Jornalismo e literatura são irmãos gêmeos
que nasceram muito diferentes
e que hoje são mais parecidos do que nunca.
e que hoje são mais parecidos do que nunca.
ZUENIR VENTURA
Fotos:
GERMAN
LORCA
(São
Paulo, SP. 1922)
Por ANTONIO
NAHUD. 2007
Autor do best-seller “1968 – O Ano que
não Terminou”, lançado em 1988 e atualmente na 40ª. edição, o mineiro, criado no Rio, ZUENIR VENTURA (Além
Paraíba, Minas Gerais. 1931) se define como carioca: “Como todo bom
mineiro, e vice-versa”. Em quase meio século como repórter,
redator e editor, trabalhou em publicações brasileiras famosas, entre elas, o “Jornal
do Brasil” e as revistas “Senhor”, “O Cruzeiro” e “Fatos & Fotos”. Ganhou o
prêmio Wladimir Herzog de Jornalismo em 1989 e o Esso de Reportagem em 1994. É
colunista do jornal “O Globo”,
da revista “Época” e do site www.nomimino.com.br
Autor de realista e humorado, ele publicou
“Cidade Partida” (1994), sobre a
chacina em Vigário Geral ;
“O Rio de J. Carlos” (1998), em parceria com o cartunista Cássio
Loredano; “Inveja – Mal do Século” (1998) etc. Também roteirizou o documentário “Paulinho da Viola – Meu
Tempo é Hoje” (2003). Nesta entrevista, diz: “O leitor deve desenvolver antídotos contra o poder
da imprensa”. Confira a entrevista:
O escritor precisa ter um papel transparente na
sociedade?
Para o
escritor, não deve ser obrigação desempenhar uma função social. Mas se ele
estiver envolvido com seu tempo, acabará tendo esse papel, querendo ou
não.
Como traduz
o mercado literário nacional?
O mercado
literário brasileiro se caracteriza por um paradoxo: apresenta uma
extraordinária produção (há editoras que publicam um livro por dia) e um baixo
consumo. Lê-se pouco por razões econômicas e culturais: os livros são caros, os
leitores não têm dinheiro e nem o hábito da leitura.
As editoras estão
atentas para absorver os novatos? Existe um caminho a se seguir? Que conselhos
daria aos editores?
Não é que não
estejam preparadas. O problema é que as editoras são empresas e, como
tal, não podem correr riscos econômicos. Elas precisam ter lucro. Editar
um novato é sempre uma aventura. Não sei que conselhos daria a elas. Aos
jovens, eu sugeriria que publicassem pela internet.
Julga que a literatura brasileira
contemporânea é essencial?
Essencial, não
sei. Mas importante, sim.
Já encontrou o
equilíbrio entre jornalismo e literatura? Esse dualismo existe? Por exemplo, sofreu
pressões, como escritor, para pender para um lado ou para o outro?
Acho que me
inclino mais para o jornalismo. Mas não acredito que as duas atividades sejam
incompatíveis.
Um dos méritos da
sua linguagem é consolidar uma visão de mundo, de certo universo brasileiro antenado.
Ela é também genuinamente universal, pelo que contém de drama humano. Como foi
chegar a essa síntese desde “1968 – O Ano que não Terminou”?
Para isso, o
jornalismo foi fundamental, como linguagem e como temática. Ele é que permite
essa imersão na atualidade, sempre prenha de dramas e comédias.
Qual foi a sua
intenção ao escrever “1968” ?
Esperava a repercussão recebida?
Foi recuperar
um tempo que a ditadura tentou apagar da história, pela censura e pelo
esquecimento. De jeito nenhum esperava a repercussão que teve. Achava que não
passaria da primeira edição e ele já está na 40ª.
Machado de
Assis nasceu, morreu e falou do Rio de Janeiro do século XIX. Nascido em Minas,
acha que é sua sina exorcizar os demônios cariocas?
Como todo bom
mineiro sou carioca, e vice-versa. Daí minha obsessão pelo Rio, que, como
cantou Fernandinha Abreu, é o purgatório da beleza e do caos.
Temos uma
crítica literária que reconhece uma obra literária sem se ater basicamente ao
que já está consolidado?
Na
universidade deve haver, mas nos jornais e revistas é difícil, até porque é da
natureza da imprensa trabalhar com o já consumido e consolidado.
É mais fácil atacar ou elogiar alguma
coisa ou alguém do que fazer crítica de verdade?
É muito mais
fácil atacar. Aliás, está na moda falar mal. É hoje um marketing de grande
sucesso.
Certa vez declarou que “o ideal seria que o leitor, o ouvinte e o
espectador olhassem para a imprensa sempre com uma certa desconfiança”. Ainda
pensa assim? A imprensa está em crise?
Continuo
pensando assim. O leitor deve desenvolver antídotos contra o poder da imprensa.
O mito de que somos o “Quarto poder” nos fez muito mal. Não temos que ser
poder, mas contra-poder. Quanto à crise, pelo menos uma ela está vivendo: a
crise da linguagem escrita. Estamos perdendo a guerra contra o áudio-visual.
A nossa imprensa tem um certo fascínio
pelas coisas ruins ou será uma tendência mundial, de uma sociedade banalizada
que precisa de chacoalhadas sórdidas?
Acho que é um
problema planetário. Para nós, jornalistas, de maneira geral, notícia boa é
notícia ruim, o que é uma deformação. Mas o leitor também não é inocente nessa
história.
Ao passar pelas revistas “Senhor” e “O
Cruzeiro”, duas mitológicas publicações, o que levou delas?
A revista “Senhor”
foi uma das mais bem sucedidas experiências de vanguarda jornalística. Muitas
de suas inovações, principalmente no plano gráfico, ainda são atuais. Quanto à
revista “Cruzeiro”, ela foi uma escola de reportagem.
O que acha do jornalismo ensinado nas
universidades?
Acho que a
solução para o ensino de jornalismo seria uma parceria da universidade com as
empresas. Em vez de uma ficar falando mal da outra, as duas deveriam
desenvolver uma troca permanente de experiências.
A crônica de costumes é literatura ou
jornalismo? Ou seria uma coisa e outra?
Eu diria que é
simplesmente crônica, esse gênero democrático e generoso, situado entre o
jornalismo e a literatura e onde cabe tudo.
Você tem uma
epígrafe que o acompanhe? Um mote que o defina aos participantes do I Encontro
Natalense de Escritores?
Não vim à
Terra para julgar nem para condenar; vim para olhar e depois contar. Não sou
juiz nem promotor, sou uma testemunha de meu tempo. Um jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário