junho 23, 2015

................................................................. Na ÉPOCA das TELENOVELAS

a odete roitman de beatriz segall em vale tudo


a Mamma Lourdes,  
bons tempos vendo telenovelas


A primeira telenovela brasileira foi ao ar em 21 de dezembro de 1951, na Tupi. “Sua Vida me Pertence” marcou não apenas a estreia deste gênero de entretenimento no país, como também o primeiro beijo transmitido em um programa de TV no Brasil. O folhetim foi protagonizado por Vida Alves e Walter Forster e estendeu-se até fevereiro do ano seguinte. Consideradas por muitos como criação artística alienante, as telenovelas estão inseridas no cotidiano do brasileiro e, ao contrário do que a maioria pensa, assumem um importante papel de conscientização social, tratando muitas vezes de assuntos polêmicos - como o machismo, racismo, homofobia, corrupção, infidelidade, uso de drogas, violência etc. Essas discussões são válidas. Portanto, não devem ser vistas como produto inferior ou utópico, mas como arte engajada que transcende a telinha e tem papel expressivo na formação cultural de uma sociedade. Sua fantasia necessariamente não nos leva a esperar, sem um mínimo de esforço, que todos os nossos desejos se realizem. A telenovela mostra que os mocinhos e mocinhas passam por todo tipo de provação antes do “felizes para sempre”. Durante anos fui fiel telespectador, mas deixei de -las quando a qualidade dos argumentos se deteriorou. Recordando essa época, selecionei, segundo critérios pessoais, dezoito produções importantes da nossa teledramaturgia.

IRMÃOS CORAGEM
(1970, TV Globo)

Autor: Janete Clair
Direção: Daniel Filho, Milton Gonçalves e Reynaldo Boury
Elenco: Tarcísio Meira, Cláudio Cavalcanti, Cláudio Marzo, Glória Menezes, Regina Duarte, Lúcia Alves, Glauce Rocha e Sonia Braga

Três irmãos ameaçam o domínio de um poderoso fazendeiro, autoridade máxima da fictícia Coroado, no interior de Minas Gerais. O conflito principal se estrutura a partir do momento em que um deles encontra um valioso diamante. Ele e sua família passam a ser perseguidos pelos capangas do fazendeiro, que cobiça a pedra. O diamante se torna o símbolo concreto da luta pela liberdade e contra a opressão. Marcou a estreia de Sônia Braga na Globo e reuniu as duas duplas mais famosas da emissora na época: Tarcísio Meira e Glória Menezes, Cláudio Marzo e Regina Duarte. Em 1995, nas comemorações dos 30 anos da emissora, Dias Gomes e Marcílio Moraes fizeram um remake para as 18h.

SELVA de PEDRA
(1972, TV Globo)


Autor: Janete Clair
Direção: Daniel Filho e Walter Avancini
Elenco: Regina Duarte, Francisco Cuoco, Dina Sfat, Carlos Eduardo Dolabella, Mário Lago, Arlete Salles, Carlos Vereza e Glória Pires

A ascensão de um interiorano que, seduzido pelo poder, põe em risco sua felicidade ao lado da mulher, é o mote da narrativa. A ambição aproxima o protagonista do vilão, capaz de tudo para eliminar qualquer obstáculo à ascensão social do mocinho e, por tabela, à sua própria. Consolidou Janete Clair como poderosa autora popular e obteve a maior audiência da história da televisão brasileira até então, comprovando a força da telenovela como veículo de cultura de massa. No Rio de Janeiro, segundo registro do Ibope na época, a trama atingiu 100% de share – número de televisores ligados no horário – no capítulo 152, em que a identidade da protagonista é revelada. O par romântico fez enorme sucesso. Francisco Cuoco e Regina Duarte foram eleitos os “Reis da Televisão” pelos leitores da Amiga, revista especializada em TV. Em 1986, foi ao ar um remake, escrito por Regina Braga e Eloy Araújo. Tony Ramos e Fernanda Torres interpretaram os protagonistas.

MULHERES de AREIA
(1973, TV Tupi)

Autor: Ivani Ribeiro
Direção: Edson Braga
Elenco: Eva Wilma, Carlos Zara, Cláudio Corrêa e Castro, Cleyde Yáconis, Gianfrancesco Guarnieri, Maria Isabel de Lizandra e Antônio Fagundes

Tem como tema central a rivalidade entre gêmeas. Se passa na fictícia Pontal D’Areia, cidade do litoral fluminense, para onde garota retorna depois de passar algum tempo dando aulas na escola primária de uma fazenda. Ela volta a morar com os pais e com a sua irmã gêmea. Apesar de fisicamente idênticas, tem personalidades muito diferentes. Uma é doce, calma e tem um bom coração. A outra, por sua vez, é egoísta, agressiva e má. Aproveitando-se da semelhança física com a irmã, a vilã planeja conquistar o seu namorado, um bem-sucedido empresário. Houve um remake em 1993 com Glória Pires. Um dos maiores sucessos da TV Tupi, graças ao trabalho duplo de Eva Wilma, que conseguiu momentos antológicos quando as gêmeas contracenavam na mesma cena. Curiosamente, a perversa era a que mais despertava interesse no público. Em 1974, na entrega do Troféu Imprensa aos melhores da televisão, pelo Programa Sílvio Santos, Regina Duarte, eleita a melhor atriz por seu trabalho em “Carinhoso”, repassou o prêmio a Eva Wilma, reconhecendo sua brilhante atuação. Ivani Ribeiro baseou-se em uma antiga radionovela de sua autoria, “As Noivas Morrem no Mar”, de 1965, que por sua vez, foi inspirada no filme norte-americano “Uma Vida Roubada /  A Stolen Life” (1946), de Curtis Bernhardt, com Bette Davis (no papel das gêmeas) e Glenn Ford. Em 1993, a autora reescreveu-a para a Rede Globo, repetindo o sucesso da original.

