fevereiro 27, 2015

.................................... ESCRITORES SOB o EFEITO de DROGAS







Ilustrações:

HENRI MICHAUX


Muitos escritores, dos mais importantes, usaram drogas, e alguns escreveram obras inteiras sob influência delas. Seriam as drogas alguma espécie de combustível criativo? Charles Baudelaire, em “Paraísos Artificiais”, argumenta que o artista não pode depender de um veneno – como ele mesmo define as drogas – para pensar; porém não é novidade que, quando sob o efeito de substâncias que alteram a percepção, é possível ver as coisas de formas diferentes, fator este que, consequentemente, amplia a visão do escritor. Apesar de, obviamente, não ser necessário o uso de substâncias químicas para escrever, inúmeros escritores parecem precisar usar tais substâncias. Seria consequência da ansiedade daqueles que questionam o mundo a seu redor, por isso sentem a necessidade de escrever, e assim também a necessidade de se entorpecer de alguma forma? Bem, cada um usa drogas por seus próprios motivos, e não é válido julgar que é exatamente por esta ou por outras razões, mas o certo é que há uma forte presença do uso das drogas entre os escritores.

As drogas desde há quase um século, pelo menos, tem sido um assunto de rejeição social. Nem sempre foi assim, no entanto. Desde os primórdios, a humanidade faz uso dessas substâncias, e somente no último século devido a aspectos legais a proibição veio a ser a tônica do discurso popular e científico. O abuso de drogas (incluindo o álcool) pode ser diretamente relacionado com o sucesso de alguns dos escritores mais admirados do mundo. Ernest Hemingway é amplamente conhecido como um alcoólatra desesperado e trágico; Aldous Huxley defendia o LSD (a banda The Doors leva o nome de seu livro “The Doors of Perception”); Edgar Allan Poe e Lewis Carroll foram alguns dos consumidores de ópio da literatura. Sir Arthur Conan Doyle foi um famoso viciado em cocaína, cujas condições de usuário ele transfere para seu personagem mais ilustre, o detetive Sherlock Holmes.
Sobre a cocaína, cita-se Sigmund Freud e seu entusiasmo com a substância, da qual foi um defensor, e provavelmente um usuário durante toda sua vida; ainda assim, um dos mais brilhantes sujeitos de todos os tempos. Jean-Paul Sartre é lembrado também pelo uso de drogas, entre as quais corydrane. Segundo a biógrafa Annie Cohen-Solal, ele acordava com uma xícara de café e um tablete de corydrane, depois quantos mais fossem necessários enquanto durasse a escrita.

A literatura mundial seria provavelmente bem mais pobre se os escritores fossem disciplinados. Pó branco, cogumelo mágico ou erva maldita, as drogas resultaram em liberação para muitos autores. E perdição. Os poetas românticos foram os primeiros a explorar o misterioso mundo do inconsciente. Os “Hinos à Noite” de Novalis nasceram sob o efeito do ópio. Também o escocês Robert Louis Stevenson inventou num delírio alucinótico a dupla personalidade de seu “O Médico e o Monstro”. E, na França, um grupo de poetas / escritores - Charles Baudelaire, Théophile Gautier, Victor Hugo, Charles Baudelaire, Honoré de Balzac, Alexandre Dumas etc. -  criou um “Clube do Haxixe”. A experimentação com alucinógenos, visando escrever melhor, levou muitos autores à dependência. Como prova o caso de Benjamin von Stuckrad-Barre, celebrado literato pop de nossos dias. Em entrevista a um jornal, em 2004, ele reconheceu como chegou à beira do abismo, através do consumo de cocaína, esperando recolher material para um romance borbulhante de vida. Até reconhecer – ainda a tempo: “Meu instrumento de trabalho, o cérebro, está em jogo”. Outros não acharam mais a saída para a dependência: Georg Trakl, Klaus Mann, Hans Fallada, Jack Kerouac, Irmgard Keun, Joseph Roth etc. Esses e muitos outros autores morreram em consequência do consumo excessivo de álcool ou narcóticos. Friedrich Glauser, morto pela morfina aos 42 anos de idade, não se iludia: “Todas as justificativas inventadas para justificar o vício são muito bonitas do ponto de vista literário ou poético. Concretamente, é uma desgraça. Pois a pessoa se arruína, a si e a sua vida.” Segue uma lista com alguns escritores que usaram drogas.

 
ALDOUS HUXLEY
(1894 - 1963. Godalming / Reino Unido)

O autor do famoso “Admirável Mundo Novo” considerava o LSD e outros alucinógenos como portais para percepções espirituais profundas, místicas. Ele escreveu “As Portas da Percepção”, na qual descreve experiências com o uso de drogas como o ácido lisérgico, a mescalina, entre outras. Huxley disse, em uma entrevista à Paris Review, em 1960, que, indiretamente, o uso de tais substâncias pode ajudar no processo criativo, mas não de forma que alguém possa dizer “agora vou tomar um ácido para escrever um poema brilhante”, isso ele não acreditava que funcionasse. Quando estava nos estágios finais de um câncer na garganta, escreveu um bilhete para a esposa pedindo-lhe para injetá-lo com 100 mg de LSD. Foi o que ela fez, e ele morreu pacificamente dentro de algumas horas.

CARLOS CASTANEDA
(1925 – 1998. Cajamarca / Peru)

Um dos autores mais lidos e mais famosos ao redor do mundo. No entanto, pouco se sabe sobre sua vida pessoal. O autor de “O Poder do Silêncio” sempre teve o cuidado de resguardar-se das pressões contraditórias e desencontradas da sociedade de consumo. Ele mantinha uma cuidadosa cortina de desinformação em torno da sua pessoa. Somente em língua portuguesa, os livros de Castaneda venderam até 1998 cerca de 600.000 exemplares. No mundo,  o total ficava entre dez e vinte milhões de volumes. Mas não recebeu apenas aplausos. Era conhecido como o “guru das drogas”, principalmente das plantas psicotrópicas. Numa entrevista, disse: “Paguei um alto preço, meu corpo ficou debilitado, e precisei de muitos meses para recuperar-me. Sofria de ansiedade e funcionava a um nível muito baixo. Se tivesse me comportado como um guerreiro, aceitando a responsabilidade, não teria sido necessário tomá-las.” O escritor usava peiote (cacto que causa alucinações).

