O jornalista e
escritor baiano radicado em Natal, ANTONIO NAHUD, participou da 35ª edição do
SALON DU LIVRE DE PARIS, um dos maiores eventos literários da Europa, que
aconteceu entre os dias 20 e 23 de março. Ele autografou em Paris seu livro
“Confissões”. O Brasil, como grande estrela do evento, enviou 48 escritores pelo
Ministério da Cultura. A caravana brasileira foi reforçada por convidados
especiais, como o poeta e presidente da Academia Norte-rio-grandense de Letras,
Diógenes da Cunha Lima, e Nahud. Além dos lançamentos, também houve exposição e palestras com
autores.
Entre os nomes levados
pelo MinC, Affonso Romano de Sant’Anna, Ana Miranda, Betty Mindlin, Daniel
Galera, Edney Silvestre, Fabio Moon, Fernanda Torres, Fernando Morais, Leonardo
Boff, Lu Menezes, Marcelino Freire, Marcello Quitanilla, Marina Colasanti,
Milton Hatoum, Nélida Piñon, Paulo Coelho, Paulo Lins, Ronaldo Correia de Brito
e Tatiana Salem Levy. Esses autores já tiveram obras traduzidas para o francês.
“O Brasil é um
arquipélago cultural, e cada Estado é uma ilha que, muitas vezes, não se
comunicam entre si. Geralmente, o desinteresse pela cultura é muito grande. O
retorno é grande, mas não aparente. Em um evento desse porte, fazemos contato,
vemos muita coisa interessante. Somos muito ricos para vivermos isolados”,
disse Diógenes da Cunha Lima.
Aproveitando o convite
para participar do SALON DU LIVRE DE PARIS, ANTONIO NAHUD fez entrevistas
(Paulo Coelho, Fernanda Torres, Christina Oiticica, Sebastiao Salgado e Daniela
Espana) para o seu quadro no “Programa Virtuall”, “Ícone do PV”; e o “Novo Jornal”
(RN). O poeta-peregrino moveu-se na Europa (Paris, Lisboa, Porto, Santiago de
Compostela e Barcelona) durante 15 dias. Reviveu uma história pessoal antiga –
as viagens, o encontro de sonhos e a partilha de culturas a mudar o olhar
perante o mundo. Visitou museus, realizou contatos literários e escreveu uma
série de poemas curtos. Por fim, deu entrevista.
Confira abaixo.
senadora fátima bezerra e antonio nahud |
antonio nahud e fernanda torres |
“EU SOU UMA GRANDE AVENTURA”
por Dani Gálan
Chegando
de Natal, no Nordeste brasileiro, onde vive há cinco anos, ele acaba de apresentar
o seu mais recente livro, “Confissões”, no Salon du Livre de Paris, onde o
Brasil foi o país homenageado. Em sua trajetória, viajou pelo México, Cuba,
Argentina, Marrocos, Alemanha e Itália, entre outros países; viveu em Lisboa,
Madri, Barcelona, Paris, Londres, e depois num palacete decadente em Sintra.
Escreveu onze livros, de viagem, poemas de amor e de fúria, crônicas,
entrevistas, biografias. Irreverente, inquieto e polêmico são adjetivos que
pouco ajudam quando se trata de juntar as peças deste quebra-cabeças enigmático
chamado ANTONIO NAHUD. Mas nao custa tentar. Leia a entrevista.
POR QUE ESCREVE?
Porque creio que
um bom livro é mais importante do que muitas coisas consideradas importantes.
Por exemplo, “O Morro dos Ventos Uivantes”, um romance que li várias vezes, escrito no
século XIX, continua vivíssimo. Entretanto quem lembra dos políticos,
religiosos, empresários, belezuras, nobres ou fidalgos que viviam na mesma
ocasião na Yorkshire da escritora Emily Bronte? Eles estão mortos, enterrados e
... esquecidos! E com certeza, na sua época, suas ações eram consideradas mais
importantes do que a literatura de Emily. Escrevo também por uma necessidade que surge de uma falta, de uma ausência, como muitos autores já
declararam.