O BEM AMADO
(1973, TV Globo)

Autor: Dias Gomes
Direção: Régis Cardoso
Elenco: Paulo Gracindo, Lima Duarte, Zilka Salaberry, Emiliano Queiroz, Ida Gomes, Dorinha Duval, Dirce Migliaccio, Carlos Eduardo Dolabella, Jardel Filho, Sandra Bréa e Milton Gonçalves

Adaptação de Dias Gomes de sua peça “Odorico, O Bem-Amado e Os Mistérios do Amor e da Morte” (1962), critica o Brasil do regime militar, satirizando o cotidiano de uma cidade fictícia no litoral baiano e a figura dos chamados coronéis – políticos e fazendeiros que exerciam autoridade sobre a população local e agiam com força, falta de escrúpulos e demagogia para se perpetuar no poder. Foi a primeira telenovela em cores da televisão brasileira. O “bem-amado” em questão é um corrupto candidato a prefeito de Sucupira, adorado pela maior parte da população. Como não há um cemitério na cidade, o que obriga os moradores a enterrar seus mortos em municípios vizinhos, o político se elege com o slogan “Vote em um homem sério e ganhe um cemitério”. O problema é que não morre ninguém para que a obra seja inaugurada. O prefeito resolve, então, lançar mão de todo tipo de artifício para não perder o apoio popular, até mesmo consentir a volta à cidade de um matador de aluguel. A repercussão foi tão impressionante que o protagonista Odorico Paraguassú voltou no seriado “O Bem-Amado”, exibido entre 1980 e 1984. Foi a primeira novela da TV Globo a ser exportada, abrindo o mercado estrangeiro para os produtos nacionais. Sandra Bréa estreava em telenovelas.

O REBU
(1974, TV Globo)

Autor: Bráulio Pedroso
Direção: Walter Avancini e Jardel Mello
Elenco: Ziembinski, Lima Duarte, Bete Mentes, Buza Ferraz, Isabel Ribeiro, Maria Cláudia, Yara Cortes, José Lewgoy, Arlete Salles e Carlos Vereza

Em sua mansão no Alto da Boa Vista, no Rio de Janeiro, um banqueiro organiza uma festa para recepcionar uma princesa italiana. Ao amanhecer, os convidados descobrem um cadáver boiando, de bruços, na piscina. Além de desconhecer a identidade do assassino e a razão do crime, o público também não sabia quem tinha sido assassinado. Entre os 24 convidados – todos suspeitos, assim como o próprio anfitrião –, está um ladrão paulista que encontra o convite da festa durante um assalto e se faz passar por um industrial italiano para roubar o banqueiro. O argumento policial inovou: seus 112 capítulos transcorrem durante 24 horas, em sequência não cronológica, com a ação se desenrolando em três tempos distintos: as investigações da polícia; flashbacks de eventos ocorridos durante a festa; e acontecimentos relacionados ao passado dos personagens. A primeira sequência lembra o longa “Crepúsculo dos Deuses / Sunset Boulevard”, dirigido por Billy Wilder em 1950. Na cena inicial do filme clássico, um cadáver aparece boiando numa piscina e, daí por diante, toda a trama se desenrola. Marcou as estreias das atrizes Bete Mendes, Tereza Rachel e Isabel Ribeiro na Globo.

O GRITO
(1975, TV Globo)

Autor: Jorge Andrade
Direção: Walter Avancini
Elenco: Glória Menezes, Walmor Chagas, Tereza Rachel, Isabel Ribeiro, Yoná Magalhães, Rubens de Falco, Maria Fernanda, Ney Latorraca, Lídia Brondi e Leonardo Villar

Retrata as neuroses de uma metrópole a partir dos conflitos entre os moradores de um edifício. Ambientada na cidade de São Paulo, no Edifício Paraíso, construído no terreno de uma família quatrocentona cujos remanescentes moram na cobertura. A planta original do prédio é alterada por conta da construção do elevado Costa e Silva, o Minhocão, viaduto que ultrapassava a altura dos dois primeiros andares do edifício. Para atenuar os prejuízos da desvalorização do imóvel, os andares inferiores são divididos em apartamentos de quarto-e-sala. Como resultado, passa a ser habitado por diferentes classes sociais. Os habitantes, com seus dramas pessoais, são indiferentes aos problemas uns dos outros, até que o filho de uma ex-freira, um menino com deficiência mental que grita nas madrugadas, torna-se o pivô de um conflito. Eles se dividem entre expulsar ou não mãe e filho e o debate acaba por aproximar todos. Gerou reações extremas e controvérsia. Os moradores de um edifício em Ipanema, no Rio, se deixaram influenciar pela novela e tentaram expulsar uma criança excepcional, ato que revoltou o autor Jorge Andrade. Foi o primeiro trabalho da atriz Lídia Brondi.

GABRIELA
(1975, TV Globo)

Autor: Walter George Durst, adaptação do romance de Jorge Amado
Direção: Walter Avancini e Gonzaga Blota
Elenco: Paulo Gracindo, Sonia Braga, Armando Bogus, José Wilker, Nívea Maria, Elizabeth Savalla, Heloísa Mafalda, Dina Sfat, Maria Fernanda, Rubens de Falco, Marco Nanini, Ana Maria Magalhães e Neila Tavares

O universo de Jorge Amado conquistou o público ao misturar sensualidade e discussão sobre questões políticas e sociais. A história se passa em 1925, quando uma seca devastadora obriga as populações famintas do Nordeste a emigrar em busca da sobrevivência. Na história, o destino é Ilhéus, no sul da Bahia, região em expansão graças ao plantio e comércio do cacau. A protagonista-título é uma das vítimas da seca. Moça de natureza livre e impulsiva, ela consegue trabalho como cozinheira na casa de um turco, com quem vive uma tórrida história de amor. Bonita e cheia de vida, dona de um erotismo espontâneo, ela logo passa a ser o principal objeto de desejo dos homens da cidade, além de alvo da inveja das mulheres. Levada ao ar para comemorar os dez anos da TV Globo. Durante a procura pela atriz ideal para viver Gabriela, tentou-se uma escolha inusitada: Gal Costa. A cantora baiana, entretanto, declinou, alegando não saber representar. Em seguida, inúmeros testes foram feitos para a personagem, mas o diretor decidiu que o papel teria de ser de Sônia Braga desde que viu seu desempenho em “Caminhos do Coração” – Caso Especial escrito e dirigido por Domingos Oliveira em 1971 –, e insistiu para que fosse escolhida. Ela acabou consagrada no papel, que voltaria a representar em 1983, no filme “Gabriela”, atuando ao lado de Marcello Mastroianni. Além dos altos índices de audiência, foi escolhida pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como a melhor novela de 1975 e lançou Sônia Braga como símbolo sexual. Marca a estreia de Elizabeth Savalla e Natália do Vale.

