Ilustrações:
GUSTAVE CAILLEBOTTE
Sem motivo aparente, ao hospedar-me no discreto L´Hotel, em St-Germain-des-Prés, algo me fez finalmente entender que havia chegado ao século 21, ao terceiro milênio, a mais uma nova etapa na longa odisseia do homem. Como o ceticismo juvenil crônico não me permite pintar um futuro animador, sempre achei que morreria bastante jovem, mas que nada, continuo vivíssimo e mais uma vez na luminosa capital francesa, no hotel onde Oscar Wilde passou seus últimos dias. Quanta responsabilidade, meu Deus! Eu gosto de viajar, há diversos lugares que aprecio, mas Paris, além de ser uma grande paixão, tem a vantagem de ser uma cidade que conheço bem. Avesso à faceta turística e com euros contados, percebo a importância da política culta e modernizadora, a tal que jamais despreza sua história e artistas. Quanta diferença do nosso Brasil, caro leitor. Sem me preocupar com a Torre Eiffel ou o Arco do Triunfo, o que parece, à primeira vista, impensável, deixo a emoção rolar apreciando um concerto de órgão na Catedral de Notre Dame. Andando a pé, homenageio a Rainha Margot ao visitar seu palácio, e Victor Hugo, o autor de “Os Miseráveis”, em sua Maison na Place des Vosges (endereço também do Museu Picasso), ambos em perfeitas condições. No Le Père Lachaise, um cemitério inacreditável, deixei frondosas orquídeas nos túmulos de Maria Callas, do astro pop Jim Morrison e de uma atriz que admiro, Simone Signoret.
GUSTAVE CAILLEBOTTE
Sem motivo aparente, ao hospedar-me no discreto L´Hotel, em St-Germain-des-Prés, algo me fez finalmente entender que havia chegado ao século 21, ao terceiro milênio, a mais uma nova etapa na longa odisseia do homem. Como o ceticismo juvenil crônico não me permite pintar um futuro animador, sempre achei que morreria bastante jovem, mas que nada, continuo vivíssimo e mais uma vez na luminosa capital francesa, no hotel onde Oscar Wilde passou seus últimos dias. Quanta responsabilidade, meu Deus! Eu gosto de viajar, há diversos lugares que aprecio, mas Paris, além de ser uma grande paixão, tem a vantagem de ser uma cidade que conheço bem. Avesso à faceta turística e com euros contados, percebo a importância da política culta e modernizadora, a tal que jamais despreza sua história e artistas. Quanta diferença do nosso Brasil, caro leitor. Sem me preocupar com a Torre Eiffel ou o Arco do Triunfo, o que parece, à primeira vista, impensável, deixo a emoção rolar apreciando um concerto de órgão na Catedral de Notre Dame. Andando a pé, homenageio a Rainha Margot ao visitar seu palácio, e Victor Hugo, o autor de “Os Miseráveis”, em sua Maison na Place des Vosges (endereço também do Museu Picasso), ambos em perfeitas condições. No Le Père Lachaise, um cemitério inacreditável, deixei frondosas orquídeas nos túmulos de Maria Callas, do astro pop Jim Morrison e de uma atriz que admiro, Simone Signoret.
Nunca fui conformista, tampouco vazio de ideias. Ainda
pré-adolescente já amava Paris graças à leitura de Balzac e a filmes vistos no
Corujão da Globo, como “A Última Vez que Vi Paris”, protagonizado por Elizabeth
Taylor, resultando anos depois em incontáveis visitas, porém só realmente a
conheci quando pousei nela durante nove meses. Foi a realização de um sonho
antigo que não me decepcionou. Às vezes acontecem-nos termos na cabeça uma ideia
sobre um lugar e ao chegarmos temos uma grande decepção, caro leitor. Não foi,
de maneira alguma, o meu caso com PARIS. É uma das minhas cidades preferidas.
Há normalmente pomposas retrospectivas de pintores, coisas raras de ver. Também
sou um bom garfo, e a cozinha francesa é, de fato, irresistível, sobretudo a
tradicional. O meu melhor café da manhã está no Café Bleu: tartine e baguette
aberta ao meio com manteiga. Há um restaurante do qual gosto muito, em Nevilly,
o Café de La Jatte, enorme, bastante movimentado, com gente divertida e sem
turistas. Para os amantes de queijos, indico o restaurante-loja Chez Androuet. Quase
todos os restaurantes parisienses têm uma iluminação acolhedora, a luz sobre a
mesa e luminárias baixas. Os franceses são arrogantes, sem dúvida, mas Paris
também é de outras raças, muitos árabes, indianos, vietnamitas, argelinos e
marroquinos. Um encontro de culturas. A
cidade é cara, caríssima, mas se pode fazer muitas coisas gastando pouco. De
imediato, é preciso não fazer compras e nunca andar de táxi.
Os Campos Elísios, o Boulevard St. Germain, o Jardim das Tulherias, a zona dos
pintores em Montmartre, a pirâmide de vidro à entrada do Louvre, a voz de Piaf,
os cafés que um dia foram frequentados por Camus, Simone de Beauvoir e outros
existencialistas. O Rio Sena completando o cenário de quimérico. A sensação é a
de um passado ainda muito presente e monumental. A grandiosidade de palácios, avenidas
largas, jardins formosos e bem cuidados. Gosto das boutiques sofisticadas da
Rive Gauche, de encher a cara no maluco bairro Marrais, de comer baratos e
deliciosos sanduíches gregos, de circular pelas feiras de velharias na margem
esquerda do Sena ou comprar fois gras e salmão defumado na Place de La
Madeleine. O melhor de PARIS é o charme das ruelas e a luz, uma luz muito
particular. Depois há o pão, as baguettes. É também uma cidade em que o bom
gosto está presente em qualquer detalhe e que dá vontade de namorar, de ser
feliz. Sendo assim, passo dias românticos, reverenciando a arte, o amor e a
felicidade. Afinal, como bem escreveu Hemingway: Paris é uma festa! E viajar
vez ou outra é imperativo para o espírito. Todos nós precisamos de novas
experiências. Elas aumentam algo lá dentro, permitindo que cresçamos. Sem mudanças
algo fica adormecido e raramente acorda.
3 comentários:
Mais uma de tuas belas crônicas de viagem, onde enfocas o que interessa aos de espírito sutil, aos que apreciam o "reino da delicadeza". um dia irei à Cidade Luz e apreciarei estas belezas sem preço. Abraço. Ricardo Mainieri
pretty nice blog, following :)
Impressionante , vou sempre a Paris e quase que escrevi este texto , pois retenho na minha mente todas estas sensações , e eis que agora vejo escrita por um jovem que conseguiu captar o melhor desta cidade , do mesmo jeito que a vejo ! Adorei!
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