“Cobra de Duas Cabeças”, de Herculano Assis, apresenta poesia e prosa inéditas de Sosígenes Costa (1901 - 1968. Belmonte / Bahia), considerado um dos maiores poetas baianos. Segundo Jorge de Souza Araújo, a obra “resulta de amorosa pesquisa e justificado penhor, caros à memória de um poeta de excelência, aqui observado como pensador e crítico notabilizado por uma verrina que de tão surpreendente constitui-se mais ainda afeta à literatura baiana e brasileira.”. Sosígenes estreou na imprensa em 1928, no “Diário da Tarde”, de Ilhéus, e no mesmo ano tornou-se membro da Academia dos Rebeldes, com Jorge Amado, entre outros. Na época, trabalhava como professor primário. Em 1959 publicou “Obra Poética”, recebendo o Prêmio Jabuti. Em 1979 saiu “Iararana”. Sobre a sua poesia diz o crítico literário José Paulo Paes, “quando ainda andava acesa a campanha dos modernistas contra o soneto em prol da institucionalização do verso livre, entretinha-se o poeta a escrever seus 'Sonetos Pavônicos', todos rigorosamente rimados e metrificados, nos quais são perceptíveis traços parnasianos e, sobretudo, simbolistas, ainda que tais sonetos nada tenham de passadistas, caracterizando-se antes por uma modernidade que se patenteia, como a de Quintana, na exploração criativa das possibilidades expressionais dessa forma fixa, então esclerosada pela prática mecânica e abusiva.”.
CHUVA de OURO
As begônias estão chovendo ouro,
suspendidas dos galhos da oiticica.
O chão, de pólen, vai ficando louro
e o bosque inteiro redourado fica.
Dir-se-á que se dilui todo um tesouro.
Nunca a floresta amanheceu tão rica.
As begônias estão chovendo ouro,
penduradas nos galhos da oiticica.
Bando de abelhas através do pólen
zinindo num brilhante fervedouro,
as curvas asas transparentes bolem.
E, enquanto giram num bailado belo,
as begônias estão chovendo ouro.
Formosa apoteose do amarelo!
SOSÍGENES COSTA
(1928)
(1928)