“Não
quero me prender a algo que me defina,
prefiro acreditar na maior liberdade possível do Ser”
MORVAN em entrevista ao Jornal
de Hoje (RN)
17 de maio de 2012
Fotos:
MORVAN
FRANÇA
Magnífico
fotógrafo, coração do bem, meu Amor. O que produziu e nos legou
é de uma delicadeza e densidade raras vezes vistas no Brasil em tal gênero artístico. Nasceu
em 22 de maio de 1987, em Belo Horizonte. Geminiano irreverente, criativo e
teimoso, como eu. MORVAN FRANÇA
viveu um ano em Dublim, na Irlanda, outros tantos em São João del-Rei (MG) e Natal (RN). Imagens de sua autoria publicadas em blogues, revistas e jornais potiguares.
Diretor fotográfico na revista “Ícone – Turismo e Cultura no Nordeste”. Sua “A
Face Oculta” recebeu Troféu Cultura de Melhor Exposição de 2013/RN. Morreu no dia 07 de julho de 2016,
uma quinta-feira, em Galinhos, Rio Grande do Norte. Aos 29 anos. Partiu
desse planeta para nunca
mais voltar. Parou de se questionar, e, certamente, foi muito bem recebido pela
energia acolhedora do Universo. Nós vivemos juntos cinco anos. Ele
me fez rir, sonhar, preencheu-me com sua presença bonita e vasta sensibilidade. “A
arte tem o papel de nos elevar um pouquinho, por curto espaço de tempo, do
nosso próprio egoísmo”, disse-me na primeira conversa.
Ao
conhecê-lo, estava há uma semana em Natal, vindo de Minas estudar biologia na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Sem relações na cidade. Apenas um
príncipe solitário. Um príncipe que citava o mestre Rosa: “Eu quase que nada
não sei. Mas desconfio de muita coisa.”. O meu coração disparou. E felizmente,
o dele também. É difícil não nos sentirmos incendiados num romance sem vilania
e ao mesmo tempo tranquilo, sossegado, onde coube a arte e o seu reverso, a
emoção, sem se estorvarem mutuamente. “A bolsa tem prazo de validade de seis meses,
logo voltarei”, avisou-me após o beijo que selou o encantamento. Louco de amor,
percebi estar diante do Rimbaud sonhado desde sempre. Iniciamos ali um eletrizante
encontro de sentimentos emblemáticos. Pura fatalidade. ENCONTRO MARCADO pelo
destino.
Nunca
mais voltou de vez a sua estimada terra. E não gostava nem um tiquinho de Natal
ou da vivência universitária local, desiludido com a mediocridade de professores e colegas.
Saudoso de São João del-Rei, queixava-se. Ranzinza, dizia que no Brasil as
diversões idiotas tomaram o lugar da cultura. Com educação e firmeza, enfatizava o sublime vazio generalizado.
O
mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre
iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.
GUIMARÃES ROSA
“Grande Sertão: Veredas”
Nos primeiros dias, deixou a república de estudantes, veio morar comigo,
inicialmente no bairro do Satélite. “Não namoro sério. Minhas histórias são sem
compromisso”, afirmou, desconfiado, continuando: “Não pretendo me casar”. Não
foi o que aconteceu. Durante anos grudamos. Contou-me seu passado familiar,
estudantil e amoroso. Recordações da infância na fazenda do tio. Revelei-me
através da arte. Sobre a vida real, 100% não dava, MORVAN ciumava brabo! Nossas
conversas resgatavam, seguramente, a excelência da vida, cujos assuntos transgrediam
a forma do debate comum, vislumbrando não só o relato dos acontecimentos
cotidianos, bem como da visão da literatura, das artes plásticas, da
religião, da ciência, passando pela dor do existir, pelos problemas decorrentes
da profissão de escritor, sem falar nas incursões pelo cinema e teatro, por
exemplo, e mesmo sobre as relações homossexuais.
Contei
dos dias de aventureiro. Uma narrativa longa, prolixa, cheia de pormenores.
Falei das ruas de Tanger, de alegres passeios a Baello Claudia. E das tardes
passadas no bosque La Selva, deitado na relva, dos banhos de mar. Era uma
história que eu expurgara cuidadosamente o erotismo, evitando conflitos. Nas conversas
sem fim, varando madrugadas, lembrei que há cidades belas e cruéis, como Rio de
Janeiro. Ou elegantes e céticas, como Berlim. Ou densas e obsessivas, como São
Paulo. Recordei para ele o ano passado em Londres. Céus cinzentos e gente
indiferente como a própria natureza. Não havia sentimentalismos, nem excessos
de paixão, nem verdades com maiúsculas.
Trocávamos
identificações artísticas. Um sugerindo ao outro fascínios
cinematográficos, literários, musicais, fotográficos. Ele não suportava shows. Eu
tinha visto todos os shows do mundo. Entretanto, muitas vezes, repentinamente, ele
fazia espetáculo para mim, em casa. Cantava, dançava, interpretava poemas. Eu
estava no paraíso das ilusões. Guardamos
os segredos ao lado de tudo o que não dizemos. Nesse grande sótão escuro há de
tudo, há aquilo que não dizemos porque temos medo, porque temos vergonha,
porque não somos capazes; há aquilo que não dizemos porque desconhecemos,
ignoramos mesmo, apesar de estar lá, em nós. Os segredos são assim. Eles estão
lá, podemos visitá-los, assistir a eles, sabemos as palavras exatas para
dizê-los e, muitas vezes, temos tanta vontade de contá-los. Mas escolhemos não
o fazer. Passávamos horas jogando Quest, vendo documentários, cozinhando. Ele cozinhava bem. Principalmente massas. Utilizava
receitas muito simples, mas o resultado era uma explosão de sabores. O seu
espaguete à carbonara era maravilhoso. Nos finais de semana de boa disposição,
arranjava os pequenos defeitos da casa, de descarga quebrada a pia entupida,
numa extraordinária habilidade manual.
