maio 21, 2025

************ SONHOS são MENSAGENS das PROFUNDEZAS

morvan em pipa - RN, 2014, foto de antonio nahud


Até logo, até logo, companheiro,
guardo-te no meu peito e te asseguro:
o nosso afastamento passageiro
é sinal de um encontro no futuro.
Adeus, amigo, sem mãos nem palavras.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
Tampouco há novidade em estar vivo.
SERGUEI IESSIENIN
(1895 – 1925. Konstantinovo / Rússia)
 
Talvez um dia,
vá ter convosco
um poeta sem pátria
que segue errante
de cidade em cidade.
A solidão - ai dele! -,
lhe serve de farsa
enquanto vivo for
e quando morrer –
 
mas nunca esquece a ti,
por mais longe que erre, ó Belo!
e ao teu coração
cheio de ventura.
FRIEDRICH HÖLDERLIN
(1770 – 1843. Lauffen / Alemanha)
 
Fotografias:
 
MORVAN FRANÇA
(1987 – 2016. Belo Horizonte / Minas Gerais)
 
 
ao amigo Morvan
 
 
O caminho para prosseguir consiste em recorrer ao passado recente ou mais distante, encontrar renovação em verdades fundamentais testadas pelo tempo, em coisas boas que refrescam e saciam, belezas que nos elevam acima da corrupção e do egoísmo da atualidade. Filho do Divino Senhor e das Terras do Sem-Fim, escrevo prosa narrando um mundo resiliente de dentro e de fora. No espírito, suavidade, aprendizado e religiosidade se fazem presentes. Acredito na fortaleza da escrita, na justiça dos Anjos e na graça sedutora das artes. A literatura é uma ode a beleza que não se esconde do sofrimento, tampouco é sequestrada pelas misérias da vida. Uma beleza que consola, purga males, desarma ódios e nos aproxima de leitores desconhecidos. Diante do trem do destino, enxergo a harmonia. Enquanto posso, com clarão de vaga-lume, vigilância noturna de coruja e sensações aéreas de passarinho, escrevo vendo boniteza nas coisas. Nas sombras das noites, as lembranças se renovam como palavras em um diário inventado e os sonhos são pontes para outros mundos.
 
Libertando a mente indomável, recordo o que passou, como se diluísse a saudade. Em duetos de emoções, habitei cumplicidades, alegrias libertinas e doces esperanças. No agora, digo ao espelho:
“Mantém o equilíbrio”. Afinal, a sorte não é justa e a vontade pode pouco. Sem perder a fé, mantenho o equilíbrio, a racionalidade. Dentre outras manias, não valorizo datas, inclusive evito celebrar meu próprio e teimoso aniversário. No caso do moço chamado MORVAN, faço exceção, não seria possível ignorar um merecido ritual literário libertário. Neste maio, dia 22, se vivo fosse ele faria 38 anos de idade. O sensitivo e inconformado biólogo-fotógrafo mineiro partiu aos 29 anos. Nove anos passados, ao ouvir o ronco do motor de qualquer motocicleta na tranquila rua onde moro, penso que ele feito zumbi retorna dos mortos para casa, trazendo sentimentos, questionamentos e delicadezas. É fato que a morte levou meu conselheiro de artes, meu cúmplice político, meu diálogo lúcido, meu aventureiro dos sete mares. Deixou-me sem a ternura de uma expressão original admirável.
 

Neste seu mês, as lembranças e os sonhos povoam o imaginário e, em incrível velocidade, resgatam viagens, conversas arrebatadoras, canções, filmes, tanta coisa boa. Sua partida foi uma fatalidade, mas as lágrimas secaram há séculos, estou em paz, Deus sabe o que faz. Aberto para a vastidão do infinito, para o processo de passagem que todos nós experimentaremos, aceito sem blasfêmias os mistérios sagrados. O tempo, implacável, segue seu curso, ciente de que há falecidos que permanecem entre nós por inúmeras razões. Com saudades, sonho com MORVAN. Ele faz uma falta danada. Sua ausência é um vulcão adormecido. Mas meu coração não está partido, as esperanças continuam vivas. No entanto, o mundo me parece distante, oculto na névoa, como se estivesse vendo um filme experimental. Para enxergá-lo perfeitamente, leio muito, escrevo muito. É uma pena que o brasileiro não leia mais. Não aprenda e não se delicie com as maravilhas produzidas por intelectos privilegiados, que nos conduzem ao etéreo e nos fazem repensar os sinais e o próprio Brasil.
 