QUAL A MISSÃO DO ESCRITOR?
Não acredito
numa missão literária, tampouco em mensagens. A literatura precisa de paixão
e verdade, nunca de sermões, apalpos ou conselhos. Deixemos essas coisas
para livros de auto-ajuda. A única responsabilidade do escritor é para com sua
arte. Ele deve ser amado se for um bom escritor. Qualquer tragédia de Eurípedes
vale mais do que um punhado de boas intenções.
Constatando se ele colocou sinceramente na escrita a sua verdade. Se ele naturalmente libertou sua mente, suas
energias. Não há nada mais enfadonho do que escritores formais ou que escrevam
corretamente, sem enfrentar os próprios fantasmas. O triste é que eles
existem aos montes, multiplicando-se tão facilmente como baratas.
POR QUE VIAJA TANTO?
Eu nasci numa
fazenda nas Terras do Sem Fim de Jorge Amado, cercado por cidades de porte médio
perfeitas para fábulas sombrias de Tim Burton. A conversa nestas cidades consiste em
trivialidades: crimes, telenovelas, infidelidades, reputações arruinadas,
ofensas políticas, futebol etc. Nunca o aspecto fundamental da vida é
discutido. Eu ainda hoje fico espantado, porque as pessoas que não vivem no
mundo das ideias, murcham rápido, numa velhice precoce assustadora. Aproximei-me da psique das ideias por meio dos livros. Então surgiu o desejo de viajar. Tornei-me um aventureiro. Hoje, eu sou uma aventura. Afinal, o desejo de
viajar é também desejo de saber. Para conhecermos nossa própria comunidade,
devemos conhecer boa parte do mundo. De certa maneira, viajar tem amplificado as vozes e as visões que passam na minha mente.
COMO LEITOR, A MINHA IMPRESSÃO É DE QUE NO SEU LIVRO ANTERIOR DE POEMAS, “LIVRO DE IMAGENS”, HÁ UMA LIGAÇÃO COM A REALIDADE EVIDENTE, E NESTE ÚLTIMO, “CONFISSÕES”, A LIGAÇÃO É MAIS CONTIDA. ELE REPRESENTA UM MOMENTO DE TRANSIÇÃO?
Não vejo dessa forma. Os livros interligam-se. Há uma ligação entre eles.
Nasceu do fato de eu estar morando num condomínio tranquilo, numa cidade vizinha a capital potiguar, Parnamirim. Vinha do centro boêmio, de muita agitação. Este livro resultou também de uma desilusão amorosa, do fim inevitável de um bonito romance.
LENDO O QUE ESCREVE,
PERCEBE-SE UMA CERTA ANSIEDADE DE ESTAR CONSTANTEMENTE COM O PÉ NA ESTRADA.
Como disse, sempre desejei sair mundo afora e escrever. Isso
determina toda a forma como eu vivo.
VIAJAR RESGATA UM OLHAR
DIFERENTE SOBRE AS COISAS E OS LUGARES?
Exato. Atualmente, nesta viagem mágica que estou vivendo, escrevo poemas com total liberdade. Sao versos que tem o meu passado alterado e misturado com a viagem, tem elementos de fascínio pela natureza, visões misticas e sensações reais.
ISSO TUDO MISTURADO
CHAMA-SE POESIA?
Não acredito na fronteira
entre poesia e ficção. Neste
caso são poemas, podia ser crônica ou conto. A fronteira é sempre a biografia libertária. Nunca se percebe muito bem o
que é da minha história e o que não é. Mas trata-se sempre de um trabalho de
autobiografia.
Alguns disseram
que o livro tem uma linguagem hermética, que talvez signifique que eu não
domine aquilo que quero dizer. Pode ser e pode nao ser. Sei que sou eu que estou nele.
QUAL A TUA MOTIVAÇÃO?
Nesse momento, a minha motivação é o Amor. No amor confluem prazer e dor, a vida e a morte. O amor tem um poder metafórico fabuloso.