PECADO CAPITAL
(1975, TV Globo)

Autor: Janete Clair
Direção: Daniel Filho
Elenco: Francisco Cuoco, Betty Faria, Lima Duarte, Elizangela, Débora Duarte, Rosamaria Murtinho, Milton Gonçalves e Mário Lago

Primeira novela em cores transmitida às 20h, trata com realismo o universo suburbano carioca a partir de um triângulo amoroso formado por um taxista, um viúvo rico e uma jovem operária que sonha melhorar de vida. A autora inovou ao fazer do chofer de táxi um herói não convencional, que morre no fim da história. Ele vive um drama de consciência depois que assaltantes de banco em fuga esquecem em seu carro uma mala com o dinheiro roubado: não sabe se a entrega à polícia, correndo o risco de ser acusado de cúmplice do roubo, ou se usa o dinheiro para resolver seus problemas. O mocinho anti-herói é noivo de uma tecelã, com quem tem uma relação apaixonada, mas tumultuada por brigas e ciúme, por conta do seu machismo. A jovem termina por se envolver com um industrial sensível, cujos modos contrastam com os do noivo. Considerada o melhor trabalho de Janete Clair. O remake de 1998, no horário das 18 horas, teve Francisco Cuoco no papel do industrial.

A ESCRAVA ISAURA
(1976, TV Globo)

Autor: Gilberto Braga, adaptação do romance de Bernardo Guimarães
Direção: Herval Rossano
Elenco: Lucélia Santos, Rubens de Falco, Edwin Luisi, Norma Blum, Zeny Pereira, Léa Garcia, Mário Cardoso, Ítalo Rossi e Henriette Morineau

Retrata a luta abolicionista no Brasil, tendo como fio condutor a paixão doentia de um senhor por sua escrava branca. Órfã desde o nascimento, essa escrava foi educada como moça da corte. Sua protetora morre logo no início da trama, e o filho se torna o administrador dos bens da família. Apaixonado por ela e furioso por não ser correspondido, ele se apodera de sua carta de alforria, deixada pela mãe, e aplica castigos cruéis à moça. Ela também sofre com as intrigas de uma escrava má e invejosa. O convite para Lucélia Santos interpretar o papel-título partiu de Herval Rossano, após assistir seu desempenho na peça “Transe no 18”.  Obteve gigantesco sucesso no Brasil e no exterior, alcançando países do então bloco comunista. Em Cuba, por exemplo, o racionamento de energia chegou a ser suspenso para que os telespectadores não perdessem os capítulos. Na China, Lucélia ganhou o Prêmio Águia de Ouro, com os votos de cerca de 300 milhões de pessoas – foi a primeira vez que uma atriz estrangeira recebeu um prêmio no país.

DANCIN’ DAYS
(1978, TV Globo)

Autor: Gilberto Braga
Direção: Daniel Filho, Gonzaga Blota, Dennis Carvalho e Marcos Paulo
Elenco: Sonia Braga, Antonio Fagundes, Joana Fomm, Glória Pires, José Lewgoy, Beatriz Segall, Lauro Corona, Lídia Brondi e Yara Amaral

Uma crônica de costumes urbana centrada na rivalidade entre duas irmãs: uma ex-presidiária e uma socialite. Acusada de atropelar e matar um guarda-noturno, a protagonista é condenada a 22 anos de prisão. Depois de cumprir metade da pena, ela consegue liberdade condicional. A partir de então tenta, de todas as formas, livrar-se do estigma de ex-presidiária. Seu primeiro desafio é reconquistar o amor da filha. A menina foi criada pela irmã que, com medo de perder a sobrinha, dificulta a aproximação das duas. Em sua luta para se reintegrar à sociedade, a sofrida mocinha conhece um diplomata e os dois vivem um romance atribulado. Inaugurou o estilo de Gilberto Braga, marcado pela discussão dos valores da classe média e das elites urbanas. Para escrever a história, o autor lançou mão de romantismo e sarcasmo, dois elementos característicos de seu universo ficcional. O drama foi tema, em 1978, de uma reportagem da revista norte-americana Newsweek, que destacou sua influência sobre os hábitos de consumo dos telespectadores. Além de lançar modismos, como meias coloridas de lurex, ícones de uma geração, promoveu produtos como água-de-colônia e sandália de salto fino. Yolanda Pratini seria interpretada por Norma Bengell, porém a atriz se desentendeu com o diretor, e Joana Fomm, que faria Neide, uma empregada, assumiu o papel. Vista em 40 países, sobressai o veterano ator Mário Lago, que emocionou o público como o nostálgico Alberico, típico morador de Copacabana.

ÁGUA VIVA
(1980, TV Globo)

Autores: Gilberto Braga e Manoel Carlos
Direção: Paulo Ubiratan e Roberto Talma
Elenco: Raul Cortez, Betty Faria, Reginaldo Faria, Lucélia Santos, Fábio Jr., Tetê Medina, Tônia Carrero, Beatriz Segall, Glória Pires e José Lewgoy

Ambientada no ensolarado Rio de Janeiro, traz a disputa de dois irmãos pela mesma mulher. Um deles, cirurgião plástico famoso, condena o estilo de vida do outro, um bon vivant que nunca trabalhou e vive de renda. Após perder a esposa na explosão de uma lancha, apaixona-se por uma garota ambiciosa, que não mede esforços para ascender socialmente, sem saber de sua relação com o irmão irresponsável. Vendida para muitos países, na Itália transformou-se em livro. Beatriz Segall interpreta a sua primeira implacável vilã, Lourdes Mesquita. Destaque para a brilhante atuação de Tônia Carrero como a sofisticada e irreverente Stella Simpson. 

VALE TUDO
(1988, TV Globo)

Autores: Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères
Direção: Dennis Carvalho
Elenco: Regina Duarte, Glória Pires, Antonio Fagundes, Beatriz Segall, Renata Sorrah, Cássia Kiss, Reginaldo Faria, Carlos Alberto Riccelli e Lídia Brondi

Corrupção e falta de ética são enfocadas, denunciando a inversão de valores no Brasil no final dos anos 1980. Os autores centram a discussão sobre honestidade e desonestidade no antagonismo entre mãe e filha: a íntegra mocinha é o oposto da filha inescrupulosa e com horror à pobreza que, logo nos primeiros capítulos, vende a única propriedade da família, no Paraná, e foge com o dinheiro para o Rio de Janeiro. Indo atrás da filha,a mocinha conhece um administrador de empresas por quem se apaixona. Para ganhar a vida, vende sanduíches na praia. Enquanto batalha para sobreviver honestamente, sua filha se alia a um mau-caráter que a estimula a seduzir um milionário, de olho na fortuna do rapaz. A Odete Roitman de Beatriz Segall conquistou imensa popularidade e se transformou em uma das mais destacadas vilãs da teledramaturgia nacional. O mistério da identidade do seu assassino, embora tenha durado apenas 11 capítulos, povoou as conversas pelo país. Os autores aumentaram o clima de suspense escrevendo cinco versões diferentes para o último capítulo, ao qual o elenco só teve acesso durante as gravações.

