janeiro 02, 2025

********************* REFÚGIO do CORAÇÃO: DIAS de SOL

 

O que é mesmo essa ideia, o verão?
Onde ele está enquanto demora a chegar?
O que era enquanto estava aqui?
De que cor, de que calor, de que ilusão,
de que simulacro era feito?
MARGUERITE DURAS
(1914 – 1996.  Saigon / Indochina)
O Verão de 80
 
Fotografias:
ANTONIO NAHUD
 
para Urbano e Rafaela

 
 
Entra ano, sai ano, nas férias a vida pega mais leve. Então nada mais justo do que Deus recompensar os homens de boa vontade com tranquilidade, conforto e beleza, supostamente distante de perseguições políticas, dificuldades econômicas, violência urbana e crises existenciais. Ferido por um ano totalitário, tentei tirar férias amorosas e absolutas, distante do trabalho diário, das notícias pilantras, do cotidiano recorrente e até das simpáticas redes sociais, sem conseguir de fato. Até pausei algumas coisas, mas não todas. Continuei escrevendo, por exemplo, e postando vez ou outra. Como de praxe, levei livros e filmes. Daqueles que me fazem pensar, enquanto escutava o vento dançando nas ondas e sentia verdades secretas. Bem-aventurado seja quem se deixa levar por férias suaves. Às vezes, dar de ombros ao presente pontual preferindo a aparente insignificância do descanso, sem novidades, pode resultar em uma satisfação profunda.
 
Com vista para o mar, estou em paz, no Sul da Bahia, Barra Grande, na rústica Península de Maraú, com mamãe, irmãos, cunhadas e sobrinhos. Uma farra familiar! O lugar reúne paisagens deslumbrantes, simplicidade poética e vivência cordial para as melhores férias. É uma significativa opção para quem deseja vivenciar momentos inesquecíveis. Parte da região conhecida como Costa do Dendê, localizado a 128 km de Ilhéus, o destino turístico é considerado um dos mais encantadores do Nordeste. Com praias paradisíacas e serenidade de espírito, ideal para recarregar as energias e meditar sobre um Brasil livre, justo e solidário.  Em contato direto com o sagrado, reafirmo práticas densas como fidelidade, justiça, confiança e compromisso. Nesses momentos, acesso o coração pela gratidão e pela recordação despertada por algum sinal qualquer, como a madeleine do protagonista de “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust. Uma prática que significa, pela própria etimologia da palavra, “voltar ao coração”. Recordar não é, portanto, uma consulta a arquivos de dados, mas uma travessia para o coração, este refúgio de valores virtuosos.
 
A força cega do mar, as lúdicas rajadas de vento, o pôr do sol na Ponta do Mutá, drinques em quiosques, missa de Natal no vilarejo. Há lógica em crer que são arautos de uma nova felicidade, de uma nova alegria. O prazer de ser feliz nessas férias, ao que tudo indica, me faz empanturrar de comida, ou melhor, como todas as vezes que vou ao encontro da família baiana. As férias são, então, uma interrupção no trabalho, um alívio de rotinas com pitadas de liberdade. Nelas, a forma como alimentamos o coração e a alma é fundamental. Não há nada melhor do que férias que marcam para sempre e ensinam sobre a vida. E se tive a sorte de ter sido levado por aviões a mundos estrangeiros, também já fiquei maravilhado pela minha ignorância de pérolas que estão no Brasil. E é fundamental ter um amor nas férias, mesmo platônico; um livro, um objetivo, uma conversa, algo que nos faça reencontrar, moldar ou limar o sentido da vida. E o resto é só o resto.
 
A forma como vivemos as nossas férias é das coisas que mais nos define. Daí porque fico aqui, romântico à beira mar, no apartamento da família em um condomínio, na rede, na piscina, nas areias quentes ou no mar tranquilo, com as recordações enamoradas, a contemplação do horizonte e uma riqueza sensorial infinita. Melhor isso do que o cotidiano de decepções políticas e mentiras jornalísticas. O interessante nas férias, não é o que vemos, mas o que sentimos sobre quem somos com o que o mundo nos desvenda. E nós só memorizamos com as emoções. Selfies, fotos sexy e de uma galeria de figuras impessoais dizem muito sobre nada. Eu tenho uma relação de amor-ódio com a fotografia. Pois se há fotografias que servem para a revisão das vivências e que me enchem de saudades, há outras que estragam a forma floreada dos sentimentos, como aquele acontecimento estava registrado no cérebro. Como não o esqueci, leal patriota, fotografei e até fiz um vídeo do sortilégio de Barra Grande. Confira e, se possível, um dia apareça. Volto às redes sociais dia 10 de janeiro, com a cabeça mais fresca para conseguir organizar melhor as ideias e as palavras. Até a volta.