março 07, 2017

....................... A FLOR ESMAGADA do SEXO: POESIA ERÓTICA




Pela noite eu vou e a encontro no escuro,
Agarro-a pelas ancas e o cu lhe furo.
do Folclore da Calábria - séc. XIX

Ilustrações:
JAROSŁAW JAŚNIKOWSKI
(1976. Legnica / Polônia)


Desde a Grécia Antiga, o sexo inspira poesia. E POESIA ERÓTICA é um desafio maravilhoso. A sensualidade à flor da palavra é a sua chave, dinamizando a nossa consciência literária. Entra-se num terreno surpreendente, e isso se deve ao mistério que envolve Eros. Poemas eróticos inquietam, pois revelam a face mais secreta e despojada do poeta. São versos geralmente repletos de vida e volúpia, onde o autor mergulha no mais íntimo ao mesmo tempo em que se expõe, desbravando o corpo enquanto busca, na fluidez e lubricidade da linguagem, a própria nudez do seu bel-prazer. Mesmo nos períodos de forte repressão, como na Idade Média europeia, houve significativa manifestação lírica-erótica falada e escrita. Já a literatura brasileira atravessou os séculos com raras ousadias eróticas. Os nossos poetas que se aventuraram a tratar de sexo, quase sempre o fizeram às escondidas, apelando para pseudônimos. O mineiro Carlos Drummond de Andrade escreveu POEMAS ERÓTICOS nos anos 70, optando por guardá-los em segredo, confiando a seus herdeiros a tarefa de publicá-los após sua morte. Assim aconteceu, surgindo em 1992 o livro de puro gozo “O Amor Natural”.


“É raríssimo encontrar um autor que nunca tenha experimentado a linguagem erótica. A diferença é que a maioria apenas tangencia o tema. Poucos são os que se tornam notórios pornógrafos”, afirma a pesquisadora Eliane Robert de Moraes, autora da “Antologia da Poesia Erótica Brasileira” (2015). Quando vemos que o acesso ao erótico ou ao pornô é muito comum podemos nos perguntar: o que resta à poesia, em termos de abordagem do erotismo? Depois de vagar pelos recônditos libidinosos de Hilda Hilst e POEMAS ERÓTICOS de diversos brasileiros, dos primeiros sonetos sacanas do “Boca do Inferno” Gregório de Matos, até os mais recentes, percebi que apesar de uma certa banalização do sexo, a produção hoje em dia é diversificada. E aqui proponho o erotismo de 45 poetas. Mostram a liberdade sexual como inspiração. O sexo está nas palavras. O poema é espaço de sedução. A seleção retrata o erotismo lírico através dos tempos. Encontra-se nestes versos o êxtase poético de autores que, ao mergulharem em sensações, desnudam também o leitor, que se vê com suas contradições ao pensar na fronteira entre o erótico e o pornográfico, o sexo e o amor. Boa leitura.


Da BÍBLIA ao BRASIL

01
Os teus seios serão, para mim, como cachos de uvas,
e o perfume da tua boca como o das maçãs.

SALOMÃO
(1010 a. C. – 931 a. C. Jerusalém / Israel)

02
Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem-querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.

SAFO
(630 a. C. - ? Lesbos / Grécia)     

03
Estendida sobre o leito, Dóris, de róseas nádegas,
me fez imortal na sua carne em flor.

FILODEMO
(110 a. C. – 36 a. C. Gádara / Jordânia)

04
Para não veres meu emblema viril,
apartas a vista, como o pudor exige:
sem dúvida porque o que temes olhar,
anseias por recebe-lo em tuas entranhas.

SUETÔNIO
(69 a. C. – 130 D. C. Hipona, Annaba / Argélia)

05
Uni meus lábios aos doces lábios de Antígona
e a carne possuiu a carne. Do resto nada digo:
dele somente a lâmpada foi testemunha.

AUTOMÉDON
(63 a. C. – 14 d. C. Cyzicus / Grécia)

06
Ficou em pé, sem roupa, ali diante dos meus olhos.
Em seu corpo não havia um só defeito.
Que ombros e que braços me foi dado ver, tocar!