CARSON MCCULLERS
(1917 – 1967. Columbus, Geórgia / EUA)

Ela não teve uma vida nada fácil. Um marido suicida, o alcoolismo e vinte anos com o lado esquerdo paralisado. Seus livros, a começar por “O Coração é Um Caçador Solitário”, que escreveu aos 23 anos, e foi inesperado sucesso de público e crítica, contam histórias de personagens vivendo à margem da sociedade. Alguns porque não conseguem se adaptar, outros porque têm algum tipo de deformidade física ou moral. Morreu de alcoolismo, enrolada num cobertor, em uma cadeira do convés de um navio.

CHARLES BAUDELAIRE
(1821 – 1867. Paris / França)

Famoso por sua poesia ligada ao vinho e às drogas, escreveu “Paraísos Artificiais”, na qual narra sobre as experiências geradas pelo uso do haxixe, ópio e vinho. Inclusive, fez parte de um grupo chamado Clube do Haxixe, que se reunia, obviamente, para usar haxixe. Baudelaire narra, de forma lírica, em sua obra, diversas formas como o haxixe, o ópio e o vinho, mas principalmente o haxixe, pode ampliar a percepção do artista, iluminando sua inteligência. Porém, no fim do livro, ele condena o uso de substâncias como auxílio à criatividade, dizendo: “Aquele que puder recorrer a um veneno para pensar, em breve não poderá mais pensar sem o veneno. É possível imaginar o terrível destino de um homem cuja imaginação paralisada não soubesse mais funcionar sem o recurso do haxixe ou do ópio?”

CHARLES BUKOWSKI
(1920 – 1994. Andemach / Alemanha)

O próprio já dizia: “Beber é algo emocional. Faz com que você saia da rotina do dia-a-dia, impede que tudo seja igual. Arranca você pra fora do seu corpo e de sua mente e o joga contra a parede. Eu tenho a impressão de que beber é uma forma de suicídio onde você é permitido voltar à vida e começar tudo de novo no dia seguinte. É como se matar e renascer. Acho que eu já vivi cerca de dez ou quinze mil vidas.” Em suas obras há muitas referências ao álcool, assim como à maconha, apesar do escritor ter dito ser contra o uso de drogas, ele gostava realmente era de beber, de beber muito, inclusive defende o uso do álcool abertamente, dizendo que se não fosse a bebida, provavelmente teria se matado.

DYLAN THOMAS
(1914 - 1953. Swansea / País de Gales)

Sua poesia era pontuada por temas como as tradições célticas, as convenções das Sagradas Escrituras, o surrealismo britânico. Com o êxito de vendas de seus livros, vêm também o alcoolismo e os constantes débitos financeiros. De seus livros jorram densas emoções e paixões intensas. Aos 35 anos de idade mudou-se para os Estados Unidos, tornando-se uma lenda graças a embriaguez habitual, dramaticidade e romantismo incurável. Ele se transforma em um mito para os poetas que integram o conhecido Movimento Beat. Sua influência se estendeu até mesmo à esfera musical, marcando o gênero pop. Robert Allen Zimmerman assumiu o pseudônimo Bob Dylan como uma forma de prestar homenagem ao poeta do País de Gales. Morreu aos 39 anos, vítima do álcool. Pouco antes de falecer, já com a saúde abalada, teria consumido 18 doses de uísque.

EDGAR ALLAN POE
(1809 – 1849. Boston, Massachusetts / EUA)

O escritor passou por diversos dilemas sérios no decorrer de sua vida, e entre eles (ou talvez em decorrer deles) estavam a dependência do álcool e do ópio. Poe inclusive mostra, em alguns de seus contos como “Berenice” e “Ligéia”, protagonistas dependentes do ópio. O escritor também usava láudano (uma combinação que mistura ópio, álcool, morfina e codeína), e foi isso que utilizou em sua tentativa de suicídio, em 15 de novembro de 1848, um ano antes de sua morte.

EDNA ST. VINCENT MILLAY
(1892 – 1950. Rockland, Maine / EUA) 

Poeta e dramaturga, vencedora do Premio Pulitzer de poesia, conhecida pelo seu estilo de vida boêmio, pouco convencional para a época, e pelos seus casos amorosos. Era bissexual e bebia sem limites.

ELIZABETH BARRETT BROWNING
(1806 – 1861. Coxhoe / Reino Unido)

Autora de “The Seraphim and Other Poems” (1838) e “Poems” (1844), entre outros livros, tinha uma doença misteriosa e o seu tratamento com láudano lhe deixou com a saúde ainda mais debilitada, levando-a à morte.

ERNEST HEMINGWAY
(1899 – 1961. Oak Park, Illinois / EUA)

Quando falam de Hemingway, muitos o associam facilmente à bebida. São diversas as frases do escritor relacionadas ao assunto, como: “Eu bebo para tornar as outras pessoas mais interessantes” ou “Para conviver com os tolos, um homem inteligente precisa beber. Suas bebidas preferidas eram o absinto, rum, mojito e também uma versão especial de daiquiri, que hoje é chamada de “Special Hemingway”. O escritor, que bebia excessivamente em decorrência da depressão (ou vice-versa), suicidou-se em 1961.

