“O LIVRO DAS
REVELAÇÕES –
O PENSAMENTO VIVO DE ESCRITORES”
Organização de Diogenes da Cunha Lima
Organização de Diogenes da Cunha Lima
RESPOSTAS de ANTONIO NAHUD
Ilustrações:
VLADIMIR KUSH
Escrever é
ventura ou aventura?
Escrever é ventura e uma louca aventura. Nunca sofrimento
ou sacrifício como prega um ou outro escritor.
A poesia é útil?
Sem a poesia seria apenas um homem de triste figura. Ela é
a amante dos sentimentos mais secretos.
Fronteira
entre a poesia e a prosa.
Quase nenhuma. A minha literatura não obedece a tal
rigor.
Livros que
ajudaram a sua formação.
São incontáveis. “O Fio da Navalha”, de Somerset Maugham;
“O Leopardo”, de Lampedusa; “Os Miseráveis”, de Victor Hugo; “Madame Bovary”,
de Flaubert; “Senso”, de Camilo Boitto etc.
Autores
canônicos favoritos (prosa).
Virgínia Woolf, Franz Kafka, D. H. Lawrence, John Fante,
F. Scott Fitzgerald, Paul Bowles.
Autores
canônicos favoritos (poesia).
Henri Michaux, Rainer Maria Rilke, Kaváfis, Hilda Hilst.
Na ficção,
personagens (masculinos) de sua estima.
Hathcliff (de “O Morro dos Ventos Uivantes”), Orlando de
Virgínia Woolf, Sinbad, Arturo Bandini (de John Fante), Gatsby (de Fitzgerald),
Don Juan (de Byron).
Na ficção,
personagens (femininas) da sua estima.
Emma Bovary, Carmen e Anna Karenina. São adúlteras, mas
também mulheres corajosas que lutam por seus sentimentos. Como elas, acredito
que é necessário explorar territórios desconhecidos para encontrar a própria
essência.
Três
palavras bonitas.
Azul, lua, noite.
Um verso.
“Ode à Solidão”, de André Chénier: “Presa de gente
vil, taciturna e ciumenta, / Morto eu
estava, morto / E igual a eles. Porém nada me acorrenta / Se a mim Mesmo aprisiono”
Uma canção.
“Um Homme et Une Femme”, de Michel Legrand. É de um
romantismo charmoso e comovente.
Um ditado
popular.
“Cada macaco no seu galho”.
Um aforismo.
De ilusão também se vive.
Um filme.
“Rashomon”, de Akira Kurosawa. A verdade tem várias
faces.
Compositores
favoritos (erudito e popular).
A obsessão épica de Richard Wagner e a vibração positiva
de George Gershwin.
Pintores
preferidos.
Gauguin, Paolo Veronese, Matisse, Marc Chagall, Cézanne,
Francis Bacon, Edward Hopper, Lucien Freud.
O computador
mudou a sua vida?
Facilitou bastante. Mas continuo o mesmo de sempre: lendo
livros, revistas e jornais; indo ao cinema; mergulhando no mar e olhando as
estrelas.
A Internet é
também extensão de sua vida?
De certa forma. Faço pesquisas, escrevo diariamente
dezenas de mensagens e recebo outras tantas. Colaboro com revistas eletrônicas
e nela leio jornais de todo o mundo. Fiz diversos amigos virtuais, gente que
nunca vi e mesmo assim tenho consideração.
Heróis (na
vida real).
Vinicius de Moraes e Mário Quintana.
Heroínas (na
vida real).
Mamma, Mãe Menininha, Hilda Hilst.
Heróis
históricos.
Cleópatra, Alexandre o Grande, São Francisco de Assis,
Marco Polo, Martin Luther King.
Detestáveis
homens da história.
Hernan Cortez, Adolf Hitler, General Franco, Hermann
Goering, General Médici.
Três cidades
encantadoras.
Sintra, Barcelona e Natal. Talvez por ter sido tão feliz
em todas elas.
De que país
o Brasil poderia auferir qualidades?
Da Alemanha. Um país que renasceu várias vezes, aprendeu
com os seus erros e aposta na arte, na cultura e no bem comum.
Árvore
admirável.
Mangueira e jaqueira. De harmonia, intensidade e beleza
inconfundíveis.
Flor preferida.
Orquídea. O seu mistério sensual me perturba. Mas gosto
de todas as flores.
Pássaro
admirado.
Beija-flor. É um ser encantado.
Cor
favorita.
Verde. Talvez para me sentir um pouco árvore.
Três prenomes
favoritos.
Leonardo, Rafael, Adriano.
O seu rio.
O rio Cachoeira, no Sul da Bahia. Ele foi responsável por
momentos lúdicos em minha infância.
O seu mar,
sua praia.
Gosto de todas as praias, de todos os mares. O que mata é
a poluição e o turismo desenfreado.
Bebida
favorita.
Água de coco. Mas tenho noites de vinto tinto (seco,
francês), de uísque ou de campari.
Comida
favorita.
Mariscos.
O que mais se
salienta em um caráter humano?
Gentileza, compreensão, generosidade. Ou pelo menos
deveria ser assim.
