antonio nahud em paris, 2017 |
Fotografias:
ANTONIO NAHUD
e NUNO CASIMIRO
“Paris é
uma festa”, escreveu Ernest Hemingway. Para diversos
escritores, Paris era uma festa que parecia não acabar nunca, resultando em muitos
romances que se passam na Cidade Luz. Conhecida por seus cafés inesquecíveis,
lugares históricos e pontes com um visual de tirar o fôlego, a capital francesa
é considerada uma das mais lindas cidades do mundo. A cidade
encantada da Catedral Notre Dame, do Museu do Louvre, do Hotel Le Meurice, do
restaurante Le Polidor, do Maxim’s, do bairro de Montmartre, da Avenida
Champs-Elysées, do Café des Deux Moulins, do Rio Sena, da Ópera Garnier, do
Museu d’Orsay, da Place Vendôme, das Galeries Lafayette, e, é claro, dos
Jardins de Versailles.
Eu sou um
grande fã de PARIS. Estive por lá inúmeras vezes, a primeira em 1999 e a mais
recente em 2017. Relendo contos de F. Scott Fitzgerald (1896 -
1940), um dos meus escritores favoritos (li toda a sua obra!), bateu uma
saudade danada de Paris e parti para este texto. O título é uma homenagem a
tradução em português de um filme da Metro-Goldwyn-Mayer baseado em um conto deste escritor norte-americano. “Babilônia Revisitada / Babylon Revisited”, de 1931, fala
de um rico homem de negócios, que encontra o amor de sua vida em PARIS e juntos
vivem numa eterna farra. Até que a tragédia bate na sua porta.
Um poderoso
conto de apenas 25 páginas, narrado em flashback. No presente, o protagonista
havia perdido sua fortuna e volta a PARIS dois anos após a morte da esposa, na
tentativa de resgatar a filha que está com uma cunhada nada amigável. No Ritz, melancólico,
ele relembra seus dias de festas e o casamento com a bela Helen. Muito do conto
é baseado nas próprias experiências do autor, envolvendo sua filha, sua cunhada
e o marido dela. Quando Zelda, esposa de Fitzgerald, teve um colapso nervoso e
foi internada em um sanatório, sua irmã decidiu que o cunhado não
estava apto para criar a filha e a adotou.
Fitzgerald
nasceu em Minnesota, nos Estados Unidos. Em 1911, com treze anos, ele viu
impresso, na revista de estudantes da Academia de Saint Paul, sua história
policial “O Mistério da Hipoteca de Raymond / The Mystery of the Raymond
Mortgage”. Em 1919, escreveu 19 contos e recebeu 122 rejeições de revistas. Após alguns meses, reescreveu um romance, o
qual renasceu com o título “Este Lado do Paraíso / This Side of Paradise”, uma trama
sobre amor e ganância. Publicado em 1920, recebeu excelentes críticas, transformando
Fitzgerald, aos 24 anos, num dos jovens escritores mais famosos e promissores
do país.
Com o
sucesso, surgiu um estilo de vida extravagante. Rapidamente se casou com Zelda
e foi então que passaram a ser conhecidos pelas suas festas sem limites. Ela
era cativante e sedutora, e Fitzgerald ciumento, iniciando-se uma vida a dois
problemática. Ambos estimavam o prazer como o principal objetivo das suas
vidas. Em 1920, foi publicada a sua primeira coletânea de contos, “Melindrosas
e Filósofos / Flappers and Philosophers”, que recebeu críticas divergentes. Dois
anos mais tarde, um segundo livro de contos, intitulado “Contos da Era do Jazz /
Tales of the Jazz Age” (1922).
O seu
segundo romance, “Belos e Malditos / The Beautiful and Damned”, publicado em 1922,
ajudou a consolidar o prestígio literário. Relata a história de um jovem e da
sua bela esposa, que esperam pela herança de uma enorme fortuna, e quando esta
finalmente chega, já existe pouco deles próprios que valha a pena preservar.
Tal como muitos dos seus trabalhos, reflete elementos autobiográficos do autor
e da vida ao lado de Zelda. Durante o ano de 1923, o alcoolismo de Fitzgerald
veio a tona, resultando em discussões com Zelda e intermináveis noites de bebedeira.
Ele temia
o mesmo destino das personagens de “Belos e Malditos”, e por isso, em 1924,
para escapar a tão receado fim, mudou-se para a Riviera Francesa com a família.
Em PARIS, encontrou fontes de inspiração, completando o seu mais brilhante romance,
“O Grande Gatsby / The Great Gatsby” (1925). Este seria um dos seus mais
valorizados trabalhos, no qual descreve a Era do Jazz, em toda a sua exuberante
extensão, como um período propenso para o amor, o dinheiro e o
“sonho americano”, temas que aborda criticamente.
Apesar do
sucesso de “O Grande Gatsby”, foi só a partir dos anos 50, muito tempo após a
morte do autor, que passou a ser reconhecido como um dos melhores romances
norte-americanos. Ainda na Riviera, os Fitzgerald fizeram amizade com Gerald e Sarah
Murphy, um casal que, fruto de uma herança, vivia de forma luxuosa. Eles foram
modelos para Dick e Nicole Diver em “Suave é a Noite / Tender Is the Night”. Em
1926 foi publicada a terceira coletânea de contos do autor, “Todos os Jovens Tristes
/ All the Sad Young Men”, recebendo críticas favoráveis. Nos oito anos que se
seguiram não seria publicada outra obra literária.
Bebendo
de forma desesperada, Fitzgerald tornava-se por vezes abusivo, e Zelda
comportava-se frequentemente de forma tempestuosa. Acabavam brigando publicamente.
Em 1926, distanciados, voltaram para os Estados Unidos. Fitzgerald continuou a escrever
histórias que exploravam os problemas maritais e a influência da Europa nos norte-americanos.
Entre elas, “Babilônia Revisitada”, que remete para o contexto histórico, econômico e social em que viveu.
Depois de
“O Grande Gatsby”, a vida de luxo do escritor ficou marcada pelo alcoolismo,
por longas crises de bloqueio criativo e pela esquizofrenia da esposa, que em
1930 sofreu um colapso nervoso e acabou por ser hospitalizada, passando os anos
seguintes recebendo tratamento em diferentes clínicas em PARIS e na Suíça.
Durante este período, ele vivia entre as duas cidades, e a filha Scottie ficava
com uma governanta em PARIS. Para financiar o tratamento de Zelda, escrevia
contos para revistas, uma vez que ele não conseguia ganhar dinheiro tão
rapidamente como o gastava. Com a recuperação, ainda que temporária, de Zelda,
regressam aos EUA.
Em 1932, Zelda
sofreu um segundo colapso, seguido de um terceiro, dois anos mais tarde,
prolongando a sua situação de internamento. “Suave é a Noite” (1934), o seu
último livro publicado, é sobre um psiquiatra em PARIS, nos anos 20, e o seu casamento
conturbado com uma paciente rica cuja lenta recuperação esgota a sua vitalidade. Fracassou comercialmente, talvez pela estrutura cronológica
desordenada, mas ganhou reputação ao longo do tempo, tornando-se num dos
seus trabalhos mais conhecidos e comoventes.
