“O papel da literatura é induzir compaixão
mostrando às pessoas o que o mundo realmente é e explicando como se dão mudanças
pessoais nos indivíduos.”
JAMES ELLROY
JAMES ELLROY
Ilustração:
EDWARD HOPPER
EDWARD HOPPER
(Upper Nyack, Nova
York, EUA. 1882 - 1967)
Em entrevista ao jornalista ANTONIO NAHUD, em Madri,
Espanha, 2001, o autor fala sobre seu novo romance.
Poeta urbano impiedoso, JAMES ELLROY (Los Angeles,
Califórnia, EUA. 1948) afirma que seus livros de prosa pessimista “cospem o
mal, cospem o diabólico”. A sua biografia revela uma infância dura, expulso da
escola e de casa, dormindo em parques e sob viadutos, drogas, álcool em
excesso, delinquência juvenil, cárcere e violência ininterrupta – tudo narrado,
anos depois, no livro “Meus Lugares Obscuros”. Depois veio a literatura, a
redenção. Tinha mais de 30 anos quando publicou o primeiro livro. Diz que
escreve romances policiais porque é obcecado por crimes violentos desde a
infância, quando a mãe foi encontrada morta por um dos inumeráveis amantes dela,
em Los Angeles. Ele tinha 10 anos.
Em Madri, apresentou seu mais recente romance,
“Seis dos Grandes”, um calhamaço de quase 900 páginas e segunda parte da
“Trilogia Americana”, iniciada há cinco anos com “América”. É uma narrativa
documentada por fatos policiais e notícias de jornais, produto do trabalho de
documentação do autor. A trama se inicia no dia do assassinato do presidente
John F. Kennedy, em 1963, numa série de conflitos raciais. Um agente do FBI
chega a Dallas para eliminar um suposto assassino e estuprador negro. O sangue
jorra forte à sombra da Ku Klux Klan, J. Edgar Hoover, a máfia, o tráfico de
drogas e os anticastristas, ou seja, todo a infâmia do império norte-americano,
ao lado de assassinos de aluguel com sentimentos e prostitutas com escrúpulos.
Ele diz que não lê os colegas “para não ser
influenciado”. Considera-se “como Tolstói para o romance russo e Beethoven para
a música”. Não tem televisão nem telefone celular. Escreve à mão e conta com
uma secretária para digitar seus livros. Autor de muitos romances (“A Dália
Negra”, “Jazz Branco”, “Sangue na Lua” etc.), considerado o mestre atual do
policial noir, comparado a Raymond
Chandler e Dashiel Hammett, chegou ao sucesso com “Los Angeles: Cidade
Proibida” (1997), graças à adaptação para o cinema de Curtis Hanson, com Russel
Crowe, Kevin Spacey e Kim Basinger.
O escritor tem hoje 53 anos, mas aparenta mais.
É esguio e elegante. Com mais de 1,90m de altura e alma atormentada, JAMES
ELLROY diz que o sonho norte-americano é feito de lixo, violência e mentiras. Confira
a entrevista:
Seus personagens são severamente julgados. Não
entendo como o comparam a Raymond Chandler, escritor cujos detetives e mulheres
fatais são amorais.
Procuro uma viagem moral, descrevendo homens e
mulheres nessa viagem. Julgo meus personagens com severidade e creio que este
novo livro tem uma forte base moral, além de honra, amor, humor e decência. Quanto
a Chandler, era um péssimo escritor. Não entendia bulhufas de policiais.
O senhor parece preferir os policiais aos
detetives particulares.
Claro. Os investigadores privados não entendem
nada do assunto. São amadores bisonhos.
Acredita que os escritores devem julgar costumes
e pessoas como um cronista da miséria moral?
Não sou cronista, sou um escritor. Não opinaria
sobre a pena de morte, os distúrbios raciais em Cincinnati ou o governo Bush.
Não sou um crítico cultural dos EUA. Não aceito esse tipo de limitação. Não
gosto de me encerrar em categorias literárias.
Como gostaria de ser definido?
Um conservador. Sou a favor da pena de
morte. Há certas pessoas que não merecem viver… Aprovo o controle do comércio
de armas. Sou um homem que odeia o niilismo, odeia a promiscuidade, odeia a rebeldia
institucionalizada, odeia os psicopatas e odeia o rock and roll. Parece
incrível, mas gosto de música clássica.
Qual o seu leitor ideal?
Escrevo fundamentalmente para a gente que quer escapar
da realidade e se meter em novos mundos, mesmo que neste mundo encontre o
maligno. Eu respeito meus leitores escrevendo de maneira visceral, com muitas
descrições e um uso consciente da repetição, linguagem própria e rica em
detalhes e uma trama complexa.
Como traduziria os Estados Unidos?
A melhor coisa dos EUA é o capitalismo, o quase
apartheid do sistema de governo, as duas casas do Congresso, direitos de
Estado. É um fato que é uma república que representa a democracia. E acredito
ser imperativo que os EUA permaneçam como um poder dominante. Tenho uma visão
mais militar que social da história.
Qual o seu presidente dos EUA favorito?
São dois grandes presidentes do século 20:
Roosevelt e Ronald Reagan. Roosevelt iniciou os programas sociais e Reagan
ofereceu suspensão de impostos para todo mundo.
Diversas obras suas foram adaptadas para o
cinema com muito sucesso. “Los Angeles: Cidade Proibida” foi indicado para nove
Oscars e ganhou dois. Gosta dos filmes que foram feitos a partir de seus
livros?
É só uma forma de ganhar dinheiro. Eles ferram
seu livro com o roteiro e lhe dão um bom dinheiro. O melhor filme feito de um
de meus livros foi “Los Angeles: Cidade Proibida”. Me rendeu um bom dinheiro.
É
uma versão mais romântica de meu livro, que é muito mais sobre corrupção
institucional e racismo. Mas também reconheço isso como um trabalho de arte que
não criei.
O que tem feito além de promover seu mais
recente romance?
Ando estudando a história do fascismo, para o
próximo livro. Descobri que não há diferença entre fascismo e comunismo.
O que se deve esperar de “Seis dos Grandes”?
A leitura de uma obra-prima, ou melhor, a
segunda obra-prima de três obras-primas chamadas “Trilogia Americana”. Tomo
personagens e fatos verídicos e fictícios e os uno de tal forma que o leitor
crê que tudo é real.
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