MARCO AURÉLIO
(121 d.C. – 180 d.C. Roma / Itália)
Acredito na arte, ela é um antídoto contra a mediocridade e a desfaçatez do nosso tempo medíocre. Sei o valor do cinema e da literatura, que ensina que a imaginação, mais que um refúgio, é uma arma para se enfrentar a realidade adversa. Seria preciso dar um sentido para a vida, mas as coisas, em geral, não têm sentido. Envelhecer me fez renascer fortalecido, vendo o mundo como realmente é. A beleza física, a lealdade e o carisma me foram benéficos por décadas. Frequentei a intimidade de gente importante, desprezando o puxa-saquismo e o ilegal. Tive sorte. Casei, descasei, fui amado, amei sem limites. Restou o funeral do romantismo. Conheci o mundo, palácios, museus, teatros, festivais de cinema, desertos, florestas, rios, catedrais barrocas, hotéis cinco estrelas, a neve, montanhas. Publiquei livros, ganhei prêmios, entrevistei celebridades para os principais jornais do Brasil e Portugal, divulguei jovens artistas, escrevi como um alucinado.
Depois de uma juventude politicamente alienada, em 2015 despertei, lutando pelo impeachment de Dilma Rousseff. Nunca mais parei. Fui às ruas, vesti verde e amarelo, apoiei a Lava Jato, consegui centenas de votos para o nosso Capitão, chorei com os absurdos do STF e me envergonhei da imprensa suja. Descobri a importância de ser patriota. De homens pequenos o Brasil está cheio. Pequenos na alma, na postura e na visão de mundo. Graças a crença num país melhor via Bolsonaro, perdi empregos, tentaram me matar, fui sabotado, fecharam-se portas. Não me queixo. Estou preparado para o melhor e o pior. Agradeço por sobreviver dignamente. Estou exilado numa cidade solar e insossa, eu que sempre entreguei o coração ao afeto, ao culto, ao poético e ao intenso. Não sou de lágrimas, apenas me encantaria viver no campo, numa cidade pequena, numa ilha discreta, noutro lugar, longe, muito longe, do convívio urbano nordestino supostamente sedutor. Quero muitos anos de vida, mas não receio a morte. De braços abertos, confio no divino, e sei que os espíritos, os anjos, podem ser contrapontos a transitoriedade dos corpos. Não tenho razões para me arrepender. Nada de ressentimentos. Não tenho temperamento para isso. Sou um poeta em paz. Por que vou mudar?