ROQUE SANTEIRO
(1985, TV Globo)

Autores: Dias Gomes e Aguinaldo Silva
Direção: Paulo Ubiratan
Elenco: José Wilker, Regina Duarte, Lima Duarte, Paulo Gracindo, Armando Bógus, Yoná Magalhaes , Cássia Kiss, Patrícia Pillar e Fábio Jr.

Em 1975, estava tudo pronto para a exibição da primeira versão, quando, às vésperas da estreia, a censura vetou, instaurando uma crise na programação da Rede Globo. Francisco Cuoco interpretava Roque, Betty Faria era a Viúva Porcina e Lima Duarte vivia Sinhozinho Malta (papel que voltou a interpretar na versão definitiva). Sátira à exploração política e comercial da fé popular, marcou época apresentando uma cidade fictícia como um microcosmo do Brasil. Essa cidade, Asa Branca, vive em função dos supostos milagres de um coroinha e artesão de santos de barro que teria morrido como mártir ao defender o local de um perigoso bandido. O falso santo, porém, reaparece em carne e osso 17 anos depois, ameaçando o poder e a riqueza das autoridades locais. A sua volta e o reconhecimento de que tudo não passou de uma farsa significaria o fim do mito, prejudicando os interesses dos beneficiários da mentira, e também colocando em risco a sustentação do lugar. Os representantes das forças políticas, religiosas e econômicas se dividem entre os que defendem que a verdade deve ser revelada e os que querem manter o falso milagre porque precisam dele para sobreviver. Incentivada pelo amante fazendeiro, mulher exuberante espalhou a mentira de que havia se casado com o santeiro, e acabou se transformando em patrimônio da cidade. Quando realmente o conhece, apaixona-se de fato por ele, formando com o amante o triângulo amoroso da trama. Numa interpretação primorosa, Regina Duarte surpreendeu fazendo a cômica viúva Porcina - a que foi sem nunca ter sido -, muito diferente dos tipos vividos por ela anteriormente, que contribuíram para consolidar a sua imagem como “namoradinha do Brasil”. A atriz não foi o primeiro nome pensado para viver o papel. Sônia Braga, Vera Fischer, Marília Pêra e Fernanda Montenegro chegaram a ser sondadas. Yoná Magalhães viveu uma experiência inusitada por conta da sua participação. Como Matilde, a dona da boate, ela vestia uma malha exibindo o corpo. Estava tão em forma que, aos 51 anos, foi chamada para posar nua para a revista Playboy, batendo recorde de vendagem.

RENASCER
(1993, TV Globo)

Autor: Benedito Ruy Barbosa
Direção: Luiz Fernando Carvalho
Elenco: Antonio Fagundes, Marcos Palmeira, Adriana Esteves, José Wilker, Patrícia Pillar, Osmar Prado, Eliane Giardini, Fernanda Montenegro, Maria Luísa Mendonça, Leonardo Vieira e Patrícia França

Entre lendas, mitologias e regionalismo, divide-se em duas fases. Na primeira – os quatro capítulos iniciais –, um aventureiro chega às roças de cacau de Ilhéus, na Bahia, e finca seu facão ao pé de um jequitibá, fazendo uma promessa: não morrer. A árvore passa a representar sua sorte, força e existência, acompanhando a trajetória do personagem ao longo de toda a narrativa. Com o passar dos anos, valente, trabalhador e obstinado, ele constrói um verdadeiro império do cacau, e se casa com uma garota doce e ingênua, por quem devota um amor incondicional. Ela lhe dá quatro filhos, mas termina por morrer ao dar à luz, sendo este filho rejeitado desde então pelo pai, que o culpa pela morte de seu inesquecível amor. Benedito Ruy Barbosa explorou lendas e personagens com que se deparou em uma viagem à Bahia – como a história do diabo trancafiado na garrafa. Além de Osmar Prado, vencedor do prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, a Associação Paulista de Críticos de Arte elegeu Antônio Fagundes como Melhor Ator e Regina Dourado como Melhor Atriz Coadjuvante. Foi considerada, ainda, a Melhor Novela do ano pela APCA.

A PRÓXIMA VÍTIMA
(1995, TV Globo)

Autor: Silvio de Abreu
Direção: Jorge Fernando, Rogério Gomes e Marcelo Travesso
Elenco: Susana Vieira, José Wilker, Deborah Secco, Vera Holtz, Tereza Rachel, Aracy Balabanian, Yoná Magalhães, Lima Duarte, Tony Ramos, Selton Mello, Francisco Cuoco, Zezé Motta, Glória Menezes, Nicette Bruno, Camila Pitanga e Reginaldo Faria

Gênero policial estrelado por talentoso elenco transformou-se em sucesso de público e crítica. Suspense, traições e romances dão o tom, cuja espinha dorsal é centrada em três perguntas: “quem matou?”, “quem será a próxima vítima?” e “por quê?”. Um Opala preto, que segue as vítimas, é o único indício de que o assassino está por perto. Tem como principais cenários a Mooca e o Bixiga, em São Paulo – universos recorrentes nos trabalhos de Silvio de Abreu –, e destaca uma batalhadora dona de uma cantina italiana, amante há 20 anos de um mau-caráter, com quem tem três filhos. O ator André Gonçalves chegou a ser espancado na rua por causa do personagem homossexual. Júlia (Glória Menezes), que se envolve em uma campanha de apoio a meninos de rua, foi inspirada na artista plástica Yvone Bezerra de Mello, que se dedicava intensamente à causa na época, e em seu livro “As Ovelhas Desgarradas e seus Algozes”.

