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paulo francis
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“Jornalistas
perdem qualidade porque não pisam na rua. Ficam no trabalho, quentinhos,
fazendo-se de bons meninos e cumprindo ordens”.
“Arrume
uma boa notícia e não tenha medo de explicá-la. Dê ao leitor a chance de se identificar
com você ou rejeitá-lo.”TOM WOLFE
(1930 –
2018. Richmond / EUA)
para
Hélio Pólvora e Manoel Leal,
grapiúnas que me ensinaram o bê-á-bá do
jornalismo
Ilustrações:
MARK
T. SMITH
(1868. Wilmington,
Delaware / EUA)
Convidado
para um bate-papo sobre jornalismo em uma universidade potiguar, senti um toque
de insegurança. Tímido para falar em público, lembrei-me do poeta José Carlos
Capinam garantindo estar com TPM (segundo ele, “Tensão Pré-Manifestação”),
pouco antes da sua fala no I Encontro Natalense de Escritores (ENE). Eu me vi
assim. Dias antes, conversei durante horas, em uma mesa de bar, com veteranos
consagrados da imprensa tupiniquim - Zuenir Ventura, Ignácio de Loyola Brandão
e Villas-Boas Corrêa -, constatando o histórico sensacional das feras. O que eu
poderia acrescentar de novo para estudantes encantados com uma profissão que
perdeu o rumo? Quais os frutos e apontamentos? Como traduzir sem amargura a
essência do mecanismo jornalístico?
Pensei em
iniciar o depoimento com a revista “Veja” numa das mãos, firme, denunciando a
imprensa mercenária e inconsequente que deve ser evitada a qualquer custo. Concluí
que pegaria pesado, aniquilando esperanças, mesmo com a crença de que alguns
dos jovens presentes eram leitores da polêmica coluna “Lado B”, que assinava no
“JH-Primeira Edição”. E se mostrasse as antigas e lendárias “O Cruzeiro” e “Realidade”,
provando que já existiu vida inteligente na nossa imprensa? Ou talvez contar
casos inesperados acontecidos no exercício da profissão, citar influências, relembrar
entrevistas que fiz para a “Folha de S. Paulo”, “O Tempo” (MG), “A Tarde” (BA),
“Tribuna do Norte” (RN), jornais de Portugal e Espanha. Por fim, apostei no
improviso. E tudo correu bem. Lembro aqui uma ou outra
narrativa.
O clássico
“Todos os Homens do Presidente” me fez despertar a vocação jornalística. Eu o
vi na TV, num “Sábado a Noite no Cinema”, e desde então decidi que seria
jornalista. A carreira começou em 1983, ainda bem jovem, no “A Região”, um
jornal que fez época no sul da Bahia, publicando não só nomes consagrados, como
os estreantes, pelos quais o diretor Manoel Leal tinha o maior apreço. Eu passava
um tempão diante da máquina de escrever, à espera das palavras certas.
Hélio
Pólvora, nosso editor, disse certa vez que eu escrevia com toques de pura
literatura, fez elogios. Animado, escrevi sem preconceitos, indomável, por
vezes cáustico. Passei por todos os jornais da cidade natal e até como repórter da TV Manchete. Ativo,
leitor obsessivo, apoiado em sólida pesquisa. Então passei
a me considerar filho do jornalismo literário do norte-americano Tom Wolfe.
Talvez
seja possível concluir essa trajetória de quatro décadas, inúmeras publicações
e diversos países, dezenas de colunas e crônicas, blogues e redes sociais, como
o transbordamento sincero de uma alma cigana. Entre o lúdico, o lúcido e
estocadas violentas, procurei usar a palavra pela via da cultura, prestando
serviço à divulgação das artes. Fui um paladino, se me permitem a palavra, da
difusão das artes nordestinas. No fundo, creio na iconoclastia, na
contracultura. Não aprecio jornalismo com Lexotan. David Nasser criticou a
construção de Brasília e a inflação que gerou, tornando o presidente Juscelino
Kubitschek seu inimigo, e invadiu os subterrâneos da Maçonaria, até então um
mistério. Um escândalo! É a minha cara!
A favor
do cuspir fogo e também da sensatez, tenho o brilhante Paulo Francis como ícone
confesso. O caro jornalista escreveu: “É bom poder ter espaço para resistir aos
avanços da horda”. Ele é tão impecável como H. L. Mencken, J. R. Guzzo,
Guilherme Fiuza ou Olavo de Carvalho. Fiquei contente ao saber que tinha como
filme favorito o mesmo que está no topo da minha lista, o verborrágico “A
Malvada” (1950), de Joseph L. Mankiewicz. Como ele, desconfio dos raciocínios temperamentais,
afinal nenhuma verdade é absoluta. Entretanto, será que os jornalistas de
espírito devem aparentar sobriedade, inteligência ou qualquer outro artifício?