MIRAGEM
 
Entre leituras e palavras escritas, não há mais tristezas românticas e, às vezes, passo semanas sem recordar conscientemente MORVAN. Receptor de mensagens vindas do outro lado da realidade, vivencio sonhos diáfanos, pairando águas transparentes, fauna lúdica, cidadelas medievais. Considero como encontros certamente além da imaginação. Ontem à noite, aconteceu mais um desses contos adormecidos visualmente cinematográficos. Caminhávamos em um parque natural, e ele explicava cientificamente ervas, insetos e flores minúsculas. Mastigando mirtilos, sumo escorrendo nos lábios, eu observava árvores antigas e frondosas ao vento. Recordo dizer que seria auspicioso mergulhar em um rio, acariciando pedras aveludadas. Recordo também que havia densidade poética nos nossos gestos. Acordei subitamente, no meio da madrugada, quando meu pequeno Puck, assustado, latindo, pulou na rede. Então, à meia-luz, disse impulsivamente:
“Que belo passeio, meu amigo. Vejo que não se esqueceu do seu velho escritor. Obrigado, me fez bem, siga em paz”.
 

As coisas mais importantes da vida são nossas crenças, sentimentos e valores. Se forem reais, são refratárias às modas passageiras. O essencial é separarmos o bom, o saudável, o relevante, dos tumultos e histerias transitórias. Eu desejava ver MORVAN como fotógrafo consagrado. Seu notável talento caminhava para isso. Fiz o possível para incentivar sua arte, e estávamos na rota certa. Exposições em cidades nordestinas, entrevistas em jornais e TV, imagens em revistas e blogs, prêmios. Influenciado por conjunturas rasas, o orgulhoso moço se perdeu. Sucumbindo a abusos, a carreira desandou. Dois meses antes de morrer, procurou-me, abatido. Não sabia ser feliz em Natal, estava farto de criaturas sem substância, destroçado pela boêmia sem alma. Com a cabeça deitada no meu colo, adormeceu por minutos. Fiquei penalizado, mas não dava para fazer de conta que o mal que se abateu em nossas vidas podia ser remediado. Após esse encontro sofrido, nunca mais nos comunicamos. A sua morte a seguir não me surpreendeu, mas dilacerou meu coração.
 
A nossa história resiste ao tempo, aos ressentimentos alheios e a intrigas não esclarecidas. Sei que os erros precisam ser superados para que haja redenção. O verdadeiro vilão, portanto, é o apego ao rancor ou ao ódio, que apenas piora a situação, nada resolve e, no fim das contas, tudo passa. Quando não há perdão nem esquecimento da dor, o desejo egoísta e mesquinho de vingança será sempre o fio condutor de ações injustas, e a maldade prevalecerá. Incentivar o rancor, como resposta à frustração causada por um amor perdido ou decisões mal resolvidas, não é sensato. Tão dramático quanto doloroso, o rancor não cicatriza — apenas mantém a ferida aberta. É uma opção destrutiva, um desatino que perpetua o ciclo da dor. Com a influência da passagem do tempo, avaliei que nada é por acaso e que a vida sabe o que faz. Sem temer a depressão, a despeito de ser terrível, me dei conta de que a jornada sinistra, saudosa e intimista abria espaço para o
“sentido da vida”, e, dessa maneira, me vi cada vez mais próximo a uma condição, por fim, esclarecedora.
 

