agosto 23, 2025

......................................... A BANALIDADE do MAL: ASSASSINATOS

                                                            a morte de césar (1805), de vicenzo camuccini

 

 

Para que o mal triunfe,
basta que os bons fiquem
de braços cruzados.
EDMUND BURKE
(1729 – 1797. Dublin / Irlanda)
 
Rezemos para que a raça humana
nunca saia da Terra para espalhar
sua iniquidade em outros lugares.
C. S. LEWIS
(1898 – 1963. Belfast / Reino Unido)
 
 

A realidade nua e crua da vida é assustadora. O mal pode estar nos esperando na próxima esquina. Ele não é algo esporádico ou incomum que só ocorre de vez em quando. O mal em toda a sua perversidade é um evento cotidiano. Segundo Arthur Schopenhauer (1788 – 1860. Gdansk / Polônia), em outras palavras, expressando sua revolta contra o mal, a vida é um vale de desgostos, lágrimas e dor. No final da semana passada, ao saber da terrível notícia de mãe, filha e amiga executadas a facadas por desconhecido, no litoral de Ilhéus, após um passeio de final de tarde, certas perguntas inquietantes me incomodaram. De quem é a culpa pelo mal que há no mundo? O mal está no mundo ou dentro de nós mesmos? Difícil responder. Sei que o mal não precisa de monstros, ele é praticado por pessoas comuns, muitas delas consideradas supostamente normais. O mal tem mil caras. De acordo com o filósofo e poeta Henry David Thoreau (1817 – 1862. Concord, Massachusetts / EUA), “Para cada mil homens dedicados a cortar as folhas do mal, há apenas um atacando as raízes”.
 
Mesmo o sistema montado para conter o mal, o Poder Judiciário, pode ser ele próprio uma fonte do mal, a exemplo da cruel perseguição política pilotada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o malvado careca Alexandre de Moraes, contra os patriotas de Direita; dos fuzilamentos em Cuba, da morte de mulheres por apedrejamento na Nigéria e tantos atos similares, feitos sob o amparo da lei. Ao longo do tempo, o homicídio tem sido um dos métodos usados para levar a cabo vinganças ou mudar o rumo dos acontecimentos. Indignada, a sociedade testemunhou o assassinato de anônimos e figuras importantes, alguns dos quais nunca resolvidos. São inúmeros crimes impactantes. O Antigo Testamento conta o caso de Sadraque, Mesaque e Abednego, lançados na fornalha por não se curvarem à estátua do rei da Babilônia. E, como ícone máximo, está Jesus Cristo, que, rejeitado pelo seu povo e provocado por Pôncio Pilatos, submeteu-se calado a uma morte humilhante. Neste artigo, revisito crimes famosos e o contexto em que cada um ocorreu.
 
01
ABRAHAM LINCOLN
(1809 – 1865. Condado de LaRue, Kentucky / EUA)

O 16º presidente dos Estados Unidos da América, baleado e mortalmente ferido em 15 de abril de 1865, no Ford's Theatre, na capital Washington, morreu no dia seguinte. O responsável, o confederado John Wilkes Booth. Lincoln liderou o Norte durante a sangrenta Guerra da Secessão, preservou a União e aboliu a escravatura. Enquanto assistia a uma peça de teatro em Washington, foi assassinado por um ator conhecido. Aproveitando o fato de o guarda-costas do presidente ter abandonado o teatro para ir beber algo com o cocheiro, Booth sacou uma arma e o alvejou diretamente na cabeça. Após o magnicídio, saltou para o palco e gritou para o público “Sic semper tyrannis” (Assim sempre aos tiranos), uma frase atribuída a Marco Júnio Bruto depois de apunhalar o comandante italiano Júlio César no Senado. Antes que conseguissem apanhá-lo, fugiu desesperadamente, mas onze dias mais tarde foi morto a tiros pelo sargento Boston Corbett.
 
02
BENITO MUSSOLLINI
(1883 – 1945. Predappio / Itália)

Em 28 de abril de 1945, o ditador fascista Mussolini e sua amante Clara Petacci foram fuzilados por partisans italianos (membros da resistência antifascita) em um vilarejo no norte da Itália. Seus corpos foram levados para Milão e pendurados pelos pés na Piazzale Loreto, expostos à multidão enfurecida que gritava insultos e atirava objetos nos cadáveres, ferindo seus rostos. O popular líder foi enterrado em uma cova anônima no cemitério de Milão. Porém, em 1946, seu corpo foi roubado por fascistas. Depois de quatro meses, o cadáver foi localizado e levado para um esconderijo, onde ficou nos onze anos seguintes. Em maio de 1957, os restos mortais foram finalmente enterrados na cripta da família, na sua cidade natal, Predappio. O mausoléu tornou-se um lugar de peregrinação que ali se encontram no aniversário de morte do Duce, discursam e cantam.
 
