Ilustrações:
DAMIEN HIRST
(1965. Bristol / Reino Unido)
Por
vezes, na vivência europeia de muitos anos, sentia nostalgia. O fato
de encontrar-me fora do Brasil contribuía para reforçar um sentimento terno de
pertencer à esse país. Tomado por febres românticas, sonhava com praias
banhadas por águas mornas, a exuberância da Mata Atlântica, crepúsculos
tropicais, chuvas pesadas, mangas encarnadas, acarajé, água de coco verde etc. O
Brasil sempre foi uma grande história de amor. Por prazer, hábito ou
necessidade espiritual. Entre uma entrevista e outra, um livro e outro, emocionado,
voltava à terra amada. Além do coração, aguardavam-me também as sombras do mal protegendo
corruptos e desalmados. O Velho
Continente refinou-me, alargou horizontes. Circulei em famosos festivais de
cinema, participei de encontros literários, conheci escritores célebres,
castelos medievais e palácios barrocos, tomei banho de sol às margens do Rio
Sena, dormi inúmeras noites na germânica Floresta Negra, frequentei a Tate
Gallery e o Louvre, ouvi a música épica de Richard Wagner na Baviera, concertos
de Nina Simone, espetáculos de Pina Bausch e Robert Wilson. Enfrentei duras
provas, algumas vertigens, solidões, terremotos do coração. Fazendo o mel de
inumeráveis encontros e desencontros, numa aventura nada heroica, sem me levar
demasiado a sério, aprendi que o requinte não só beneficia e um belo dia voltei
ao Brasil. Em busca de perfumes, encantos e cumplicidades,
terminei por encontrar a simplicidade. Não deixa de ser um tesouro. Afinal,
como escreveu um dos meus escritorores favoritos, Paul Bowles: “A simplicidade
é um diamante”.
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