F. SCOTT FITZGERALD
(1896 – 1940. Saint Paul, Minnesota / EUA)

Principal cronista da vida da alta sociedade dos Estados Unidos nos anos 1920, por ele definida como “Era do Jazz. Pelo estilo de vida farrista, torna-se uma espécie de ídolo da chamada “Geração Perdida”, que proclama a falência do sonho norte-americano de uma sociedade harmônica. Em 1925 escreveu “O Grande Gatsby, que hoje é considerado sua obra-prima, mas na época vendeu muito pouco. Também escreveu roteiros para filmes de Hollywood. Enfraquecido pelo álcool, tentou duas vezes o suicídio, morrendo jovem.

GÉRARD de NERVAL
(1808 – 1865. Paris / França)

Poeta romântico que fez parte do círculo boêmio de Charles Baudelaire. O grupo ficou famoso pela criação artística e por realizar experiências com drogas. A sua obra poética é marcada por atmosfera simbolista, que em parte reflete seu fascínio pelos sonhos (que considerava como viagens para “outra vida”). Apesar do grande talento e sensibilidade, era mentalmente instável e foi internado em sanatório durante episódios psicóticos. Suicidou-se após uma longa luta contra a esquizofrenia.

JOHANN WOLFGANG von GOETHE
(1749 – 1832. Frankfurt am Main / Alemanha)

Romancista, dramaturgo, poeta e filósofo, fez parte dos movimentos literários romantismo e expressionismo. Sua grande obra foi “Fausto”, escrito em 1806. Baseada numa lenda, relata a vida de Dr. Fausto, que vende a alma para o diabo em troca de prazeres, riqueza e poderes ilimitados. Goethe utilizava ópio diariamente.

HENRI MICHAUX
(1899 - 1984. Namur / Bélgica)

Escritor, poeta e pintor, explorou o eu interior e o sofrimento humano através de sonhos, fantasias e experiências com drogas. Usava mescalina, uma droga que altera a percepção do tempo e cria alucinações visuais. Nos anos 1960 fez um filme sobre o haxixe e a mescalina.

HONORÉ de BALZAC
(1799 – 1855. Tours / França)

No século XIX, o haxixe virou moda entre intelectuais franceses. Eles se reuniam para fumar essa forma mais concentrada da maconha e pesquisar os efeitos da droga. Balzac foi um deles. Sua obra máxima, “A Comédia Humana”, é composta de 89 romances, novelas e histórias curtas.

HUNTER S. THOMPSON
(1937 – 2005. Louisville, Kentucky / EUA)

Para além do jornalista e escritor, ele ficou conhecido pelo consumo intensivo de bebidas alcoólicas, LSD, mescalina e cocaína, entre outras substâncias. Também era conhecido seu amor às armas de fogo e o ódio a Richard Nixon. Sofrendo graves problemas de saúde, cometeu suicídio aos 67 anos. Seu forte apreço pelo álcool lhe rendeu a fama de ter sido o fundador do jornalismo Gonzo, expressão que significa algo como “o último homem a permanecer em pé após muita bebida”, e como se isso não fosse o suficiente para colocá-lo com louvor nesta lista, ele até chegou, certa vez, a dizer: “Eu odeio recomendar drogas, álcool, violência, ou insanidade para qualquer um, mas isso tudo sempre funcionou comigo.”  Seu mais famoso livro, “Medo e Delírio em Las Vegas”, foi o resultado de uma matéria que ele ficara de fazer para uma revista, porém gastou o dinheiro em drogas e bebidas, e acabou escrevendo, em vez da matéria, um relato sobre seu entorpecimento.

JACK KEROUAC
(1922 – 1969. Lowell, Massachusetts / EUA)

Um dos maiores escritores da famosa Geração Beat, escreveu muito vezes sob efeito de drogas. Seu amigo, o poeta Allen Ginsberg, comentou que o próprio Kerouac disse que sentia que conseguia escrever com mais facilidade dessa forma. Muitos de seus romances, entre eles, o aclamado “Pé na Estrada / On the Road”, foram escritos sob a influência de benzedrina, entre outras drogas. Também bebia muito, o que pode ser considerado um suicídio lento, uma vez que o escritor chegou a declarar que, por ser católico, não podia cometer suicídio, mas podia beber até a morte. E foi o que ele realmente fez: sofreu uma hemorragia de varizes no esôfago, o que o levou a fazer 26 transfusões de sangue, e foi em virtude do alcoolismo que morreu.

JAMES ELLROY
(1948. Los Angeles, Califórnia / EUA)

Ícone da literatura policial. Teve a mãe assassinada, num crime sem solução. Praticou pequenos furtos e delitos, vivendo em meio a problemas policiais. Utilizava drogas como o benzedrex, e álcool, muito álcool.

JEAN COCTEAU
(1889 – 1963. Maisons-Laffitte / França)

Poeta, romancista, cineasta, designer, dramaturgo e diretor teatral, abandonou-se ao vício do ópio. O consumo da droga e os seus esforços para deixá-lo afetaram profundamente o seu estilo literário. O seu livro mais famoso, “Os Meninos Diabólicos”, foi escrito numa semana durante uma dolorosa tentativa de abandonar o ópio. Em “Ópio, Diário de Uma Desintoxicação”, narra a experiência da sua recuperação do vício. O relato, que inclui vívidas ilustrações a tinta, alterna entre as suas experiências diárias de ressaca da droga e comentários sobre a sociedade e os acontecimentos do mundo.

JEAN-PAUL SARTRE
(1905 – 1980. Paris / França)

O escritor e filósofo era viciado em uma substancia que alucinou muitos hippies nos anos 1960: a mescalina. Começou a consumi-la em 1935 e, a partir desse momento, libertou-se dos famosos “bloqueios de escritor”. A mescalina teve papel fundamental enquanto escrevia seu livro mais conhecido, “A Náusea. Como efeitos secundários, era acossado pela alucinação de lagostas que o perseguiam por todos os lados, referindo-se a elas como “minhas pequenas”. Era também viciado em anfetaminas.

JIM CARROLL
(1949 – 2009. Nova Iorque / EUA)

Autor de “Diário de Um Adolescente” e músico punk rock, chegou a se prostituir para manter o vício em heroína.