O
dinheiro que recebeu com a venda de “Suave é a Noite” não resolveu os problemas
financeiros e Fitzgerald viu-se obrigado a continuar com a escrita de contos, publicando
a sua quarta coletânea. “Toque em Reveille / Taps at Reveille” (1935) recebeu
críticas sobretudo positivas e é nele que se vê impresso o conto “Babilônia
Revisitada”. Entre 1935-37, o escritor encontrava-se muitas vezes doente e
alcoolizado, e possuía imensas dívidas. Este período ficou conhecido como “O
Colapso / The Crack-Up”, tal como o ensaio que escreveu em 1936 no qual analisa
a sua própria falência emocional.
Durante
os anos que se seguiram, as hospitalizações de Zelda levaram Fitzgerald a
perder a esperança e desistir de viver ao lado dela, deixando-a e partindo para
Hollywood em 1937, para trabalhar na indústria cinematográfica. O contato com a
esposa manteve-se, ocasionalmente, através de visitas, enquanto a relação com a
filha seguia através de cartas, uma vez que esta foi para um colégio interno. Apesar
do seu envolvimento com a indústria cinematográfica, nomeadamente na
Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), ele não se sentia parte da cultura “de sonhos” de
Hollywood. O seu esnobismo literário fazia da relação com o mundo do cinema
algo tenso e desdenhoso que, não obstante, era uma relação de dependência.
Nos anos
que se seguiram, ele lutou contra a depressão e o alcoolismo, e tentou renovar
a sua carreira literária, alcançando algum sucesso econômico como roteirista e
críticas positivas. Em Hollywood, apaixonou-se por Sheilah Graham, uma
colunista social famosa, com a qual viveu serenamente o resto da sua vida,
ainda que em certas ocasiões se tornasse inconveniente devido a embriaguez.
Depois da MGM o despedir, trabalhou como roteirista freelance e
escreveu contos para a “Esquire”, acabando, em 1939, por ser hospitalizado
devido a problemas de saúde relacionados com o consumo de álcool.
Em 1939 iniciou
um romance sobre Hollywood, “The Love of the Last Tycoon”, o qual permaneceu
incompleto devido à sua morte a 1 de dezembro de 1940, aos 44 anos. O
manuscrito da obra foi editado por Edmund Wilson, amigo de Fitzgerald e crítico
do trabalho do autor, resultando na publicação em 1940, sob o título “O Último
Magnata / The Last Tycoon”, que recebeu críticas positivas. O escritor faleceu
devido a um ataque cardíaco, acreditando-se um fracasso. No entanto, tornou-se
um dos autores mais celebrados da literatura norte-americana, em
grande parte como consequência do sucesso póstumo de “O Grande Gatsby”.
Escreveu
cerca de 160 contos, ensaios e artigos, entre eles “Babilônia Revisitada”, que trata
da relação entre passado, presente e futuro, entre arrependimento e mágoa e
entre o dinheiro, o amor, e a procura de redenção. Escreveu este
conto após o colapso nervoso de Zelda, em 1930, e é através de
Charlie Wales, que tenta se redimir dos seus excessos. A obra explora a vida glamorosa dos norte-americanos em PARIS na década de 20, através da retrospectiva
crítica e nostálgica acerca deste período. Confira:
A ÚLTIMA
VEZ que VI PARIS
F. Scott
Fitzgerald
Tradução
de Ruy Castro
I
E onde
está o senhor Campbell?”, perguntou Charlie.
“Foi para
a Suíça. Ele está muito doente, senhor Wales.” “Que pena. E George Hardt?”,
continuou Charlie. “Voltou para a América, para trabalhar.” “E que fim levou o
Pássaro da Neve?” “Esteve aqui na semana passada. O amigo dele, senhor
Schaeffer, está em Paris.” Apenas dois nomes familiares numa longa lista de um
ano e meio antes. Charlie rabiscou um endereço em seu bloco e rasgou a página.
“Se encontrar o senhor Schaeffer, dê-lhe isto”, disse. “É o endereço de meu
cunhado. Ainda não me instalei num hotel.” Na verdade, não estava desapontado
por encontrar Paris tão vazia. Mas o marasmo no bar do Ritz era estranho e
imponente. Já não era um bar americano — sentia-se elegante ali, e não como se
fosse o dono. Era um bar que voltara a pertencer à França. Pressentiu o marasmo
assim que desceu do táxi e viu o porteiro, antes em frenética atividade àquela
hora, fofocando com um chasseur na porta dos empregados. Ao passar pelo
corredor, ouviu apenas uma única voz entediada, vinda da toalete feminina, em
outros tempos tão ruidosa. Quando se encaminhou para o bar, atravessou os seis
metros de carpete verde com os olhos fixos à frente, por força de hábito;
depois, com o pé plantado no batente da porta, virou-se e contemplou a sala,
encontrando apenas um par de olhos que surgiu por cima de um jornal, num canto.
Charlie perguntou pelo barman Paul, que, nos últimos dias de alta na Bolsa,
vinha para o trabalho em seu carro fabricado sob medida — só que, educadamente,
desembarcando na esquina mais próxima. Mas Paul estava hoje em sua casa de
campo, e era Alix quem lhe passava as informações. “Agora chega”, disse
Charlie. “Ando devagar, esses dias.” Alix felicitou-o. “O senhor estava
exagerando na dose há uns dois anos.” “E pretendo continuar devagar”, Charlie
assegurou-lhe. “Já estou assim há um ano e meio.” “Como estão as coisas nos
Estados Unidos?” “Há meses que não vou à América. Estou com uns negócios em
Praga, fazendo umas representações. Eles não me conhecem por lá.” Alix sorriu.
“Lembra-se da noite da despedida de solteiro de George Hardt?”, disse Charlie.
“Por falar nisso, que fim levou Claude Fessenden?” Alix baixou o tom de voz
para uma confidência: “Está em Paris, mas não vem mais aqui. Paul não permite.
Deixou uma conta de trinta mil francos, pendurou todos os drinques e almoços, e
quase sempre o jantar, durante mais de um ano. Quando Paul finalmente lhe disse
que ele tinha de pagar, Fessenden deu-lhe um cheque sem fundos”. Alix sacudiu a
cabeça com tristeza. “Não entendo isso, um sujeito tão bacana. Agora está todo
inchado...” Suas mãos estão redondas como uma maçã. Charlie observou um grupo
de mulheres estridentes instalando-se num canto. Nada as afeta, pensou. As
ações sobem e descem, as pessoas vadiam ou trabalham, mas elas continuam
firmes. O lugar o oprimia. Pegou os dados e apostou um drinque com Alix.
“Chegou há muito tempo, senhor Wales?” “Há uns quatro ou cinco dias, para ver
minha garotinha.” “Ahhh... O senhor tem uma filha?” Lá fora, os neons
vermelho-fogo, azul-gás e verde-fantasma piscavam enfumaçados através da chuva
tranqüila. Era um fim de tarde e as ruas estavam vivas; os bistrôs refulgiam.
