maio 16, 2013

............................ ORBITARIUM (foto-instalação)

orbitarium: fractais
O artista e fotógrafo mineiro MORVAN, Troféu Cultura de Melhor Exposição de 2012 com A Face Oculta, apresentou a foto-instalação ORBITARIUM no Café Salão Nalva Melo, de 12 a 17 de maio, dentro da programação do Circuito Cultural Ribeira, em Natal, no Rio Grande do Norte. Feita especificamente para o Dia da Poesia, a obra cria a ilusão de estranhamento do espaço por meio de criatividade e inventividade, misturando fotografias em preto e branco, versos de ANTONIO NAHUD e elementos da natureza (raízes, pedras e terra). 

Em foco, o interesse formal e temático do artista pela relação do homem com paisagens poéticas reveladoras, trabalhando com questões de percepção por meio de sombras e gravitação. O intuito: levar o visitante para dentro de seu mundo, permitindo que nessa viagem reflexiva interaja com objetos experimentais. ORBITARIUM é inspirado na inquietação de todos nós. Ele mora numa floresta no lado mais misterioso de nossas cabeças”, explica Morvan.

orbitarium: útero
“Não ouviste falar do homem que estava a cavar a terra
à procura de raízesencontrou um tesouro?”
(Khalil Gibran)
                                                                         
Faz-se silêncio. Uma folha amarelo-ouro baila árvore abaixo. Corpos agonizantes falam, riem, grunhem. Depois de 13 anos de vida subterrânea, cigarras nortes-americanas emergem do solo, unem-se em um coro ensurdecedor e em seguida, morrem. Um macaco na África, cheio de dedos, constrói um ninho de galhos e ramos, e nele, enlaçado com seu filhote, adormece. Uma jovem índia caduweo, grávida e de seios fartos, apanha jenipapos de uma cuia de cabaça, e sentada, sob a oca copular da tribo, pinta-se de espirais. Um homem bafora seu charuto da janela da locomotiva, que apita como um grito de terror. Uma jiboia imensa, cheia de filhotes no ventre, nada contra a corrente, em um dos infindáveis e sinuosos igarapés do Amazonas. Milhares de pessoas desejam, seduzidos por algum comercial de TV, um bem de consumo que jamais vão adquirir. Cerca de 100 bilhões de criaturas humanas já pisaram o planeta Terra desde que o mundo existe. As lamparinas acesas atraem insetos que, como em espécie de uma epifania, põem se a circulá-la. Com um fio de teia lançado no ar, aranhas podem viajar centenas de quilômetros pelas correntes de vento, cruzando mares, montanhas ou desertos. O Sol orbita a Via Láctea, a Terra orbita o Sol, a Lua orbita a Terra, e enquanto isso, pessoas orbitam  (através dos olhos e da consciência) fotos-poema que giram suspensas, parecendo dizer: apesar de tudo, o tempo não é nada. A idade não é nada. A eternidade não  existe.

Texto de MORVAN
POEMAS ORBITARIUM

Antonio Nahud

Habitante dos olhos meus, ensino a ler às sombras que acordam, às que nunca dormiram e às que entram no adormecido. Entre abrigos e segredos, nos viciamos na linguagem onde se é morte e se  desmaterializa.

Quando a minha voz se calar, outras aparecerão e eu serei sombra ao vento da memória. Mas, enquanto existo, que hei de fazer para fazer chegar os meus versos à sua incompletude?

Todos esses que já não têm força para erguer no céu as asas, resistem como gravetos, como riscos no pó da terra, numa ternura inefável anunciando o fim.
Esculpido na força espiritual solar, na passagem da vida para o além, abandona-se ao irremediável. Então, num súbito, levanta os braços, aplacando a vórtice da ansiedade e da falta de certezas.

Ó seiva da vida, de todas as árvores, ergue a sua melodia, aniquilando a solidão desta vida demasiado breve.
Na escuridão sagrada, o coração se cala, sonhando com os dias que hão de vir. Uma luz mapeia até ao mais sinuoso mistério. Há de existir uma emoção confortável, uma justiça que reine.

De areia e vida, ligeiramente encantado, o inesperado cava artérias no impossível, numa aventura de risco.

orbitarium: gravidade
orbitarium: trajeto
orbitarium: do pó ao pó
orbitarium: silêncio
orbitarium: tempo
orbitarium: fragilidade

orbitarium