A FACE OCULTA
 
É comum que se queira transformar um outro ser no personagem que nossa imaginação criou. E a decepção não tardará. Conviver não é fácil, mas é uma proposta instigante. Quais as qualidades vislumbradas no amante? O que mais apreciamos em seu caráter? Como é que tais atributos nos sensibilizam? Administrar adequadamente um romance é parte integrante da obtenção de um status emocional equilibrado. Assim procurei fazê-lo, frustrando-me quando repentinamente tudo desandou. Quem não conhecesse MORVAN na intimidade, poderia considerar que estivesse diante de apenas um excêntrico, mas para além desse atributo, ele tinha uma inteligência fascinante. Durante um período, alguma coisa o instigou a revelar uma face oculta, desviando-se da racionalidade, presumindo que investigar a consciência seria o esplendor de um destino. E em meio a um colóquio sensitivo, sem alardes, identificou algumas informações próprias e inovadoras, certo de que para nos desenvolvermos precisamos de reflexão. Afinal, sem ela, continuaremos egoístas, brutos e cruéis.
 
Dominado pelo fulgor de um sentimento desconhecido, desde aquela circunstância ele acolheu o risco de um sortilégio, tão intenso, que o conduzia a atravessar um imaginário campo de flores em uma trilha secreta. Apesar de ser repentina, a candura o induzia a uma paz inexplicável, que ao sabor de um enorme entusiasmo criou nele a expectativa de dominar as sensações que ainda apareciam incertas. Sem sobressaltos, porém, estava inteiramente possuído pelas evocações mais íntimas, que de imediato lhe passavam o fascínio de uma pintura renascentista, que ia e voltava. Ao meu lado, como se eu fosse uma âncora que evitasse seu naufrágio no surreal, com as suposições, tudo parecia tão claro, que houve um instante que sentiu o perfume de uma flor silvestre e enxergou o voo de um colibri. Logo, nasceu a ideia abstrata de um passado que possivelmente nunca existiu. Ponderando se tudo seria fruto da generosidade do afeto contemporâneo, viajou sem limites em algum lugar da sua mente, despontando arrebatadoramente no desenlace de um segredo.
 

Aquele que amamos e partiu na noite eterna, sempre podemos reencontrá-lo no coração. Recordo como MORVAN procurava constantemente os arquivos profundos do mais íntimo para restaurar o curso dos dias transcorridos. Até reconheço que, nessa época enigmática, eu aprendi a conviver com um espetáculo espantoso, quando unia a experiência arriscada do meu parceiro e o tempo que jogava ao léu para estudar suas intrigantes reflexões. Não descarto a saudade dominante daqueles dias – ou teriam sido semanas? -, pois sei que não surgia de um tempo pacífico, embora a advertência me fizesse desviar a atenção para as tarefas literárias habituais. Ele entendeu muito rápido que orbitar em torno dos pensamentos o deixava disponível para receber a notícia adequada ao embate de situações indecifráveis, convencido também de que, acatando as sensações, corria o risco de descobrir desafios perigosos e irreversíveis. Todavia, no devaneio, acreditou em um ponto de vista que o faria portador de uma visão transcendental, capaz de renová-lo para todo o sempre.
 
Recordo-me das diversas vezes em que conversamos sobre fé e espiritualidade. Eu argumentava que a fé não tem lógica e Deus não se explica. Para mim, a importância dos dogmas cristãos evita a ruína humana. O poder da crença e da oração fortalece a alma e nos protege contra o mal. Aquele que tem religiosidade, frui de um conforto de que o agnóstico ou o ateu não podem dispor. Tenho certeza de que um Criador onipotente, em sua infinita benção, foi o autor de uma galáxia magistral da qual fazemos parte. Após esta peregrinação terrena transitória, seremos destinados a uma transcendência imortal, despojada de dores, sofrimentos, enfermidades, angústias e decepções. Completamente diferente de mim, MORVAN não tinha espaço para santos e virtudes religiosas, e, em certa ocasião, compreendi que me faltava sabedoria para combater sua perdição, quiçá sem retorno. Consciente da angústia sem fim, senti o desespero difuso que melindrava o seu coração, e o alongamento do seu olhar à procura de conforto imediato. Uma ou duas lágrimas correram no meu rosto.
 
