abril 14, 2018

************** MUNDOS POSSÍVEIS: ESCURO e CLARIDADE



Tudo é quietude:
Escuro e claridade,
Livro e flor.
RAINER MARIA RILKE
(Praga, República Checa. 1875 - 1926)

E lá vou eu de novo,
sem freio nem paraquedas
MILLÔR FERNANDES
(Rio de Janeiro, RJ. 1923 - 2012)

Fotos: ANTONIO NAHUD por MORVAN FRANÇA
(Belo Horizonte, Minas Gerais. 1987 - 2016)
Ilustrações: EDVARD MUNCH
(Løten, Noruega. 1863 - 1944)


AUTO-RETRATO

Os homens são ensinados a não serem emotivos e não creio que seja correto. Não acho vergonhoso chorar. A última vez que chorei foi há alguns dias, pensando em como os estranhos podem ser gentis. À medida que envelheço, meu temperamento se torna mais suave. A melancolia ranzinza não demora muito tempo. É um sopro que desaparece rapidamente. Não é ruim sentir emoções em vez de enterrá-las. Em busca de sensações, viajo desde os treze anos de idade. Hoje já não muito, ando agora praticando a viagem como um estado constante, afinal a vida é viagem, dizia Sêneca. Nasci para viajar, tornando-me um escritor viajante. Curiosamente, viajando descobri significâncias no próximo e no mais secreto de mim mesmo; viajando ocorreram encontros marcantes, fora do quadro civilizacional das raízes, que me ensinaram o valor do despojamento, da gentileza, hospitalidade e compreensão.

Uma vez atirado ao mundo, para além do porto natal, nunca mais soube regressar inteiramente. Perdi o sentido de fronteiras, marchando por um destino contraditório, e nada detém a aventura cigana, nada me fez parar por dezenas de anos. A finalidade talvez tenha sido a auto-educação, aceitando-me como um cidadão do mundo. Tive de lapidar um diamante baiano bruto. A voz poética formou-se em desmoronamentos, na contraluz, em conversas partilhadas com desconhecidos, na voragem de não ser importante ou desimportante.

As viagens moldaram-me em uma espécie de homem da estrada, em busca do espírito de um lugar para nele encontrar as coordenadas universais. Como poeta de rupturas, cada cidade me transmuta a um novo sentimento, e incoerente, torno-me cada vez mais alienígena e mais sensibilizado com o fracasso humano. Viajo para aprender e sobreviver. Se estamos vivos somente pelo pitoresco, pela ambição fajuta, pela fotografia nas redes sociais ou compras de bugigangas inúteis, somos estúpidos, terrivelmente estúpidos.

Giro em torno do eixo;
sobre um ponto no espaço
desço, vertical: casa poética.
À minha volta,
o mundo de cristal.
Ninguém me acompanha
nesta superfície estranha
e luminosa.
CONFISSÕES (2014)

Apesar dos avanços tecnológicos que temos agora, ainda acho que as coisas eram melhores há décadas. Estamos trabalhando para sobreviver dignamente, faltando tempo para considerar o que realmente significa ser humano. Não aproveitamos a tecnologia para facilitar nossas vidas e estamos sujeitos à considerável manipulação e ajustamento. Nasci grapiúna, geminiano, sob a benção de Santo Antônio em uma época familiar, tradicional e benéfica. Vim ao mundo pouco depois da meia-noite, no sul da Bahia, terra dos frutos de ouro. Nas veias sangue libanês, indígena, sergipano, português. Meu pai, arrebatado, ofertou no mesmo dia da natividade uma celebração aberta para toda a comunidade, com músicos, churrasco e cachaça em praça pública.

