julho 08, 2013

............... “O LIVRO DAS REVELAÇÕES” – RESPOSTAS de NAHUD


“O LIVRO DAS REVELAÇÕES – 
O PENSAMENTO VIVO DE ESCRITORES”
Organização de Diogenes da Cunha Lima

RESPOSTAS de ANTONIO NAHUD


Ilustrações:
VLADIMIR KUSH


Escrever é ventura ou aventura?

Escrever é ventura e uma louca aventura. Nunca sofrimento ou sacrifício como prega um ou outro escritor.

A poesia é útil?

Sem a poesia seria apenas um homem de triste figura. Ela é a amante dos sentimentos mais secretos.

Fronteira entre a poesia e a prosa.

Quase nenhuma. A minha literatura não obedece a tal rigor.

Livros que ajudaram a sua formação.

São incontáveis. “O Fio da Navalha”, de Somerset Maugham; “O Leopardo”, de Lampedusa; “Os Miseráveis”, de Victor Hugo; “Madame Bovary”, de Flaubert; “Senso”, de Camilo Boitto etc.

Autores canônicos favoritos (prosa).

Virgínia Woolf, Franz Kafka, D. H. Lawrence, John Fante, F. Scott Fitzgerald, Paul Bowles.

Autores canônicos favoritos (poesia).

Henri Michaux, Rainer Maria Rilke, Kaváfis, Hilda Hilst.

Na ficção, personagens (masculinos) de sua estima.

Hathcliff (de “O Morro dos Ventos Uivantes”), Orlando de Virgínia Woolf, Sinbad, Arturo Bandini (de John Fante), Gatsby (de Fitzgerald), Don Juan (de Byron).

Na ficção, personagens (femininas) da sua estima.

Emma Bovary, Carmen e Anna Karenina. São adúlteras, mas também mulheres corajosas que lutam por seus sentimentos. Como elas, acredito que é necessário explorar territórios desconhecidos para encontrar a própria essência.

Três palavras bonitas.

Azul, lua, noite.

Um verso.

“Ode à Solidão”, de André Chénier: “Presa de gente vil,  taciturna e ciumenta, / Morto eu estava, morto / E igual a eles. Porém nada me acorrenta / Se a mim Mesmo aprisiono”


Uma canção.

“Um Homme et Une Femme”, de Michel Legrand. É de um romantismo charmoso e comovente.

Um ditado popular.

“Cada macaco no seu galho”.

Um aforismo.

De ilusão também se vive.

Um filme.

“Rashomon”, de Akira Kurosawa. A verdade tem várias faces.

Compositores favoritos (erudito e popular).

A obsessão épica de Richard Wagner e a vibração positiva de George Gershwin.

Pintores preferidos.

Gauguin, Paolo Veronese, Matisse, Marc Chagall, Cézanne, Francis Bacon, Edward Hopper, Lucien Freud.

O computador mudou a sua vida?

Facilitou bastante. Mas continuo o mesmo de sempre: lendo livros, revistas e jornais; indo ao cinema; mergulhando no mar e olhando as estrelas.

A Internet é também extensão de sua vida?

De certa forma. Faço pesquisas, escrevo diariamente dezenas de mensagens e recebo outras tantas. Colaboro com revistas eletrônicas e nela leio jornais de todo o mundo. Fiz diversos amigos virtuais, gente que nunca vi e mesmo assim tenho consideração.

Heróis (na vida real).

Vinicius de Moraes e Mário Quintana.

Heroínas (na vida real).

Mamma, Mãe Menininha, Hilda Hilst.


Heróis históricos.

Cleópatra, Alexandre o Grande, São Francisco de Assis, Marco Polo, Martin Luther King.

Detestáveis homens da história.

Hernan Cortez, Adolf Hitler, General Franco, Hermann Goering, General Médici.

Três cidades encantadoras.

Sintra, Barcelona e Natal. Talvez por ter sido tão feliz em todas elas.

De que país o Brasil poderia auferir qualidades?

Da Alemanha. Um país que renasceu várias vezes, aprendeu com os seus erros e aposta na arte, na cultura e no bem comum.

Árvore admirável.

Mangueira e jaqueira. De harmonia, intensidade e beleza inconfundíveis.

Flor preferida.

Orquídea. O seu mistério sensual me perturba. Mas gosto de todas as flores.

Pássaro admirado.

Beija-flor. É um ser encantado.

Cor favorita.

Verde. Talvez para me sentir um pouco árvore.

Três prenomes favoritos.

Leonardo, Rafael, Adriano.

O seu rio.

O rio Cachoeira, no Sul da Bahia. Ele foi responsável por momentos lúdicos em minha infância.


O seu mar, sua praia.

Gosto de todas as praias, de todos os mares. O que mata é a poluição e o turismo desenfreado.

Bebida favorita.

Água de coco. Mas tenho noites de vinto tinto (seco, francês), de uísque ou de campari.

Comida favorita.

Mariscos.

O que mais se salienta em um caráter humano?

