março 05, 2019

........... FEDERICO GARCÍA LORCA: o MENESTREL da ANDALUZIA


  
A noite esporeia
suas negras ancas
cravando-se estrelas

Todas as coisas têm o seu mistério, 
e a poesia é o mistério de todas as coisas.
FEDERICO GARCÍA LORCA

Ilustrações: JOSÉ de RIBERA
(1591 - 1652. Xàtiva / Espanha)


Setenta e três anos após sua morte, o poeta mais popular da Espanha segue cativando leitores em todo o mundo. Filho de uma geração literária pessimista, em dezoito anos de carreira e trinta e oito de vida FEDERICO GARCÍA LORCA (1898 - 1936. Fuente Vaqueros, Granada / Espanha) deixou um legado poético sensível, renovando o teatro e a poesia do seu país. A influência da região natal encontra-se na sua obra, com temas resgatados da tradição andaluza, em uma fusão do mais antigo com o modernismo do século XX. Fez parte da celebrada Geração de 27, um grupo que recuperou a poesia popular, investiu no modernismo, introduziu o surrealismo e outros ismos na vanguarda européia da época. Dela, entre outros, Luis Cernuda, Manuel de Falla, Rafael Alberti, Jorge Guillén, Gerardo Diego e Dámaso Alonso. Entretanto, LORCA nunca pertenceu a qualquer movimento literário, embora características do surrealismo se encontrem em sua criação literária. Ele era um inventor de vernáculos ou jogava com eles em função da musicalidade. Utilizava a palavra chorpatélico quando gostava demais de alguma coisa, e muitas outras: espantanublos, uni-uni, dole-dole, meningotes, catalinetas.
 
lorca
Estudando em Madri, lançou uma de suas primeiras obras genuínas, “Livro de Poemas” (1921). Outra obra sua, “Romancero Gitano”, iniciada em 1924 e concluída em 1928, é um exemplo genial da poesia composta a partir de influências populares, oferecendo uma Andaluzia mítica - com símbolos que destacam o amor e a morte. Fazendo do andaluz um tema universal, o poeta apresenta sua terra natal com uma síntese da miscigenação cultural intensa dessa região do sul da Espanha meio moura, meio cristã. Os protagonistas são toureiros, dançarinas, músicos e ciganos, mostrados sem preconceitos e revelados ao mundo como portadores de uma cultura passional e divertida.

Em 1929, no auge de uma crise sentimental, FEDERICO GARCÍA LORCA muda-se para Nova York, disposto a aprender inglês e com o secreto empenho de repaginar sua vida. O contato com esse novo mundo, simbolizando o progresso e o futuro, seria determinante em sua literatura, ainda que suas declarações sejam duras: “Arquitetura extra-humana e ritmo furioso, geometria e angústia. Sem dúvida não existe alegria neste ritmo de vida”. Era o ano do crash da bolsa: espetáculo de falências, suicidas e gente histérica. Época terrível e sem grandeza. Ele não gostou da sociedade nova-iorquina, já que tinha na cabeça a utopia de uma sociedade sem classes. Durante oito meses comove-se com a opressão sofrida pelos negros, não aprende inglês, busca prazeres homossexuais e escreve um dos mais expressivos poemários da literatura em espanhol: “Poeta em Nova Iorque” (1930). Profético e metafísico, influenciado por Walt Whitman, investe nos oprimidos e revela suas obsessões mais íntimas. Ligado ao seu idioma e a sua cultura, LORCA acreditava levar no sangue energia cigana, negra e judaica. Esta impressão está presente em sua escrita, que reforça, sem dúvida, a apaixonada identificação com os marginalizados.
 
lorca e salvador dalì
Deixando vários livros inéditos, entre eles, o admirável e homoerótico “Sonetos del Amor Oscuro” (1929), o poeta deu ênfase a uma esquecida tradição lírica fincada no erotismo, envolvendo amor, sexo, desejo, instinto e carne. A dor de viver, a impossibilidade do amor, a frustração e o destino trágico estão presentes em sua criação. Nela, equilibram-se o mais elevado refinamento estilístico com uma linguagem espontânea: o tradicional e o vanguardista. Poesia vibrante, ardente, sombria, reproduzindo honestamente a fala popular, capaz do lirismo intimista e atormentado de “Diván del Tamarit” (1934) ou de épicos como “Romancero Gitano”

Considerado um dos mais difíceis e cultos poetas da literatura hispânica, ele concilia passado e futuro, sensualidade e morte, exuberância e melancolia, sacrifício e fecundidade. Felizmente cresce com o passar dos anos, suavizando um implacável destino e uma breve existência. Sobre ela, FEDERICO GARCÍA LORCA expressou-se em uma entrevista publicada no diário “La Voz”, em abril de 1936, poucos meses antes de morrer: “La poesía es algo que anda por las calles. Que se mueve, que pasa a nuestro lado. Todas las cosas tienen su misterio, y la poesía es el misterio que tienen todas la cosas”


OBRA POÉTICA de FEDERICO GARCÍA LORCA

IMPRESIONES y PAISAJES (1918)
LIBRO de POEMAS (1921)
CANCIONES (1927)
ROMANCERO GITANO (1928)
SONETOS del AMOR OSCURO (1929)
POETA en NUEVA YORK (1930)
POEMA del CANTE JONDO (1921-24)
DIVÁN del TAMARIT (1934)
LLANTO por IGNACIO SÁNCHEZ MEJÍAS (1935)
PRIMERAS CANCIONES (1936)


FONTES

MUERTE en GRANADA: la TRAGEDIA de LORCA (1975)
de Eduardo Castro

SOBRE GARCÍA LORCA (1998)
de Antonio Gallego Morell

FEDERICO GARCÍA LORCA - uma BIOGRAFIA (1989)
de Ian Gibson 

GALERIA JOSÉ de RIBERA


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