eu e morvan em 2013
O RELACIONAMENTO AFETIVO
 
Não há como mudar aquilo que já passou. O tempo não tem ponteiros para voltar atrás. Não se ensaia, na vida. Vive-se ao vivo, sem edição. Mesmo diante da pressão da sociedade hipócrita, o valor da integridade e da fidelidade à verdade é fundamental. MORVAN era um iluminado. Ter a sua amizade a toda prova era uma forma de distinção. Os amigos eram, por ele, valorizados. Nunca foi de cultivar muitos amigos. Preferia a solidão, repetindo a linguagem bíblica:
“muitos são chamados e poucos os escolhidos”. Foram cerca de cinco anos de intimidade sem fronteiras. Em Natal, capital do Rio Grande do Norte, moramos juntos em um tranquilo condomínio no bairro do Satélite e em uma antiga casa na Cidade Alta, de frente para o Rio Potengi. Eu ficava embevecido com a sua paixão pela leitura e saberes aprendidos na Filosofia. No nosso primeiro mês, deu-me um livro de autor predileto: o inquietante “O Lobo da Estepe”, do meu mestre de juventude Hermann Hesse. No oferecimento, uma expressão latina, que eu desconhecia, ab imo corde, do fundo do coração.
 
Daí começou a sua mania, muito generosa, de presentear-me livros, pequenos objetos, raízes secas, folhas, pedras. Certa vez, quando me ofereceu
“Os Sonâmbulos”, de Hermann Broch, relembrou: “Na certeza de que o ab imo pectore continua”. Já com “Walden”, de Thoreau, exagerou na dedicatória: “Mestre nas artes de viver, amor de vocação e destino, de naturais e inolvidáveis divergências e convergências – enfim, um beijo de chuva, trovão e relâmpagos.” Nesse dia, falamos sobre Thoreau, o mesmo que propôs a desobediência civil a um governo injusto, e a temporada que passou recluso numa cabana afastada de tudo. Impregnamo-nos da sua poética: “Dirige teu olhar para dentro de ti / E mil regiões encontrarás ali / ainda ignotas. Percorre tal via / E mestre serás em tua cosmografia”. Concluímos que a maior parte dos homens vive de forma mesquinha, alimentando desejos com novos desejos sempre impossíveis de saciar. A opção pela dissimulação em lugar de uma franqueza que pode machucar o outro. Um outro que, por sua vez, não hesita em nos machucar.  
 

Depois que os amaldiçoados nos separaram, à beira dos seus últimos meses de vida, ficamos cada vez mais solitários, vivendo intensamente a solidão. Como não tenho medo da solidão, ela deixou de ser solidão. O silêncio também já não era mais silêncio, pois escutava tudo o que o vento trazia.  Percorria o que de bom já vivi, como propunha Cecilia Meireles:
“os jardins da memória só a mim pertencem”. Privilegiado quem pode aproveitar a solidão para fazer um exame de consciência, avaliando existências correndo atrás de insignificâncias, perdendo tempo com inutilidades e juntando coisas. Quando MORVAN reapareceu, desolado, apertou minha mão com força, e como se interrogasse a si mesmo perguntou: “Para que esta cidade, para que nossa separação, para que a vida?” Senti o fantasma de um obstinado adeus. Meu corsário de estimação perdera o desejo de um propósito para a vida, seu horizonte estava desbotado. Agora, no mundo espiritual, acredito que encontrou a serenidade necessária. Inclusive a mais perfeita paisagem: o paraíso.
 