Todas
essas Presenças em Ti: Estrelas, insetos, as árvores, a água, o fogo, o sangue,
os ossos, respirações, os Olhos, os outros homens, tudo isso vivendo, / como se
vivesse / Flor das mais estranhas. / E tu estás em todas, / e Todas / estão em
ti.
VICENTE FRANZ CECIM
“Canção da Criança Mais Alta”
Aprendia
violão dedilhando Bossa Nova, outras vezes utilizava a cozinha para treinar ágeis
passos de capoeira. Ele não sabia, mas a beleza desabrochava em cada uma de suas
provocações naturais. Eu alimentava suas excelentes vontades artísticas.
Pena que quase sempre ele perdia o interesse no meio do caminho. Incentivei o fotógrafo ao perceber o seu talento nato em retratos meus, e a satisfação que fluía dele ao fotografar (odiava ser fotografado!). Esboçamos um projeto para esse sonho vingar, desde a aquisição da boa máquina
fotográfica à exposição do lançamento oficial, “A Face Oculta”. Apresentei a MORVAN fotógrafos e pensadores, de Susan Sontag a Gilles Deleuze, de Pierre Verger a Miguel Rio Branco, de Henri Decae a Sven Nykvist. Ele tinha
dificuldade em absorver a rotina, prazos, horários, estabilidade. Acordava
tarde, estudava pouco. Ouvia com prazer Nina Simone, Beck, Uakti, Ednardo,
Mozart, Jim Morrison, Janis, Chet Baker, Amy, Zeca Baleiro, Cássia Eller, Miles.
Beijava-me inesperadamente, jogava-me no chão, rolava os nossos corpos como se
fosse menino.
Praticamos
leituras domésticas de peças teatrais. “Romeu e Julieta”, “Branca Dias”, “Bodas
de Sangue”. Nelson Rodrigues, Plínio Marcos, Oscar Wilde, os meus textos. Ele
interpretava e dirigia, interrompendo a leitura para me criticar. Furioso, dizia
que eu não me concentrava, não mergulhava na alma da personagem. Era verdade. Às
vezes ele jogava o texto na parede, outras recomeçava do primeiro ato. De
expressivo talento dramático, poderia ter sido um ator de renome. Numa
noite, embriagados, ele se emocionou com a minha fala sobre Ítaca. Não fosse
a Ítaca de Homero – ou o longo caminho de volta -, não fosse a vida. Um outro poeta grego, Konstantinos Kaváfis, abordaria diferente este
caminho de volta, criando uma das mais belas metáforas da jornada em busca de
nossos sonhos. Enquanto na “Odisséia” o drama se concentra nas
dificuldades de chegar, e no sofrimento da mulher amada, na poesia de Kaváfis
ele pede exatamente o oposto a Ulisses: que aproveite o caminho, e viva tudo o
que precisar viver.
Quando
você partir, em direção a Ítaca,
que
sua jornada seja longa
repleta
de aventuras, plena de conhecimento.
Não
tema Laestrigones e Cíclopes
nem o
furioso Poseidon;
você
não irá encontrá-los durante o caminho,
se
você não carregá-los em sua alma,
se
sua alma não os colocar diante de seus passos.
Espero
que sua estrada seja longa.
Que
sejam muitas as manhãs de verão,
e que
o prazer de ver os primeiros portos
traga
uma alegria nunca vista.
Procura
visitar os empórios da Fenícia
e
recolha o que há de melhor.
Vá as
cidades do Egito,
e
aprenda com um povo que tem tanto a ensinar.
Não
perca Ítaca de vista,
pois
chegar lá é o seu destino.
Mas
não apresse os seus passos;
é
melhor que a jornada demore muitos anos
e seu
barco só ancore na ilha
quando
você já estiver enriquecido
com o
que conheceu no caminho.
Não
espere que Ítaca lhe dê mais riquezas.
Ítaca
já lhe deu uma bela viagem;
sem
Ítaca, você jamais teria partido.
Ela
já lhe deu tudo, e nada mais pode lhe dar.
Se,
no final, você achar que Ítaca é pobre,
não
pense que ela lhe enganou.
Porque
você tornou-se um sábio, e viveu uma vida intensa,
e
este é o significado de Ítaca.
Recebemos
visitas de seus pais amorosos, do irmão; e da melhor amiga, uma
belga, Véronique. Ele lembrava algumas vezes de ex-colegas mineiros que gostava. Não levava a sério nossos conhecidos. “Dissimulados, desejam nossa
separação”, criticava. Jantando com ele e amigas, meio alto de vinho, contei detalhes pitorescos de um antigo
relacionamento com um norte-americano. Ele permaneceu em silêncio, sinistro. No
dia seguinte entregou-me uma folha seca, enorme. Nela, escrito em nanquim fragmentos
de Clarice Lispector em “Água Viva”, um dos seus livros favoritos. Guardo essa relíquia:
Agora
sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da
solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama. Assumo a minha
solidão. Sou só e tenho que viver uma certa glória íntima e silenciosa. Guardo
teu nome em segredo. Preciso de segredos para viver.