Na esquina do Boulevard des Capucines, tomou um táxi. A Place de la Concorde se
movia em rósea majestade; cruzaram o Sena, e Charlie sentiu a súbita atmosfera
provinciana da Rive Gauche. Charlie mandou o táxi seguir pela Avenue de
l’Opéra, que estava fora de seu caminho. Mas queria ver a hora azul se espalhar
sobre a magnífica fachada e imaginar que as buzinas dos táxis, tocando
interminavelmente os primeiros compassos de “La plus que lente”, eram os
trompetes do Segundo Império. O portão de ferro da livraria Brentano estava
sendo fechado, e as pessoas já começavam a jantar atrás da bem aparada
cerca-viva do Duval. Ele nunca jantara num restaurante barato em Paris — jantar
com cinco pratos, a quatro francos e cinqüenta, mais dezoito centavos se
houvesse vinho incluído. Por alguma razão, gostaria de ter experimentado. Ao
rodar pela Rive Gauche e sentindo seu súbito provincianismo, pensou: Estraguei
esta cidade para mim. Eu não percebia, mas os dias foram correndo, um atrás do
outro, dois anos se passaram e tudo acabou, inclusive eu. Ele tinha trinta e
cinco anos e boa aparência. A mobilidade irlandesa de seu rosto era
contrabalançada por uma ruga profunda entre os olhos. Ao tocar a campainha da
casa do cunhado na Rue Palatine, a ruga se aprofundou até repuxar suas
sobrancelhas; sentiu uma espécie de cãibra no estômago. Por trás da empregada
que lhe abriu a porta, surgiu uma adorável garotinha de nove anos que gritou
“Papai!” e voou, debatendo-se como um peixe, para dentro de seus braços. Ela
puxou a cabeça dele por uma orelha e colou seu rosto ao do pai. “Minha
gatinha.” “Ah, papai, papai, papai, papai, pápi, pápi, pápi!” Ela o conduziu à
sala, onde a família o esperava, um menino e uma menina da idade de sua filha,
sua cunhada e o marido dela. Cumprimentou Marion com voz cuidadosamente
modulada, para não demonstrar nem desprazer nem fingido entusiasmo, mas a
resposta dela foi francamente morna, embora suavizasse sua expressão de
inalterável desconfiança concentrando seu olhar na criança. Os dois homens
deram-se as mãos de maneira amistosa e Lincoln Peters descansou a sua por um
momento no ombro de Charlie. O aposento era acolhedor e confortavelmente
americano. As três crianças se moviam com intimidade por ali, brincando sobre
os retângulos amarelos que levavam aos outros quartos; a animação das seis
horas manifestou-se nos estalos ansiosos da lareira e nos sons de azáfama
francesa na cozinha. Mas Charlie não relaxava; seu coração mantinha-se rígido
dentro do corpo e ele só absorvia confiança de sua filha, que de tempos em
tempos chegava-se a ele, segurando nos braços a boneca que ele lhe trouxera.
“Extremamente bem”, declarou em resposta a uma pergunta de Lincoln. “Há muitas
empresas por lá estagnadas, mas a nossa vai melhor do que nunca. Bem demais, na
verdade. No mês que vem, vou trazer minha irmã dos Estados Unidos para me
ajudar na casa. Meu rendimento no ano passado foi maior do que no tempo em que
tinha dinheiro. Sabe, os tchecos...” Sua gabolice tinha um propósito
específico; mas, em pouco tempo, ao sentir alguma impaciência nos olhos de
Lincoln, mudou de assunto: “Belas crianças você tem, bem-educadas, bons modos.”
“Honoria também é uma menina e tanto.” Marion Peters voltou da cozinha. Era uma
mulher alta, com olhos preocupados, que no passado exibira uma fresca beleza
americana. Charlie nunca fora sensível a ela e sempre se surpreendia quando as
pessoas comentavam como tinha sido bonita. Desde o começo houvera uma antipatia
instintiva entre eles. “Bem, o que achou de Honoria?”, ela perguntou. “Maravilhosa.
Estou espantado em ver como cresceu nesses dez meses. Todas as crianças me
parecem muito bem.” “Não recebemos um médico em casa há um ano. Que tal estar
de novo em Paris?” “É engraçado ver tão poucos americanos por aqui.” “Estou
achando ótimo”, disse Marion com veemência. “Agora, pelo menos, já se pode ir a
uma loja sem ter de fazer pose de milionário. Sofremos como todo mundo, mas,
num todo, agora está muito mais agradável.” “Mas foi bom enquanto durou”, disse
Charlie. “Éramos uma espécie de realeza, quase infalíveis, com uma aura de
magia. No bar, esta tarde”, hesitou, percebendo seu erro, “não havia ninguém
que eu conhecesse.” Ela o olhou com ar penetrante. “Achei que já tivesse se
fartado de bares.” “Só fiquei um minuto. Tomo um drinque todas as tardes, não
mais que isso.” “Não quer beber alguma coisa antes do jantar?”, perguntou
Lincoln. “Tomo apenas um drinque à tarde, e já tomei o de hoje.” “Espero que
você se limite a isso”, disse Marion. Seu desprazer era evidente na frieza com
que falou, mas Charlie apenas sorriu; tinha planos mais importantes. A
agressividade de Marion dava-lhe uma vantagem, e ele sabia esperar. Queria que
eles tomassem a iniciativa de discutir o que o trouxera a Paris. Durante o
jantar, não conseguia se decidir sobre se Honoria se parecia mais com ele ou
com a mãe. Seria uma sorte ela não combinar os traços de ambos que os tinham
levado ao desastre. Uma grande onda protetora o acometeu. Pensou que sabia o
que fazer por ela. Acreditava em personalidade; se pudesse, daria um salto para
trás, sobre toda uma geração, e voltaria a confiar na personalidade como um
elemento eternamente valioso. Tudo se desgastara. Saiu logo depois do jantar,
mas não foi para casa. Estava curioso por ver Paris à noite, com olhos mais
claros e lúcidos que os de outros tempos. Comprou um strapontin para o Casino e
foi ver Josephine Baker fazer seus arabescos de chocolate. Uma hora depois foi
embora e caminhou na direção de Montmartre, subindo a Rue Pigalle até a Place
Blanche. A chuva parara e havia algumas pessoas em roupas de noite,
desembarcando de táxis em frente aos cabarés, e cocottes desfilando sozinhas ou
em pares, e muitos negros. Passou por uma porta iluminada da qual brotava
música e parou ali, com uma sensação de familiaridade; era o Bricktop’s, onde
já perdera muitas horas e muito dinheiro. Algumas portas à frente, descobriu
outros antigos rendezvous e, imprudente, pôs a cabeça para dentro.
