Poemas: YURI HÍCARO
(Pau dos
Ferros, RN, 26 anos)
Ilustrações: OTTO PIENE
O CANTO DAS GAIVOTAS
Eu clamo,
alucinado
Pelo começo
de minha morte,
Ronca a
minha campa
Em um brado
sinistro.
Eu choro...
...As
guitarras choram!
Não antes de
sentir,
Mais uma vez
o sabor da uva,
E outra
vez...
Eu choro na
minha partida
...As
gaivotas cantam!
Não antes de
admirar,
Os traços da
tela,
O abismo obscuro,
A noite e o
seu esplendor.
Eu caio...
...Todos
caem uma vez,
E outras
mais.
Não antes de
mais um beijo
Na flor
fogosa,
O seu
cheiro, divino.
Eu me afogo
na solidão
...O mundo é
solitário!
Não antes de
um abraço,
Um abraço
platônico em Apolo.
Eu choro...
...As
gaivotas cantam!
DANTESC’AZIA
Como mentem
deliberadamente
Tais
máquinas contemporâneas,
Tais homens inconsequentes,
Oh! Como
mentem, como mentem
Esmolam-se
discursos negligentes,
Óleo negro
de torneiras
Escorre...
Sobre leitos,
Sobre o
peito de crianças,
De
indigentes.
Sucumbem
conteúdos, peles,
Sentimentos...
Ao meio de
esgotos, aracnídeos,
Teias de
podre existência,
Gritos
lentos,
Humanóides,
Liberal
mentira de máquina cardíaca...
Azia,
dantesca azia,
Liberais
mentiras de máquinas cardíacas!
LAMENTO
Lamento
sufocar minha
estupidez
nestes versos...
ignorantes
ignorados;
Lamento
liberar
meu absurdo,
meu sonho
para um
mundo vigiado;
ignoro não
ser escutado,
um
fingimento...pragmático.
Eu sinto
as lágrimas
que escorrem,
o fogo que
queima,
o vôo
subestimado
com o
sufocar dos meus lamentos.
Eu lamento
tudo isso,
freneticamente,
com o
sinzelar de alguns cigarros...
pensamentos.
É misto o
meu segredo
o meu
veneno,
um
escremento a lamentar
o
escremento,
o veneno a
envenenar
o meu
lamento...
É o lamento
a alimentar
o meu
momento.
QUANDO JÁ NÃO BASTA...
Dê-me as
ferramentas
E eu
removerei o mundo,
Mas não
Me deixe
Só...
Eu preciso
de você para suportar.
Dê-me as
pedras
E eu subirei
o topo de tudo...
Basta você
me aceitar.
E todo
cuidado é pouco.
Como no
Blues...
Quieto,
Nobre e
macio... solto... só.
Perdoe-me
por te querer a todo
Preço,
Quando já
não basta a minha
Alucinação.
Quero-te a
todo custo
E ao teu
perdão.
INANIÇÃO
Da minha
boca
Aberta e
muda,
Saem gritos
inaldíveis.
A minha rua
Não é mais a
mesma,
E a minha
visão dela
Difere da
tua...
Encaro minha
razão inútil.
Fecho os
olhos
E adormeço,
como no cinema...
A minha pele
Conhece a
minha água,
Que conhece
minha terra...
A minha pele
Desconhece
minha dor;
Escarro
minha razão inútil.
Da minha
boca
Deserta e
nua,
Emergem
gritos inaudíveis de ternura.
yuri hícaro
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