Majestosa edificação de grande estatura, cujas dimensões, estética e imponência despertam admiração, à beira do mar Adriático, quase inacessível, o Castelo de Duíno sobrevive ao esquecimento. O príncipe italiano Carlo Alessandro e o seu mordomo argentino José Gustavo são os mais recentes moradores desse monumento artístico e cultural imortalizado nos versos de Rainer Maria Rilke (1875 - 1926. Praga / Tchéquia), que viveu nele de 1910 a 1912, então propriedade de sua amiga e mecenas, a princesa Marie von Thurn und Táxis. Deslumbrado com “As Elegias de Duíno” (1912 - 1923), obra em que o poeta austríaco revela a influência do pensamento filosófico de Sören Kierkegaard, visitei o castelo-personagem nos primeiros anos deste novo milênio. Fabuloso, mesmo sem o açoite de ondas em fúria ou fantasmas de contos góticos. Ao seu lado, as ruínas de outro castelo, tal e qual eu guardava na imaginação. Portanto, há dois castelos em Duíno. Do mais velho se comenta dos cultos lunares ritualizados pelos druídas, fala-se também que teve como hóspede no século 14 o autor de “A Divina Comédia” (1304 - 1321), Dante Alighieri, considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido como “Il sommo poeta” (O poeta supremo).
Situado a uns vinte quilômetros da cidade italiana de Trieste, o Castelo de Duíno tem abriga um museu que conserva a memória dos tempos de glória. De uma antiga torre, notei o caminho que leva da fortaleza a praia de Sistiana, trajeto que percorrido diariamente por Rainer Maria Rilke durante sua longa estadia. Poeta hermético cujos poemas traduzem a angústia de um ser inadaptado, Rilke acumulava às suas circunstâncias vitais o fato de ser homossexual em uma sociedade repressiva. Em Duíno escreveu os poemas que compõem a obra “A Vida de Maria” (1913), os quais o compositor alemão Paul Hindemith musicaria. Trabalhando com os limites sensoriais da existência, a sua poesia traduz o fundamento da busca de ser. Para Rilke, a poesia não podia ser senão mística, no sentido em que a existência humana só poderia encontrar a sua salvação através da linguagem poética, aspirando ao plano da totalidade, ou seja, a de uma dizibilidade absoluta e redentora. As “Elegias” apresentam a morte como uma transformação da vida em uma realidade interior, gerando um todo unificado, uma experiência cósmica. Ainda hoje me lembro do impacto da primeira leitura desses versos: “Pois o belo apenas é o começo do terrível, que só a custo podemos suportar, e se tanto o admiramos é porque ele, impassível, desdenha destruir-nos. Todo o anjo é terrível”.
Situado a uns vinte quilômetros da cidade italiana de Trieste, o Castelo de Duíno tem abriga um museu que conserva a memória dos tempos de glória. De uma antiga torre, notei o caminho que leva da fortaleza a praia de Sistiana, trajeto que percorrido diariamente por Rainer Maria Rilke durante sua longa estadia. Poeta hermético cujos poemas traduzem a angústia de um ser inadaptado, Rilke acumulava às suas circunstâncias vitais o fato de ser homossexual em uma sociedade repressiva. Em Duíno escreveu os poemas que compõem a obra “A Vida de Maria” (1913), os quais o compositor alemão Paul Hindemith musicaria. Trabalhando com os limites sensoriais da existência, a sua poesia traduz o fundamento da busca de ser. Para Rilke, a poesia não podia ser senão mística, no sentido em que a existência humana só poderia encontrar a sua salvação através da linguagem poética, aspirando ao plano da totalidade, ou seja, a de uma dizibilidade absoluta e redentora. As “Elegias” apresentam a morte como uma transformação da vida em uma realidade interior, gerando um todo unificado, uma experiência cósmica. Ainda hoje me lembro do impacto da primeira leitura desses versos: “Pois o belo apenas é o começo do terrível, que só a custo podemos suportar, e se tanto o admiramos é porque ele, impassível, desdenha destruir-nos. Todo o anjo é terrível”.
manuscrito de “elegias de duíno” |
rainer maria rilke |
11 comentários:
Antonio, querido
Acertou, mais uma vez. Dá até vontade de conhecer o Castelo, ver as ruínas do antigo, sentir o cheiro do mar percebendo você, também, ali.
Já lhe disse que você é meu escritor preferido e mora no meu coração? Se disse, repito, se não disse, tá dito.
Beijos,
com muito carinho,
Irene
Pois arte é infância. Arte significa nao saber que o mundo já é, e fazer um. Não destruir nada que se encontra, mas simplesmente nao achar nada pronto. Nada mais que possibilidades. Nada mais que desejos. E, de repente, ser realização, ser verão, ter sol. Sem que se fale disso, involuntáriamente. Nunca ter terminado. Nunca ter o sétimo dia. Nunca ver que tudo é bom. Insatisfação é juventude.
Rainer Maria Rilke, in Cartas do poeta sobre a vida
Meus parabéns! Estão excelentes, tanto o texto como a foto.
Abraço do
ENÉAS ATHANÁZIO
Parabéns.
Bravo amigo
Vamo Q Vamo
Muito bom Antonio,parabéns!
Amo Rainer Maria Rilke...
Parabéns. Retornei ao castelo de Rainer Maria Rilke.
Caro Antônio,
"As Elegia s de Duíno", de Rilke, constituem não só uma das mais importantes obras da literatura alemã da primeira metade do século XX, como também uma das poéticas mais significativas do nosso tempo...
Eu simplesmente as adoro.
Poucos textos me marcaram tanto; foram-me tão perturbadores com sua visão poética e trágica de um mundo que desaparece e nos assombra...
Parabéns pelo novo espaço,
Abraços,
Silvério Duque
Parabéns por este novo blog.
Rilke é um escritor que sempre me seduziu.
Antônio Júnior,
meu filho amado, lindo, lindo, lindo, muito consistente, uma delícia, estou repassando para minha lista. Esse artigo sobre O Castelo de Rilke é delicioso. beijo no coração. gideon
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