OVÍDIO
(43 a. C. – 18 d. C. Sulmona / Itália)

07
A tua pica é tão grande quanto o teu nariz, Papilo,
Tanto que a podes cheirar quando rija.

MARCO VALÉRIO MARCIAL
(38 a. C. – 104 d. C. Calatayud / Espanha)


08
Ah, seus braços, seus olhos que me endoidecem,
ah, seu andar estudado, e os beijos de língua incomparáveis

MARCO ARGENTÁRIO
(27 a. C. – 14 d. C. Betica / Itália)

09
E vós tomai, do não assaz caralho,
O animo pronto; baixai a vossa cona,
Enquanto enfio fundo o meu caralho.

PEDÂNIO DIOSCÓRIDES
(40 d. C. – 90 d. C. Anazarbo / Turquia)

10
A carnadura das nádegas redondas palpitava,
mais ondulosa e mais fluída do que a água.

RUFINO
(Séc. II d.C. Grécia)

11
Louvo a bailarina da Ásia que com seus gestos lascivos
suavemente ondula desde a ponta dos dedos.

PIETRO ARETINO
(1492 - 1556. Arezzo / Itália)

12
Quem te vê, que tentação
De conter dentro da mão
E comprimir-te e apalpar-te.

CLÉMENT MAROT
(1496 - 1544. Cahors / França)

13
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes.

JOHN DONNE
(1572 – 1671. Londres / Inglaterra)

14
A volúpia e os desejos são
O que a alma possui de mais raro.

JEAN de LA FONTAINE
(1621 - 1695. Château-Thierry / França)


15
O cono é fortaleza
O caralho é capitão
Os culhões são bombardeiros
O pentelho é o murrão

GREGÓRIO de MATOS
(1636 - 1696. Salvador / Bahia)

16
Palpava um Barnabita irmã Colette
Por trás do parlatório, em desajeito.
A freirinha queixou-se: Nem se mete
Assim. Melhor seria estar num leito.

JEAN-BAPTISTE ROUSSEAU
(1671 – 1741. Paris / França)

17
O bom mineiro tão robusto
Que em negro buraco, sem susto,
Penetra e fura sem cansaço,
Até acabar-se, ficar lasso,
Louvado seja!

CHRISTOPH MARTIN WIELAND
(1733 – 1813. Achstetten / Alemanha)

18
Gosto de moças, mas muito mais de rapazes:
Satisfaço o rapaz, e ele me serve de moça.

JOHANN WOLFGANG VON GOETHE
(1749 - 1832. Frankfurt am Main / Alemanha)

19
Quanta vergonha... Vai-te... Queres mais?
O que tiveste não te satisfaz?

TOMÁS de IRIARTE
(1750 - 1791. Puerto de la Cruz / Espanha)

20
Que esfregações, gemidos, desbaratos!
Que arremessos a seco, numa enfiada!

GIUSEPPE GIOACHINO BELLI
(1791 - 1863. Roma / Itália)

21
Em templo tão estreito,
Vá com jeito
Teu dedo em sua gana,
E a membrana
Só rompa, do hímen teu,
O himeneu.


THÉOPHILE GAUTIER
(1811 – 1872. Tarbes / França)

22
Sem pejo o homem que eu gosto sabe e confessa as delícias do sexo.

WALT WHITMAN
(1819 - 1892. Nova Iorque / EUA)

23
Encontrarás, sobre dois belos seios pontudos,
Dois grandes medalhões de bronze,
E sob o ventre liso, macio como veludo,
Amorenado como bronze.

CHARLES BAUDELAIRE
(1821 – 1867. Paris / França)

24
E essas nádegas ainda, lua de dois
Quartos, alegre e misteriosa, em que depois
Irei alojar os meus sonhos de poeta.

PAUL VERLAINE
(1844 - 1896. Metz / França)

25
Sobe... – e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril! – prossegue.
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios.

CASTRO ALVES
(1847 – 1871. Vila de Nossa Senhora do Rosário 
do Porto da Cachoeira / Bahia)

26
Franzida e obscura como um ilhós violeta,
Ela respira, humilde, entre a relva rociada
Inda do amor que desce a branda rampa das
Alvas nádegas até o coração da greta.

ARTHUR RIMBAUD
(1854 – 1891. Charleville-Mézières / França)

27
Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

OLAVO BILAC      
(1865 – 1918. Rio de Janeiro / RJ)

28
“Estou com pressa”, diz. “Eu quero vaselina”.
Gentil, o boticário indaga do cliente
Impaciente
A que uso se destina.
“Eu por mim recomendo sempre a boricada.”
E o cliente, a bufar: “Mas que papagaiada!
Pouco me importa qual, pois é para enrabar!”