Imediatamente uma ansiosa orquestra começou a tocar, uma dupla de dançarinos
profissionais atirou-se a seus pés e o maître veio correndo, gritando: “A turma
já está vindo, senhor!”. Mas ele se retirou no ato. Só mesmo muito bêbado,
pensou. O Zelli’s estava fechado e os sinistros e desolados hotéis ao redor
estavam escuros; subindo a Rue Blanche, havia mais luz e um grupo coloquial de
franceses do bairro. A Poet’s Cave desaparecera, mas as duas grandes bocas do
Café of Heaven e Café of Hell ainda bocejavam, ou devoravam, como ele percebeu,
o magro conteúdo de um ônibus turístico — um alemão, um japonês e um casal de
americanos que olhou para ele com ar amedrontado. Já se fartara do afã e da
inventividade de Montmartre. Constatou que, ali, a oferta de vício e
extravagância se dava numa escala tremendamente ingênua, e só então se deu
conta do significado da palavra “dissipar” — dissipar no ar; transformar
qualquer coisa em nada. Às altas horas da madrugada, cada deslocamento de um
lugar para outro era um gigantesco salto humano, e pagava-se um preço cada vez
mais alto pelo privilégio de movimentos mais e mais lentos. Ele se lembrou das
notas de mil francos dadas a orquestras para tocarem uma única canção, das
notas de quinhentos francos atiradas a porteiros por terem chamado um simples
táxi. Mas esse dinheiro não tinha sido em vão. Mesmo as quantias mais loucamente
desperdiçadas haviam sido dadas como oferenda ao destino, para que ele se
lembrasse das coisas que realmente mereciam ser lembradas, coisas de que ele
agora sempre se lembraria — sua filha sendo tirada dele, sua mulher, que fugira
para um túmulo em Vermont. No fulgor de uma brasserie, uma mulher dirigiu-se a
ele. Ele lhe pagou alguns ovos e café, e, evitando seu olhar cheio de
promessas, deu-lhe uma nota de vinte francos e tomou um táxi para o hotel.
II
Ao
acordar, era um belo dia de outono. A depressão da véspera passara e ele gostou
das pessoas nas ruas. Ao meio-dia, sentou-se com Honoria no Le Grand Vatel, o
único restaurante que não associava a jantares com champanhe e longos almoços
que começavam às duas e terminavam num vago e borrado crepúsculo. “E agora, que
tal alguns legumes? Você não devia comer legumes?” “Não sei, acho que sim.”
“Então, aqui temos épinards e chou-fleur e cenouras e haricots.” “Eu quero
chou-fleur.” “Não prefere dois legumes diferentes?” “Todo dia só como um no
almoço.” O garçom fingia gostar muito de crianças. “Qu’elle est mignonne la
petite! Elle parle exactement comme une française.” “E a sobremesa? Vamos
esperar para ver?” O garçom desapareceu. Honoria olhou para o pai com ar
expectante. “O que vamos fazer?” “Primeiro, vamos àquela loja de brinquedos na
Rue Sainte-Honoré, comprar o que você quiser. Depois vamos a um show de
vaudeville no Empire.” Ela hesitou. “Gostei da idéia do vaudeville, mas não da
loja de brinquedos.” “Por que não?” “Porque você já me trouxe esta boneca.” Ela
estava com a boneca. “E já tenho muitos brinquedos. E não somos mais ricos,
somos?”
“Nunca
fomos, querida. Mas hoje você pode ganhar o que quiser.” “Está bem”, ela
suspirou, resignada. Quando havia sua mãe e uma babá francesa, ele tendia a ser
rigoroso; agora ele se expandia e tentava exercitar uma nova tolerância; tinha
de ser pai e mãe para ela, e não fechar nenhum canal de comunicação. “Quero
conhecê-la melhor”, disse, com voz grave. “Primeiro, permita que eu me
apresente. Meu nome é Charles J. Wales, de Praga.” “Ah, papai!”, ela caiu na
risada. “E quem é a senhorita?”, ele insistiu, e ela aceitou o papel
imediatamente: “Honoria Wales, Rue Palatine, Paris”. “Casada ou solteira?”
“Não, casada não. Solteira.” Ele apontou para a boneca. “Mas vejo que tem uma
criança, madame.” Sem querer perdê-la, puxou a boneca contra o peito e pensou
rápido: “Sim, já fui casada, mas não estou casada agora. Meu marido morreu”.
Ele continuou depressa: “E qual é o nome da criança?” “Simone. Em homenagem à
minha melhor amiga na escola.” “Fico satisfeito de saber que está indo bem na
escola.” “Fiquei em terceiro lugar este mês”, ela se gabou. “Elsie”, esta era
sua prima, “ficou em décimo oitavo e Richard foi um dos últimos.” “Você gosta
de Richard e Elsie, não gosta?” “Ah, sim, gosto muito de Richard e gosto dela
também.” Com cuidado, e casualmente, ele perguntou: “E tia Marion e tio
Lincoln... de quem você gosta mais?” “Ah, do tio Lincoln, acho.” Ele estava
cada vez mais tomado por sua presença. Ao entrarem, um murmúrio de “Que linda!”
os seguira, e agora as pessoas na mesa ao lado dedicavam seus silêncios a ela,
admirando-a como se fosse algo não mais consciente que uma flor. “Por que eu
não moro com você?”, perguntou Honoria. “Porque mamãe morreu?” “Você precisa
continuar aqui e aprender mais francês. Seria difícil para o papai cuidar de
você tão bem.” “Já não preciso que cuidem tanto de mim. Faço tudo sozinha.”
Quando saíram do restaurante, ele foi abordado por um homem e uma mulher. “Ora,
o velho Wales!” “Olá, Lorraine... Oi, Dunc.” Súbitos fantasmas do passado:
Duncan Schaeffer, um amigo dos tempos de faculdade. Lorraine Quarrles, uma
loura bonita de uns trinta anos e uma da turma que havia feito os meses se
transformarem em dias nos tempos de opulência, três anos antes. “Meu marido não
pôde vir este ano”, ela disse, em resposta à pergunta dele. “Estamos para lá de
pobres. Prometeu me dar duzentos dólares por mês e disse que eu me virasse com
essa fortuna... Sua filha?” “Que tal voltar e se sentar conosco?”, convidou Duncan.
“Não posso.” Estava feliz por ter uma desculpa. Como sempre, sentiu a atração
provocante e passional de Lorraine, mas seu ritmo agora era diferente.
“E que
tal jantar?”, ela perguntou. “Não estou livre. Me dê seu telefone que eu ligo
quando puder.” “Charlie, acho que você está sóbrio”, ela disse, com ar crítico.
“Sinceramente, acho. Dunc, dê-lhe um beliscão para ver se ele está sóbrio.”
Charlie indicou Honoria com a cabeça. Os dois riram. “Qual é o seu endereço?”,
perguntou Duncan, cético. Ele hesitou, não querendo dar o nome do hotel. “Ainda
não me instalei. É melhor eu telefonar para vocês. Estamos indo a um show de
vaudeville no Empire.” “Ótimo! É exatamente do que estou precisando!”, exclamou
Lorraine. “Quero ver palhaços, acrobatas e malabaristas. Vamos também, Dunc.”
“Temos algumas coisas para fazer primeiro”, disse Charlie. “Talvez nos
encontremos por lá.” “Está bem, seu esnobe... Até logo, garotinha linda.” “Até
logo.” Honoria fez um gesto gracioso. Um encontro desagradável. Gostaram dele
porque viram que ele estava bem, que estava sério; queriam vê-lo de novo porque
ele agora parecia mais forte do que eles e porque queriam sugar um pouco dessa força.