TERRA NOSTRA
(1999, TV Globo)

Autor: Benedito Ruy Barbosa
Direção: Jayme Monjardim e Carlos Magalhães
Elenco: Ana Paula Arósio, Thiago Lacerda, Antônio Fagundes, Maria Fernanda Cândido, Raul Cortez, Gabriel Braga Nunes, Gianfrancesco Guarnieri, Bete Mendes e Marcello Anthony

Explora a importância da imigração na formação da sociedade brasileira, no caso, a imigração italiana no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Em 1894, o navio Andrea I deixa o porto de Gênova, na Itália, e cruza o Oceano Atlântico transportando centenas de camponeses italianos. Eles fogem da crise econômica no seu país para tentar a sorte no Brasil, que naquele momento precisava de mão de obra para substituir o trabalho escravo nas plantações de café. Entre os imigrantes está um casal com sua bela filha. A bordo, a garota conhece um jovem que não tem ninguém no mundo, mas é empreendedor e tem esperança de começar uma nova vida. Os dois se apaixonam. O autor se inspirou nas suas memórias de infância para retratar a colônia italiana. Quando criança, ele costumava brincar com os filhos dos imigrantes italianos que trabalhavam nas plantações de café da fazenda de um tio. Foi exibida em mais de 80 países.

MULHERES APAIXONADAS
(2003, TV Globo)

Autor: Manoel Carlos
Direção: Ricardo Waddington, Rogério Gomes e José Luiz Villamarim
Elenco: Christiane Torloni, Tony Ramos, Susana Vieira, José Mayer, Giulia Gam, Maria Padilha, Rodrigo Santoro, Marcello Antony, Helena Ranaldi e Carmem Silva

A personagem central é uma mulher que resolve viver uma nova paixão após 15 anos de casada. Ela tem um relacionamento estável com um músico, mas o casamento entrou em uma rotina que não suporta mais. Os seus questionamentos sobre sua vida conjugal ganham força quando reencontra um ex-namorado que abandonou para se casar. Novela urbana, realista e contemporânea, apresenta uma galeria de personagens femininos e suas paixões. Todas as histórias estão circunscritas ao círculo familiar, explorando as relações de pais e filhos, irmãos, marido e mulher. Como em várias outras criações do autor, ambienta-se no Leblon, bairro da zona sul do Rio de Janeiro. Conta com mais de 100 personagens e muitas tramas paralelas. A personagem de Christiane Torloni foi a sexta Helena criada por Manoel Carlos em suas telenovelas. Ele batizou com o mesmo nome as protagonistas de “Baila Comigo” (1981, Lillian Lemmertz), “Felicidade” (1991, Maitê Proença), “História de Amor” (1995, Regina Duarte), “Por Amor” (1997, Regina Duarte), “Laços de Família” (2000, Vera Fischer), “Páginas da Vida” (Regina Duarte, 2006) e “Viver a Vida” (2009, Taís Araújo). Manoel Carlos explica a escolha como sendo um nome forte, adequado a personagens batalhadoras, que chegam a mentir por amor. A repercussão da refinada produção virou tema de reportagem da Newsweek.

A FAVORITA
(2008, TV Globo)


Autor: João Emanuel Carneiro
Direção: Ricardo Waddington
Elenco: Patrícia Pillar, Cláudia Raia, Murilo Benício, Mariana Ximenes, José Mayer, Tarcísio Meira, Glória Menezes, Elizangela, Cauã Reymond e Deborah Secco

Ambientada em São Paulo, apresenta a rivalidade entre antigas parceiras da dupla sertaneja Faísca e Espoleta. Após cumprir uma pena de 18 anos de reclusão por assassinato, uma delas deixa a prisão disposta a provar a sua inocência, acusando a ex-parceira de ter cometido o crime. Ao mesmo tempo, quer se reaproximar da filha, criada pela rival e única herdeira de um império de papel e celulose. Uma das novidades desta produção é a indefinição sobre os papéis de vilã e mocinha. Afinal, qual das duas estaria falando a verdade? Elogiada por subverter os modelos folhetinescos vigentes e por apresentar uma história com poucos personagens, concentrada em uma trama central. Também ousou nos núcleos paralelos ao fugir dos estereótipos e mostrar diferentes abordagens em relação aos negros, à família e à defesa dos homossexuais. Patrícia Pillar foi um dos destaques, entrando para o time das inesquecíveis vilãs das telenovelas. Para viver sua personagem, visitou o presídio feminino Talavera Bruce, em Bangu (zona oeste do Rio), conhecendo a realidade das detentas.



junho 02, 2015

................................................................... A NEGRITUDE ESCRITA



 
 
APONTAMENTOS da CONSCIÊNCIA NEGRA LITERÁRIA

Ilustrações:
ADEL RODRIGUEZ


ALICE WALKER
(1944. Condado de Putnam, Geórgia / EUA)

Principais Livros
De Amor de Desespero In Love and Trouble: Stories of Black Women (1973)
A Cor Púrpura / The Color Purple (1982)
Prêmio Pulitzer 

Iniciou sua carreira de escritora com um volume de poesias, e alcançou fama mundial com “A Cor Púrpura”, que deu origem ao famoso filme dirigido por Steven Spielberg. Na obra, a personagem escreve cartas a Deus e à irmã desaparecida, mostrando representações de uma mulher negra sulista quase analfabeta, que vive em uma realidade dura de pobreza, opressão e desamor. A autora escreveu também “De Amor de Desespero”, uma obra composta pelas vozes de várias mulheres negras do sul dos Estados Unidos. O livro é uma coletânea de vários contos, nos quais conhecemos mulheres diferentes com seus temores, desafios e sonhos. Walker sempre foi uma ativista pelos direitos dos negros e das mulheres, destacando-se na luta contra o apartheid e contra a mutilação genital feminina em países africanos. Em 1984, fundou sua própria editora, a Wild Trees Press. Na década de 1990, manteve um relacionamento amoroso com a cantora Tracy Chapman.


AUDRE LORDE
(1934 - 1992. Nova York / EUA)

Principais Livros: 
The Black Union (1978)
The Cancer Journals (1980)

De uma família de imigrantes do Caribe, começou a publicar na década de 1960, na revista de Langston Hughes, New Negro Poets. Neste período, engajou-se nos movimentos Feminista, Anti-Guerra e dos Direitos Civis. Entre 1984 e 1992, ano de sua morte, a poeta viveu e trabalhou em Berlim, Alemanha, período sobre o qual a diretora Dagmar Schultz lançou, em 2012, o documentário “Audre Lorde: The Berlin Years (1984 - 1992)”.


AUTA de SOUZA
(1876 – 1901. Macaíba / Rio Grande do Norte)

Principal Livro
“Horto” (1900)

Escreveu um único volume de poemas, pouco antes de sua morte, com prefácio de Olavo Bilac. A primeira edição esgotou-se em dois meses, assim como a segunda edição, em 1911. Seu livro antes de se chamar “Horto”, tinha o nome de “Dálias”. É impregnado de sentimento cristão que sempre a inspirou.