Nasci filho mais velho do galã Antônio José, advogado de humilhados e ofendidos. Ele partiu para o outro lado da lua moço, levando a imagem de um homem desiludido e honrado, camisas de seda, anéis de rubi e admirável apego a fauna e a flora da Mata Atlântica. Devo a dona Lurdinha, dama amável e generosa, o que existe de melhor em meu coração, se acaso existe. A bondade é, no fim das contas, o sentimento mais precioso. E ela tem de sobra. De família tradicional falida, cresci atormentado por dificuldades financeiras. No entanto, havia proteção, fraternidade, irmãos de bom coração (hoje, os advogados Neto e Paulo Manchinha, o médico Urbano, o arquiteto Marc e a doce ginecologista Anna Áurea) e a espetacular vivência na Fazenda “Bela Vista” perfumada pelo cacau. Mamma mantém a residência urbana onde tudo começou, na Né Abade, bairro Pontalzinho. Guardo lá tesouros: diários, livros, filmes, álbuns de fotografias, sossego, amor.

O poeta em mim exigia uma profissão diretamente relacionada com a escrita. O jornalismo surgiu como uma prática da qual poderia tirar benefícios para a criação literária. Na época, pareceu-me que ser jornalista era uma profissão heroica, particularmente apropriada para escritores. Para um autor, o jornalismo pode constituir um desafio para a própria obra, um estímulo para abertura de novas perspectivas. Acho estimulante esse modo de pensamento que parece avançar em círculos, voltando ao mesmo ponto. Foi altamente contagiante durante muitos anos. Mas ando cada vez mais distante. Interiorizei conceitos que não combinam com sua prática – um caminho que me leva ao claro-escuro do ser – e que são estruturantes para a minha atual visão do mundo.

estas árvores invisíveis
campos sem sombra
carcará cortando o ar
são sortilégios
para desnortear desilusões.
LIVRO de IMAGENS (2009)

Atitudes perante a vida ensinaram-me a viver o despojamento do ego para dar espaço ao divino, na vivência de uma religação cósmica, de indivíduo que cultiva virtudes. Procuro depuração e decantação. Por isto, no momento, vejo o jornalismo como uma profissão de risco. Não nego que sou bicho estranho, que voa e pousa, dispara e contempla. Desde menino tenho compaixão pelos miseráveis; desde menino me sinto atraído pelo misterioso, o oculto, em uma mediunidade espontânea que me torna compassivo ao meio ambiente. Percebo vultos, ouço vozes inexistentes, creio em criaturas de outros mundos.

Durante anos, estudei no tradicional Colégio Divina Providência, amando a literatura graças à dedicação de um professor, Ruy do Carmo Póvoas, e ao convívio fraterno com o excelente contista Hélio Pólvora. Aos 17 anos, após meses poupando cada centavo, torrei a pequena fortuna em viagem mundana de um ano ao Rio de Janeiro, entregando-me de corpo e alma à farra carioca: frequentei cinematecas, exposições de arte, festinhas excêntricas e namorei a todo vapor - tudo devidamente anotado em “Diários”. Desta época, restou a lembrança do poeta e compositor Antonio Cícero e do escritor argentino Manuel Puig, que brilhava os olhos quando eu recordava cenas criminais de clássicos do cinema.


Quando se é jovem, as emoções são apaixonantes e transitórias. Continuando os estudos, voltei à Bahia. No final da década de 80, editei o mensal “Narciso”, o caderno de cultura do jornal “Agora” e escrevi para diversos outros periódicos, inclusive críticas e artigos sobre arte e comportamento. Polêmico e ousado, embora tímido, arrisquei-me durante dois anos como repórter na TV Cabrália (Rede Manchete). O impulso seguinte: a grande São Paulo. Em cerca de dois anos – por sinal, conturbados -, estudei cinema com Carlão Reichenbach e resisti como assessor de comunicação do arrogante José Aristodemo Pinotti e leitor de inéditos da Editora Siciliano. Na selva de pedra, que quase me arruinou, tive o privilégio de conviver com Hilda Hilst, Caio Fernando Abreu, Lygia Fagundes Telles e Pedro Paulo de Senna Madureira.

tua lembrança
posso tocá-la de tão próxima
nesta noite de sutilezas e argúcias
SUAVE é o CORAÇÃO ENAMORADO (2006)

A literatura corre com o rio do tempo, ela pertence à sociedade. Nenhum virtuoso acredita no culto do escritor enquanto entidade independente, porque sabe que a literatura é na sua essência uma proposta de partilha. O autor é um pesquisador de harmonias pré-existentes no cosmo, seja ele o microcosmo humano individual ou o infinito universo do qual faz parte. Devemos tudo aos antecessores, então, no processo criativo, saldamos essa dívida de gratidão por tudo o que nos foi dado para continuar a construção da voz literária.