No Empire, Honoria recusou-se orgulhosamente a sentar sobre o casaco dobrado de
seu pai. Já era uma pessoa com seu próprio código, e Charlie viu-se cada vez
mais absorto pelo desejo de incutir um pouco de si em sua filha, antes que ela
se cristalizasse definitivamente. Mas era impossível vir a conhecê-la em tão
pouco tempo. No intervalo, encontraram Duncan e Lorraine no lobby, onde uma
banda estava tocando. “Que tal um drinque?” “Está bem, mas não no bar. Vamos
para uma mesa.” “O pai perfeito.” Ouvindo Lorraine sem prestar atenção, Charlie
observava os olhos de Honoria percorrerem a sala e se perguntava o que ela via.
Seus olhos se cruzaram e ela sorriu. “Gostei daquela limonada”, ela disse. O
que ela tinha dito? O que ele esperava? Ao voltarem de táxi para casa, puxou-a
para si até que a cabeça dela descansasse em seu peito. “Querida, você às vezes
pensa na mamãe?” “Sim, às vezes”, ela respondeu de um jeito vago. “Não quero
que você a esqueça. Tem uma foto dela?” “Acho que sim. Tia Marion tem. Por que
você não quer que eu a esqueça?” “Porque ela amava muito você.” “Eu também a
amava muito.” Ficaram em silêncio por um momento. “Papai, quero morar com
você”, ela disse de repente. Seu coração deu um pulo; era aonde ele desejava
chegar. “Mas você não está feliz aqui?” “Estou, mas gosto mais de você do que
de todo mundo. E você gosta de mim mais do que de todo mundo, agora que mamãe
morreu, não é?” “Claro que sim. Mas você não vai gostar de mim sempre desse
jeito, querida. Você vai crescer e conhecer alguém da sua idade e se casar e se
esquecer do papai.”
“É, é
verdade”, ela concordou tranqüilamente. Ele não entrou. Ficara de voltar às
nove da noite e queria se conservar fresco e novo para o que tinha a dizer.
“Assim que tiver acabado de entrar, vá à janela e me dê um adeuzinho.” “Está
bem. Até logo, pápi, pápi, pápi, pápi.” Esperou na rua escura até que ela
aparecesse, calorosa e fulgurante, na janela do andar de cima, e beijou à
distância os dedos que lhe acenavam na noite.
III
Eles o
esperavam. Marion sentou-se atrás do aparelho de café num sóbrio vestido de
noite preto que era uma leve sugestão de luto. Lincoln andava de um lado para o
outro com a animação de quem falava havia horas. Estavam tão ansiosos quanto
ele para chegar logo ao assunto. Ele abriu a conversa de saída. “Imagino que
saibam o que quero falar com vocês... o verdadeiro motivo pelo qual vim a
Paris.” Marion distraía-se com as estrelinhas pretas de seu colar e franziu a
testa. “Estou louco para ter de novo um lar”, ele continuou. “E estou louco
para ter Honoria comigo. Sou grato a vocês por terem acolhido Honoria por causa
de sua mãe, mas agora as coisas mudaram”, hesitou e disse, enfático, “mudaram
radicalmente comigo, e gostaria de pedir que reconsiderassem o assunto. Seria
tolice minha negar que há três anos eu estava me comportando mal...” Marion o
encarou com olhos duros. “... mas isso já passou. Como disse, tenho me limitado
a um drinque por dia há mais de um ano, e tomo esse drinque deliberadamente,
para que a idéia do álcool não cresça na minha imaginação. Estão entendendo?”
“Não”, disse Marion sucintamente. “É uma espécie de desafio a que me proponho.
Mantém as coisas no lugar.” “Eu entendo”, disse Lincoln. “Você não quer admitir
que o álcool exerce muita atração sobre você.” “Mais ou menos isso. Às vezes me
esqueço e não bebo nada. Mas tento tomar um. De qualquer maneira, não posso me
dar ao luxo de beber na minha atual posição. As pessoas que represento estão
mais do que satisfeitas comigo, e pretendo trazer minha irmã de Burlington para
me ajudar a manter a casa, e quero muito que Honoria more lá. Vocês sabem que,
mesmo quando eu e a mãe dela não estávamos nos dando bem, nunca deixamos que
nada interferisse com Honoria. Sei que ela gosta de mim e sei que sou capaz de
cuidar dela. Bem, é isso. O que vocês acham?” Ele sabia que agora seria a sua
vez de apanhar. Duraria uma hora ou duas, e seria difícil, mas, se ele
regulasse seu inevitável ressentimento para a atitude casta de um pecador
regenerado, poderia fazer prevalecer seu ponto de vista. Fique calmo, disse a
si mesmo. Você não quer ser aceito. O que você quer é Honoria. Lincoln falou
primeiro: “Temos discutido o assunto desde que recebemos sua carta há um mês.
Gostamos de ter Honoria conosco. Ela é uma coisinha querida e estamos felizes
de poder ajudá-la, mas, naturalmente, esse não é o problema...” Marion
interrompeu de repente. “Quanto tempo vai ficar sóbrio, Charlie?”, perguntou.
“Para sempre, espero.” “Como pode ter certeza?” “Vocês sabem que nunca bebi
demais até que parei de trabalhar e vim para cá sem nada para fazer. Então
Helen e eu começamos a andar com...”
“Por
favor, deixe Helen de fora. Não suporto ouvir você falar dela desse jeito.” Ele
a encarou com amargor; nunca soube até que ponto as duas irmãs gostavam uma da
outra. “Só bebi durante um ano e meio — desde a época em que cheguei aqui até o
dia em que... desabei.” “Tempo suficiente.” “Tempo suficiente”, ele concordou.
“Meu dever é com a Helen”, ela disse. “Tento imaginar o que ela gostaria que eu
fizesse. Sinceramente, desde a noite em que fez aquela coisa terrível, você
deixou de existir para mim. Não posso evitar. Ela era minha irmã.” “Está
certo.” “Quando estava morrendo, ela pediu que eu cuidasse de Honoria. Se você
não estivesse internado na época, poderia ter ajudado.” Ele não tinha resposta.
“Nunca vou me esquecer da manhã em que Helen bateu à minha porta, ensopada e
tremendo, dizendo que você a trancara do lado de fora de casa.” Charlie
agarrou-se às laterais da cadeira. Estava sendo mais difícil do que ele esperava;
queria desfechar uma longa explicação, porém disse apenas: “A noite em que a
tranquei...”, mas ela interrompeu: “Não quero falar nisso”. Após um momento de
silêncio, Lincoln disse: “Estamos nos desviando do assunto. Você quer que
Marion abra mão de sua guarda legal e lhe entregue Honoria. Acho que o
importante é se ela tem ou não confiança em você”. “Não censuro Marion”, disse
Charlie, lentamente, “mas agora ela pode ter inteira confiança em mim. Minha
ficha era boa até três anos atrás. Claro que, sujeito às vicissitudes humanas,
posso sofrer uma recaída a qualquer momento. Mas, se esperarmos muito, vou
perder a infância de Honoria e minha chance de ter um lar.” Balançou a cabeça.