Renasci
com MORVAN. Deixei o mundo ordinário. Nada mais me parecia cintilante. Seria capaz
de ir a lua com ele. Desejava passar os últimos anos de vida nos seus braços.
Conheci-o profundamente, talvez mais do que ninguém. Enxergava a melancolia e a
fragilidade mais secretas. Cuidei
dele com ternura. Arquitetei felicidades, inclusive visitar lugares ermos formosos por natureza. A gente amava esses recantos silenciosos, e nos
metamorfoseávamos em peixes, pássaros, insetos e árvores que tomam vinho tinto e
copulam em qualquer lugar sem ninguém à vista.
Antonio Nahud por Morvan
Ele,
eu, a máquina fotográfica e a beleza do mundo natural. Quase sempre de
motocicleta, desbravamos o Rio Grande do Norte e a Paraíba, conhecemos vistas preciosas em
boa parte do Nordeste, de cavernas ao Pico do Cabugi, de rios a matas. Sonhamos em
juntos investigar o Brasil profundo. Dezenas
de viagens minuciosas. Salvador, Lagoa Encantada, Lençóis, Chapada Diamantina,
Ilhéus, Maxaranguape, Boca do Rio, Galinhos, Gargalheira, Pedra da Boca,
Martins, Gostoso, Pipa, João Pessoa, Búzios, Extremoz, Una, Cunhaú, e muitas muitas
outras. Mil e uma aventuras lúdicas, sem traição, nem mesmo tentação.
O que
não podia suportar era aquele estado vulgar das coisas, aquela sufocante apatia
que lhes dava um ar de seres que se consomem num lento aniquilamento. Por
momentos, parecia esquecer-se de tudo. Mas eis que de repente, a um golpe ou a
um ruído, a angústia voltava a obsedar-lhe a alma. Ele não tinha sentidos senão
para sofrer e desejar inutilmente. Cansado das suas lutas estéreis, recostara a
cabeça e, cerrando os olhos, procurava sufocar o tumultuoso transbordamento do
coração.
LÚCIO CARDOSO
Bastava
andar por aí. Não ter pressa. Cada lugar era um filão. Estar sentado num bar
humilde, bebendo água de coco, e depois seguir o fio da meada que podia começar
numa palavra, num encontro, no amigo do amigo de uma pessoa com quem acabamos de nos encontrar, e o lugar mais insípido, mais insignificante, transformava-se
num espelho do mundo, numa janela aberta para a vida, num teatro da humanidade
diante do qual poderíamos deter-nos sem necessidade de ir a mais lugar nenhum.
O filão estava exatamente onde nós estávamos. Bastava abrir os olhos. Em
2011, meu aniversário, 13 de junho, deu-me fotografia emoldurada.
Impressionante composição de búzios, líquens, folhas mortas, raízes, sementes,
água-viva. Entre a imagem e o vidro de proteção, grãos de areia e conchas do
mar, soltos. Belíssimo. O meu romantismo
típico se assanhou de êxtase. No fundo do quadro, ele escreveu em
grafite:
Que
deste silente objeto
Surjam
leves asas
E que
estas voem em ti
A
poesia que quis
Mas
não tive.
Com
carinho.
Morvan.
Em
parceria, lançamos livros, exposições e a revista “Ícone - Turismo e Cultura no Nordeste”. “A Face Oculta” (dedicada pra mim), “Pequenas Histórias
do Delírio Peculiar Humano” (dedicado a ele), “Orbitarium”, “O Livro das
Revelações”. Arte planejada, discutida, consagrada em pleno sexo. Recitais
poéticos-musicais e festas temáticas. Focado na experimentação, entre 2010 e
2014 o artista registrou em suas lentes imagens intimistas, destacando a majestade
e a fragilidade do homem e da natureza.
Lutamos
por um projeto que não se realizou, a exposição fotográfica “Solipsismos”, representada
através de 35 fotografias, instalações e vídeo. De constituição afetiva, objetivava despertar uma
reflexão crítica acerca da sua temporada potiguar. Harmônico e impactante. Na
instalação “Orbitorium”, 9 fotografias suspensas equilibravam meus poemas,
raízes, folhas secas, pedras. MORVAN anotava
versos em pedaços de papel, colocando-os sigilosamente em objetos que eu
costumava utilizar. Ao calçar um sapato, encontrei um mimo de Manoel de Barros:
“As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis. Elas querem ser
olhadas de azul”. Eu me desmanchei. Ele sorriu.
Ao perceber que ele transformava realidades vivas em
nulidades moribundas, prudente, dispensava uma hora ou duas, vez em quando, para
analisá-lo. Coletei num baú imaginário seus medos e traumas. Guardo dezenas de fotos. Guardo páginas de filosofia clandestina. Conheço-o pelo avesso, observador além do visível, estudei o amado microscopicamente. Honrado em ter sido seu modelo oficial em centenas de fotografias. Nunca recusei seus convites. Completamente disponível a
participar da inquietação fotográfica de MORVAN. Debaixo d`água, desnudo,
dançando na praia, árvores, mafioso, série noir, homenagem a poeta Sylvia
Plath, torre de igreja, mar, rede, chuva, sol escaldante, madrugada, aurora,
árabe, morto, mascarado, intelectual. Autor dos meus melhores retratos. Também seu assistente, eu o
ajudava na sugestão de cortes e seleção de imagens.
Numa
noite, colou páginas de um velho livro no meu corpo inteiro. A face de fora, o resto colado.