GUILLAUME APOLLINAIRE
(1880 – 1918. Roma / Itália)


29
a indecência no cérebro se torna obscena, viciosa,
a putaria no cérebro se torna sifilítica
e a sodomia no cérebro se torna uma missão,
tudo, vício, missão, insanamente mórbido.

D. H. LAWRENCE
(1885 – 1930. Eastwood / Inglaterra)

30
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

FLORBELA ESPANCA
(1894 – 1930. Vila Viçosa / Portugal)

31
Nunca te foram ao cu
Nem nas perninhas, aposto!
Mas um homem como tu,
Lavadinho, todo nu, gosto!

ANTÓNIO BOTTO
(1897 – 1959. Concavada / Portugal)

32
Na boca ainda o sabor do outro homem
Ela é forçada a dar-me tesão viva
Com essa boca a rir para mim lasciva
Outro caralho ainda no frio abdómen!

BERTOLT BRECHT 
(1898 – 1956. Augsburgo / Alemanha)

33
Num impudor de estátua ou de vencida,
coxas abertas, sem defesa... nua
ante a minha vigília, a noite, e a lua,
ela, agora, descansa, adormecida.

JOSÉ RÉGIO
(1901 - 1969. Vila do Conde / Portugal)

34
Ela arreganha dentes largos
De longe. Na mata do cabelo
Se abre toda, chupante
Boca de mina amanteigada
Quente. A puta quente.

CARLOS DRUMMOND de ANDRADE
(1902 – 1987. Itabira / Minas Gerais)

35
sob os coqueiros elegantes, junto ao mar e à lua,
há uma vida contínua de calças e falinhas,
um rumor de meias de seda acariciadas,
e seios femininos a brilhar como dois olhos.

PABLO NERUDA
(1904 – 1973. Parral / Chile)

36
acariciarei e beijarei a nuca e a boca e mostrarei seu traseiro,
pernas erguidas e dobradas para receber,
caralho atormentado na escuridão, atacando,
levantado do buraco até a cabeça pulsante,
corpos entrelaçados nus e trêmulos,
coxas quentes e nádegas enfiadas uma na outra

ALLEN GINSBERG
(1926 – 1997. Nova Jersey / EUA)


37
O moço ajoelhou-se esfuçando-lhe os meios
E uma língua de agulha, de fogo, de molusco
Empapou-se de mel nos refolhos robustos.
Ela gritava um êxtase de gosmas e de lírios

HILDA HILST
(1930 – 2004. Jaú / São Paulo)

38
  beija-te
   a boca em flor
   e por baixo
      com seu esporão
          te fende te fode

           e se fundem
           no gozo

FERREIRA GULLAR
(1930 – 2016. São Luís / Maranhão)

39
Teu mamilo é um pênis,
minha boca vulva
onde escorre o leite
que tu me ejaculas.

ROBERTO PIVA
(1937 – 2010. São Paulo / SP)

40
Dá, minha senhora,
tua rija teta,
teu poeta implora
com a boca seca
a boca boceta
doida de Pandora.

ILDÁSIO TAVARES
(1940 – 2010. Gongogi / Bahia)

41
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
– carpe diem! –
fora da zona da página?

WALY SALOMÃO
(1943 – 2003. Jequié / Bahia)

42
calma calma
logo mais a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa

PAULO LEMINSKI
          (1944 – 1989. Curitiba / Paraná)     
     

43
A buceta da minha amada
é um tesouro
é o Tosão de Ouro
é um tesão.
É cabeluda, e cabe, linda,
em minha mão.

BRÁULIO TAVARES
(1950. Campina Grande / Paraíba)

44
Segundo especialistas, a chupeta
depende da atitude do chupado:
se o pau recebe tudo, acomodado,
ou fode a boca feito uma boceta.

GLAUCO MATTOSO
(1951. São Paulo / SP)

45
Acorrentados pelo coito
sussurram desconexos
desenhando fios invisíveis
em peles suadas, campos de dálias.

ANTONIO NAHUD
(1969. Itabuna / Bahia)

FONTE
“O Erotismo” (1987)
de Georges Bataille
 
 “O Erotismo” (1988)
de Francesco Alberoni
 
“Erotismo e Poesia: dos Gregos aos Surrealistas” (1990)
seleção de José Paulo Paes
 
 “Antologia da Poesia Erótica Brasileira” (2015)
de Eliane Robert de Moraes


2 comentários:

Bete Teixeira Nunes disse...

As mais belas são de Baudelaire e Rimbaud ...
Faltou Bocage.

Luduvice Jose disse...

VALEUUU Antonio Nahud