Creio que vale escrever como quem mija, sem freios.
Aventureiro,
manipulador e manipulado, perseguindo a notícia e o seu conceito de verdade
como um detetive, íntimo dos poderosos, solitário, trabalhador sem horário,
nômade por dever de ofício, companheiro da noite, o jornalista (ou a imagem que
se fazia dele) é das raras ocupações que, no seu estado natural, tinha uma aura
romântica para inspirar qualquer fantasia intrépida. Por fim, a visão do
jornalista-herói-da-verdade, herdado em grande parte do cinema norte-americano,
ficou no passado, não mais existe no nosso “admirável mundo novo”. Há atualmente
uma baixa de credibilidade e uma opinião generalizada negativa face ao excesso
militante e mercenário da classe jornalística.
A
velocidade e facilidade das comunicações, e as alterações da consciência
arrebatada do jornalismo introduzidas pela televisão e a internet, provocaram
paradoxos. O que tinha sido uma vocação espiritual, ou seja, um destino,
tornou-se uma profissão e uma carreira com vantagens: em vez de conhecer e dar
a conhecer o mundo ou influenciá-lo, viver à custa de magros privilégios,
resultando em denúncia ou louvor infundados. E o jornalista denunciante é tão
repugnante como o jornalista anunciante. O que escreve em benefício de outro, é
tão repugnante como o que escreve para prejudicar outro.
Na
sociedade em que vivemos infelizmente tudo tem seu preço. A prática da imprensa
nem sempre merece ser interpretada como atributos sem escrúpulos. O que deve oferecer
em primeiro lugar? A conexão direta entre o olhar, a linguagem e a informação.
Notícias que não escondam nem o desatino nem a corrupção. Justas, pragmáticas, evitando
representar os anseios corrompidos de uma parcela humana que deteriora a
sociedade numa alienação progressiva lamentável, num politicamente correto
usando e abusando do suposto respeito pelas minorias e pela defesa dos direitos
humanos.
A palavra
falsa ou patrocinada conduz a massa hipnótica, ignorante e robotizada rumo ao clero da desinformação. A
masmorra e as correntes enferrujadas dos carrascos da mídia aprisionam cérebros
numa conduta hipócrita e imprópria. Digno seria investir no movimento frutífero,
alimentado na narrativa íntegra, onde a motivação do texto se completa do
início ao fim, avançando a passos largos ao fato em si. Como ele é. Qual a sua
importância. Como se desdobra.
Descortinando
as penumbras da desinformação e fornecendo elementos da realidade nua e crua, o
jornalismo reproduz um cidadão bem informado, apto a processar sua opinião no
meio que está inserido. Eu creio que jamais será um bom jornalista quem não tem
o hábito de ler livros (prosa e poesia, ficção e não-ficção). O bom jornalista
leu Flaubert, Victor Hugo, Balzac, Dostoievski, Dickens, Tolstoi, Orwell,
Guimarães Rosa etc. Integra a sua cultura literária no que
escreve. Jamais será um bom jornalista quem não frequenta teatro e museus, quem
não ouve música de qualidade ou desconhece obras cinematográficas além do puro
entretenimento. A ignorância aparentemente prazerosa mata qualquer talento nato.
O
jornalismo vai além da manchete e do escândalo. Ele questiona com a voz da
coletividade, investiga com os olhos do bem comum, opina balizado na formação intelectual
correta, independente e igualitária. Não merece ser o monstro fabricado nos laboratórios
de palavras pagas servindo a pilantras. Não merece ser o texto tosco de
militantes esquerdistas, que lacram seus poucos neurônios em uma sabotagem
egoísta, reacionária e desoladora, sempre em proveito próprio. O jornalismo de
bem passa longe das redações onde fraudadores, ditos profissionais de
comunicação, fabricam inverdades, retóricas enfermas, planos escusos de
perpetuação de um projeto pessoal oportunista.
Mais que
uma profissão sacrificada, o jornalismo é um conjunto de palavras e pensamentos
iluminados para o leitor, fecundando notícias esclarecedoras, libertadoras, e
acima de tudo, conscientizadoras. A melhor preparação para a função
jornalística será jogada ao lixo se não for acompanhada de honestidade
no trabalho. Sabemos que a verdade objetiva é dúbia, nunca existiu, e
a imparcialidade é praticamente impossível. Conta-se o que se vê. E cada um
conta à sua maneira, baseado no que aprendeu e imitou e admirou. Mas o dever fundamental do jornalista não é para com seu empregador, mas
para com a sociedade. É para ela que escreve.
Todo
jornalista admirável caminha longe da ideologia de palanque e dos favores
monetários. Uma crítica excessiva, puramente partidarizada, afasta leitores
inteligentes. O jornalista só será respeitável se for indiferente as propinas que
corrompem, sendo vetor de discussões robustas, sensações e fluências, numa
linguagem de elementos e pertinências bem intencionadas. Ele não necessita de afagos.
