abril 05, 2014

....................................................... PARIS é uma FESTA!



Ilustrações:
GUSTAVE CAILLEBOTTE


Sem motivo aparente, ao hospedar-me no discreto L´Hotel, em St-Germain-des-Prés,  algo me fez finalmente entender que havia chegado ao século 21, ao terceiro milênio, a mais uma nova etapa na longa odisseia do homem. Como o ceticismo juvenil crônico não me permite pintar um futuro animador, sempre achei que morreria bastante jovem, mas que nada, continuo vivíssimo e mais uma vez na luminosa capital francesa, no hotel onde Oscar Wilde passou seus últimos dias. Quanta responsabilidade, meu Deus! Eu gosto de viajar, há diversos lugares que aprecio, mas Paris, além de ser uma grande paixão, tem a vantagem de ser uma cidade que conheço bem. Avesso à faceta turística e com euros contados, percebo a importância da política culta e modernizadora, a tal que jamais despreza sua história e artistas. Quanta diferença do nosso Brasil, caro leitor. Sem me preocupar com a Torre Eiffel ou o Arco do Triunfo, o que parece, à primeira vista, impensável, deixo a emoção rolar apreciando um concerto de órgão na Catedral de Notre Dame. Andando a pé, homenageio a Rainha Margot ao visitar seu palácio, e Victor Hugo, o autor de “Os Miseráveis”, em sua Maison na Place des Vosges (endereço também do Museu Picasso), ambos em perfeitas condições. No Le Père Lachaise, um cemitério inacreditável, deixei frondosas orquídeas nos túmulos de Maria Callas, do astro pop Jim Morrison e de uma atriz que admiro, Simone Signoret.


Nunca fui conformista, tampouco vazio de ideias. Ainda pré-adolescente já amava Paris graças à leitura de Balzac e a filmes vistos no Corujão da Globo, como “A Última Vez que Vi Paris”, protagonizado por Elizabeth Taylor, resultando anos depois em incontáveis visitas, porém só realmente a conheci quando pousei nela durante nove meses. Foi a realização de um sonho antigo que não me decepcionou. Às vezes acontecem-nos termos na cabeça uma ideia sobre um lugar e ao chegarmos temos uma grande decepção, caro leitor. Não foi, de maneira alguma, o meu caso com PARIS. É uma das minhas cidades preferidas. Há normalmente pomposas retrospectivas de pintores, coisas raras de ver. Também sou um bom garfo, e a cozinha francesa é, de fato, irresistível, sobretudo a tradicional. O meu melhor café da manhã está no Café Bleu: tartine e baguette aberta ao meio com manteiga. Há um restaurante do qual gosto muito, em Nevilly, o Café de La Jatte, enorme, bastante movimentado, com gente divertida e sem turistas. Para os amantes de queijos, indico o restaurante-loja Chez Androuet. Quase todos os restaurantes parisienses têm uma iluminação acolhedora, a luz sobre a mesa e luminárias baixas. Os franceses são arrogantes, sem dúvida, mas Paris também é de outras raças, muitos árabes, indianos, vietnamitas, argelinos e marroquinos.  Um encontro de culturas. A cidade é cara, caríssima, mas se pode fazer muitas coisas gastando pouco. De imediato, é preciso não fazer compras e nunca andar de táxi.


Os Campos Elísios, o Boulevard St. Germain, o Jardim das Tulherias, a zona dos pintores em Montmartre, a pirâmide de vidro à entrada do Louvre, a voz de Piaf, os cafés que um dia foram frequentados por Camus, Simone de Beauvoir e outros existencialistas. O Rio Sena completando o cenário de quimérico. A sensação é a de um passado ainda muito presente e monumental. A grandiosidade de palácios, avenidas largas, jardins formosos e bem cuidados. Gosto das boutiques sofisticadas da Rive Gauche, de encher a cara no maluco bairro Marrais, de comer baratos e deliciosos sanduíches gregos, de circular pelas feiras de velharias na margem esquerda do Sena ou comprar fois gras e salmão defumado na Place de La Madeleine. O melhor de PARIS é o charme das ruelas e a luz, uma luz muito particular. Depois há o pão, as baguettes. É também uma cidade em que o bom gosto está presente em qualquer detalhe e que dá vontade de namorar, de ser feliz. Sendo assim, passo dias românticos, reverenciando a arte, o amor e a felicidade. Afinal, como bem escreveu Hemingway: Paris é uma festa! E viajar vez ou outra é imperativo para o espírito. Todos nós precisamos de novas experiências. Elas aumentam algo lá dentro, permitindo que cresçamos. Sem mudanças algo fica adormecido e raramente acorda.