03
ELIZABETH da ÁUSTRIA
(1837 – 1898. Munique / Alemanha)

Conhecida como Sissi e imortalizada em filmes românticos por Romy Schneider, imperatriz da Áustria e rainha da Hungria pelo casamento com o imperador Franz Joseph I, em 10 de setembro de 1898, durante uma visita a Genebra, na Suíça, foi assassinada por Luigi Lucheni, um anarquista italiano, que a esfaqueou no coração. Condenado à prisão perpétua, terminou enforcado em sua cela em 19 de outubro de 1910. Aos 60 anos de idade, a imperatriz estava passeando, como sempre sem escolta, acompanhada apenas por uma amiga, a condessa húngara Irma Sztaray. Quando se dirigiu ao ferry que a leveria até Montreux, tropeçou num passageiro e, nesse instante, sentiu uma forte picada nas costas. Pensou que a dor se devia ao impacto, mas, na verdade, Lucheni cravara-lhe um estilete muito fino perto do coração, que provocaria a seguir sua morte.
 
04
FEDERICO GARCÍA LORCA
(1898 – 1936. Fuente Vaqueros / Espanha)

Um dos maiores poetas e dramaturgos espanhóis do século XX, morto pelas forças nacionalistas no início da Guerra Civil Espanhola. As suas diversas declarações contra a injustiça social transformaram-no numa personagem incômoda. Por conseguinte, apesar do perigo eminente e depois de rejeitar a proteção oferecida pelo México e Colômbia, regressou à sua Granada natal, pois a situação em Madrid era já bastante complicada. Refugiou-se em casa dos pais do seu amigo Luis Rosales, onde, no dia 16 de agosto de 1936, o poeta foi detido por Ramón Ruiz Alonso, um ex-deputado, e levado para Víznar. Dois dias depois, na madrugada de 18 de agosto, acabou fuzilado em um barranco a poucos quilômetros da capital granadina, num local conhecido como “estrada da morte”. Seus restos mortais nunca foram encontrados.
 
05
ARQUIDUQUE FRANCISCO FERNANDO da ÁUSTRIA
(1863 – 1914. Graz / Áustria)

Em 28 de junho de 1914, um sérvio bósnio, Gavrilo Princip, assassinou o arquiduque Franz Ferdinand e sua esposa Sophie, duquesa de Hohenberg, em Sarajevo. Após o tiroteio, Princip e seus cúmplices foram presos e implicados como uma sociedade secreta nacionalista. O assassino morreu na prisão em 1918, de tuberculose. Um mês após o crime, o imperador da Áustria, Francisco José, declarava guerra ao reino da Sérvia. Uma vez que este país se encontrava sob a proteção da Rússia, a aliança franco-russa se arrastou para um conflito ao qual os britânicos se juntariam. A Alemanha, por outro lado, aliou-se ao império austro-húngaro. Todos acabariam envolvidos na Primeira Guerra Mundial, que provocaria mais de 20 milhões de mortos.
 
06
GRIGORI RASPUTIN
(1869 – 1916. Império Russo)

Convidado em 16 de dezembro de 1916 para um jantar no palácio de Moika, São Petersburgo, pelo príncipe Youssoupov e o sobrinho do czar Nicolau II, Rasputin encontrou o seu fim. Sua morte não foi rápida. O cianureto colocado na taça de vinho pelos anfitriões não provocou efeito. Em seguida, o alvejaram com onze tiros no peito. Tendo sobrevivido, foi castrado e, continuando vivo, brutalmente agredido e atirado nas águas geladas do Rio Neva. A autópsia revelou que morreu afogado. Os assassinos, nobres russos, queriam pôr fim à influência do mago sobre a corte. Originário da Sibéria, fascinou camponeses, representantes da Igreja Ortodoxa e a czarina Alexandra, cujo filho Alexei era portador de hemofilia e ela acreditou que aquele “santo homem” seria capaz de salvar o herdeiro do trono. Com o assassinato de Rasputin, veio a queda do Império.
 