O secreto, enquanto símbolo, exprime a imensa força catalisadora das transformações. A sensibilidade, o lúcido e a imaginação poética são ferramentas na evolução das sociedades. Aspiram a harmonia da relação homem-vida. A linguagem literária que me interessa é de natureza panteísta, apela ao regresso dos tempos e à fusão do homem com a natureza, ao sossego da alma equilibrada com o meio envolvente. Mais do que nunca precisamos da natureza, caminhando com ela, e não contra ela. Defendo o estado contemplativo e criativo como imperativo para a sobrevivência na caótica e enfadonha modernidade. Apelo à literatura contra o grosseiro materialismo dominante. Nesta tradição me inscrevo e escrevo.

Sortudo na conquista de preciosas amizades, perdi uma ou outra por imaturidade ou egoísmo. Ao redor, íntimas e cúmplices, destacam-se mulheres de valor, já que admiro o universo feminino. Em 1993, após prêmios literários sem importância e apadrinhamento do bom poeta Telmo Padilha, veio o júbilo da estreia literária em “O Aprendiz do Amor”, revelando publicamente uma literatura com tendência para a desilusão, desconfiada da razão. Inquieto, desanimado e confuso, parti para a Europa em 1994. Procurava respostas para questões incômodas. Encontrei algumas. Outras, talvez nunca encontre. No estrangeiro aprendi a importância da disciplina, do amor e da amizade. Sobrevivia no Velho Continente das entrevistas publicadas em jornais e revistas do Brasil (“Folha de S. Paulo”, “O Tempo”, “A Tarde”, “Continente Multicultural”, “Profashional”, “Tribuna do Norte” etc.) e de trabalhos despretensiosos: de cozinheiro na Andaluzia a modelo desnudo de escola de belas artes em Madri.

O amor é um belo delírio condenado à incerteza. O amor renasce quando menos se espera. O amor é aquilo que, ao mesmo tempo, nos cega e nos ilumina.
PEQUENAS HISTÓRIAS do DELÍRIO PECULIAR HUMANO (2012)

De fato, deixei-me contaminar por diferentes expressões artísticas. Existe um constante fluxo de influências entre o que escrevo e o cinema, teatro, música, artes plásticas. Desenvolvi este conceito de deslimitação dos modos de expressão. Esta é a essência da literatura que aprecio. “Se um Viajante Numa Espanha de Lorca”, publicado em Portugal em 2005, é um exemplo deste caminho pessoal de tendência deslimitadora de gêneros literários.

Colaborei com veículos de comunicação portugueses (“Diário de Notícias”, “Público”, “Jornal de Sintra”, “Foco”, “Veludo” etc.) e espanhóis (“La Vanguardia” etc.). Morei temporadas nos domínios de Fernando Pessoa (Lisboa, Sintra e Cascais), na Espanha (Barcelona, Madri, Cádiz e Pontevedra), França (Paris) e Inglaterra (Londres). Em Portugal, publiquei três livros. Guardo na memória conversas fraternas com os escritores José Saramago e Maria Gabriela Llansol. Cobri profissionalmente festivais de cinema e encontros literários, entrevistando cerca de 200 celebridades, algumas premiadas com o Nobel ou o Oscar. Relatei viagens por trem, mar e auto-estradas. Enxergo cidades, mesmo as desaparecidas como Tróia ou Babilônia, nas vozes daqueles que as descrevem. Elas vivem por meio dos seus escritores como foram um dia. A Paris de Proust está em seus livros. A Moscou de Leon Tolstoi, a Florença de Rilke, as terras do sem fim de Jorge Amado etc.