O AMOR, MAS COMO
PULSÃO DE DESENGANO.
E de vitalidade. Este livro é uma tentativa de sobrevivência. É um ser que mergulha nas entranhas como forma de se manter forte,
de sobreviver ao que lhe está acontecendo.
ESSES VERSOS
FUNCIONAM, O LEITOR SE IDENTIFICA.
A questão do
desconforto existencial foi pouco notada por leitores e críticos. Como se houvesse uma espécie de pudor.
ESTE LIVRO PARECE
REPRESENTAR UMA REVOLTA CONTRA O VAZIO.
Este livro sou eu. Vivo numa
luta constante para sobreviver dignamente, mas também
em relação às minhas próprias fragilidades. É um duelo
constante.
QUANDO VOLTOU A VIVER
NO BRASIL, DEPOIS DE DOZE ANOS NA EUROPA, HOUVE UMA DESILUSÃO?
Não houve nenhuma
desilusão. Apenas uma vontade de conhecer melhor o meu país. Sempre senti que foi uma sorte eu ter voltado para o
Brasil.
ESSA VOLTA FEZ-TE OLHAR SUA IDENTIDADE
DE FORMA DIFERENTE?
Isto é um aprendizado que trouxe da Espanha. A Espanha foi
decisiva para mim. Foi a Espanha que me ajudou a decidir voltar para o Brasil.
Esse reencontro com o mundo solar, com o inesperado selvagem.
Foi uma decisão absolutamente iluminada na minha vida. Foi nesse momento, em
dezembro de 2008, que eu decidi voltar para o Brasil. Porque queria esse reencontro.
NÃO TINHA SENTIDO
ISSO NOUTRAS MUDANÇAS, POR EXEMPLO, NA INGLATERRA?
Não de uma forma tão espiritual. O mais íntimo no Reino Unido não se revela da mesma maneira. No
Marrocos eu tive essa sensação. Deixei meu ser espiritual lá. No Brasil isso se repetiu.
PRETENDE CONTINUAR NO
BRASIL?
Talvez. Eu olho para o
meu tempo no Brasil sem desengano, e é maravilhoso viver nele. O Brasil foi, e continua a ser, parte da
minha vida.
O QUE FARÁ A
PARTIR DE AGORA?
Tenho vários livros na
cabeça. Um romance, uma peça de teatro, uma antologia dos melhores momentos do
meu blog “O Falcão Maltes”. Depois um relato passado na infância, os avós e a minha relação com a Mata Atlântica.
QUAL A SUA CONVICÇÃO LITERÁRIA?
Acredito de que tudo é biografia.
REALMENTE O BIOGRÁFICO ESTÁ
SEMPRE PRESENTE EM TUDO O QUE ESCREVE. ISSO CONTINUARÁ A SER UMA MARCA?
Todos esses projetos de livros tem um elo biográfico, um laço com o presente, a minha biografia no presente. Porque eu procuro a
verdade, mesmo a verdade inventada.
SE HABITAMOS um CLARÃO,
ESTE É O CORAÇÃO DA ETERNIDADE
A COR E O
PERFUME DAS COISAS
SER E NÃO SER, EIS A EMOÇÃO
O RIO QUE FLUI DO MEU CORAÇÃO
FOTOS: ANTONIO NAHUD
14 comentários:
Muito lindo.
Beleza! Perfeito! Parabéns! Abração
Bravo!!!
Lindíssimo querido amigo, Antonio Nahud! Parabéns.
Sempre um enorme prazer de alma ler o q escreve.
C'est bien, bonne chance, mon ami.
Encantou-me
Adorei!!!
vc é nosso orgulho!
Gostei, li tudo.
BOA!!!!
Parabéns
Se alguém te ofende, o problema é dele. O ofensor é sempre o infeliz.
Portanto, Nahud, siga tranquilo. Beijo. Amo sua simplicidade e dedicação incondicional às artes.
Mariana, tua leitora. Sempre.
Vc é maravilhoso, Nahud.
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