07
JOHN FITZGERALD KENNEDY
(1917 – 1963. Brookline, Massachusetts / EUA)

O presidente dos EUA, baleado e morto em visita à Dallas, Texas, no dia 22 de novembro de 1963, enquanto atravessava de carro uma multidão fervorosa com a sua esposa Jacqueline. Passadas algumas horas, soube-se que o assassino era um ex-fuzileiro, Lee Harvey Oswald, que viveu uma longa temporada na União Soviética depois de desertar do Exército norte-americano. Dois dias depois, antes de testemunhar, ele foi morto a tiros por Jack Ruby. Até hoje circulam dúvidas sobre se o assassino agiu sozinho ou se ele fazia parte de uma conspiração mais ampla. Ruby morreu na prisão em 1967. Incompreensivelmente, o casal presidencial deslocava-se numa limusine descapotável, sem qualquer proteção. Subitamente, dois disparos soaram, atingindo fatalmente o presidente, que morreu ao receber o impacto de uma bala na cabeça. 
 
08
JOHN LENNON
(1940 – 1980. Liverpool, Inglaterra / Reino Unido)

Na noite de 8 de dezembro de 1980, o famoso músico foi baleado do lado de fora de seu apartamento em Nova York e morreu a caminho do hospital. Seu assassino, Mark David Chapman, estava irritado com o estilo mundano de vida do artista. Ele planejou o assassinato ao longo de vários meses. Às 17h do fatídico dia, na saída do edifício Dakota, pediu a Lennon que autografasse o disco “Double Fantasy”. Quando o músico e sua esposa Yoko Ono regressaram a casa, ele alvejou o ex-Beatle, dando-lhe cinco tiros pelas costas, quatro dos quais atingidos e causando a morte pouco depois. Segundo Chapman, “assassinei-o porque era muito, muito, muito famoso, e essa é a única razão, porque eu queria muito, muito, muito alcançar a glória”. Ele permanece no Centro de Correção de Attica, em Nova Iorque. Foi-lhe recusada a liberdade condicional em doze ocasiões.
 
09
JÚLIO CÉSAR
(100 a.C. – a.C. 44. Subura / Itália)

Seu homicídio em 15 de março de 44 a.C. é um dos mais famosos da História. Ele foi esfaqueado 23 vezes por senadores, com pelo menos 60 participantes na conspiração. Apesar dos avisos da sua esposa, Calpúrnia, que o vira coberto de sangue em sonhos, ele dirigiu-se ao Senado. O homem mais poderoso do mundo era popular e sentia-se seguro de si mesmo. Mas um grupo de senadores, liderado por Marco Júnio Bruto e Caio Cássio Longino, conspiravam para acabar com a sua vida, com medo de que ele abolisse o Senado e instituísse uma monarquia. Ao receber as punhaladas, pronunciou a célebre frase: “Até tu, Brutus?”. Sua morte resultou em uma guerra civil, na qual os assassinos seriam derrotados e o vencedor seria Octávio, seu sobrinho-neto e futuro primeiro imperador de Roma, sob o nome de Augusto.
 
10
MAHATMA GANDHI
(1869 – 1948. Porbandar / Índia)

Em 30 de janeiro de 1948, em Nova Deli, recebeu tiros do extremista Nathuram Godse, que era contra à tolerância aos muçulmanos. O assassino foi enforcado em 15 de novembro de 1949. Para Godse, o líder pacifista era um traidor, acusado de beneficiar seus inimigos. Nesse dia fatídico, acompanhado pelas suas duas sobrinhas, Manu e Abha, o icônico Gandhi dirigia-se à sua sessão de oração vespertina, onde o criminoso o aguardava e se dirigiu a ele de mãos unidas, dando a seguir três tiros à queima-roupa. Após o assassinato, a multidão o encurralou e, depois de ser detido pela polícia, leu uma declaração na qual responsabilizava o falecido pelo sofrimento do povo hindu e garantia ter agido sozinho, embora mais tarde sete outras pessoas tenham sido detidas, acusadas de estarem relacionadas com o crime. Ele foi condenado a morrer na forca.
 
11
MARTIN LUTHER KING
(1929 – 1968. Atlanta, Geórgia / EUA)

Galardoado com o Prêmio Nobel da Paz em 1964, o reverendo batista foi o líder mais popular do movimento pelos direitos civis de sua época. No dia 4 de abril de 1968, enquanto se encontrava na varanda do Motel Lorraine de Memphis, se viu atingido com um tiro na garganta, por James Earl Ray, um delinquente que escapara da prisão no ano anterior. Após a sua detenção, condenado a 99 anos de prisão em 10 de março de 1969, alegou-se que motivos no caso foram o racismo e o ódio contra a pessoa do reverendo. Após permanecer três dias na prisão, Ray afirmou que tinham montado uma armadilha e que, na verdade, não era o culpado pela morte. Ele passou o resto da sua vida atrás das grades, lutando, infrutiferamente, por um novo julgamento. Contou com o apoio de alguns membros da família King e do reverendo Jesse Jackson.
 