Em 1999, morando em Londres, entrevistei Doris Lessing, participei de sarau ao lado do maluco bardo beat Lawrence Ferlinghetti e interpretei poemas, peladão, no Naked Poetry (Poesia Nua). Ainda no país de Shakespeare, encontrei estima verdadeira na pele do jovem cientista político catalão Joan Sebastian Ribas. Vivemos juntos sete anos. A hora do adeus foi ingrata: aconteceu em um tribunal. Simples e brilhante, Joanzito fala naturalmente oito idiomas. Em 2003, de férias no Brasil, aceitei um inesperado trabalho na Petrobras, em um projeto terceirizado de comunicação; a seguir, os costumes potiguares, escrevendo a biografia do carismático poeta Diogenes da Cunha Lima. Ainda nos trópicos, investi na co-produção de shows e peças de teatro, em Salvador; e publiquei livros, entre eles, “ArtePalavra – Conversas no Velho Mundo” (2003). Colocando outra vez o pé na estrada vaguei por Andorra, Cuba, México, Escócia, Áustria e Grécia. Nesta época, troquei ideias com o escritor norte-americano Paul Bowles, no Marrocos, pouco tempo antes do seu falecimento; e passei meses lúdicos - quase hippies - na Alemanha, Itália e Açores.

Vem-me à cabeça uma imbecilidade: qual será o último livro que lerei antes do apocalipse pessoal e o que representará para os últimos instantes de vida?
SE UM VIAJANTE numa ESPANHA de LORCA (2005)

A relação entre criação e experiências mundo afora é óbvia na literatura. Infelizmente, os que partem e jamais voltam ou os que partem e regressam, os “estrangeirados” – como eu -, continuam a ser, embora mais atenuadamente, uma realidade que gera incomodo. Existe um aspecto tradicional no pensamento coletivo, uma inclinação para aceitar com reservas e suspeitas qualquer inovação. Fechamo-nos demasiado em torno de nós mesmos, em hábitos e rotinas com os quais abafamos o vazio, ou nos deixamos abalar pelo que vem de fora com suas peculiaridades. São facetas do jogo entre o novo e o tradicional, em que o antigo é mais novo do que se julga e o novo não tão novo assim quanto deixa supor. 

Outra vez no sul da Bahia, em 2008, procurei fazer a coisa certa como vice-diretor do Centro de Cultura Adonias Filho; escrevi por mais de um ano a polêmica coluna “Curto / Circuito”, no “Diário do Sul”; dirigi e apresentei o programa “Fina Estampa”, na TV Itabuna; editei blogs informativos bastante visitados (“No Silêncio da Noite”, “El Gitano”, “Três Vezes Bahia” etc.); aceitei convites de bienais e festas literárias em distintas cidades; e meu “Livro de Imagens” (2008) publicado pela Fundação Pedro Calmon, órgão cultural do governo baiano. Terminei por não me defender das emboscadas políticas com grandeza de alma, e ao perder a confiança nos valores vigentes parti mais uma vez.

O maravilhoso de viver é que há a possibilidade de surpresas primorosas. Depois de anos com o pé na estrada, acreditei em Natal – a Noiva do Sol, capital do Rio Grande do Norte - como o lugar imperativo para passar muitos anos. O campo propício para sonhos poéticos. Natal e seu sol ardente receberam-me de braços abertos, mudando o ciclo da minha vida em muitos sentidos. Cresci como ser humano, conheci uma nova cultura, fiz amigos, vivenciei uma belíssima e trágica história de amor, ganhei prêmios e título de cidadão natalense, publiquei livros e uma revista, além de serenar o coração impulsivo. Ando escrevendo sem pressa, ouço jazz e da casa diante do mar observo infinitos, estrelas cintilantes, a lua e a imensidão da maturidade.