Qualidade
superior em um homem.
Generosidade. Um homem generoso é o herói épico de um
fabuloso livro esquecido.
Qualidade
superior em uma mulher.
Amor maternal. É a mais bela forma de amar.
O que mais
aprecia em um amigo.
A cumplicidade.
O que mais
lamenta em um amigo.
A vulgaridade.
Melhor a
fantasia ou a realidade?
A realidade é mais atraente, e também mais desprotegida.
A fantasia é um vício dos bons, suaviza desenganos e inventa artes.
Medo – a que
serve?
Para alertar nossa desproteção perene.
Dúvida – a
que serve?
Para reforçar o poder da intuição.
A morte é
vírgula ou ponto final?
A morte nunca foi uma das minhas preocupações, já que é
inevitável. De certa forma ela é unificação. O Nada se funde além das tolas
vaidades humanas.
Solidão é
conquista ou derrota?
É uma espécie de maldição útil. Sem a solidão muitas
obras literárias fundamentais jamais existiriam. É conquista inquestionável
como elemento chave de contemplação, meditação e criação.
Somos sós no
universo?
Nunca. Eles estão entre nós. Basta sentir e acreditar.
Deus é
patrimônio de cada ser humano?
Cada ser humano tem o seu próprio Deus. O meu, por
exemplo, mora dentro de mim e também no mar, na noite, na lua, na flora e na
fauna, numa conexão única.
Jesus é um
amigo?
Dos melhores. Basta lembrar sua extraordinária filosofia
de vida.
O diabo tem
credibilidade?
E como! Ele é de carne e osso, humano, vivendo em muitos
lugares ao mesmo tempo, numa ruindade terrível.
Que outro
dom, Deus poderia ter dado a você?
Uma memória imbatível.
Daria
indulgência a que falhas humanas.
Ao aborto e ao ciúme.
Personalidades
bíblicas (masculinas).
Salomão, Jesus Cristo, Mateus.
Personalidades
bíblicas (femininas).
Salomé, Maria Madalena, Bethsabá.
Exerce a sua
fé?
Meditando, acendendo velas e incensos, procurando
compreender o próximo.
Exerce a sua
esperança?
Escrevendo sem covardia ou desonestidade.
Exerce a sua
caridade?
Compreendendo que no fundo somos todos iguais.
Seu defeito
principal.
Surtos de desânimo.
Sua ocupação
preferida.
Ler e viajar, embora já tenha conhecido todos os países e
lido todos os livros que um dia sonhei. É o que calma o meu coração e anima o
meu espírito.
Como você
sonha a felicidade?
Uma casa própria, confortável, simples, segura, perto do
mar, com um quintal onde eu pudesse plantar e conversar com a natureza, e uma
sala grande para os meus livros, filmes e álbuns de fotografias. Nela,
escreveria em paz nas noites sem fim.
Você não
consegue tolerar...
Falta de educação, arrogância e brutalidade.
O que mais importa
a você como profissional?
Escrever honestamente e continuar fazendo o que gosto sem
ansiedade. A fama, a vaidade literária e a eternidade não fazem parte da minha
peculiar maneira de ser.
O que mais
importa a você como amador?
A certeza de que nada sei e que cada momento da vida é um
aprendizado necessário.
O que o
tornaria infeliz?
A miséria. Nunca tive ambições de riqueza, mas me
preocupa muito ter uma velhice desamparada.
Quem você
gostaria de ter sido?
O marinheiro em quadrinhos Corto Maltese ou Robin Hood.
Seria mágico viver num bosque rodeado por amigos fiéis, amar uma lady de bom
coração, ter a confiança de um rei justo e presentear os pobres com o que não
faz falta aos afortunados.
Seu estado
de ânimo atualmente.
Vivo um belo momento, mas me sinto inseguro profissionalmente.
Temo
constantemente o fantasma das dificuldades financeiras.
Quem tem um
sol no coração?
Todas as crianças que passam fome.
Quem tem um
deserto no coração?
Os corruptos e gananciosos. Enchem os bolsos em excesso,
enquanto tantos passam dificuldades.
Ser criança
é...
Sorrir sem motivo aparente.
Ser jovem é...
Devorar com apetite insaciável prazeres muitas vezes descartáveis.
Ser maduro
é...
Não seguir o rebanho.
Ser velho é...
A proximidade fatal do fim.
Epifanias.
Os Anjos em vigília.
Seu lema.
Sensibilidade e bom senso.
O LANÇAMENTO
Academia Norte-rio-grandense de
Letras (Natal, RN)
1 de julho de 2013
Fotos: Morvan
"pedra só" e "o livro das revelações" |
josé inácio vieira de melo, diogenes da cunha lima e antonio nahud |
nahud, isaura améla rosado maia e antonio marques |
antonio da cunha pessoa e diogenes da cunha lima |
nahud e anna maria cascudo |
nahud, cátia de frança e morvan frança |
yanna medeiros e josé inácio vieira de melo |
josé inácio vieira de melo |
abimael silva e nahud |
josé inácio vieira de melo, angela felipe e nahud |
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