12
REINHARD HEYDRICH
(1904 – 1942. Halle (Saale) / Alemanha)

Conhecido como “O Açougueiro de Praga”, em 22 de maio de 1942 uma bomba foi atirada no seu carro pelos agentes da resistência Jozef Gabčík e Jan Kubiš. Ferido e operado, morreu em 4 de junho, de septicemia. Ele procurou neutralizar a resistência ao partido nazista através de detenções, deportações e assassinatos. Organizou a “Noite dos Cristais”, uma série de ataques contra os judeus em 1938. Em Praga, eliminou a oposição à ocupação nazi, deportando e executando os membros da resistência checa. Diretamente responsável pelo assassinato de mais de dois milhões de pessoas, através de execuções em massa ou em câmaras de gás. A mando de Hitler, as represálias ao seu assassinato foram mortais: 199 homens mortos, 195 mulheres deportadas para o campo de concentração de Ravensbrück e 95 crianças prisioneiras. Gabčík e Kubiš morreram em um tiroteio dentro da Igreja de São Cirilo, em Praga.
 
13
Os ROMANOV
Nicholas II da Rússia (1868 – 1918. São Petersburgo / Rússia)
Alexandra Feodorovna (1872 – 1918. Darmstadt / Alemanha)

 
A família imperial russa era composta pelo imperador Nicholas II, a imperatriz Alexandra e cinco filhos: Olga, Tatiana, Maria, Anastasia e Alexei. Na madrugada de 16 para 17 de julho de 1918, foram mortos a tiros por revolucionários bolcheviques na residência de um comerciante em Ecaterimburgo. Após meses presos, terminaram levados a uma cave e alvejados à queima-roupa. Contudo, nem todos morreram e os sobreviventes foram eliminados com golpes de baioneta. Colocaram os corpos em um caminhão e no meio do caminho, dois deles foram jogados na floresta. Os outros cinco cadáveres, deformados com ácido e incendiados, enterrados numa cova anônima. Em 1979, localizaram os restos, mas foi mantido em segredo. Em 1998, os Romanov foram sepultados numa majestosa cerimônia na catedral de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo.
 
14
SÓCRATES
(470 a.C. - 399 a.C. Alópece / Grécia)

Um dos filósofos mais brilhantes da Grécia Antiga, condenado à morte em 399 a.C. em Atenas, acusado de corromper a juventude ao introduzir novas ideias religiosas e filosóficas, além de não reconhecer os deuses tradicionais da cidade. A pena alternativa a ingestão de cicuta, um veneno comum na época, seria o exílio, mas ele recusou, considerando-o uma fuga da responsabilidade e uma traição aos seus princípios. Bebeu a cicuta com serenidade, demonstrando convicção em suas ideias e na importância de seguir a lei, mesmo diante da injustiça, segundo relatos de seus discípulos. Seu julgamento foi um evento público, e ele enfrentou as acusações com argumentos filosóficos, sem demonstrar medo da morte, de acordo com a narrativa de Platão. Sua morte tornou-se um símbolo de integridade, coragem e defesa dos próprios princípios.
 
15
TIRADENTES
(1746 – 1792. Ritápolis / Minas Gerais)

Um dos marcos pela luta do desligamento do então Brasil-Colônia de Portugal, a Inconfidência Mineira não ocorreu pela delação de um de seus participantes. Os envolvidos foram presos em 1789 e ficaram três anos encarcerados até sair a sentença. Condenados à forca, uma carta de clemência da rainha D. Maria I transformou as penas em degredo (expulsão do Brasil), com exceção de Joaquim José da Silva Xavier, apelidado de Tiradentes. No dia 21 de abril de 1792, conduzido pelo do Rio de Janeiro até uma forca, no Largo da Lampadosa, executado, teve a cabeça cortada e enviada para Vila Rica, ficando exposta em um poste. O resto do corpo retalhado e distribuídos em locais onde ele fizera seus inflamados discursos políticos. O terreno de sua casa foi salgado para que nada germinasse. No entanto, transformou-se em herói nacional.
 

 
 

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