JOHN KEATS
(1795 – 1821. Londres / Reino Unido)

Viciado em ópio, sua poesia recria devaneios e visões experimentadas durante transes do narcótico. Faleceu muito cedo, aos 25 anos, deixando uma vasta coleção de obras poéticas.

KEN KESEY
(1935 – 2001. La Junta, Colorado / EUA)


Autor do famoso “Um Estranho no Ninho”, fazia usos de LSD, mescalina, cocaína, peiote, entre outras drogas.

LEWIS CARROLL
(1832 – 1898. Daresbury / Reino Unido)


Todo mundo conhece “Alice no País das Maravilhas (1865), que virou filme, peça de teatro e o que mais se possa imaginar. Seu autor, um professor de matemática da Universidade de Oxford, usava drogas alucinógenas e isso influenciou muito o livro, que tem uma narrativa surrealista onde tudo pode acontecer. Uma obra muito divertida, fantástica, e ao mesmo tempo maluca.

LORD BYRON
(1788 – 1824. Londres / Reino Unido)
 
Célebre e belo poeta romântico envolvido em escândalos. Tinha título de nobreza, vida dissoluta, rebeldia, amores bissexuais (entre esses, uma ligação incestuosa) e usava ópio. Porém, toda essa vida conturbada é deixada de lado quando nos deparamos com seus maravilhosos poemas e por sua incontestável qualidade.

PAULO COELHO
(1947. Rio de Janeiro, RJ / Brasil)

Nem sempre foi um “mago de luz”, e durante o período que se dedicou ao satanismo, numa época dark, o popular autor fez uso de vários tipos de drogas, entre elas cocaína, LSD e maconha.

PHILIP K. DICK
(1928 – 1982. Chicago, Illinois / EUA)

Autor de ficção científica, muito produtivo nos anos 1960, usava alucinógenos, entre eles semoxydrine.

ROBERT LOUIS STEVENSON
(1850 – 1894. Edimburgo, Escócia / Reino Unido)

Escreveu “O Médico e o Monstro” em seis dias e seis noites num frenesi de cocaína.

SAMUEL COLERIDGE
(1772 - 1834. Ottery St. Mary / Reino Unido)

Láudano e ópio eram as drogas preferidas do autor de “A Balada do Velho Marinheiro”, um dos poemas épicos mais fortemente influenciado pelo uso de drogas. Ele pertencia ao mesmo círculo social de Quincey, que chegou a escrever um ensaio sobre Coleridge e seu uso excessivo de ópio.

STEPHEN KING
(1947. Portland, Maine / EUA)

O mais famoso escritor de terror contemporâneo diz não se lembrar muito bem de como escreveu alguns de seus livros, pois na época  - de 1979 a 1987 - andava mal por conta do uso de cocaína e álcool. Seu alcoolismo é até refletido em sua mais célebre obra, “O Iluminado”, na qual Jack Torrance mostra ter problemas com bebidas. Com a agravação do vício, sua família e amigos interviram e desde então ele está sóbrio.

TENNESSEE WILLIAMS
(1911 – 1983. Columbus, Mississipi / EUA)

Vencedor do prêmio Pulitzer, suas obras tornaram-se clássicos, referências essenciais para atores e amantes do teatro no mundo inteiro. Era alcoólatra e tinha dependência química de anfetaminas e barbitúricos. Foi encontrado morto num quarto do Hotel Elysée, em Nova York.

THOMAS de QUINCEY
(1785 – 1859. Manchester / Reino Unido)

Sua autobiografia chama-se “Confissões de Um Comedor de Ópio. Também usava láudano. Quando estava sem se entorpecer, sua produção literária decaia, o que demonstra a importância das drogas em sua vida. Baudelaire foi fortemente influenciado por ele, e em “Paraísos Artificias há diversas citações da biografia deste.

TRUMAN CAPOTE
(1924 – 1984. Nova Orleans, Luisiana / EUA)

Morreu por causa dos vícios (álcool, cocaína e barbitúricos). Sua vida foi polêmica. Pai do romance de “não ficção”, criou um novo gênero literário. Algumas de seus livros foram levados para o cinema. Possuía uma língua afiada e provocativa, cultivando a imagem de escritor maldito. Ele inventou até um “Cocktail Capote”, uma mistura de álcool e barbitúricos. O consumo de álcool o levou a ter muitos problemas pessoais, além de outros com a polícia, que o deteve várias vezes por dirigir bêbado.

W. H. AUDEN
(1907 – 1973. York / Reino Unido)

Sempre referido como um dos grandes nomes da poesia do século XX, o poeta era alcoólatra e viciado em benzedrina (atua como estimulante no sistema nervoso central).

WILLIAM FAULKNER
(1897 – 1962. New Albany, Mississipi / EUA)

Em 1954, esteve no Brasil, quase sempre bêbado. Certo dia, segundo uma das versões, teria perguntado: “O que estou fazendo em Chicago?” A história de sua visita ao Brasil, quatro anos depois de ter recebido o Nobel de Literatura, é contada, de modo romanceado, no livro “Dias de Faulkner”, de Antônio Dutra. “As ferramentas de que preciso para meu trabalho são papel, tabaco, comida e uísque”, costumava dizer. Viveu episódios terríveis de alcoolismo e foi submetido à terapia do choque elétrico para se curar da depressão. Morreu de um ataque cardíaco induzido por doses exageradas de bourbon.