“Vou terminar perdendo-a, entende?” “Sim, entendo”, disse Lincoln. “Por que não
pensou nisso antes?”, disse Marion. “Acho que pensava, de vez em quando, mas
Helen e eu estávamos nos entendendo muito mal. Quando consenti que ela ficasse
com a guarda de Honoria, estava derrubado numa clínica e o mercado se fechara
para mim. Sabia que tinha me comportado mal e que, se isso trouxesse alguma paz
para Helen, eu concordaria com qualquer coisa. Mas agora é diferente. Estou
bem. Estou me comportando bem pra cacete, pelo menos até...” “Por favor, modere
a língua na minha presença”, disse Marion. Charlie olhou-a espantado. A cada
observação, o desapreço de Marion por ele parecia mais aparente. Convertera
todo o seu medo da vida num muro que interpusera entre eles. Essa reprovação
tão sem sentido podia ser fruto de algum aborrecimento que tivera com a
cozinheira horas antes. Charlie preocupou-se com a perspectiva de deixar
Honoria nesse ambiente de hostilidade contra ele; mais cedo ou mais tarde, tal
hostilidade iria transpirar, uma palavra aqui, um gesto de cabeça ali, e
vestígios dessa desconfiança seriam irrevogavelmente plantados na cabeça de
Honoria. Mesmo assim, apagou a fúria de seu rosto e trancafiou-a dentro de si;
marcara um ponto, porque Lincoln percebera o absurdo do que Marion dissera e
lhe perguntara o que havia de mal na palavra “cacete”. “Outra coisa”, disse
Charlie. “Agora estou em condições de propiciar a ela alguns benefícios. Vou
levar uma governanta francesa para Praga. Vou alugar um novo apartamento...”
Parou ao se dar conta de que estava estragando tudo. Eles não aceitariam bem o
fato de que seu rendimento era, de novo, o dobro do deles.
“Realmente,
você pode lhe dar mais luxos do que nós”, disse Marion. “Enquanto você torrava
dinheiro, nós tínhamos de viver contando cada dez francos... Pelo visto, vai
fazer isso de novo.” “Ah, não”, ele se apressou a dizer. “Aprendi muito.
Trabalhei duro durante dez anos, vocês sabem, até que tive sorte na Bolsa, como
tantas pessoas. Muita sorte. Parecia sem sentido continuar trabalhando, por
isso parei. Não vai acontecer de novo.” Houve um longo silêncio. Todos se
sentiam tensos e, pela primeira vez em um ano, Charlie teve vontade de tomar um
drinque. Tinha certeza agora de que Lincoln Peters queria que ele ficasse com
sua filha. Marion estremeceu subitamente; por um lado, via que os pés de
Charlie estavam firmes no chão, e seu sentimento de mãe reconheceu a
normalidade do que ele pedia; mas vivera por muito tempo com um preconceito —
um preconceito fundado numa curiosa descrença na felicidade de sua irmã e que,
diante do choque de uma noite terrível, transformara-se em ódio por ele. Tudo
acontecera numa época de sua vida em que uma combinação de doença e
circunstâncias adversas tornou necessário para ela acreditar numa vilania
palpável e num vilão palpável. “Não posso esconder o que penso!”, ela gritou de
repente. “O quanto você foi responsável pela morte de Helen, não sei dizer. É
uma coisa entre você e a sua consciência.” Uma corrente elétrica de agonia
correra por ele; por um momento, quase se pôs de pé, com um som aprisionado na
garganta. Mas controlou-se. “Vamos com calma, Marion”, disse Lincoln,
constrangido. “Nunca achei Charlie responsável por aquilo.” “Helen morreu de um
problema cardíaco”, disse Charlie bem devagar. “Foi, problema cardíaco.” Helen
falou como se a frase tivesse para ela outro significado. Então, no abatimento
que se seguiu à sua explosão, ela o viu com clareza e percebeu que, de alguma
forma, ele estava no controle da situação. Olhando para o marido, não encontrou
nele um apoio e, abruptamente, como se o assunto já não tivesse importância,
jogou a toalha. “Ah, faça o que quiser!”, gritou, saltando da cadeira. “É sua
filha. Não sou eu que vou ficar no caminho. Se fosse minha filha, preferia
vê-la mor...” Mas também conseguiu se controlar. “Vocês dois decidam. Não agüento
mais isso. Estou me sentindo mal. Vou para a cama.” Saiu às pressas da sala;
depois Lincoln disse: “Foi um dia difícil para ela. Você sabe como ela se sente
em relação à Honoria...” Sua voz quase pedia desculpas. “Quando uma mulher põe
uma idéia na cabeça...” “Claro.” “Vai dar tudo certo. Acho que ela está vendo
que você... será capaz de sustentar a criança e, com isso, não podemos ficar no
seu caminho ou no de Honoria.” “Obrigado, Lincoln.” “Acho melhor eu subir e ver
como ela está.” “Vou embora.” Ainda estava tremendo quando chegou à rua. A
caminhada da Rue Bonaparte até o cais restabeleceu-o e, ao cruzar o Sena,
rejuvenescido sob os lampiões do quai, sentiu-se exultante. Mas, ao voltar para
seu quarto, não conseguiu dormir. A imagem de Helen o assombrava. Helen, a quem
ele amara tanto até que, insensatamente, os dois começaram a abusar desse amor
e a rasgá-lo em tiras. Naquela terrível noite de fevereiro, de que Marion se
lembrava tão vivamente, uma briga se arrastara por horas. Houve uma cena no
Florida; ele tentou levá-la para casa e, então, ela beijou o jovem Webb numa
mesa; a partir dali, aconteceu o que Marion histericamente descrevera. Quando
ele chegou em casa, entrou e trancou a porta, furioso. Como poderia adivinhar
que Helen chegaria uma hora depois, sozinha, que ela atravessaria uma
tempestade de neve de sandálias, muito confusa para tomar um táxi? E depois o
rescaldo, Helen escapando da pneumonia por um milagre e todo o horror
subseqüente. Eles se “reconciliaram”, mas aquele foi o começo do fim, e Marion,
que assistiu com os próprios olhos ao que imaginou ser uma das muitas cenas do
martírio de sua irmã, nunca esqueceu. Reviver tudo isso trouxe Helen para mais
perto dele e, à luz branca e suave que invade o semisono quando chega a manhã,
Charlie viu-se falando de novo com ela. Helen dizia que ele tinha toda razão
sobre Honoria e que, por ela, Honoria ficaria com ele. Disse que estava feliz
por vê-lo bem e se comportando ainda melhor. Disse muitas outras coisas —
coisas muito amáveis —, mas estava de vestido branco sentada em um balanço, e
balançando cada vez mais depressa, de forma que ele não pôde ouvir tudo o que
ela disse.
IV
Acordou
feliz. A porta do mundo se abria de novo para ele. Imaginou planos,
perspectivas, futuros para Honoria e para si mesmo, mas de repente ficou
triste, lembrando-se dos planos que ele e Helen tinham feito. Ela não planejava
morrer. Agora só o presente importava — trabalho para realizar e alguém para
amar. Mas não para amar muito, porque ele sabia o mal que um pai pode fazer a
uma filha ou uma mãe a um filho, por se ligar muito a eles; depois, quando
saísse ao mundo, essa criança buscaria no parceiro de casamento a mesma ternura
cega e, talvez fracassando em encontrá-la, se virasse contra o amor e a vida.
