atenção nas atitudes das pessoas, captando suas reações, ouvindo discretamente histórias contadas publicamente. É um exercício existencial fabuloso, minha literatura necessita disso. Desde moleque sou assim: um voyer de doidos, operários, domésticas, grã-finos, religiosos etc. Por fim, anoto os tópicos do cotidiano em um bloco, seja uma frase, o resumo de um caso cabuloso ou de reação despropositada. Eles se tornam o embrião de futuros contos. Muitas vezes, seduzido por rostos desconhecidos, invento na hora a história supostamente real deles. Por exemplo, filtrando um rosto masculino em um ônibus, imagino: “Este trintão entediado chegará em casa e abrirá uma latinha de cerveja, jogando a camisa e os sapatos num canto, ligando a tevê no volume mais alto nem mesmo dando boa noite para a esposa que está fazendo as unhas”. Meus contos surgem assim. Junto fatos cotidianos com experiências e referências artísticas.
Sou um escritor brasileiro, nordestino, “rebolando” para sobreviver dignamente. Aprendi a aproveitar os dias ao máximo. Pelas manhãs, atuo como assessor de comunicação do professor Diogenes da Cunha Lima. Na parte da tarde, cuido de projetos culturais de encomenda, pontuais. Quando a noite cai, escrevo crônicas para jornais e revistas de outros estados, alimento dois blogues, leio, vejo filmes, escrevo e respondo e-mails, rabisco projetos. Quase não tenho vida social. Deixei de ver televisão porque roubava o meu tempo. Como um dia me disse a poeta Hilda Hilst, e eu duvidei, “há um momento na vida que é preciso escolher: a literatura ou a vida”. Ela estava certíssima. Talvez por isso bons escritores deixem de escrever ao longo do caminho. Mas não é nada fácil. Exige, acima de tudo, paixão, obstinação, perseverança e muita energia. E eu amo todas as atividades profissionais que pagam meus vícios e virtudes. Sou humildemente grato por sobreviver da escrita em seus diversos aspectos.
Uma das suas grandes paixões é o cinema. Em algum dos contos deste livro você abordou esse tema?
O cinema faz parte de minha literatura. Eles se misturam. Algumas vezes no ritmo, outras vezes em citações. Este livro está impregnado do universo sombrio e bizarro do diretor canadense David Cronenberg. Mas não só o cinema, a literatura de outros escritores e a pintura também estão presentes nestes contos. Tem muito de Edgar Allan Poe, de Dalton Trevisan, de Lúcio Cardoso, do pintor irlandês Francis Bacon. Não é à toa que a exposição fotográfica “A Face Oculta”, do mineiro Morvan França, que fará parte do lançamento do livro, traduz em imagens esse mix de referências artísticas e humanas.
Então, fale para gente alguns dos temas que abrilhantam este livro?
Somos criaturas frágeis e a essência deste livro é a fragilidade humana. E cabe quase tudo na complexa rede de relações sociais que retrato: o policial, o fantástico, o terror, o intimismo, o erótico ou o melodrama.
Fale um pouco sobre a sua trajetória literária?
Escrever é excitante, uma viagem! O que procuro nesta viagem? Consolação, justificação, alegrias, inocência, amor à vida. Assim tem sido minha vida literária. Filho de um advogado intelectual, li Dostoievski e Flaubert por volta dos 13 anos. Depois do curso de comunicação, parti para São Paulo, vivenciando intimidades com Hilda Hilst, Caio Fernando Abreu e Lygia Fagundes Telles. Apaixonado pelos escritores viajantes, mudei-me para a Europa e por lá fiquei doze anos. Toda essa experiência diversificada e rica alimenta minha trajetória literária.
E quais são seus próximos projetos?
Vivo o presente. Nele, planejo para breve uma antologia em livro com os melhores textos do meu blog cinéfilo “O Falcão Maltês”. Penso também na possibilidade de editar um caderno cultural, publicar um romance e interpretar publicamente poemas. E como não sou nenhum menino, sonho em ir morar no litoral de uma pequena cidade. Já não me identifico com grandes cidades. A vida provinciana, por incrível que pareça, seduz-me. A vida é cheia de surpresas. Veremos o que o futuro me reserva.
26 comentários:
Parabéns por mais uma cria....bjs!!!!
parabéns menino de ouro lindo artigo..
Uau! Parabéns...
parabéns!
Parabéns!!
Precisamos de Mais Poesias, Mais Contos, Mais Letras. Parabéns Nahud Júnior e Sucesso.
Valeu, grande Júnior !...Tô gostando de ver. Você vai longe, mesmo. Tem talento pra isso. Afetuoso abraço deste amigo aqui, sempre à disposição. Joel Filho
Querido, Parabéns. Sucesso, vc. merece. Gostaria de estar aí p/ abraça-lo e mostrar ao povo que está lhe acolhendo que em sua terra vc. tbém é muito querido. Obrigada. Graça Bittar.
Obrigado pelo convite... Parabéns pelo lançamento... Abraços do Josealoisebahiabhzmg: Mai2012...
A entrevista contigo que saiu no jornal PN impresso desta segunda sobre o lançamento do livro, estará na íntegra no blog na manhã da quinta. Grande abraço!
Sucesso, Tony! Abraços de Recife!
GOSTARIA MUITO DE ME FAZER PRESENTE...MAS A DISTANCIA...
OBRIGADA E BJS
que belo amigo..
Aeeeeeeeeeee rapaz, parabens. Quando eu crescer quero ser igual a vc.
Sucesso com a obra, Antonio!
Pena que estou tão longe! Mas valeu a lembrança e o convite.
bom-dia, antonio,
sinto muito não poder ir, pois irei logo mais à noite ao rio. boa sorte com mais este fruto seu.
abraços.
marize
Parabéns, Antonio. Boa sorte.
Pena que estou em BH, mas a torcida é favorável, além da certeza de que um produto de qualidade.
Parabéns!
=D
Vá em frente, meu querido! Vc merece tudo que conquista! O resto é choro de invejoso...rsrsrs
boa sorte,beijos
E que venha ainda mais celebrações
valeu junior, parabéns
Boa noite de autógrafos!
Parabéns amigo! O lançamento de seu livro foi um momento muito agradável!Foi óooooooooooooooooooootimo! Beijos!♥
Antonio, depois de ler sua entrevista, fiquei com muita vontade de ler seus contos... Costumo ler as matérias do seu blog "O falcão Maltês" que eu acho maravilhoso, adoro!
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