A seguir, horas de fotos. Gentilmente, sem que eu pedisse, fotografou minhas
manifestações artísticas, de lançamentos de livros ao Título de Cidadão
Natalense. Em 2013 ganhamos prêmios, Troféu Cultura RN de Melhor Livro do Ano e
Melhor Exposição do Ano. Ficamos bastante felizes. Passamos semanas comemorando a dois. Possivelmente foi o clímax da nossa cumplicidade. Circulamos
por várias cidades nordestinas, de Aracaju a Fortaleza. Nossa arte generosamente
divulgada em jornais e blogs, programas de tevê, inclusive em Portugal. Sobre o seu trabalho escrevi “A Alquimia Fotográfica de Morvan”, uma das postagens mais
populares deste blog. Perdemos um grande artista! Um olhar arrebatador! Um mestre
da luz! Ele
marcou-me com amor e arte. Dois meses realizando uma serpente de
tampinhas no jardim da nossa casa. Pintou a parede da sala de delicados
arabescos abóbora. Colou pedras coloridas no banheiro.
A paisagem
era clariciana. Os dois amantes lendo, relendo, matutando. Segundo a moça
inominável, exata no seu mundo fragmentado: “Foi o apesar de que me deu uma
angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de
que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E
desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o
corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal
que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.” Mundo
redoma de vidro, impregnado com as impressões digitais de algum deus
desaparecido. Mundo excêntrico, parecido ao imaginário alucinado de Hieronymus Bosch. Isso vislumbrei
num sonho. Tomei essa imagem de empréstimo tão logo acordei e comecei a sentir
certo alento existencialista vindo do lugar abençoado onde a nossa arte se
recolhia. Do naipe de Rainer Maria Rilke, Samuel Beckett ou Albert Camus.
MORVAN gostava de me dar presentes. Ganhei exótica luminária, versos,
raízes, flores secas, pulseiras, desenhos, fotografias, livros, filmes, discos
etc. Levavam sua assinatura, sua criatividade, seu jeito de ser. E afeição sincera, suave, discreta. Plantou um maracujazeiro no jardim. Ele cresceu, imenso, dando frutos
e flores. Subimos em um aerogerador no Parque Eólico Rei dos Ventos, em Galinhos, onde
ele morreria meses mais adiante. 90 metros de altura. Uma arriscada peripécia. Essas
máquinas, dependentes do vento, transformam energia eólica
em elétrica.
Não
media palavras para falar de sentimentos e visões, entregando ao
amado, de forma aberta, meu pensamento e leitura do mundo. Entre nós, sexo todos os
dias. Anos a fio. Às vezes pela manhã e à noite. No chuveiro ou no quintal, na
chuva. Não me recordo de brigas ou discussões. Raros desentendimentos.
Havia respeito, querer bem. Ele sentia inesperadas dores de estômago ou de cabeça, feria-se, queimava-se. Eu o tratava com chás, massagens, boa
alimentação.
Neste capricho apaixonado, descobri sua incapacidade para
distinguir claramente entre a aparência e a substância, falta de aptidão
para o trabalho cotidiano, egoísmo, atitudes desordenadamente infantis e torpor mental (descartando o bom senso). A
montanha muito alta, em cima árvores resistentes, rochas, ventos e nuvens
cheias de imagens e cores, eu e ele, e sobre a planície distante as nuvens
dissolviam-se e não se via mais do que um mar de céu e de terra desolada que se
estreitavam num abraço apaixonado. O
infinito dentro de mim. Ele colaborou profundamente no mais íntimo. Viveu comigo muito tempo. É no infinito misterioso
que habitamos Deus… E mesmo despovoado, é ainda o lugar onde tiro força e
esperança.
Só se
pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a
gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na
loucura.
GUIMARÃES ROSA
“Grande Sertão: Veredas”
Nunca
deixamos de nos amar. Numa de suas mensagens, bastante recente, revelou-se: “Escrevo
do fim do mundo. É preciso que o saiba. Será que a vida na terra poderia
prosseguir sem o nosso amor? Ou será preciso que tudo trema sempre, sempre?”.
Profundamente emocionado, não respondi. Desconheço a resposta. O silêncio
sopra poesia. A vida prosaica insiste que é a mais forte; aliás, a vida
prosaica é o norte da maioria nessa bússola que nos guia pelos sete mares.
Eu, com minhas velas abertas para ventos que não sei bem de onde vem e para
onde me levam; ele, com seus remos afundados e seu sorriso irônico, à espera do
enigma que, talvez, possa ser um caminho para esse lugar nenhum onde seu deus
descansa depois da criação. Por trás de cada palavra esconde-se a alma, o hálito de ágeis movimentos e
o arremate arredio dos olhos que acompanham as linhas na telinha. O mundo se torna
um sonho nesses devaneios. Sonho que não sonho, mas que me leva adiante, a um
mar sem ondas onde um dia erramos o lugar de nossa fábula-encontro. O que era
uma bússola a guiar sonhos, hoje é apenas uma delicada concha talismã, e olhos
incômodos em enleios poéticos nesse mar azulado de saudade.
Ele morreu
em Galinhos, noite (assim acredito, não sei ao certo) de 07 de julho de 2016. Por livre e espontânea decisão maluca. O
sepultamento do corpo aconteceu no domingo, 10, no Cemitério Público Nova
Esperança, Conjunto Pirangi de Dentro, em Parnamirim (RN), às 10h00 da manhã. Visitarei sua última moradia em vida. Quero conhecer a casa em que
morreu, mergulhar no mar, caminhar descalço na praia em que ele caminhou. À
noite, farei fogueira e interpretarei poemas. Será o ritual de
despedida, depois da dor que quase mata.
