janeiro 26, 2012

.......................................................................................................... O POETA

foto de morvan frança
 
 
 O POETA

Antonio Nahud

O fim é o princípio.
O Poeta é o mundo.
Uma página arbórea que se vira.
A palavra peregrina em folha áspera.
O mel do que existe, resiste.
A História caiada de sangue. Desde sempre.
Clara Camarão na hora inimiga,
tesouros do corsário Lafitte,
olhos de sobressalto de Lampião,
Cascudo, jangadas, enigmas à meia-luz.
Atenção!
O Poeta é o alvo.

Sem destino, por um triz,
sob o céu armorial,
devora imagens, fracassos,
calmarias, ausências,
e espantos.
É todos os nomes,
todas as cores,
todos os corpos suados,
a inaudita terra sagrada,
e os vales invisíveis do cu do mundo.

Musgos e fósseis.
Algas e pérolas.
Pântanos e mangues.
Labirintos e amplidão.
Baobás,
mangueiras,
vagalumes,
satélites e alienígenas,
luas incendiadas,
casas antigas,
mortes anunciadas,
frutos de ouro,
águas sedentas.

O Poeta tem o Coração na mão.
O ponto de encontro.
De quem pensa. De quem faz pensar.
O que o cerca é essa
seca
líquida
indizível
que salta pelos olhos,
em noites de ninguém, e
suspiros inumados.

E ele canta!
pele tatuada,
floresta de jade,
árvores afáveis em simetria.
Sortilégios à espreita.
Tocaias,
abelhas minuciosas,
mandacarus em flor,
jazz melancólico,
rios e chuvas repentinas,
pitanga e graviola,
colibris que choram,
caracóis,
paisagens de sonho,
tempestades
e mar aberto.

Os versos de bronze são seus. E de todos.
E a poeira que valsa nas bibliotecas.
O pânico que nos aprisiona
e a violência náufraga.
O Poeta fala de guerra e paz,
de raízes que gemem,
milagres e ferocidades,
cárceres e lápides,
reinos e oráculos,
colméias e relíquias,
Deus e o Diabo.
É tradição, nódoa e vocação.
Servo e rei. Triste figura e seiva de querubins.
Misericórdia e furtiva desilusão.
Literatura úmida de dor e de esplendor.
Janela andrógina para a solidão.
Sol, sertão, intuição.

O Poeta – tão louco e tão belo! –
enfeitiçado e feiticeiro
acaricia lâminas.

eu em foto de morvan

6 comentários:

Claudina Ramirez disse...

Enorme.
Que nem esse mar.
lindíssimo e pleno.

Claudine Ramirez disse...

Muito bom!!!

Bete Nunes disse...

Belíssima homenagem à poeta e escritora Marise Castro!

Bete Nunes disse...

Perdão, Antonio, Marize Castro.

Marize Castro disse...

prezado antonio,
no seu poema encontro a seiva da beleza. muito obrigada pela homenagem-dedicatória.
sincero abraço.
marize

Marcelo Bonavides disse...

Que grata surpresa conhecer o blog Cinzas e Diamantes.
Gostei muito.
Abraços!