A FORÇA da FÉ
 
Aprendi que as palavras podem revelar um mundo mais justo, menos cruel. A literatura é uma forma de resistência. Como escritor, procuro abrir horizontes, romper barreiras, experimentar técnicas narrativas e manipular metáforas e imagens como um alquimista em seu laboratório. Observador cuidadoso da natureza humana, tenho reconhecido a profunda verdade na célebre expressão de Santa Teresa d’Ávila:
“Tudo passa; só Deus não passa!”. Criatura frágil e finita, o ser humano insiste em se esquecer disso e faz de sua existência uma contínua busca do prazer, do poder, do enriquecer. Perpetra-se ingratidão, trai-se, engana-se, ofende-se. Edificam-se muralhas que separam vínculos amorosos. Mas a sapiência divina faz com que tudo desapareça após algumas décadas. Assim, entre sonhos, contemplações e pensamentos filosóficos, observei dia desses o nascimento de uma extraordinária orquídea no jardim de casa, e para minha decepção em questão de dias ela murchou. Diante de suas pétalas, refleti sobre a existência, a resistência, a fragilidade e a essência das coisas.
 

Entre indagações políticas, emocionais, espirituais e profissionais, tenho consciência de que a vida é um sopro e que todos nós, a qualquer hora, estaremos longe deste insensato, injusto e adorável mundo. Nesta encruzilhada de miudezas, lembro-me de MORVAN, do nosso companheirismo, das fugas de motocicleta, do erotismo avassalador, das esperanças perfumadas e dos projetos culturais. Sinto saudades da ternura à flor da pele, dos olhos tristes e dos poemas de Fernando Pessoa na sua voz. Vez ou outra esqueço seu rosto, seus abraços elétricos, seus beijos românticos, o dengo da sua voz. Vez ou outra me perco nas noites assombradas, no melindroso coração saltando pela boca. Vez ou outra a vida acelera. Eu resisto, vagando em lembranças e esquecimento. Como se estivesse em uma terra árida, tentando não perder a memória da flora e sentindo a insólita nostalgia da felicidade. Não há na vida nada além do amor e da satisfação. Quando estiver no limite da passagem e olhar para trás direi para mim mesmo: sofri muitas vezes e cometi erros, mas eu amei.
 
Finalizo afirmando que meu amigo era um cara bonito. E um sujeito formidável. Sei que é um clichê, mas parece que ontem mesmo ele me abraçava, em nossa casa, dançando os dois ao som de uma canção de Nina Simone. O tempo passa rápido demais. Neste seu aniversário de 22 de maio, peço perdão pela incapacidade de resgatá-lo do suplício que o matou. Sinto pelo fim brutal e rezo por sua alma. Nos pássaros da memória, pela luz de Deus, um dia nos encontraremos na eternidade. Nos campos perfumados do Senhor, nas montanhas azuladas dos céus. Deus assim queira. Provavelmente ainda tenho uns 20 anos de vida, ou 30, se eu for muito sortudo. Ocorre que agora, ao contrário de quando era jovem, eu sei o que são 20 anos. Eu sei o que são 30 anos. Não são nada. Apenas um sopro de vida. Será uma honra meu nome inscrito um dia no granito da tumba familiar, em Itabuna, no sul da Bahia, mas espero que alguém plante, em algum lugar, uma árvore como lembrança. Um jambeiro. Jambeiros são úteis, e eu gostaria de ser útil mesmo depois de morto.
 
E vou-me embora
Por um mau vento
Que me leva
Sem rumo, lento,
Tal como leve
Folha morta

PAUL VERLAINE
(1844 – 1896. Metz / França)
 

De REPENTE, a ETERNIDADE
Nasceu em 22 de maio de 1987, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Magnífico fotógrafo, coração do bem e de vastas emoções. O que MORVAN produziu e nos legou é talentoso, delicado, denso. Com “A Face Oculta” recebeu o Troféu Cultura de Melhor Exposição de 2013/RN. Na noite de 7 de julho de 2016, deu cabo da vida, enforcando-se à beira-mar, em Galinhos, um bonito vilarejo potiguar onde costumávamos passar dias de felicidade. Deixou uma mensagem: “Meu caminho terminou. Aqui eu paro. Está tudo bem. Ninguém tem culpa. Cansei da humanidade”. Ele foi um dos meus adoráveis amigos suicidas. Antes, Nuno Casimiro em Portugal e, depois, o poeta Antônio Cícero. Certamente que o suicídio é herético. Entretanto, não vejo um contexto pecaminoso. Há razões para o suicídio, justas e terríveis. Por vezes, é inevitável, e nem sempre é consequência de um súbito desvario. Tomar consciência de um certo vazio pode tornar o cotidiano insuportável. Concluindo, estou me consolidando um acumulador de ausências. Os intervalos entre horas, dias, semanas, meses, vão se encurtando a cada ano em que vou perdendo amigos nesta apaixonante jornada existencial.
 