Como
dizer a ele que já não havia tempo para tudo, que não havia tempo para cada
coisa preciosa? Eu podia ter dito que o (a)mar ainda é grande, e que talvez eu
não conseguisse me livrar da falta de ventos e, sem eles, jamais encontraria
qualquer possibilidade de atravessar mares simbólicos. E cada palavra se fazia
mais abstrata, e nenhum sopro lírico parecia dar conta das frases, e todos os
olhos carregavam olhares suplicantes. Por que insisti em não lhe dizer que
ainda o amava? Não penso mais em respostas e, tão logo termine de escrever o que logo
será público, volto a abençoar a velha solidão, uma velha saudade, o velho
mundo, o único em que ainda posso traçar, em palpitações ternas, sem mágoas,
perdoando, um destino de floresta e palavras em flor. Foi
lindo conhecê-lo, MORVAN
FRANÇA. Gratidão. Descanse
em paz, amado, vá ser estrela no firmamento. Valeu 2010, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015. Obrigado por tudo e desculpa por tudo: das bondades às saudades. Não é
novidade pra ninguém que toda escolha é, de alguma maneira, uma troca. É
preciso deixar alguma coisa para poder conquistar outra.
Seu
“eu é um outro” ainda brilha aqui e acolá em mim. De nada valem as letras que
tentam ignorar fantasmas. Talvez aqui espere pela próxima lufada de vento,
talvez aqui sejam despertas novas palavras com as quais inventar um novo
mundo, no qual vomite o desconforto existencial. Mas tudo
isso são conjecturas, como as sensações das palavras-passarinhos de Clarice: “Escrevo-te em desordem, bem sei. Mas é como vivo. Eu só trabalho com
achados e perdidos”. Só resta dizer... Eu te amo, MORVAN. Sinto pela partida brutal. E
fim. Do seu remetente
clariciado. Antonio.
Se MORVAN FOSSE...
UM LIVRO
“O Lobo da Estepe”
(Der Steppenwolf, 1927)
de Hermann Hesse
UM FILME
“Na Natureza Selvagem”
(Into the Wild, 2007)
de Sean Penn
ou
“Lavoura Arcaica”
(2001)
de Luiz Fernando Carvalho
UM CINEASTA
Andrei Tarkovski
UM ATOR
João Miguel
UMA CANÇÃO
“Aquarius”, do musical “Hair” (1979)
UM CANTOR
Ednardo
UMA CANTORA
Nina Simone
UMA BANDA
Morphine
UMA CIDADE
São João del-Rei (MG)
UM PAÍS
Irlanda
UM ESCRITOR
Clarice Lispector
UM POETA
Fernando Pessoa
UM PERSONAGEM
Hamlet
UM PINTOR
Francis Bacon
UM ARTISTA
Andy Goldsworthy
UMA COR
Cinza
UM FOTÓGRAFO
Pierre Verger
UM PÁSSARO
Colibri
UM INSETO
Libélula
UM ANIMAL
Dinossauro herbívoro
UMA FLOR
Flor de Maracujá
UMA ÁRVORE
Gameleira
POETIZANDO para MORVAN sob o olhar de HENRI MICHAUX
01
O coração é algodão e silêncio,
disse-me Henri Michaux.
disse-me Henri Michaux.
Silêncio que tudo imobiliza.
Silêncio de estrelas.
02
Posso dizer que o êxtase da viagem
ou da beleza ou da arte em cada esquina
me faz bem e os amo Amo as coisas
Amo a história o mistério e o olhar inspirado
03
Que faço eu aqui?
Chamo.
Chamo.
Chamo.
Não sei quem chamo.
Quem chamo não sabe.
Chamo alguém longe,
Alguém perdido longe,
Alguém de outro mundo.
O chamamento espanta-me.
Chamo ainda que seja tarde.
04
Amor na cidade golpeada pela história
amor encantamento
na ponte de pedra
no sino de bronze, no trem, no gótico
nos personagens que cantam em praças
no rio gordo de mistérios
amor de fio de seda
amor metafísico
amor nostálgico que faz sorrir
amor de larva eletrizada vindo morder à superfície
amor no charme discreto de Lampião
amor em falta pronto para avalanches
05
Aos filmes, aos filmes, aos filmes,
Semelhante à ilusão,
Semelhante ao sonho,
À lágrima vertida, à lua nova
À uma tarde de chuva
À invenções de Oshima e Truffaut
Ao cinema, em qualquer língua,
Sempre.
06
A terra fria é das carícias
do famoso e do ingrato
dos piratas e amantes
com dor ou dinheiro
tudo passa
tantos mortos levam consigo
livro que nunca escreveram
um amor sufocado
e num recanto de pedra
a solidão eterna
07
Preciso de arte, e beleza, é a minha saúde.
Preciso de uma cidade inventada,
com bosques de Sintra, luz de Barcelona,
intensidade de Paris e o céu de Natal.
Preciso dos passos ao vento, de um rio fogoso.
Preciso do consumo do silêncio.
A ignorância é sempre dura.
A violência é sempre dura.
A solidão é sempre dura.
Este é o reverso da medalha.
E não há nada a fazer.
08
Aqueles que são o farol-poesia
em torno
desova, isso,
isso desliza, vai, funde
refaz-se
a esperança
09
Rebenta pelos poros.
Em sensações, lâminas, cristal,
em jatos de saudade.