BEN OKRI
(1959. Minna / Nigéria)

Principais Livros:  
“Flores e Sombras / Flowers and Shadows” (1980)
“A Estrada Faminta / The Famished Road” (1991)

Um dos mais importantes escritores nigerianos, dedicando-se principalmente aos gêneros poesia e romance. Passou a infância em Londres, retornando à Nigéria, com a família, em 1968. Tem sido descrito como escritor do realismo mágico, embora não goste dessa classificação. Afirma-se que suas experiências na guerra civil da Nigéria inspiraram muitas de suas obras. O autor escreve tanto sobre o mundo quando sobre o metafísico, o individual e o coletivo, conduzindo o leitor a um universo de descrições vívidas.



CAROLINA MARIA de JESUS
(1914 – 1977. Sacramento / Minas Gerais)

Principais Livros:  
“Quarto de Despejo - Diário de uma Favelada” (1960)
“Pedaços de Fome” (1963)

“Todos têm um ideal. O meu é gostar de ler”. Nestas palavras, resumiu sua trajetória e propósito de vida. Semi-analfabeta, negra e moradora da favela do Canindé, Zona Norte de São Paulo (SP), tornou-se escritora com uma literatura viva e pulsante, pautando as complexidades e contradições da sua realidade.


CHESTER HIMES
(1909 - 1984. Jefferson City, Missouri / EUA)

Principais Livros:  
“Um Jeito Tranquilo de Matar / The Real Cool Killers” (1959)
“O Harlem é Escuro / Blind Man with a Pistol” (1969)

Conhecido, sobretudo, pelas suas novelas policiais, produziu outros gêneros. Todas têm em comum o problema racial nos EUA. A série mais popular de Himes apresenta os detetives Coffin Ed Johnson (Ed Caixão) e Gravedigger Jones (Jones Coveiro), da polícia de Nova Iorque, que prestam serviço em Harlem.


CHINUA ACHEBE
(1930 – 2013. Ogidi / Nigéria)

Principais Livros:  
“O Mundo se Despedaça / Things Fall Apart” (1958)
“There was a Country: a Pessoal History of Biafra” (2012)

Atuou na diplomacia durante os conflitos entre o governo da Nigéria e o povo ibo, no final da década de 1960. Em 2002, ganhou o Prêmio da Paz oferecido pela Feira de Frankfurt, na Alemanha.


COLSON WHITEHEAD
(1969. Nova Iorque / EUA)

Principais Livros
“The Intuitionist” (1999)
“The Colossus of New York” (2003)

Autor de livros aclamados, formou-se em Harvard, trabalhou como jornalista em publicações como Newsday e The Village Voice, assumindo nesta última a seção de crítica de televisão. Atualmente mora no Brooklyn.



CRUZ e SOUZA
(1861 – 1898. Florianópolis / Santa Catarina)

Principais Livros
“Broquéis” (1893)
“Missal” (1893)

Poeta brasileiro. Um dos percursores do simbolismo no Brasil. Conhecido como “Dante Negro” e “Cisne Negro”.


ELISA LUCINDA
(1958. Cariacica / Espírito Santo)

Principais Livros
“O Semelhante” (1995)
“A Fúria da Beleza” (2006)

Poeta, jornalista e atriz. Trabalhou em algumas peças, como “Rosa, um Musical Brasileiro” e “Bukowski, Bicho Solto no Mundo”. “O Semelhante”, onde a poeta se apresenta declamando seus versos e conversando com a plateia, teve temporadas de sucesso em várias capitais. No mesmo formato apresentou “EUTEAMO Semelhante”, também com excelente receptividade. Gravou Cd’s de poesias.


JAMES BALDWIN
(1924 – 1987. Nova Iorque / EUA)

Principais Livros:  
“O Quarto de Giovanni / Giovanni's Room” (1956)
“Numa Terra Estranha /Another Country” (1962)

O primeiro escritor a dizer aos brancos o que os negros norte-americanos pensavam e sentiam. Teve seu reconhecimento durante a luta dos direitos civis no início da década de 1960. Tornou-se mais famoso pelos ensaios do que pelos romances e peças teatrais, mas apesar disso queria se tornar ficcionista, considerando seus ensaios um trabalho menor. O fabuloso “Giovanni's Room” (1956) mostra todo o seu talento, numa narrativa pioneira de uma nova liberdade sexual. Escrevia e estudava sobre as correspondências entre medos sexuais e raciais. Ele influenciou escritores do porte de Truman Capote, Norman Mailer e Tom Wolfe.


LANGSTON HUGHES
(1902 - 1967. Joplin, Missouri / EUA)

Principais Livros:  
“The Weary Blues” (1926)
“The Ways of White Folks” (1934)

Poeta, novelista, dramaturgo, contista e colunista. Um dos expoentes do movimento cultural afro-americano dos anos 1920 chamado Renascença do Harlem.



LeROI JONES
(1934 – 2014. Newark / EUA)

Principais Livros
“Dutchman” (1964)
“Black Magic” (1969)

Poeta, escritor, dramaturgo e crítico musical, ligado à Geração Beat e autor de ensaios contra o racismo e o colonialismo. Vigiado pelo FBI, precursor do hip-hop e do rap, durante os anos 1960 e 1970 ele abandonou uma visão de integração social entre brancos e negros, após a Revolução Cubana, o assassinato de Malcolm X e sua prisão em 1967, passando a defender uma revolução dos negros. Autor de diversas obras poéticas.


LIMA BARRETO
(1881-1922. Rio de Janeiro / RJ)

Principais Livros
“Triste Fim de Policarpo Quaresma” (1911)
“Os Bruzundangas” (1922)

O crítico mais agudo da época da República Velha no Brasil, rompendo com o nacionalismo ufanista e pondo a nu a roupagem da República, que manteve os privilégios de famílias aristocráticas e dos militares. Em sua obra, de temática social, privilegiou os pobres, os boêmios e os arruinados. Severamente criticado por escritores contemporâneos por seu estilo despojado e coloquial, que acabou influenciando os escritores modernistas. Fiel ao modelo do romance realista e naturalista, resgatando as tradições cômicas, carnavalescas e picarescas da cultura popular. Também queria que a sua literatura fosse militante. Escrever tinha finalidade de criticar o mundo circundante para despertar alternativas renovadoras dos costumes e de práticas que, na sociedade, privilegiavam pessoas e grupos. Para ele, o escritor tinha uma função social.


