RAINER
MARIA RILKE
(1875 – 1926. Praga / Tchéquia)
Uma noite, sentei a Beleza
em meus joelhos. - E achei-a amarga.
ARTHUR RIMBAUD
(1854 – 1891. Charleville-Mézières / França)
(1875 – 1926. Praga / Tchéquia)
Uma noite, sentei a Beleza
em meus joelhos. - E achei-a amarga.
ARTHUR RIMBAUD
(1854 – 1891. Charleville-Mézières / França)
Há 31 anos, dei um passo importante na trajetória literária, numa conquista pessoal e profissional que me alargou horizontes. No Centro Cultural Adonias Filho (CCAF), em Itabuna, sul da Bahia, aos 24 anos de idade, lancei o meu primeiro livro, intitulado O APRENDIZ do AMOR (publicado artesanalmente – impresso e encadernado na gráfica de um jornal grapiúna). Nessa noite entusiasmada, vendi e autografei todos os exemplares disponíveis. Na capa, um desenho original – que infelizmente perdi – de um caprichoso artista plástico, Augusto Frederico. O evento reuniu cerca de 50 pessoas, em um encontro de celebração à poesia, apresentando uma obra que trouxe à tona reflexões sobre o processo de amar e a aprendizagem sentimental. Dias depois, o notável escritor e jornalista Hélio Pólvora (1928 – 2015. Itabuna / Bahia), autor de “O Grito da Perdiz” (1982), escreveu a respeito desses versos de vivências emocionadas: “Antonio Nahud encontra uma voz poética madura, coesa e inventiva que passa longe de imitações. Entrega poemas de qualidade, fundamental para quem quer entender o que está acontecendo na literatura itabunense atual”.
Contando com a presença de amigos, familiares, jornalistas, escritores e membros da comunidade artística, que prestigiaram esse momento especial, o CCAF se transformou em um espaço de troca de experiências poéticas, onde a valorização da literatura e da leitura esteve no centro das atenções. Durante o evento, numa fala emocionada, compartilhei meu processo criativo, inspirações e os desafios enfrentados ao longo do caminho. Conhecido pela dedicação e paixão pela literatura, senti a cumplicidade do público ao compartilhar a jornada que me levou à escrita e à publicação do primeiro livro. “A literatura sempre foi uma estrada iluminada para compreender. Ao escrever esse livro, retribuo à literatura tudo o que ela me proporcionou de mágico. Ela tem o poder de transformar vidas, e eu espero que essa obra inspire outros poetas a acreditarem em seus sonhos”, disse, sensibilizado. Além do discurso, houve uma sessão de autógrafos. Fila de leitores se formou para garantir exemplar autografado e ter um momento de conversa comigo, cuja felicidade era visível ao longo de toda a inesquecível noite.
Na época, consagrado no universo literário da região natal e figura carimbada em encontros literários e na mídia da região cacaueira, eu não passava de um jovem ingênuo irreverente, cheio de potencialidades, porém sagaz e consciente da importância da literatura no destino que Deus me deu. Os anos passaram, publiquei mais de uma dezena de livros de variados gêneros, dois deles em Portugal, e ganhei alguns prêmios. Nos dias de hoje, trabalho comercialmente como “escritor-fantasma” e finalizo “Terra Sem Lei: 2014 – 2024 (O Brasil nas Redes Sociais)”. Ao acaso, encontrei em um disquete as fotos do lançamento de O APRENDIZ do AMOR. Como não acredito no acaso, posto essas imagens – ressuscitando diversos mortos – e o pequeno livro de 21 páginas. A obra se esgotou no mesmo mês do lançamento e teve uma segunda edição caprichada em 2008, na antologia “Livro de Imagens”, publicada pela Secretaria de Cultura da Bahia, na Coleção Selo Letras da Bahia. A tiragem também se esgotou. Sendo assim, segue a estreia que poucos conhecem. Boa leitura a todos.
O
APRENDIZ do AMOR
(1993)
aos amigos-amores
Antônio
Cícero, Denise, Eva Lima
Gideon Rosa, Mark Mizrahi
Nei Galvão (in memoriam)
Salvador Coutinho e Vito
01
Assombro.
Nesgas vigílias de mil e uma noites.
Línguas de fogo me consomem.
Uma selva de alfazema
suaviza a interminável agonia.
A chaga escarlate do amor
atira-me à lâmina ouro bronze do desatino.
O triste e reles destino dos homens
e seus músculos lúbricos.
Não me deixou pétalas de rosas
nem o luxo do olhar alumbrado.
No entanto, é fábula azulada.
Nesgas vigílias de mil e uma noites.
Línguas de fogo me consomem.
Uma selva de alfazema
suaviza a interminável agonia.
A chaga escarlate do amor
atira-me à lâmina ouro bronze do desatino.
O triste e reles destino dos homens
e seus músculos lúbricos.
Não me deixou pétalas de rosas
nem o luxo do olhar alumbrado.
No entanto, é fábula azulada.
02
O PUNHAL
O vulcão do espanto
quando, maldito, na crueza da juventude,
leu-me um poema dúbio.
Dentro da ostra, a pérola.
Laranjas maduras para chupar,
a frágil revelação feito crianças
correndo na praia deserta.
Assassinado com punhaladas de amor,
descobri o tesouro purpúreo.
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renart, tio gervásio santos, eu e edjalma moitinho |
O vulcão do espanto
quando, maldito, na crueza da juventude,
leu-me um poema dúbio.
Dentro da ostra, a pérola.
Laranjas maduras para chupar,
a frágil revelação feito crianças
correndo na praia deserta.
Assassinado com punhaladas de amor,
descobri o tesouro purpúreo.