Cheio de floresta.
Cheio de ondulações.
Cheio de borboletas.
Cheio de chuva.
Acalentando o próprio coração.
10
Como se no meio da cidade
Na velocidade
Na saudade
Na maldade à toa
Nessa claridade, tanta coisa boa se desmancha
feito picolé ao sol
E feito picolé ao sol eu quero estar agora
Pra esquecer do mal que tá lá fora
Me esperando pra cobrar a taxa
11
Esta é a vida, a vida inspirada na beleza.
Se ela desaparece, procuro-me.
12
Aquele que meu coração ama
não encontra em lado algum
o incenso que de meus olhos rompe
ensinando a enxergar o indócil bem-querer
sabe que para todas as distâncias
há aves enlouquecendo de nostalgia
e a emoção entre os seus dedos ausentes
é a espada que os reis ungiam
enfrentando a ameaça das noites
em que tudo acorda
13
Vai sem mim, vida minha, vai.
Caminha invisível,
Até o outro lado da chuva.
E eu danço à beleza.
E assim digo adeus.
Nunca o persegui.
Não vejo bem o que existe em dádivas.
O pouco que desejo, nunca me traz.
Por causa desta falta aspirei a tanto.
A tantas coisas, ao infinito quase.
Por causa deste pouco que falta,
do pouco que nunca foi capaz de trazer.
14
Há, quase sempre,
uma voz a murmurar
por detrás
de outra voz
Há a realidade prateada
um berro dentro de mim
saudade medonha
um viver-desvivendo
Lá fora, constelações íntimas,
a luz solar, o sem nome
a palavra-passarinho
fagulhas no texto
Esta tarde reparei
o tempo no corpo
esperando e recordando
GALERIA de FOTOS
80 comentários:
Que beleza! Tô emocionada. Amor lindo... Parabéns pelo texto perfeito e belas fotos.
Perfeito...
Junior, querido! Li, com emoção, o seu texto. Amei. Chorei. Emocionante a descrição da sua relação com o mancebo que partiu!
Acredito que esse post foi uma catarse.
Abraços solidários!
"Eu amo tudo que foi / tudo o que já não é " (Fernando Pessoa)
Belo texto tirado do coração e alma!
Belos companheiros!
Você tem o dom de captar nossos sentimentos e transformá-los em palavras. Linda crônica, como todas que você escreve!
Que lindo. ...... iluminado ........ está no paraíso. .......... aguardando ..
Um homem bom a menos, um talento a menos, um ser de luz a menos. Muito triste...
Me sinto tão triste ......quando leio suas pastagem. .. sobre. .... haaa.... vem tempo. .
Vamos nos desprendendo da vida mais facilmente, quando o desejo de reencontrar entes muito queridos, que partiram, nos impele a segui-los.....
Mas o amor nos persegue até o fim e vamos aos tropeços cruzando outras vidas...
Que ele esteja em paz e que Deus suavize seu pranto, Antonio!
Amor e dor. Saudade e arte. Tristeza e criatividade. Profundidade e paixão. Existe essa conexão. Muito, muito bem!!
No meu ponto de vista esse rapaz nao fez tao bem a voce... Desejo pra vc. mais e melhores amores!!! Bjs IT.
Um grande artista. Um grande amor. Vcs tiveram seus momentos de felicidade. Pq a vida é feita de momentos felizes.
Com o tempo você pacificará sua dor e suas saudades. Tudo é infinito, amigo Menino Cigano. Sofra, enlouqueça de saudades até tudo ser transformado em serenidade de alma.
No dia q eu conseguir traduzir em palavras os meus sentimentos, da forma como vc faz (se isso um dia acontecer), serei mais feliz!
Concordo plenamente com o texto! Lindo! Amor pra mim são momentos mágicos de serenidade e contentamento, silêncios sagrados. Bjos
Belíssimo texto, Antonio Nahud II! Relato maravilhoso com texto, fotos poema e muito amor.
Esse último final de semana tive uma conversa entre amigos sobre exatamente isso: a partida de gente que a gente ama! Antonio sou seu fã, você põe no papel detalhes tão íntimos de tantas mil vidas. Coisas que não contamos nem a nós mesmos. Você é demais, parabéns pelo comovente post no blog.
Linda carta de despedida! Amor intenso e profundo!
Com tanto amor, com tanta dor se vai um grande amor.
Que deixou uma linda história de amor, que mesmo causando dor não deixou de ser amor.
E assim se foi e com ele levou a sua dor e seu amor.
Que lindo, amigo! O amor é eterno.
Os escritores são criaturas divinas que conseguem traduzir em palavras aquilo que a grande maioria nem pensa em conseguir. Tocam o amor com a delicadeza dos dedos. Tocam a plena felicidade finalmente decodificada. Você é uma dessas criaturas divinas. Parabéns.
Fiquei com lágrimas nos olhos. Texto muito sincero e comovente.
Meus sentimentos amigo, fiquei chocado era um menino do bem 😢
Obrigada por mais um momento de despedida do nosso amigo. Que ele descanse em paz e que nos encontremos, quem sabe. Que a sua arte encante a outros, em outros lugares, em outras vidas. Um beijo.
Nahud, meu mano, seu Amor por Morvan atinge em cheio nossas emoções e, por certo, permanece na essência do Morvan, sendo mesmo parte fundamental do que atravessará os tempos, para além da eternidade, e continuará sendo um gesto, uma paisagem, um sopro, uma expressão, algo que será sempre o Morvan. Nahud, meu mano, Amor não tem fim. Abraços.
