O
artista e fotógrafo mineiro MORVAN FRANÇA, Troféu Cultura de Melhor Exposição
de 2012 com “A Face Oculta”, apresentou a foto-instalação ORBITARIUM no Café Salão Nalva Melo, de
12 a 17 de maio, dentro da programação do Circuito Cultural Ribeira, em Natal, no Rio Grande do Norte. Feita
especificamente para o “Dia da Poesia”, a obra cria a ilusão de estranhamento do
espaço por meio de criatividade e inventividade, misturando fotografias em
preto e branco, versos meus e elementos da natureza
(raízes, pedras e terra). Em foco, o interesse formal e temático do artista pela
relação do homem com paisagens poéticas reveladoras, trabalhando com questões
de percepção por meio de sombras e gravitação. Com o intuito de levar o visitante
para dentro de seu mundo, permitindo que nessa viagem reflexiva interaja com
objetos experimentais. “Inspirado na inquietação de todos nós. Ele
mora numa floresta misteriosa de nossas cabeças”, explica Morvan.
“Não ouviste falar do homem que estava a cavar a terra
à procura de raízes e encontrou um tesouro?”
Khalil Gibran
Faz-se
silêncio. Uma folha amarelo-ouro baila árvore abaixo. Corpos agonizantes falam,
riem, grunhem. Depois de 13 anos de vida subterrânea, cigarras nortes-americanas
emergem do solo, unem-se em um coro ensurdecedor e em seguida, morrem. Um
macaco na África, cheio de dedos, constrói um ninho de galhos e ramos, e nele,
enlaçado com seu filhote, adormece. Uma jovem índia caduweo, grávida e de seios
fartos, apanha jenipapos de uma cuia de cabaça, e sentada, sob a oca copular da
tribo, pinta-se de espirais. Um homem bafora seu charuto da janela da
locomotiva, que apita como um grito de terror. Uma jiboia imensa, cheia de
filhotes no ventre, nada contra a corrente, em um dos infindáveis e sinuosos
igarapés do Amazonas. Milhares de pessoas desejam, seduzidos por algum
comercial de TV, um bem de consumo que jamais vão adquirir. Cerca de 100
bilhões de criaturas humanas já pisaram o planeta Terra desde que o mundo
existe. As lamparinas acesas atraem insetos que, como em espécie de uma
epifania, põem se a circulá-la. Com um fio de teia lançado no ar, aranhas podem
viajar centenas de quilômetros pelas correntes de vento, cruzando mares,
montanhas ou desertos. O Sol orbita a Via Láctea, a Terra orbita o Sol, a Lua
orbita a Terra, e enquanto isso, pessoas orbitam (através dos olhos e da consciência) fotos-poema
que giram suspensas, parecendo dizer: apesar de tudo, o tempo
não é nada. A idade não é nada. A eternidade não existe.
Texto de MORVAN FRANÇA
POEMAS ORBITARIUM
Antonio Nahud
Habitante
dos olhos meus, ensino a ler às sombras que acordam, às que nunca dormiram e às
que entram no adormecido. Entre abrigos e segredos, nos viciamos na linguagem
onde se é morte e se desmaterializa.
Quando
a minha voz se calar, outras aparecerão e eu serei sombra ao vento da memória.
Mas, enquanto existo, que hei de fazer para fazer chegar os meus versos à sua
incompletude?
Todos
esses que já não têm força para erguer no céu as asas, resistem como gravetos,
como riscos no pó da terra, numa ternura inefável anunciando o fim.
Esculpido
na força espiritual solar, na passagem da vida para o além, abandona-se ao
irremediável. Então, num súbito, levanta os braços, aplacando a vórtice da
ansiedade e da falta de certezas.
Ó
seiva da vida, de todas as árvores, ergue a sua melodia, aniquilando a solidão
desta vida demasiado breve.
Na
escuridão sagrada, o coração se cala, sonhando com os dias que hão de vir. Uma
luz mapeia até ao mais sinuoso mistério. Há de existir uma emoção confortável,
uma justiça que reine.
De
areia e vida, ligeiramente encantado, o inesperado cava artérias no impossível,
numa aventura de risco.
Um comentário:
Intrigante
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