Era outro dia claro e brilhante. Procurou Lincoln Peters no banco em que ele
trabalhava e perguntou-lhe se podia contar em levar Honoria quando fosse para
Praga. Lincoln concordou em que não havia razão para adiamentos. Exceto por uma
coisa — a guarda legal. Marion queria retê-la por mais algum tempo. Estava
aborrecida com a história e facilitaria as coisas se sentisse que a situação
continuava sob seu controle por mais um ano. Charlie concordou, querendo apenas
a criança visível, tangível. Depois, a questão da governanta. Charlie foi a uma
agência sombria e conversou com uma bernense meio grossa e com com uma robusta
camponesa bretã, nenhuma das quais ele conseguiria suportar. Falaria com outras
no dia seguinte. Almoçou com Lincoln Peters no Griffons, tentando disfarçar a
euforia. “Não há nada como o nosso próprio filho”, disse Lincoln. “Mas você
precisa entender como Marion também se sente.” “Ela se esquece de quanto eu dei
duro aqui por sete anos”, disse Charlie. “Só se lembra de uma noite.” “E há
outra coisa”, hesitou Lincoln. “Enquanto você e Helen se esbaldavam pela Europa
rasgando dinheiro, estávamos apenas sobrevivendo. Nunca fiquei rico porque
nunca tive reserva suficiente para aplicar em nada, exceto em meu seguro de
vida. Acho que Marion via nisso uma espécie de injustiça — você já nem mesmo
trabalhava e ia ficando cada vez mais rico.” “Acabou tão rápido quanto
começou”, disse Charlie. “Sim, e grande parte do dinheiro ficou nas mãos de
chasseurs, saxofonistas e maîtres. Bem, a farra acabou. Só disse isso para contar
como Marion se sentiu naqueles anos loucos. Se você aparecer hoje por volta das
seis, antes que Marion se sinta muito cansada, podemos acabar de discutir os
detalhes.” De volta ao hotel, Charlie encontrou um pneumatique que fora enviado
ao bar do Ritz, onde ele deixara seu endereço com a intenção de encontrar um
certo homem.
QUERIDO
CHARLIE: Você estava tão esquisito no outro dia, quando nos encontramos, que
fiquei pensando se fiz alguma coisa que o ofendeu. Se fiz, não foi consciente.
Na verdade, tenho pensado demais em você desde o ano passado e sempre achando
que queria vê-lo de novo. Nós nos divertimos tanto naquela primavera maluca,
como na noite em que você e eu roubamos o triciclo do açougueiro, e na noite em
que tentamos ligar para o presidente e você estava de chapéu-coco e bengala de
metal. Tudo parece tão antigo ultimamente, mas eu não me sinto nem um pouco
antiga. Que tal nos encontrarmos hoje para lembrar os velhos tempos? Estou com
uma tremenda ressaca neste momento, mas vou me sentir melhor à tarde e estarei
esperando você por volta das cinco no bar do Ritz. Sempre sua, LORRAINE Seu
primeiro sentimento foi de horror ao lembrar-se de que, realmente, já homem
maduro, roubara um triciclo e pedalara com Lorraine por toda a Étoile quase ao
nascer do sol. Em retrospecto, era um pesadelo. Deixar Helen na rua não
combinava com nada que fizera na vida, mas o incidente do triciclo, sim, era um
entre muitos. Quantas semanas ou meses de dissipação para chegar a esse estado
de completa irresponsabilidade? Tentou visualizar como Lorraine então lhe
parecia — muito atraente; Helen ficava triste com aquilo, embora não dissesse
nada. Na véspera, no restaurante, Lorraine lhe parecera gasta, cediça,
extenuada. Decididamente não queria vê-la e ficou feliz por Alix não ter dado a
ela o endereço do hotel. Em compensação, era um alívio pensar em Honoria,
pensar nos domingos que passaria com ela, em desejar-lhe bom-dia e em saber que
ela estaria em casa à noite, prendendo a respiração no escuro. Às cinco horas,
tomou um táxi e comprou presentes para todos os Peter — uma charmosa boneca de
pano e uma caixa de soldadinhos romanos para as crianças, flores para Marion e
grandes lenços de linho para Lincoln. Ao chegar ao apartamento, viu que Marion
aceitara o inevitável. Ela o recebeu como a um recalcitrante membro da família
e não mais como um forasteiro ameaçador. Honoria ficara sabendo que iria
embora; Charlie gostou de ver que sua educação a fazia esconder sua excessiva
felicidade. Somente ao subir-lhe no colo é que sussurrou seu deleite e
perguntou “Quando?”, antes de sumir junto com as outras crianças. Por um
minuto, ele e Marion viram-se sozinhos na sala e, num impulso, ele disse com
certa ousadia: “Brigas de família são coisas amargas. Não seguem nenhuma regra.
Não são como as dores ou as feridas; são mais como farpas na pele, que custam a
sarar porque não há substância suficiente. Gostaria que eu e você nos déssemos
melhor.” “Algumas coisas são difíceis de esquecer”, ela respondeu. “É uma
questão de confiança.” Não havia resposta para isso e, em seguida, ela
perguntou: “Quando pretende levá-la?”. “Assim que conseguir uma governanta.
Espero que depois de amanhã.” “Isso é impossível. Tenho de pôr as coisas de
Honoria em ordem. Não antes de sábado.” Ele consentiu. De volta à sala, Lincoln
ofereceu-lhe um drinque. “Está bem, vou tomar meu uísque de hoje”, ele disse.