JIVM
Uma bela história!Daria um belo filme!
Me comoveu.
Poxa... palavras não são suficientes pra dizer o quão rico e lindo é o texto, todos nós sentimos a grande perda, mas vc deve ter sido quem mais sentiu, de todos nós, meus sinceros pêsames um abraço! 😢 Fica com Deus meu amigo
Tudo que você faz é lindo,e eu entendo sua dor.você é uma pessoa maravilhosa e tenho certeza de que Deus te ilumina e sempre vai estar con você beijos amigo.
Seu trabalho é perfeito. Parabéns!!!! Leio sempre.
Quase sem palavras, meu amigo querido. Só posso dizer que valeu a pena porque a alma de vocês não foi pequena assim como o amor que um dia os uniu. Ele continua vivo, creia, só que em outro plano e vocês podem se encontrar nos sonhos e quando estiverem juntos de novo na patria espiritual.
Você consegue traduzir o amor em cada linha..sou seu fã.
Saudades!!!!
Não me canso de ler e reler...E que dor beber suas palavras, remoer sentimentos(talvez) parecidos de forma visceral...Que alegria ler, reler, constatar a profunda e pura forna de amar , Antônio Antonio Nahud! Como é bom ler você, viver e beber sua escritura poética mesmo que gritando - de forma dilacerada- a dor da morte e da saudade. Beijo em sua alma, Menino Cigano!
Linnndos.
Que texto maravilhoso. Aliás, maravilhoso como sempre!! Um abraço caloroso e toda minha gratidão. O seu blog é especial.
Aqui em Galinhos foi importante como professor, ajudou muito no colégio, os alunos o elogiava. uma pessoa muito educada. admirado por muitos
Obg realmente intrigador tal acontecimento uma pena ter sido poucos os momentos em que tive o prazer de sua companhia mas com certeza guardarei em minhas lembranças como algo que valeu muito a pena ter conhecido foi um imenso prazer a oportunidade que Deus me deu de ter conhecido pessoa como tal que Deus abençoe a família e amigos
Lindo lindo este texto! !@que privilégio meu poder ler e interiorizar estas palavras! !!
NAHUD, você tem a sutileza dos apaixonados e a clarividência dos que morejam nas experiências que passam sempre pelo seu olhar aquilinamente educado e educado. Deus lhe abençoe pelo banho poético que você propicia!!!!
Lindo de se ler, e de sentir . Acho que mores assim não são deste mundo. Não sei como se separaram, mas nota-se que foi só fisicamente.
Sobre video, não consegui ouvir o som das suas vozes.
Belíssimo texto!! Parabéns!! Amor é tudo e mais um pouco.
Um belo texto sobre o amor, na sua mais variada forma. Perfeito como sempre. Impossível não amar a sua escrita. e
Morvan? O que dizer sobre....
Gênio, artista, prodígio, um ser humano que estava muito à frente de nós deste século.
Como primeiro amigo de colégio em 1999 foi uma pessoa muito especial para mim e acredito, para muita gente. Minha experiência com Morvan é que foi uma das pessoas mais fáceis, fascinante e incrível em fazer arte. Seu jeito ranzinza e às vezes caótico (rs...) fazia com que tudo que tocava se transformava em arte! Definitivamente, um gênio! Tinha esta arte “científica” de amor pelos desenhos, fotografias, quadros, música. Lembro que em tempos de colégio ele não funcionava na mesma órbita que os demais, por isso era genial!
Deixo aqui minha singela homenagem a alguém que sempre fui fã!
Espero um dia poder encontra-lo novamente, meu amigo, para filosofarmos e compartilhar dos teus mágicos desenhos!
Morvan era lindo, continua sendo! O olhar é infinitamente repleto de estrelas! O amor é eterno... Seu texto é maravilhoso! Meu abraço e meu olhar em gratidão às estrelas...
Emocionante homenagem. Realmente , não separamos, apenas estamos em planos diferentes dos nossos entes queridos. Uns partem para Pátria Espuritual antes de nos.
Luz!!!
Chorando.
Muita luz para os dois.
Reviver um entre querido é dar-lhe a merecida eternidade...🌺
Hoje é Estrela brilhante vivendo noutro plano.
MUITA LUZ🙏
Que lindo! Triste ver alguém tão jovem e talentoso partir assim! Suas palavras são tão doces e sublimes que até mesmo a dor de uma partida tão prematura se torna poesia. Meus pêsames, minha admiração.
Gostei da sua evolução Antonio Júnior, evolução do nome e da visão ampla da vida no campo literário, material e espiritual. Bem, A BELEZA continua a mesma.
Linda homenagem!
Tá recente...deve te doer muito ainda né? Mas o amor verdadeiro nunca morre! Lindas palavras. Lindo gesto de amor.
Sei da dor, sei do amor, sei da saudade, sei, sei, sei.... Sei que não sabemos de nada, não sabemos do amanhã, graças a Deus. Por isso, vivamos um dia de cada vez, intensamente!
Viva essa homenagem e todas outras, como sempre fez....
Texto lindo. Como sempre, emocionou-me, Menino!
Eres uma fera, um diamante. Admiro-te! Abç carinhoso.
Que linda lembrança.
Ta no céu!
🍸, triste e emocionante!
Belissima homenagem!
Meu poeta, essa linhas e texto foram escritos com a caneta do seu coração..Linda homenagem para alguém que lhe foi muito caro...