“Envelhecer é se retirar definitivamente do mundo das aparências.”
JOHANN WOLFGANG von GOETHE
(1749 – 1832. Goethe House, Frankfurt am Main / Alemanha)
 

REVISTA ÍCONE - Turismo & Cultura no Nordeste
Ano: 2014
Editor: Antonio Nahud
Diretor de Fotografia e Foto de Capa: Morvan França
 
Na CALADA da NOITE
Pernoita em mim flor e espinho. E se por acaso me vem à memória, ama-me na conexão cálida, no aroma cúmplice. Escalo a leal gratidão aveludada, sentindo o perfume queimado das estrelas. Noite ainda, seu corpo ausente se instala no meu ser-silêncio, enquanto envelheço na nômade solidão das aves a caminho da finitude.
 

ANATOMIA de um NOME
Segundo o IBGE, 34 pessoas foram registradas no Brasil como MORVAN na década de 80. O saudoso mineiro foi um deles. Esse nome tem raízes etimológicas que remontam à língua celta, onde é associado a significados como “mar” e “pequeno”, ou seja, “pequeno mar”. A origem vem de regiões da França, especialmente a Bretanha, refletindo uma conexão com a natureza. Ele é associado a características de força e resiliência. Homens com esse nome são determinados e corajosos. De acordo com a numerologia, revela um número que representa criatividade e expressividade. O cálculo sugere que aqueles que o carregam têm uma forte inclinação para a arte e a comunicação, refletindo uma personalidade vibrante e dinâmica. Na astrologia está associado ao planeta Netuno, que simboliza intuição e sensibilidade, indicando que quem tem esse nome pode ter uma forte ligação com o mundo espiritual e uma capacidade de mergulhar em emoções profundas.
 
vais levar
a Árvore¿
Sim
Não esquece de levar também a Sombra
E
a Sombra do Outro,
que ao teu lado     sendo não és
Semeia Metamorfoses
Pois Sombras ficam tristes,
          se tudo é igual a si:  e não há dança
n   o
Mesmo
Agora, colhendo a Voz do Ir sem ir,
ouves?
- Quando tudo se apaga, Te Ascende,
ela te diz
         enquanto as Sombras dançam,
Enquanto as Sombras dançam
VICENTE FRANZ CECIM
(1946 – 2021. Belém / Pará)

 
rejane, morvan e ana cláudia com o meu livro
A HISTÓRIA e a ARTE de MORVAN
 
01
A ALQUIMIA FOTOGRÁFICA de MORVAN
https://cinzasdiamantes.blogspot.com/2014/11/alquimia-fotografica-de-morvan-franca.html
 
02
MORVAN: ENCONTRO MARCADO
https://cinzasdiamantes.blogspot.com/2016/07/morvan-encontro-marcado.html
 
03
INTERLÚDIO - 29 vezes MORVAN
http://cinzasdiamantes.blogspot.com/2017/03/interludio-29-vezes-morvan.html
 
04
ANATOMIA da AUSÊNCIA
http://cinzasdiamantes.blogspot.com/2018/02/como-se-fosse-de-cristal-ou-anatomia-da.html
 
05
ENTRE o AMOR e o TEMPO: LUPE & MORVAN
https://cinzasdiamantes.blogspot.com/2020/03/entre-o-amor-e-o-tempo-lupe-morvan.html
 
06
A LUZ dos VAGA-LUMES
https://cinzasdiamantes.blogspot.com/2022/06/luz-dos-vagalumes_24.html
 

morvan por antonio nahud