Estava ameno ali; era um lar, com as pessoas ao redor da lareira. As crianças
se sentiam seguras e importantes; a mãe e o pai estavam sérios, vigilantes. Tinham
tarefas mais importantes relativas às crianças do que fazer sala à visita. Uma
colher de remédio, afinal, era mais importante do que as tensas relações entre
Marion e ele. Não eram pessoas medíocres, mas se deixavam levar demais ao sabor
da vida e das circunstâncias. Perguntou-se se não podia fazer alguma coisa para
livrar Lincoln da rotina de seu banco. Um longo toque da campainha da frente; a
bonne à tout faire passou por eles e saiu pelo corredor. A porta se abriu em
meio a outro longo toque, ouviram-se vozes e os três na sala se olharam
expectantes; Lincoln moveu-se para fazer o corredor entrar no seu campo de
visão e Marion se levantou. A empregada voltou, seguida de perto por vozes, as
quais se materializaram na sala sob a forma de Duncan Schaeffer e Lorraine
Quarrles. Estavam alegres, muito alegres — na verdade, morrendo de rir. Por um
momento, Charlie ficou atônito; incapaz de entender como tinham descoberto o
endereço dos Peter. “Ah-h-h!” Duncan apontou seu dedo canalhamente para
Charlie. “Ah-h-h!” Os dois despejaram nova cascata de risos. Ansioso e
desconcertado, Charlie apertou-lhes as mãos rapidamente e os apresentou a
Lincoln e Marion. Marion respondeu com a cabeça, mal falando. Dera um passo
para trás, em direção ao fogo; sua garotinha se postara a seu lado, e Marion
pôs um braço em seu ombro. Com crescente aborrecimento pela intrusão, Charlie
esperou que se explicassem. Depois de alguma concentração, Duncan disse:
“Viemos convidá-lo para jantar. Lorraine e eu insistimos que todo esse misterinho,
esse segredinho sobre o seu endereço precisa terminar.” Charlie aproximou-se
deles, como se para forçá-los a recuar rumo ao corredor. “Desculpem, mas não
posso. Digam onde estarão e prometo telefonar em meia hora.” Isso não lhes
causou a menor impressão. Lorraine sentou-se no braço de uma cadeira e,
focalizando seus olhos em Richard, gritou: “Ah, que gracinha de menino! Vem cá,
menino”. Richard olhou para a mãe, mas não se mexeu. Com um perceptível dar de
ombros, Lorraine voltou-se para Charlie: “Vamos jantar. Seus primos não vão dar
a mínima. É tão difícil ver você. Ou ter você.” “Não posso”, disse Charlie,
ríspido. “Vocês dois vão jantar e eu telefono depois.” A voz dela ficou
subitamente desagradável. “Está bem, nós vamos. Mas ainda me lembro muito bem de
quando você esmurrou minha porta, um dia, às quatro da manhã. Eu fui boazinha e
te ofereci um drinque. Vamos, Dunc.” Ainda em câmera lenta, com rostos
irritados e desfeitos e passos incertos, eles se retiraram pelo corredor. “Boa
noite”, disse Charlie. “Boa noite!”, disse Lorraine enfaticamente. Quando ele
voltou para a sala, Marion permanecia imóvel, só que agora seu filho estava de
pé a seu lado, envolto por seu outro braço. Lincoln continuava balançando
Honoria, como um pêndulo, de um lado para o outro. “Que atrevimento!”, disse
Charlie. “Que verdadeiro atrevimento!” Nenhum dos dois respondeu. Charlie
desabou numa poltrona, pegou seu drinque, devolveu-o à mesinha e disse: “Gente
que não vejo há dois anos tendo o descaramento de...” Calou-se. Marion omitira
o som “Ah!” num arquejo rápido e irado, virou-se de supetão e saiu da sala.
Lincoln sentou Honoria cuidadosamente. “Crianças, vão lá para dentro tomar a
sopa”, disse. Quando elas obedeceram, virou-se para Charlie: “Marion não está
bem e não consegue agüentar choques. Esse tipo de gente a deixa fisicamente
doente.” “Não lhes pedi para vir aqui. Eles arrancaram de alguém o seu nome e
deliberadamente...” “Bem, foi uma pena. Não ajudou nada. Me dê licença por um
minuto.” Sozinho, Charlie sentou-se, tenso. Podia ouvir as crianças jantando e
conversando em monossílabos no aposento ao lado, já esquecidas da cena entre os
mais velhos. Ouviu um murmúrio vindo da outra sala e depois o ruído de um
telefone sendo tirado do gancho. Em pânico, foi para o outro extremo da sala,
onde não conseguia ouvir nada. Um minuto depois, Lincoln voltou. “Escute,
Charlie. É melhor cancelarmos o jantar esta noite. Marion não está bem.” “Está
furiosa comigo?” “Mais ou menos”, ele disse, um pouco áspero. “Ela não é forte
e...” “Mudou de idéia a respeito de Honoria?” “Neste momento está bem amarga.
Não sei. Telefone para o banco amanhã.” “Gostaria que você explicasse a ela que
nunca imaginei que essas pessoas viriam aqui. Estou tão indignado quanto
vocês.” “Não dá para explicar nada a ela agora.” Charlie se levantou. Pegou o
casaco e o chapéu e dirigiu-se para o corredor. Em seguida abriu a porta da
sala de jantar e disse, com uma voz estranha: “Boa noite, crianças”. Honoria se
levantou e deu a volta na mesa para abraçá-lo. “Boa noite, minha querida”, ele
disse, e em seguida, tentando tornar sua voz mais terna, como se para conciliar
alguma coisa: “Boa noite, meus filhos”.
V
Charlie
foi direto ao bar do Ritz, com a furiosa ideia de encontrar Lorraine e Duncan.
Mas eles não estavam lá, e ele se deu conta de que, de qualquer maneira, não
podia fazer nada. Nem tocara em seu drinque na casa dos Peter e agora pediu um
uísque com soda. Paul apareceu para cumprimentálo. “As coisas mudaram muito”,
disse, com tristeza. “Nosso movimento caiu pela metade. Ouvi falar de tanta
gente que voltou para os Estados Unidos e perdeu tudo, talvez não na primeira
queda da Bolsa, mas na segunda. Seu amigo George Hardt foi um deles, pelo que
sei. Vai voltar para lá?” “Não, estou trabalhando em Praga.” “Ouvi dizer que
você também perdeu muito.” “Perdi.” E acrescentou, amargo: “Mas já tinha
perdido muito na alta”. “Vendendo barato.” “Mais ou menos isso.” De novo a
lembrança daqueles dias assolou-o como um pesadelo — as pessoas que eles tinham
conhecido em viagens; e, depois, pessoas que não sabiam somar dois e dois ou
pronunciar uma frase coerente. O homenzinho com quem Helen consentiu em dançar
na festa do navio e que a insultara a três metros da mesa; as mulheres e as
moças alcoolizadas e drogadas que eram arrastadas, aos gritos, para fora dos
lugares públicos... ... Os homens que deixavam suas mulheres na rua em meio a
tempestades de neve, porque a neve de 1929 não era neve de verdade. Se você não
quisesse que fosse neve, bastava pagar. Foi ao telefone e ligou para o
apartamento dos Peter; Lincoln atendeu.
“Estou
telefonando porque esse assunto não me sai da cabeça. Marion disse alguma coisa
mais definitiva?” “Marion não está bem”, Lincoln respondeu, abrupto. “Sei que
não foi sua culpa, mas não posso permitir que ela sofra as conseqüências. Acho
que deveríamos deixar o caso esfriar por uns seis meses; não posso me arriscar
a forçá-la a nada neste momento.” “Entendo.” “Lamento, Charlie.” Ele voltou
para sua mesa. O copo de uísque estava vazio, mas ele fez um sinal de negativo
com a cabeça quando Alix olhou para ele, oferecendo-lhe outro. Não tinha muito
a fazer agora, exceto mandar a Honoria algumas coisas; no dia seguinte,
mandaria muitos presentes para Honoria. Pensou irritado que eles só lhe
custavam dinheiro — tinha dado dinheiro a tanta gente... “Não, já chega”, disse
para outro garçom. “Quanto foi?” Um dia ele voltaria; não podiam obrigá-lo a
pagar para sempre. Queria sua filha e nada mais interessava. Já não era jovem,
capaz de sustentar-se sozinho com belos sonhos e pensamentos. Tinha absoluta
certeza de que Helen não gostaria de vê-lo só.
3 comentários:
Oi, amigo, quanto tempo, hein? Também quase não abro mais o face. Tudo em paz com você? Tem escrito muito? Vou salvar, para ler mais tarde e bem devagar. Vou também repassar para uma amiga que é professora de francês, adora Paris, onde também ficou por um tempo. Meu abraço fraterno e saudoso. Nadia
Gosto muito de Fitzgerald, mas não conhecia esse conto. Muito bom. As fotografias também são excelentes. Parabéns pelo blogue.
Excelente. Adorei o conto, adorei as imagens.
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