Amo, amo, amo. Cada uma de suas linhas, poeta, é uma viagem para dentro de um universo único e mágico. Para dentro de nós mesmos. A estrada de seus textos é sempre uma grata surpresa, super querida. Obrigada.
Fiquei emocionada, não o conhecia...Que linda homenagem,
Quanto sentimento, que amor verdadeiro e simples.
Como vcs se completavam.
Me emocionei ao ler tudo que você viveu e compartilhou.
Homenagem linda e amor profundo.
Continue amando a vida e saiba o que vocês viveram poucos irão viver.
Alma linda 😚😚😚
Quase certo que ele voltará Antonio Nahud. Nossas preces por sua paz.
Quanta sensibilidade! Emocionante.
Texto emocionado e sensível e fotos espetaculares!!!
Lindo e emocionante texto.
Lindo texto, Poeta, qto lirismo! O amor tem dessas coisas... É tanta poesia!!!
Que muita Luz envolva o Morvan ! Acompanho mensalmente seus textos sobre Morvan , todos lindos . Muita Paz para vc .
Encantada!
Que belo texto..que emoção..tanto anor...tanto amar...
Vc é. Especial.......
Deus os abençoe!
Maravilha de relato. Me emocionou profundamente. Morvan foi meu colega de universidade. Uma figura do bem. Paz para a sua alma.
Que maravilha! Que comovente história de amor!
Texto maravilhoso. Me emocionei profundamente. Li e reli. Saudades do Morvan, era um ser do bem, misterioso, incompreendido. Faz falta.
Há, como posso dizer... Ele era o "espelho do meu futuro".
Pode parecer estranho. Talvez esse nunca desconfiou, mas eu carregava o mesmo fardo que ele. Porém, eu não tentei subverter a ordem natural das coisas. Só dei tempo ao tempo.
Coisa que ele nunca soube lidar.
Lembro de vários fatos, mas um que achei curioso foi a impaciência dele de ir cortar o cabelo.
No caso, ele buscava um lugar para aparar o cabelo.
Descreverei o clima do dia:
- fazia sol e o ar parecia meio "abafado".
- era verão, ou seja, do nada chovia.
Continuando:
Nesse dia eu que o admirava, mas não sexualmente falando. Admirava o seu jeito de parecer ser elegante, inteligente, etc.
Me lembro que ele andava super empinado e deixava um breve ar de ambiguidade ao andar. Não parecia que ele queria ser feminino nem masculino. Era um jeito único.
Por mais engraçado que seja nesse dia eu adotei o modo dele de andar. Isso, pois acreditava que se fizesse como ele talvez conseguiria trilhar caminhos semelhantes. kkkkk
Quando ele decidiu sair em "busca do barbeiro/cabelereiro", eu que também precisava cortar o cabelo aproveitei e o acompanhei. Isso foi bom, pois o meu contato com ele era muito escasso. Quase nunca surgia um assunto que ambos gostasse. Era bem distante e frio o nosso relacionamento. Parecia que nem pertencíamos a mesma família.
Em fim, ao esperarmos lá no cabelereiro na fila enorme que havia. Eu percebi que ele não conseguia esperar se quer 30 minutos sem ficar inquieto ou nervoso por ter que esperar. Achei muito estranho.
Ele pegou e me disse:" ou eu não vou ficar aqui esperando não, vou nesse salão do lado, vc vai ficar mesmo ai?!"
Dai eu disse: " vou, nem passou 1h e esse do lado não é muito bom e eu acho ele porco".
Morvan: "tá".
E tipo, pegou e saiu. Andando...
Não sei vocês, mas eu fiquei assim... Ele não vai tentar me convencer?! Sei lá me fazer entender que não compensa, mas o que era mais tenso é que ele nem se quer se importava. Contudo, na época eu não tinha percebido isso. E fiquei meio que desolado e fui atrás dele.
Chegando no Salão:
O cara cortou o cabelo dele super rápido.
Em seguida veio cortar o meu. Foi horrível... O cara cortou meu cabelo todo torto. E para piorar o do Morvan ficou perfeito. Só o meu que ficou todo cagado.
Dai pode parecer que ele esperou e tals, mas não... No meio do corte o Morvan fala: " vc tem dinheiro ai?!
Dai eu disse: " tenho, mas pq?!"
Morvan: "Eu estou sem trocado e estou com fome. Quero comprar umas coxinhas".
Dai na maior boa vontade eu dei 5 reais, mas dai pensei. Nossa... 5 reais não dá para nada.
E falei, ou pega mais 20.
A resposta foi meio engraçada: "eu tenho dinheiro, só não tenho trocado".
Foi tenso... Fiquei meio sem entender o pq da raiva dele. Quase sempre que eu conversava com ele notava que ele sempre estava com raiva. Parecia se sentir incomodado com algo o tempo todo.
Esse dia foi muito longo, andamos longas distâncias, conversamos, falamos um monte de coisa doida e no meio disso ele me disse: " há sei lá se um dia eu morrer, eu não quero que as pessoas deixem de viver suas vidas e fiquem se lamentando por mim. Seria muito triste se isso acontecesse". Tentei argumentar, mas ele não ligou. E logo começou a falar de livros. E eu fui ficando entediado...
Caso por um acaso aleatório alguém leia esse comentário, eu sou um dos muitos primos que rangeram e se desgastaram com os anos ao não ter notado que o Morvan sofria em segredo e quase sempre tinha nojo de não se auto entender.
Hoje, ainda não entendo o pq de se matar. Se morrer fosse tão libertador deveria ser bonito, mas o fim é feio e escroto. Quase sempre...
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