Gentileza, compreensão, generosidade. Ou pelo menos deveria ser assim.

Qualidade superior em um homem.

Generosidade. Um homem generoso é o herói épico de um fabuloso livro esquecido.

Qualidade superior em uma mulher.

Amor maternal. É a mais bela forma de amar.

O que mais aprecia em um amigo.

A cumplicidade.

O que mais lamenta em um amigo.

A vulgaridade.

Melhor a fantasia ou a realidade?

A realidade é mais atraente, e também mais desprotegida. A fantasia é um vício dos bons, suaviza desenganos e inventa artes.

Medo – a que serve?

Para alertar nossa desproteção perene.



Dúvida – a que serve?

Para reforçar o poder da intuição.

A morte é vírgula ou ponto final?

A morte nunca foi uma das minhas preocupações, já que é inevitável. De certa forma ela é unificação. O Nada se funde além das tolas vaidades humanas.

Solidão é conquista ou derrota?

É uma espécie de maldição útil. Sem a solidão muitas obras literárias fundamentais jamais existiriam. É conquista inquestionável como elemento chave de contemplação, meditação e criação.

Somos sós no universo?

Nunca. Eles estão entre nós. Basta sentir e acreditar.

Deus é patrimônio de cada ser humano?

Cada ser humano tem o seu próprio Deus. O meu, por exemplo, mora dentro de mim e também no mar, na noite, na lua, na flora e na fauna, numa conexão única.

Jesus é um amigo?

Dos melhores. Basta lembrar sua extraordinária filosofia de vida.

O diabo tem credibilidade?

E como! Ele é de carne e osso, humano, vivendo em muitos lugares ao mesmo tempo, numa ruindade terrível.

Que outro dom, Deus poderia ter dado a você?

Uma memória imbatível.

Daria indulgência a que falhas humanas.

Ao aborto e ao ciúme.

Personalidades bíblicas (masculinas).

Salomão, Jesus Cristo, Mateus.


Personalidades bíblicas (femininas).

Salomé, Maria Madalena, Bethsabá.

Exerce a sua fé?

Meditando, acendendo velas e incensos, procurando compreender o próximo.

Exerce a sua esperança?

Escrevendo sem covardia ou desonestidade.

Exerce a sua caridade?

Compreendendo que no fundo somos todos iguais.

Seu defeito principal.

Surtos de desânimo.

Sua ocupação preferida.

Ler e viajar, embora já tenha conhecido todos os países e lido todos os livros que um dia sonhei. É o que calma o meu coração e anima o meu espírito.

Como você sonha a felicidade?

Uma casa própria, confortável, simples, segura, perto do mar, com um quintal onde eu pudesse plantar e conversar com a natureza, e uma sala grande para os meus livros, filmes e álbuns de fotografias. Nela, escreveria em paz nas noites sem fim.

Você não consegue tolerar...

Falta de educação, arrogância e brutalidade.

O que mais importa a você como profissional?

Escrever honestamente e continuar fazendo o que gosto sem ansiedade. A fama, a vaidade literária e a eternidade não fazem parte da minha peculiar maneira de ser.

O que mais importa a você como amador?

A certeza de que nada sei e que cada momento da vida é um aprendizado necessário.


O que o tornaria infeliz?

A miséria. Nunca tive ambições de riqueza, mas me preocupa muito ter uma velhice desamparada.

Quem você gostaria de ter sido?

O marinheiro em quadrinhos Corto Maltese ou Robin Hood. Seria mágico viver num bosque rodeado por amigos fiéis, amar uma lady de bom coração, ter a confiança de um rei justo e presentear os pobres com o que não faz falta aos afortunados.

Seu estado de ânimo atualmente.

Vivo um belo momento, mas me sinto inseguro profissionalmente. Temo
constantemente o fantasma das dificuldades financeiras.

Quem tem um sol no coração?

Todas as crianças que passam fome.

Quem tem um deserto no coração?

Os corruptos e gananciosos. Enchem os bolsos em excesso, enquanto tantos passam dificuldades.

Ser criança é...

Sorrir sem motivo aparente.

Ser jovem é...

Devorar com apetite insaciável prazeres muitas vezes descartáveis.

Ser maduro é...

Não seguir o rebanho.

Ser velho é...

A proximidade fatal do fim.

Epifanias.

Os Anjos em vigília.

Seu lema.

Sensibilidade e bom senso.


O LANÇAMENTO

Academia Norte-rio-grandense de Letras (Natal, RN)
1 de julho de 2013

Fotos: Morvan

"pedra só" e "o livro das revelações"
josé inácio vieira de melo, diogenes da cunha lima e antonio nahud
nahud, isaura améla rosado maia e antonio marques
antonio da cunha pessoa e diogenes da cunha lima
nahud e anna maria cascudo
nahud, cátia de frança e morvan frança
yanna medeiros e josé inácio vieira de melo
josé inácio vieira de melo
abimael silva e nahud
josé inácio vieira de melo, angela felipe e nahud

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