LINDOLFO ROCHA
(1862 – 1911. Grão Mogol / Minas Gerais)

Principais Livros
“Iacina” (1907)
“Maria Dusá(1910)

Viveu para o estudo e ensinou as primeiras letras a meninos. Escritor e jornalista, sua obra mais famosa, “Maria Dusá”, virou telenovela em 1978. Deixou inúmeras obras inéditas, cujos manuscritos foram destruídos pelo segundo marido de sua mulher. Ele lutou para libertar-se da retórica oitocentista e buscou o que, até aquele princípio do século 20, poucos autores nacionais tinham encontrado: a literatura.


LUÍS GAMA
(1830 – 1882. Salvador / Bahia)

Principal Livro:  
“Primeiras Trovas Burlescas” (1859)

Rábula, orador, jornalista e escritor. Nascido de mãe negra livre e pai branco, foi contudo feito escravo aos 10 anos, e permaneceu analfabeto até os 17 anos de idade. Conquistou judicialmente a própria liberdade e passou a atuar na advocacia em prol dos cativos, sendo já aos 29 anos autor consagrado e considerado “o maior abolicionista do Brasil”. Um dos raros intelectuais negros no Brasil escravocrata do século XIX, o único autodidata e o único a ter passado pela experiência do cativeiro. Pautou sua vida na defesa da liberdade e da república. Ativo opositor da monarquia, veio a morrer seis anos antes de ver seus sonhos concretizados.



MACHADO de ASSIS
(1839-1908. Rio de Janeiro / RJ)

Principais Livros
“Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881)
“Dom Casmurro” (1899)

Para alguns, o maior escritor da literatura brasileira. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um excelente comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época. Usufruiu de alto prestígio em vida, fato raro para um escritor na época.


MARILENE FELINTO
(1957. Recife / Pernambuco)

Principais Livros: 
As Mulheres de Tijucopapo” (1981)
“Obsceno Abandono: Amor e Perda” (2002)

Graduada em Letras, jornalista, tradutora, romancista e cronista. Feminista, acabou ficando mais conhecida por seus textos contundentes no jornal Folha de São Paulo, publicados nos anos 1990, nos quais criticava as várias formas de exclusão social, fazendo uma análise profunda e clara dos agentes e do poder dominante nas relações sociais, ligando-a ao comportamento e aos valores das classes médias. Traduziu obras de Edgar Alan Poe, Sam Shepard, John Fante, Patricia Highsmith, Mariana Alcoforado e Thomas Wolfe, entre outros.


MÁRIO de ANDRADE
(1893 – 1945. São Paulo / SP)

Principais Livros
“Amar, Verbo Intransitivo” (1927)
“Macunaíma (1928)

Poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, folclorista, ensaísta. Um dos pioneiros da poesia moderna brasileira com a publicação de “Paulicéia Desvairada”, em 1922. Exerceu uma contundente influência na literatura brasileira, sendo figura central do movimento de vanguarda de São Paulo por vinte anos.


MAYA ANGELOU
(1928 - 2014. St. Louis, Missouri / EUA)

Principais Livros:  
“I Know Why the Caged Bird Sings: Up to 1944” (1969)
“The Heart of a Woman: 1957–62” (1981)

Teve uma carreira longa e distinta. Poetisa, escritora, ativista de direitos civis e historiadora. Também foi atriz, dançarina e cantora. Atuou em peça de Jean Genet e no aclamado seriado “Raízes / Roots” (1977).



OSWALDO de CAMARGO
(1936. Bragança Paulista / SP)

Principais Livros:  
15 Poemas Negros” (1961)
“O Carro do Êxito” (1972)

Um dos principais conhecedores da literatura negra no Brasil. Contista, poeta, novelista e jornalista, herdeiro de buscas culturais da negritude brasileira. Estreou em 1959, com o livro de poemas “O Homem Tenta Ser Anjo”. Em 1987, teve editado “O Negro Escrito - Apontamentos da Presença do Negro na Literatura Brasileira”.


PAULO LINS
(1958. Rio de Janeiro / RJ)

Principais Livros:  
“Cidade de Deus” (1997) 
“Desde que o Samba é Samba” (2012)

Morador da favela carioca Cidade de Deus, começou como poeta nos anos 1980 como integrante do grupo Cooperativa de Poetas, por onde publicou seu primeiro livro de poesia. Graduado no curso de Letras, contemplado em 1995 com a Bolsa Vitae de Literatura. Em 2002, Fernando Meirelles dirigiu o filme “Cidade de Deus”, com base no seu livro, que recebeu quatro indicações ao Oscar 2004. Sua obra tem atraído interesse acadêmico na forma de vários artigos e dissertações. Seu segundo romance, “Desde que o Samba é Samba”, recria a invenção do samba por músicos da Estácio na década de 1920.


PEDRO KILKERRY
(1885 – 1917. Santo Antônio de Jesus / Bahia)

Advogado, jornalista e poeta simbolista brasileiro. Descendente de ingleses por parte do pai e de uma mestiça alforriada baiana. Em 1906, juntou-se ao grupo literário Nova Cruzada e começou a publicar seus primeiros poemas na revista homônima. Em 1913, o poeta se forma em ciências jurídicas e sociais na Faculdade de Direito da Bahia, no mesmo ano em que passa editar as crônicas “Quotidianas”, no Jornal Moderno, e lança mão pela primeira vez do poema em prosa. Tuberculoso, faleceu sem ter publicado nenhum livro. Seus poemas, incluindo manuscritos e poemas mantidos oralmente por amigos e familiares, foram recolhidos em 1968 por Augusto de Campos, que o considera um dos precursores do modernismo no Brasil.


RALPH ELLISON
(1914 - 1994. Oklahoma City, Oklahoma / EUA)

Principal Livro: 
“O Homem Invisível / The Invisible Man (1952)

Célebre pelo seu romance claustrofóbico e que denota a influência de Kafka, “The Invisible Man”, no qual descreve a vida de um jovem negro em Nova Iorque.



