Ilustrações:
BEATRIZ MILHAZES
O jornalismo cultural inteligente e justo quase não tem lugar na nossa sociedade. A maioria dos colunistas exibe seu próprio círculo social, em um mundo restrito, de toma lá da cá. Muitas editorias dos cadernos de arte se submetem ao marketing provinciano de ídolos de outras terras, da sua gente mais íntima e de um ou outro inevitável artista nativo, pois seria desconfortável não valorizá-lo. Nessa triagem de favoritismos sem um civilizado código de ética, diversos talentos ficam de fora, soterrados no mau hábito jornalístico de levar desafetos e impressões pessoais para a redação, influenciando o patrão e sobressaindo interesses próprios. Se estivéssemos falando de profissionais de medicina, seria o mesmo que um médico se recusar a atender um paciente por não gostar da cara dele ou desprezar sua enfermidade. Então, o que fazer? Como mostrar a nossa arte ao público?
BEATRIZ MILHAZES
O jornalismo cultural inteligente e justo quase não tem lugar na nossa sociedade. A maioria dos colunistas exibe seu próprio círculo social, em um mundo restrito, de toma lá da cá. Muitas editorias dos cadernos de arte se submetem ao marketing provinciano de ídolos de outras terras, da sua gente mais íntima e de um ou outro inevitável artista nativo, pois seria desconfortável não valorizá-lo. Nessa triagem de favoritismos sem um civilizado código de ética, diversos talentos ficam de fora, soterrados no mau hábito jornalístico de levar desafetos e impressões pessoais para a redação, influenciando o patrão e sobressaindo interesses próprios. Se estivéssemos falando de profissionais de medicina, seria o mesmo que um médico se recusar a atender um paciente por não gostar da cara dele ou desprezar sua enfermidade. Então, o que fazer? Como mostrar a nossa arte ao público?
Hoje em dia se pode dar a volta por
cima com um pouco de boa vontade. O truque é aprender a utilizar o universo
virtual com sensibilidade, bom gosto, persistência e competência. Eu criei dois
blogues, “O Falcão Maltes” e “Cinzas e Diamantes”, que atualmente são visitados
diariamente por cerca de mil leitores cada. Utilizo a linha do tempo do Facebook e páginas
anexas como colunas opinativas de arte, dialogando com milhares de mentes. Troco ideias com artistas de todo o
mundo. Isso sacia pequenas ambições artísticas.
Com o trabalho de marqueteiro da própria obra, levo um público aos meus eventos, vendo livros pela net e sou convidado a mostrar o que faço noutras plagas. Acabou a
tensão de ficar à espera da boa vontade da imprensa. Continuo mandando releases
e fotografias, mas não me preocupo com o resultado, pois sei que o trabalho será comentado nas redes sociais, abrindo caminhos para outros projetos culturais. Portanto,
foi-se o tempo em que eu me magoava com a indiferença de colegas. Nunca
apreciei panelinhas e acho que jornalismo deve significar visão ampla, longe de
mesquinhez ou listas negras.
Pintem, escrevam, dancem ou cantem estruturando
sua arte em um mundo mediático particular, caros artistas. Foi-se a época em que o
artista somente criava. Hoje em dia, além de criar, ele precisa colocar sua
arte debaixo do braço e ir à luta. Muitas vezes sem sair de casa, no próprio
computador. Está claro que a boa e velha imprensa ou abre os olhos ou definha de
vez. É visível que está perdendo o bonde; os cadernos culturais são cada vez
mais raquíticos ou se extinguem. O correto seria páginas inteiras e manchetes dedicadas aos artistas
locais, notinhas para celebridades que todo mundo sabe o que come e quem come,
e riscar de vez o que não nos engrandece. Por exemplo, com que intenção um periódico
nordestino gasta páginas falando do Festival de Cannes, da morte de famosos
distantes ou sobre um best-seller norte-americano? Pura bobagem colonizada. O
tipo de informação redundante, preguiçosa, que todo mundo já sabe. Melhor seria
se o jornalista resgatasse o mel
do melhor da sua terra.
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