WILLIAM S. BURROUGHS
(1914 – 1997. San Luís, Missouri / EUA)


Para começo de conversa esse cara escreveu um livro chamado “Junkie”, entre outros clássicos de temática semelhante sob o efeito de drogas. Viciado em heroína e eukodol, era um escravo dessas substâncias, chegando a escrever com as agulhas enfiadas no braço. No entanto, estava bêbado, e não chapado, quando atirou em sua esposa, matando-a, enquanto brincava de “Guilherme Tell” com uma arma carregada.





fevereiro 16, 2015

...................................... SEXO e LITERATURA: ILHAS de PRAZER

lucian freud

 
 
Quando se fala de literatura erótica, logo vem à mente a ideia de sacanagens, safadezas e correlatos. E esse conceito está certo, é claro, mas as histórias de sexo vão muito além do ato final: elas precisam instigar nos detalhes, na narração bem trabalhada, nos personagens com personalidade e numa trama envolvente, senão vira pornô , e não que isso seja um problema, mas com contexto tudo fica mais interessante. Afinal, o grande barato do erotismo é isso: o envolvimento. Fazer o leitor ficar magnetizado pelas palavras e permitir a sua mente viajar em sensações e sentimentos. O sexo na literatura, tal qual na vida, precisa ser bem-feito, sem pudores. A história de sexo e literatura é longa, vai de Aristófanes (com “Lisistrata, ou A Greve do Sexo / Lisistrata”, de 411 a.C.) até à mais variada escrita dos nossos dias. Muito antes do cinema, a literatura já rompia com o status quo e recheava suas páginas de sensualidade, erotismo, pornografia. De Sade a D. H. Lawrence, de Bocage a Hilda Hilst, a sexualidade tem sido tema constante seja como protagonista seja como condutora silenciosa da narrativa. Mesmo nos períodos de forte repressão, houve significativa manifestação do erotismo, muitas vezes às escondidas, apelando para pseudônimos. 
 
A literatura erótica conta histórias variadas nos mais diferentes estilos. Recheados de trechos de sexo ardente e personagens sedutores e misteriosos, um dos seus primeiros clássicos é o “Kama Sutra / Kamasutram” (séc. IV), de Mallanâga Vâtsyâyana, que consegue se manter extremamente atual e atraente até os dias de hoje. Ele traz técnicas sexuais indianas e sugestões de posições variadas que almejam alcançar o máximo do prazer, envolvendo os cinco sentidos do corpo: visão, audição, tato, paladar e olfato. Ainda assim, a obra não é apenas um guia sexual e sim um manual sobre o amor e as relações humanas, tratando o sexo como uma experiência superior entre duas pessoas que se amam. Sabemos também que nem sempre as informações sobre sexo foram tão acessíveis. Ainda hoje, o assunto é cercado de mitos e tabus, mas a situação já foi bem pior. A forma como entendemos a sexualidade hoje em dia começou a se desenvolver há pouco mais de um século, a partir dos estudos do psicanalista austríaco Sigmund Freud. Hoje, e cada vez mais, sexo é um tema em voga. Dando conteúdo ao tema, resgatamos escritores e poetas que trataram o sexo de forma picante e humana.

ADELAIDE CARRARO
(1926 – 1992. São Paulo / Brasil) 
 
Uma das mais populares autoras do Brasil nas décadas de 1960/70, seu nome é sinônimo de erotismo. Seu explosivo romance “Eu e o Governador” (1967), que  fala de um apimentado affair da autora com Jânio Quadros, vendeu em três dias 20.000 exemplares, estando agora na 14ª edição. 
 
ANAIS NIN
(1903 – 1977. Neuilly-sur-Seine, Nanterre / França) 
 
Famosa por publicar diários com conteúdo erótico, tendo a libertação sexual como meta, numa linguagem poética. O conhecido “Delta de Vênus / Delta of Venus” (1978), encomendado por um leitor anônimo, traz treze contos, tambientados na Europa dos anos 1940, com histórias de mulheres descobrindo a própria sexualidade com desconhecidos, triângulos amorosos e orgias, dando vazão à paixão e anseios sexuais.
 
BOCAGE
(1765 – 1805.  Setúbal / Portugal)
 
Um dos maiores sonetistas líricos da literatura portuguesa, escreveu idílios, odes, canções, epístolas e fábulas. Acusado de satirizar o clero e a nobreza, foi processado e preso pela inquisição. Deixou fama de poeta satírico e, com o tempo, passou a ser sinônimo de contador de histórias picantes e obscenas.
 
CASSANDRA RIOS
(1932 - 2002.  São Paulo / Brasil) 
 
Lésbica, escritora de livros taxados como pornográficos, autora de best-sellers, a maneira mais fácil de silenciá-la encontrada pelos militares foi censurando e proibindo a circulação de seus escritos. Tornou-se em 1970 a primeira escritora brasileira a atingir a marca de 1 milhão de exemplares vendidos. Entre suas obras lésbico-eróticas estão “Marcella” (1975), “Ariella” (1980) e “Tessa, a Gata” (1982). 
 
CHARLES BUKOWSKI
(1920 – 1994. Andernach / Alemanha) 

Poeta, contista e romancista, nasceu na Alemanha, mudando-se para os Estados Unidos aos três anos. Começou a escrever poesias aos 15 anos, mas seu primeiro livro foi publicado somente 20 anos depois, em 1955. Dotado de um humor ferino, sua obra é marcadamente autobiográfica. O estilo obsceno e coloquial e uma aparente forma descuidada com a escrita com temas recorrentes - como prostitutas, alcoolismo, corridas de cavalos, experiências escatológicas -, dividiu a crítica. Seu alter ego, Henry Chinaski, vive aventuras sexuais. 
 
CHARLES SWINBURNE
(1837 - 1909. Londres / Inglaterra) 
 
Poeta, dramaturgo, romancista e crítico da época vitoriana, conhecido pela controvérsia gerada no seu tempo pelos seus temas sadomasoquistas, lésbicos, fúnebres e anti-religiosos. Seu livro mais famoso, “Flossie, a Vênus de Quinze Anos / Flossie”, de 1897 , aborda em detalhes a prática da felação e suas inúmeras variações, a dois e a três, além de conter cenas de sexo descritas com o apelo visual e sensorial. Extrapolando a rígida moral inglesa, impressiona não apenas por sua carga sensual, mas também pela espirituosidade e bom humor.
 