03
O PRAZER
Acorrentados na madrugada turquesa,
sussurramos desconexos.
O diário do mistério, do silêncio,
nos traços invisíveis feitos com os dedos
no corpo campo de cravos.
A nebulosa ideia
de como é tocante
o sereno, a noite, os aquários amorosos.
Duas mãos mansas se contornam,
Chet Baker canta sem parar.
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mano manchinha, eu e mamãe lourdes |
Acorrentados na madrugada turquesa,
sussurramos desconexos.
O diário do mistério, do silêncio,
nos traços invisíveis feitos com os dedos
no corpo campo de cravos.
A nebulosa ideia
de como é tocante
o sereno, a noite, os aquários amorosos.
Duas mãos mansas se contornam,
Chet Baker canta sem parar.
04
O PRAZER outra
VEZ
Na relva dessa cidade
viciada em tranquilidade,
nas montanhas de cacau,
no matiz do mar-tufão,
atrás das palavras, dos limites:
o branco silêncio de vícios.
Sinto medo,
culpa pela infância,
escondendo as luvas de boxeur.
Cupido reclinado no sofá
apenas participa – ou inventa? –
uma história de amor.
Morro. E ressuscito entre andorinhas.
Sob a luz cristalina,
explodem sopros de cor
e um sorriso elástico.
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cody reis, eu e iara |
Na relva dessa cidade
viciada em tranquilidade,
nas montanhas de cacau,
no matiz do mar-tufão,
atrás das palavras, dos limites:
o branco silêncio de vícios.
Sinto medo,
culpa pela infância,
escondendo as luvas de boxeur.
Cupido reclinado no sofá
apenas participa – ou inventa? –
uma história de amor.
Morro. E ressuscito entre andorinhas.
Sob a luz cristalina,
explodem sopros de cor
e um sorriso elástico.
05
A FEBRE
Contempla, calado,
a palma da mão áspera.
Uma mosca incômoda
na vitrine da livraria de importados.
Os poros suam enquanto
a loucura fosforesce guerreira.
A loucura dança!
Eu rogo paz, astro-rei.
Anjos, naufraguem os submarinos da discórdia.
Mirem canhões de delicadeza
para o vórtice da lua-cheia, da lua-doida!
Molhem-nos com cores murano
em batismo de lácteo lírio.
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eu e paulo eduardo queiróz |
Contempla, calado,
a palma da mão áspera.
Uma mosca incômoda
na vitrine da livraria de importados.
Os poros suam enquanto
a loucura fosforesce guerreira.
A loucura dança!
Eu rogo paz, astro-rei.
Anjos, naufraguem os submarinos da discórdia.
Mirem canhões de delicadeza
para o vórtice da lua-cheia, da lua-doida!
Molhem-nos com cores murano
em batismo de lácteo lírio.
06
O ABISMO
Apelidado pela deusa-morte,
sigo os fios ávidos do labirinto.
Treva e febre.
Garanto-lhe a memória.
Arroubos, porões, esquinas,
fábricas de desaponto e fel.
Catei no obsceno
escamas de serpente.
Os cúmulos que me trazem
ao poema desmaiado.
Assustado. Coxa tatuada com o seu nome.
Rendo-me outra vez à sua glória. E vou.
![]() |
tinho setenta, marcos blau-blau e eu |
Apelidado pela deusa-morte,
sigo os fios ávidos do labirinto.
Treva e febre.
Garanto-lhe a memória.
Arroubos, porões, esquinas,
fábricas de desaponto e fel.
Catei no obsceno
escamas de serpente.
Os cúmulos que me trazem
ao poema desmaiado.
Assustado. Coxa tatuada com o seu nome.
Rendo-me outra vez à sua glória. E vou.
07
A CERTEZA
Mover os lábios e
roubar beijos,
testemunhando
o desejo.
Avisou sua alma
de minha existência?
Eu abandonei meu camelo,
perdi todos os rumos.
Roguei ao espelho: “La Princesse, ama-me”.
Seduzido, li versos alheios
e me deixei conhecer o amor.
![]() |
gustavo baracho, eu e halyanna baract |
Mover os lábios e
roubar beijos,
testemunhando
o desejo.
Avisou sua alma
de minha existência?
Eu abandonei meu camelo,
perdi todos os rumos.
Roguei ao espelho: “La Princesse, ama-me”.
Seduzido, li versos alheios
e me deixei conhecer o amor.
08
Ao
DESCONHECIDO
Ao Deus dos sentimentos,
de todo coração putrefato
A vós, agudo Oculto,
devoto meu Anjo.
Àquele que veio à Terra
afagar e me convencer
do ínfimo brilho do caos
que me atira
em santa velocidade
ao Nada
Tomai-me para Vós!
Tomai-me para Vós!
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claudinha lacerda, joelson, suzane ribeiro e eu |
Ao Deus dos sentimentos,
de todo coração putrefato
A vós, agudo Oculto,
devoto meu Anjo.
Àquele que veio à Terra
afagar e me convencer
do ínfimo brilho do caos
que me atira
em santa velocidade
ao Nada
Tomai-me para Vós!
Tomai-me para Vós!
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professor pepê, rita oliveira, eu e bio sá |
![]() |
marta veloso e eu |
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nina rosa, eu, carmen modesto e candinha dória |
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sérgio ricardo prazeres brandão, eu e rodrigo haun |
CENTRO CULTURAL ADONIAS FILHO (CCAF)
Praça José Almeida Alcântara, s/n, Centro
Jardim do Ó – Itabuna/BA
Praça José Almeida Alcântara, s/n, Centro
Jardim do Ó – Itabuna/BA