Basta o realismo social, buscando na solidão das letras a
sua própria sorte. Só assim o jornalismo pode ser uma forma de arte.
No
jornalismo, é necessário combinar eficientemente clareza e objetividade em uma
estrutura com foco narrativo. Não brota jornalismo verdadeiro sem princípios e
valores éticos. Não deveria se tornar jornalista quem não tem coragem, quem não
combate o bom combate, quem se apega a valores materiais acima de qualquer
moral. Não deveria ser jornalista quem se esquiva da polêmica, quem coloca o
status acima do bom desempenho do ofício ou aquele que não procura a viabilidade
de um povo independente e civilizado.
Cultivo o
fruto do aprendizado, pois sei que nada sei e tenho muito a aprender, sempre. Na
calada da noite e no silêncio do lar, reafirmo um sentimento de amor e
compaixão pela profissão que escolhi como ganha-pão. Atravessei dúvidas e dádivas
- como a publicação do livro de entrevistas “ArtePalavra – Conversas no Velho
Mundo”, em 2003 -, com o jornalismo pulsando dentro de mim: inquieto, incontrolável,
verdadeiro. Apesar de tudo, satisfeito e consciente de que esse ofício
maltratado tem relação visceral com meu tempo, meu espírito e com quem por
ventura acredita numa admirável
imprensa sem armadilhas. Afinal, de jornalismo honesto também se vive.
2006-2023
VINTE
JORNALISTAS BRASILEIROS NOTÁVEIS
01
ASSIS
CHATEAUBRIAND
(1892 –
1968. Umbuzeiro / São Paulo)
02
AUGUSTO
NUNES
(1949. Taquaritinga
/ São Paulo)
03
DAVID
NASSER
(1917 –
1980. Jaú / São Paulo)
04
FLORISVALDO
MATTOS
(1932.
Uruçuca / Bahia)
05
GLÓRIA
MARIA
(1949 –
2023. Vila Isabel / Rio de Janeiro)
06
GUILHERME
FIUZA
(1965.
Rio de Janeiro / RJ)
07
GUSTAVO
CORÇÃO
(1896 – 1978.
Rio de Janeiro / RJ)
08
HÉLIO
PÓLVORA
(1928 – 2015.
Itabuna / Bahia)
09
J.R.
GUZZO
(1943.
São Paulo / SP)
10
JOEL
SILVEIRA
(1918 –
2007. Lagarto / Sergipe)
11
LEDA NAGLE
(1951.
Juiz de Fora / Minas Gerais)
12
MARÍLIA
GABRIELA
(1948.
Campinas / São Paulo)
13
MARISA
RAJA GABAGLIA
(1942 –
2003. São Paulo / SP)
14
MATINAS
SUZUKI JR.
(1954.
Barretos / São Paulo)
15
OTTO LARA
RESENDE
(1922 –
1992. São João del Rei / Minas Gerais)
16
OTTO
MARIA CARPEAUX
(1900 – 1978.
Viena / Áustria)
17
PAULO
FRANCIS
(1930 –
1997. Rio de Janeiro / RJ)
18
SAMUEL
WAINER
(1910 –
1980. Edineţ / Moldávia)
19
SÉRGIO
AUGUSTO
(1942.
Rio de Janeiro / RJ)
20
SONIA
COUTINHO
(1939 –
2013. Itabuna / Bahia)
17 comentários:
" A ignorância prazerosa mata qualquer talento nato " Se não tiver Talento vira blogueiro ou pior : se auto intitula "influenciador digital" ( não entendo como pode ser isso )
Incrível sua capacidade em tudo que faz .
Eu te admiro desde o primeiro dia de nossa amizade no Facebook.
Ou melhor, desde antes, pois eu somente solicitei sua amizade porque tinha certeza que estava aumentando meu aprimoramento em todos os aspectos da minha vida.
Antonio Nahud será sempre meu amigo, com honra e admiração pelo grande ser humano que és.
Gratidão por esses benefícios na minha vida.
Um abraço! Amigo.
Você também deve se incluir nesse rol de notáveis!Muito sucesso,meu nobre e querido amigo!
amei ver a lista de grandes jornalistas. Quase todos já se foram. Fiquei me perguntando: será que depois destes que ainda estão aqui se seguirão outros?
Lindo , fascinante...
Parabéns e Sucesso!
Continue sendo honesto, porque de jornalistas desonestos e militantes estamos abarrotados. Parabéns
Parabéns nobre jornalista
👏👏👏👏❤
Parabéns, você é ótimo!!!
Muita admiração
Parabéns!!!
Parabéns pela pessoa que você é!
Um galã!
Sucesso pra vc.
Sucesso sempre...
Deus o abençoe...
Vc é um grande jornalista, honra a profissão que escolheu, vc é exemplo.
Sucesso
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