CHODERLOS de LACLOS
(1741 – 1803. Amiens / França)
 
Passou para a história da literatura universal como o autor de “As Ligações Perigosas / Les Liaisons Dangereuses” (1782). Soldado do exército francês, veio a obter reconhecimento como escritor com esse romance, uma das obras-primas do realismo.  O principal objetivo do livro foi mostrar a libertinagem da decadente aristocracia francesa no final do século XVIII. Este despropósito moral é, de certa forma, atenuado pelo brilhantismo com que a obra é redigida. Ao invés de se horrorizar com a depravação dos personagens Valmont e a marquesa de Merteuil, o leitor acaba fascinado pela precisão que marca cada etapa da intriga.

CRÉBILLON FILS
(1707 – 1777. Paris / França)
 
Cedo começou a frequentar a sociedade parisiense e não demorou a pintar tais ambientes em seus textos libertinos, nos quais tecia análises psicológicas e retratava costumes. “O Sofá / Le Sopha”, publicado em 1742, tem como narrador um sofá animado por um espírito reencarnado em objeto. Ele acaba testemunhando todos os tipos de aventuras sexuais e situações consideradas amorais para a época (como a infidelidade). O tal narrador-sofá diz que só encontraria a paz eterna quando acomodasse um casal verdadeiramente apaixonado, o que supostamente justifica toda a libertinagem do sexo. Embora o livro tenha sido publicado anônima e clandestinamente, o autor foi descoberto e aprisionado durante alguns anos na Bastilha.

D. H. LAWRENCE
(1885 – 1930. Eastwood / Inglaterra)
 
Poeta, romancista e contista, interessado nas paixões humanas e na sexualidade, bem como nos efeitos absurdos das convenções sociais. Começou cedo a escrever poemas e contos, vindo a notabilizar-se em 1913 com a publicação do romance “Filhos e Amantes / Sons and Lovers”. Apesar da desordem da sua vida, de uma saúde débil e de uma relação amorosa difícil, ele escreveu alguns dos clássicos da literatura. Um deles,O Amante de Lady Chatterley / Lady Chatterley's Lover”, chocou a sociedade. Além de descrever cenas explícitas de sexo, foca no prazer feminino com a história de uma mulher rica que se envolve com um homem pobre. Publicado anonimamente em Florença, em 1928, só pode ser lançado no Reino Unido em 1960.

EDWARD SELLON
(1818 – 1866. Brighton / Inglaterra)
 
Escritor, tradutor e ilustrador de literatura erótica, ficou conhecido com “O Novo Epicuro: as Delícias do Sexo / The New Epicurean” (1865). Nesse romance epistolar, o protagonista comunica-se com suas amantes por cartas picantes que revelam todos os detalhes de suas últimas aventuras eróticas – principalmente aquelas que envolvem meninas virgens. Na primeira edição do livro, cerca de 500 exemplares foram apreendidos e destruídos pela “Sociedade para a Supressão do Vício” inglesa.

GEORGES BATAILLE
(1897 – 1962. Billom / França)
 
Escritor que refletiu com ímpeto transgressor sobre arte, religião, erotismo e economia. Por trás da aparência pacata escondia-se uma personalidade perturbada pelo apetite voraz de conhecimento, sem esquecer sua atividade secreta de pornógrafo, que gerou clássicos da ficção erótica como “História do Olho / Histoire de l'oeil (1928), publicado sob pseudônimo. Conta as experiências sexuais desenfreadas pelas quais passam um casal de adolescentes, envolvendo orgias, sadomasoquismo, voyeurismo e a obsessão pelo prazer anal. Sua escrita que se desenvolve ambiguamente entre a filosofia e a  literatura.

GIOVANNI BOCCACCIO
(1313 – 1375. Paris / França)
 
Na juventude publicou obras que expressam o fantástico e o bizarro da imaginação medieval. Entre 1348 e 1353, escreveu “Decameron / Idem”, seu livro mais importante. Tendo como cenário uma Itália devastada pela peste negra, retrata o amor e as relações humanas do ponto de vista carnal. Nas cem histórias que compõem o clássico, o autor aborda infidelidade, sexo e luxúria totalmente despidos da aura divina que até então pautava a Idade Média. Este livro foi proibido em muitos países. Mesmo cinco séculos após sua publicação, cópias foram apreendidas e destruídas pelas autoridades dos Estados Unidos e do Reino Unido.

GREGÓRIO de MATOS
(1636 – 1696. Salvador, Bahia / Brasil)
 
Com seu espírito crítico, satirizava políticos, comerciantes, clero, colonizadores e até mesmo o povo. Para isso, usava palavrões e um vocabulário muitas vezes pesado em suas obras. Escreveu poesia lírica-amorosa, satírica e religiosa. Suas poesias satíricas possuem um ótimo material do ponto de vista sociológico e linguístico. Nelas narra episódios da vida comum, cotidiana e política. Conhecido como Boca do Inferno ou Boca de Brasa, foi combatido como pornográfico e rebelde.

HENRY FIELDING
(1707 – 1754. Sharpham / Inglaterra)
 
O humor e a fina ironia de seus textos, em que satiriza o sentimentalismo e o moralismo da época, fizeram deles excelentes obras de crítica social. Considerado o fundador da tradição realista que predominou no romance inglês até o fim do século XIX, fez grande sucesso de público com o picante as “Aventuras de Tom Jones / The History of Tom Jones, a Foundling” (1749), embora pouco elogiado pela crítica. Fala de um garoto do campo que tem sua vida mudada quando é adotado por um aristocrata. Na fase adulta, ele leva uma rotina de farras e conquistas amorosas, que espalham sua fama de playboy.