RICHARD WRIGHT
(1908 - 1960. Roxie, Mississipi / EUA)

Principais Livros
“O Filho Nativo – Tragédia de um Negro Americano / Native Son” (1940)
Homem Branco, Ouça! / White Man, Listen!” (1957)

Neto de escravos africanos libertos após a Guerra de Secessão. O seu “O Filho Nativo – Tragédia de um Negro Americano”, através de um realismo brutal, tem como protagonista um negro nascido em uma miséria estrema e marginalizado pela sociedade. Em suas diversas tentativas de se adaptar aos modelos de vida tradicionais, descobre uma parede intransponível para ele. Consciente que seu “grande crime” é ser negro, ele revolta-se contra esta sociedade racista. O livro, de estrondoso sucesso pela contundência de sua denúncia, se tornaria um dos maiores best sellers de seu tempo, ganhando adaptação cinematográfica e uma montagem na Broadway dirigida por Orson Welles. Cansado do racismo em seu país, o escritor abandonaria os Estados Unidos, estabelecendo-se em Paris, onde permaneceria até o final de sua vida.


RITA SANTANA
(1969. Ilhéus / Bahia)

Principais Livros:  
“Tramela” (2004)
“Tratado das Veias” (2006)

Atriz, escritora, professora licenciada em Letras. Em 2005, participou da coletânea de prosa e poesia “Mão Cheia” com quatro escritoras baianas. Vive em Lauro de Freitas, Bahia. Edita o blog Barcaças.


ROSÁRIO FUSCO
(1910 – 1977. São Geraldo / Minas Gerais)

Principais Livros:  
“Amiel” (1940)
“O Agressor” (1943)

Romancista, poeta, dramaturgo, jornalista, crítico literário e advogado. Em 1925, inicia intensa correspondência com o grupo modernista de São Paulo e começa, bastante cedo, a publicar seus poemas no jornal Mercúrio. Participa da fundação do grupo Verde, responsável pelo lançamento da Verde, importante publicação modernista editada entre 1927 e 1929. Seus poemas são compostos em versos livres com atenção aos temas locais com forte influência do modernismo. Em 1940, publica ensaios e críticas literárias em três diferentes livros. “O Agressor”, sua obra de maior repercussão, é um raro exemplo de romance surrealista no Brasil. Em 2003 é publicado o romance póstumo do autor, “Associação dos Solitários Anônimos”.


RUY do CARMO PÓVOAS
(1943. Ilhéus / Bahia)

Principais Livros: 
“Vocabulário da Paixão” (1983)
“A Fala do Santo” (2002)

Atuou durante trinta anos no magistério de Língua Portuguesa, tanto na Escola de primeiro e segundo graus, quanto na Universidade. Coordena o Jornal Tàkàdá, informativo do Ilê Axé Ijexá, e a Revista Kàwé, do Núcleo de Estudos Afro-Baianos. Além de publicar artigos de sua especialidade técnica, produz escritos em prosa e verso. Iniciado nos rituais do candomblé desde menino, assumiu sua africanidade e fez disso objetivo maior de sua existência. Dirige o Ilê Axé Ijexá, terreiro de origem nagô, por ele fundado em Itabuna, desde 1975. De dentro do terreiro, escreve, divulga, publica, objetivando dialogar com os mais diversos segmentos da cultura regional sobre a importância das raízes africanas que ajudaram a construir o Sul da Bahia.



SOLANO TRINDADE
(1908 – 1974. Recife / Pernambuco)

Principais Livros: 
 “Poemas de Uma Vida Simples” (1944)
“Cantares ao meu Povo” (1961)

Autodidata, leitor compulsivo, rapidamente tornou-se respeitado por contemporâneos como Carlos Drummond de Andrade. Cineasta, pintor, ator de cinema, homem de teatro, militante e, sobretudo, poeta. Sua obra é dificilmente encontrada em bibliotecas ou livrarias. O fio condutor da multiplicidade artística de Solano foi a própria negritude, tema recorrente. Por meio da arte, denunciava discriminações e o racismo. Suas poesias estão repletas de referências aos ritmos, costumes, fé, rituais, além de mitos e lendas do povo afro-brasileiro.


TEIXEIRA e SOUZA
(1812 – 1861. Cabo Frio / Rio de Janeiro)

Principais Livros:  
“O Filho de Pescador” (1843)
“Maria ou A Menina Roubada” (1859)

Romancista, poeta e dramaturgo. Seu romance “O Filho de Pescador”, segundo muitos estudiosos da história da literatura brasileira, é a primeira obra do gênero escrita por um autor nacional. Trabalhou como professor público de instrução primária, editou jornal e dirigiu uma tipografia.


TONI MORRISON
(1931. Lorain, Ohio / EUA)

Principais Livros:  
“Sula / Idem” (1974)
“Amada / Beloved” (1987)
Premio Pulitzer 1987
Prêmio Nobel de Literatura 1993

Ao longo do tempo, pelos caminhos trilhados em sua carreira literária, trabalhou uma série de temas que são recorrentes. Elas derivam tanto do fato de ser uma escritora militante, que escreve voltada para a comunidade afro-americana, quanto do fato de ser mulher. Eles estão, direta ou indiretamente, conectados com outros temas importantes, mas que aparecem em maior ou menor grau, tais como: a pobreza, “perda da inocência, incesto, abuso sexual, loucura, preconceito racial e o mito da cor e da beleza brancas”.


WALTER MOSLEY
(1952. Los Angeles, Califórnia / EUA)

Principais Livros:  
“Sempre Em Desvantagem / Always Outnumbered, Always Outgunned” (1997)
“Uma Volta Com o Cachorro / Walkin’ the Dog” (1999)

Reconhecido por sua literatura policial, cuja principal série apresenta Easy Rawlins, um investigador privado negro da II Guerra mundial que vive em Watts, Los Angeles. “Sempre em Desvantagem”, primeiro livro da saga, venceu o prêmio Anisfield Wolf, que desde 1934 premia títulos que discutem o racismo.


WOLE SOYINKA
(1934. Abeokuta / Nigéria)

Principais Livros
“Poems from Prison” (1969)
“The Man Died” (1972)
Nobel de Literatura 1986

Poeta, dramaturgo, romancista, crítico, editor, tradutor, homem-orquestra da literatura africana. Participou ativamente da luta pela independência de seu país nos anos de 1960 e continuou numa batalha intransigente, por meio de seus escritos, contra os ditadores que sucederam após a independência. Preso durante dois anos, entre 1967 e 1969. Seus livros descrevem as fases de transição da vida social, política e cultural da Nigéria. “Quem se cala diante da tirania está destinado a morrer” ou “a justiça é a primeira condição da humanidade” são frases que revelam a disposição deste combativo escritor. Vive hoje em Los Angeles, onde divide sua agenda entre o ensino numa universidade, viagens e debates sobre a atualidade e literatura.


james baldwin