Nunca me senti privilegiado ao entrevistar celebridades, muito pelo contrário, às vezes mergulho na crença de ser um estúpido paparazzi, um Marcello Mastroianni perseguindo famosos em “A Doce Vida”.
ARTEPALAVRA – CONVERSAS no VELHO MUNDO (2002)

Está em curso uma baderna do que entendemos por literatura. Os modos de dizer estão confusos. A discussão em torno da literatura tupiniquim ignora o essencial: o papel do escritor na sociedade. Gosto de pensar que somos uma espécie de reserva ética da humanidade, que deveríamos ser consultados por políticos. Enquanto guardiães de uma tradição antiquíssima, coloco-me como intérprete do imenso coração que tudo engloba.

Os escritores contemporâneos perderam o estatuto na sociedade, sobrevivendo entre o excêntrico e o toma lá dá cá. Quando há participação na coisa pública, muitas vezes detecta-se o puxa-saquismo, agravante da intolerável falta de moral. Um famigerado criminoso da guerra dos Bálcãs, com elevadas responsabilidades políticas, antes do conflito foi um reconhecido poeta. Vejo o escritor como um exorcista de demônios, nunca o demônio dele próprio. Talvez os escritores devam recuar para transcender, afinal escritores doutrinados, envolvidos na infâmia partidária, é frustrante e doloroso. É imperioso repensar o papel do escritor, embora me pareça que estamos condenados. Os escritores, creio, são uma espécie de anjos em uma humanidade anestesiada e esvaziada na sua profundeza. Acredito que fazer literatura é um bom remédio para sanar enfermidades íntimas e sociais.

todo desejo tem sua inocência
todo olhar um código
toda aventura um perigo
quem irá me surpreender?
LIVRO de IMAGENS (2009)

Escrever exige dedicação e concentração. Após o romance “Homem sem Caminho”, finalizado ano passado e inédito, mergulhei em um texto que está quase pronto, “O Idoso Desejado”, uma trama policial inspirada em um ancião inglês que vi sentado certa vez em um café de Tânger, fumando cachimbo e sorrindo compreensivamente para o que acontecia ao seu redor. Magro, seco, barba elegante, vestia-se discretamente e não tirou o chapéu. Havia fleuma e reserva nos olhos azuis que fitavam com brilho divertido, irônico até, a clientela local. Exalava calma, mistério e sabedoria pragmática anglo-saxônica. Aquele homem octogenário não tinha um grama de gordura a mais no corpo. Não se alimentava pelo prazer da degustação, mas pelo conhecimento exato e científico do mundo vegetal e animal.

Ao levantar-me, ele afastou a cadeira para eu passar, os nossos olhares se cruzaram, e foi neste momento que resolvi contar a sua possível história. Eu sempre quis ter um avô com quem conversar sobre as coisas estranhas do mundo, as coisas do peito e do pensamento. Um avô que me garantisse as portas da percepção, se abertas com cuidado e atenção, como amplos ciclos de vida, em uma visão ampliada do universo. Um avô que aprofundasse as virtudes da temperança e da harmonia, que penetrasse comigo nos segredos das paixões humanas, e não menos importante, que me ajudasse a tornar-me tolerante e compassivo comigo próprio e com os outros. Então, criei na ficção um garoto solitário que sonha com esse octagenário único, esse homem mais velho especial. Ao avistá-lo em seu trono ilusório, decidi raptá-lo, levando na memória ao templo da narrativa. É intriga que remete ao clássico “O Colecionador”, de John Fowles, ou “As Sete Mulheres de Barba-Azul”, de Anatole France. 


Tendo facilidade de adaptar-me a mudanças inesperadas, encaro desafios com encantamento. Gosto de renovações. Sem lamentações, o roteirista de cinema e TV que nunca deu para ser seria mestre em reviravoltas. Acredito em explorar territórios desconhecidos para encontrar a essência. Afinal, quem não corre riscos perde a chance de se surpreender. Escrever não é apenas sentar à mesa consigo mesmo, na solidão da noite. É escutar o espírito do mundo. Pode ser que, no fim da existência de carne e osso, deixe poucos rastros nítidos da passagem na terra, mas irei com o coração saciado, satisfeito com a fantasia aventureira; ciente que amei demais, escrevi mil e uma vezes, estudei, viajei, fortaleci a alma e li tudo o que pude, e ainda assim parti consciente de que nada sei.