HENRY MILLER
(1891 – 1980. Yorkville, Nova Iorque / EUA)
 
Profeta da sensualidade, pornógrafo, maldito, lírico, teve uma vida carregada de polêmica e adjetivos; um homem que cultivou a controvérsia como o combustível de uma vida longa e intensa. Tinha 69 anos quando “Trópico de Câncer / Tropic of Cancer”, foi publicada nos Estados Unidos, quase trinta anos depois de ter sido escrito (em 1934). Considerado um dos clássicos da literatura erótica, além de falar sem papas nas línguas sobre sexo, ele aborda pobreza e solidão. Depois desse livro, da noite para o dia, viu-se transformado em respeitável decano da literatura norte-americana. A vida amorosa de Miller também foi marcada pela polêmica. Casado com June, manteve um triângulo amoroso com sua esposa e a escritora Anaïs Nin.

HILDA HILST
(1930 – 2004. Jaú, São Paulo / Brasil)
 
Poeta, ficcionista, dramaturga e cronista. Embora contando com o reconhecimento da crítica literária, a autora, dizendo buscar o interesse dos leitores, anunciou, na década de 1990, o abandono da literatura séria, publicando os eróticos “O Caderno Rosa de Lori Lamby” (1990), “Cartas de um Sedutor” (1991), “Contos d'Escárnio. Textos Grotescos” (1992) e os poemas “Bufólicas” (1992). O primeiro, em formato de diário, narra as descobertas sexuais de Lori, uma garota de oito anos que vende seu corpo por incentivo dos pais e sente prazer na prostituição. O livro é polêmico por abordar a pedofilia e colocar em cheque a moralidade dos leitores, além de fazer uma crítica ao mercado editorial e sua avidez por best-sellers pornográficos.

JOAO UBALDO RIBEIRO
(1941 – 2014. Itaparica, Bahia / Brasil)
 
A formação literária do escritor iniciou-se nos primeiros anos de estudante. Trabalhando na imprensa, pôde também escrever livros de ficção e construir uma carreira que o consagrou como romancista, cronista, jornalista e tradutor. Seu “A Casa dos Budas Ditosos” (1999) é celebrado como um  clássico erótico moderno. Nele, uma mulher de 68 anos relata suas experiências sexuais ao longo da vida, com detalhes explícitos. Escrito em tom confessional, o relato é marcado por uma linguagem deliciosamente excitante e obscena.
 
JOHN CLELAND
(1709 – 1789. Kingston upon Thames / Inglaterra)
 
Preso por dívidas durante mais de um ano, escreveu na prisão “Fanny Hill ou Memórias de uma Mulher de Prazer / Fanny Hill” (1748), um dos primeiros romances modernos da literatura erótica. Conta a história de uma jovem que se torna uma requisitada cortesã. Ao longo das páginas, narra as aventuras sexuais da protagonista, o que desagradou à patrulha religiosa da época. Após o lançamento, o escritor, os editores e impressores foram presos, acusados de obscenidade. Nos EUA, foi banido até 1966. Cleland escreveu mais dois romances e alguns contos, morrendo empobrecido e desconhecido.

JORGE AMADO
(1912 – 2001. Itabuna, Bahia / Brasil)
 
Literatura de crítica às injustiças sociais com personagens cheios de sensualidade. Um dos maiores da nossa literatura, teve sua obra publicada em mais de cinquenta países e adaptada para o rádio, cinema, televisão e teatro. Entre seus sucessos, “Gabriela, Cravo e Canela” (1958) e “Dona Flor e seus Dois Maridos” (1966).

LEOPOLD VON SACHER-MASOCH
(1836 – 1895. Lviv / Ucrânia)
 
Escritor e jornalista cujo nome derivou a criação do termo masoquismo. O seu conhecido romance “A Vênus de Peles / Venus in Furs(1870) conta a paixão entre Severin e Wanda. Ela escraviza sexualmente seu parceiro e o submete a inúmeras torturas, gerando prazer na dor e na humilhação.

MARGUERITE DURAS
(1914 – 1996. Saigon / Vietnã)
 
Autora fértil, com uma obra literária vasta, firmou-se com um estilo de beleza inconfundível, num tom duro e denso, por vezes até inacessível, mas sempre numa expressão genuína e humana das paixões e misérias da vida. Os seus romances estão repletos de descrições belíssimas da paisagem oriental, não sem deixarem reconhecer uma intensidade angustiada, oriunda de uma constante luta da autora com as questões do amor e da morte. O sensual “O Amante / L'Amant” (1984), um dos seus livros mais famosos, narra um episódio da sua adolescência: a iniciação sexual, aos 15 anos e meio, com um chinês rico de Saigon.
 
MARQUES de SADE
(1740 – 1814. Paris / França)
 
Escritor prolífico e aristocrata controverso para os padrões sociais vigentes na época em que viveu, escreveu diversos livros enquanto esteve preso na Bastilha. Para se ter uma ideia de sua importância, seu nome deu origem ao termo sadismo, definido como perversão daquele que procura aumentar a intensidade do prazer sexual produzindo sofrimento em outros. As suas duas principais personagens foram Justine e Juliette. A primeira é uma mulher ingênua que defende o que considera ser bom, mas acaba sempre no meio de depravações e crimes. Já Juliette, sua irmã, é o mal em si. É abjeta, mata sua melhor amiga empurrando-a na boca de um vulcão e obriga o Papa Pio VI a discursar a favor do crime como chantagem para poder possuí-la. Os livros de Sade causam repulsa e encanto desde o século XVIII. Aos 74 anos, após publicar diversas obras, morre no hospício, amado por duas mulheres com as quais planejava produzir peças teatrais pornográficas.

NELSON RODRIGUES
(1912 – 1980. Recife, Pernambuco / Brasil)
 
Escritor, jornalista e dramaturgo, autor de peças que revolucionaram o teatro nacional, entre elas, “Vestido de Noiva” (1943), “Senhora dos Afogados” (1947), “O Beijo no Asfalto” (1960), “Bonitinha, Mas Ordinária” (1962) e “Toda Nudez Será Castigada” (1965). Seu romance “Asfalto Selvagem : Engraçadinha, seus Pecados e seus Amores” (1959) tem muito mais do que cenas picantes. Mostra um cenário disfuncional baseado nas escapadas sexuais dos membros de uma família de classe média alta carioca. Mais do que proporcionar alguns momentos de sexo explícito, o livro vai além e traz para o debate a relação que a sociedade tem com o ato sexual em si.

PETRONIUS ARBITER
(27 d.C. – 66 d. C. Marselha / França)
 
Mestre na prosa da literatura latina, satirista notável, nasceu numa família aristocrática, mostrando toda sua competência política ao ocupar os cargos de governador e depois o de cônsul da Bitínia, na atual Turquia. Ocupou o cargo de conselheiro de Nero, sendo nomeado arbiter elegantiae (árbitro da elegância), em 63. Dois anos mais tarde, acusado de participar na conspiração contra o imperador e caindo em desfavor, acabou com sua estranha vida, uma mistura de atividade e de libertinagem, no ano de 66 d.C., cometendo um lento suicídio, abrindo as veias, enquanto discursava. Sua única obra remanescente, “Satiricon  / Idem” (60 d.C), parodia os romances gregos que estavam na moda. Em vez de heróis em extraordinárias aventuras, temos os feitos eróticos de três jovens patifes. O estilo varia entre uma retórica pretensiosa e uma gíria das mais vulgares. Humorado e realista, é uma das mais notáveis obras da história da literatura.

PIERRE LOUŸS
(1870 – 1925. Gante / Bélgica)
 
Poeta e escritor conhecido por temática lésbico. Escreveu poemas em prosa eróticos com requinte. “Canções de Bilitis  / Les Chansons de Bilitis” (1891) causou furou e, para fugir da censura, declarou por muito tempo que apenas traduzira  os poemas de uma antiga cortesã grega, contemporânea de Sappho.

PIETRO ARETINO
(1492 – 1556. Arezzo / Itália)
 
Escritor, poeta e dramaturgo famoso por suas violentas críticas aos grandes da época, aos artistas e aos religiosos, ele granjeou inimigos que chegaram a ameaçá-lo de morte. De família humilde, não teve formação clássica e, mesmo depois de enriquecido pelas chantagens contra os poderosos, que temiam a agressividade de seus escritos, fez questão de permanecer avesso às convenções classicista, ao moralismo e a todos os mitos que sustentavam as concepções literárias de sua época. Ficou famoso através dos tempos por seus escritos eróticos, sobretudo os “Sonetos Luxuriosos / Sonetti Lussoriosi”. Escrito por volta de 1524, o livro despudoradamente sensual reúne poemas que descrevem o universo do desejo e do prazer.

REINALDO ARENAS
(1943 – 1990. Oriente / Cuba)
 
Homossexual, integrou o movimento revolucionário de Fidel Castro, tornou-se dissidente, escritor, foi preso, torturado e exilado. No fim da década de 1980, já morando nos Estados Unidos, descobriu que estava com AIDS, terminando por suicidar-se. Pouco antes finalizou “Antes que Anoiteça / Antes que Anochezca” (1992), auto-biografia dividida em 69 curtos, picantes e intensos capítulos.

RESTIF de la BRETONNE
(1734 – 1806. Sacy / França)
 
Tipógrafo na juventude e mais tarde novelista, nenhum dos aspectos da sociedade francesa do século XVIII lhe escapou. Um reformista social moralista, foi autor de uma obra erótica que lhe valeu o título de “Rousseau de sarjeta”. Sua imaginação extraordinária, porém, mistura fato e ficção na maioria de seus livros, como em “Anti-Justine ou As Delícias do Amor / Anti-Justine” (1798). A obra é uma resposta ao clássico “Justine ou Os Infortúnios da Virtude / Justine” (1787), escrito pelo Marquês de Sade. Em “Anti-Justine”, a temática é outra: os personagens buscam apenas o prazer, sem qualquer inclinação para o sadismo. O incesto também pauta a história: revela as primeiras experiências sexuais junto às irmãs e a perda da virgindade com a própria mãe. Por ser polêmico para a época em que foi escrito, em 1798, o livro só foi publicado em 1863.

ROBERTO PIVA
(1937 – 2010. Sao Paulo, SP / Brasil)
 
Poeta polemico, marginalizado durante muito tempo pela crítica brasileira, conhecido pela postura rebelde, poesia surrealista e erotismo homossexual. Erudito, estudioso da fauna e da flora do Brasil, publicou Paranoia (1936), “20 Poemas com Brócoli” (1981) e “Ciclones” (1997), entre outros.
 
VLADIMIR NABOKOV
(1899 – 1977. São Petersburgo / Rússia)
 
Nascido numa família da antiga aristocracia russa, mudou-se em 1919 para a Inglaterra. Em 1926, após publicar poemas e contos, lança seu primeiro romance, “Machenka / Idem”. Depois de uma estadia em Paris, fugindo dos nazistas, chega em 1940 aos Estados Unidos, onde se dedica ao ensino de literatura russa. Seu “Lolita / Idem” (1955) é considerado por muita gente o melhor romance do Século XX. É uma grande construção de tensão sexual da literatura. São mais de cem páginas em que Nabokov faz com que o protagonista conduza o leitor no desejo pela sua musa-ninfa. E, na hora de pintar a cena em que o ato se consuma, faz isso com toda a sutileza que pode haver, com todos os não ditos e as elipses possíveis.

YASUNARI KAWABATA
(1899 – 1972. Osaka / Japão)
 
O seu primeiro romance, “O País das Neves / Yukiguni (1935), relata o amor entre um homem de Tóquio e uma gueixa de uma povoação remota. Esta obra-prima colocou Kawabata imediatamente na posição de um dos escritores japoneses mais importantes. Outro livro seu extremamente sensual é “A Casa das Belas Adormecidas /  Nemurero Bijo” (1961). Ao receber o Nobel de Literatura de 1968, em seu discurso condenou o suicídio. Em 1972, porém, em meio a um surto depressivo, suicidou-se.