Antonio Nahud - MELHORES MOMENTOS
“Sob a tua aparência glacial,
quem sabe lá que arrepio te perturba?”
01
SEM FUMAÇA
Fumei durante nove anos. Primeiro nas
noitadas espanholas de farra. Depois acompanhando o café e a escrita noturna.
Marlboro, Camel, Lucky Strike. Nos últimos anos, fumava uma carteira de Free a
cada dois dias. Sem remorso, pois, como diz o ditado popular, o futuro a Deus
pertence.
Enjoado da aborrecida ladainha social contra
o tabaco (por que não perseguem também os viciados em refrigerantes, enlatados
e fast-food?) e de a cada três meses gastar em dentista, resolvi parar de
fumar. E parei. Desde o dia 13 de novembro. Sem sofrimento. Nem lembro. De
triste somente três quilos extras. Mas voltarei à natação.
02
DOIS DIAS E DUAS NOITES
NO HOSTAL DOS REIS CATÓLICOS
Hotéis me fascinam. Como Mário Quintana,
moraria tranquilamente num deles. Ao longo da vida hospedei-me em hotéis memoráveis,
do Ritz de Paris ao Glória do Rio de Janeiro. Este ano, em Santiago de
Compostela (Espanha), fiquei no histórico e luxuoso Parador de Santiago,
conhecido por Hostal dos Reis Católicos e construído em 1501. Uma viagem no
tempo. Tocante e faustoso.
03
DE VOLTA A BARCELONA
Morei muito tempo nesta bela cidade. Matando
as saudades, este ano passei dias revendo a magia de Gaudí (La Pedrera, a Casa
Batlò, a Sagrada Família etc.) ao lado da querida amiga, empresária de turismo,
Daniela España (entrevistada para o meu então programa de TV). Esplêndido.
04
ENTREVISTANDO CELEBRIDADES
Na Europa, entrevistei há meses quatro
brasileiros na crista da onda: o fotógrafo Sebastião Salgado, a atriz Fernanda
Torres, o escritor Paulo Coelho e a pintora Christina Oiticica. Fiquei contente
com o resultado. Publicadas no Novo Jornal (RN). Página inteira,
chamada de capa.
05
TIRAGEM ESGOTADA
O meu décimo livro, “Confissões”, de poemas, teve
a tiragem esgotada. Circulando em poucas livrarias (Bahia e RN), vendeu-se em
lançamentos, encontros literários, redes sociais. Gracias.
06
NA TV: ALTO ASTRAL E CULT
Fez-me bem o quadro semanal “Ícone”, no
“Programa Virtuall”, TV Natal. Convite da adorável Luciana Oliveira. Eu
roteirizava, apresentava e dirigia minha participação, dividindo a produção com
Lu. Homenageando “Provocações”, de Antonio Abujamra, abria os 30 minutos com um close
interpretando um denso poema. A estreia aconteceu com Manoel de Barros.
A seguir, uma única entrevista descontraída,
reveladora e informativa. Levei gente bacana, como o excelente comediante
Jarita Real. Enquanto conversávamos, bebia-se vinho e havia um clima alto
astral, cult, sofisticado.
Iluminação noir, lustre de cristal, clássicos
cinematográficos como pano de fundo, jazz na trilha sonora, flores reais e
deslumbrantes num vaso de murano. Tinha tudo para dar certo. Fomos elogiados pra
caramba. Um bonito sonho interrompido.
07
DROGAS: MATÉRIA DE CAPA
Na espetacular revista Cumbuca, do Governo do
Estado de Sergipe, edição número 9, publiquei em junho “Combustível Criativo –
Escritores Sob o Efeito de Drogas”. Matéria de capa. Na editoria, o talentoso
Amaral Cavalcante. Visual de primeira. Desejo vida longa ao bonito projeto.
08
NO SALON DU LIVRE DE PARIS
Fui um dos autores brasileiros que
participaram da 35ª edição do Salon du Livre de Paris, um dos maiores eventos
literários da Europa, que aconteceu entre os dias 20 e 23 de março. Embarquei
rumo ao Velho Mundo com o amigo e presidente da Academia Norte-riograndense de
Letras, Diogenes da Cunha Lima.
Autografei “Confissões”, dialoguei com
inúmeros escritores e jornalistas (Fernandinha Torres, Bernardo Carvalho, Paulo
Lins etc.), assisti conferências e me encantei com milhares de novidades literárias.
Monumental.
09
A FELICIDADE COMO TEMA
De volta ao gênero biográfico, durante cerca
de um ano trabalhei na história da empresária potiguar Antônia Alves de Amorim
Morais. Uma saga que valoriza o universo feminino e revela caminhos alternativos
para superar adversidades com dignidade e fé.
Ao som de uma orquestra de violinistas, a
emoção marcou o lançamento de “Nascida para a Felicidade”, minha terceira biografia
de encomenda, na Academia Norte-rio-grandense de Letras, em maio, casa lotada e
mais de 200 exemplares vendidos. Uma experiência super positiva.
10
LA FIESTA
Fui ao aniversário do escritor Paulo Coelho,
em março. A tradicional Festa de São José, que todo ano acontece em uma cidade
diferente na Europa para comemorar o ano novo do autor brasileiro mais lido do
planeta, este ano aconteceu em Santiago de Compostela, na Espanha. Assinando a
produção requintada e sensível, Marc Mendonça. Por lá, conheci muita gente
bacana, inteligente, sofisticada. Entre eles, jornalistas dos principais
veículos de imprensa da Espanha, a apresentadora Ana Maria Braga, o fotógrafo J.
R. Duran, Rosa Rodriguez, Anna Paola Protasio, Barbara Fazzari Tschanen e Acácio.
A festa foi num lugar emblemático, o Parador
de Santiago, conhecido como Hostal dos Reis Católicos, construção do início do
século XVI e hoje um luxuoso hotel. Paulo e sua esposa, Christina Oiticica,
recepcionaram os 155 amigos mais próximos, vindos de todas as partes do mundo.
Na operística celebração, apresentações de grupos
folclóricos galego e de flamenco; bebida para expulsar os maus espíritos; jantar
imperial com culinária galega, oração em 15 idiomas e muito rock ao vivo. Dormi
embriagado, apaixonado, encantado. Uma belíssima festa.
Tudo conspira no estremecimento
que habita o palacete de pedra.
Reis e loucos,
bruxos e pecadores
suspensos por um fio
no coração da vida.
Mensageiros do não-ser
vivendo o incomensurável.
Bailarinos andaluzes, rock grego,
cantores galegos, cardápio faustoso,
um fogo azul e rico,
prece de entranhas
em inúmeros idiomas.
Ardentes, celestes, estelares esferas.
Brilhando e brilhando.
Escritor é pra brilhar....
11
POETA BAIANO DECLARA SEU AMOR A
BARCELONA
De passagem por Barcelona (Espanha), no
primeiro semestre do ano passado, fui entrevistado pela jornalista Daniela
Pacheco para a revista “Brazil com Z”, dedicada ao brasileiro que vive na
Europa.
Fiquei muito grato. Depois da circulação da
entrevista intitulada “Poeta Baiano Declara seu Amor a Barcelona”, recebi
dezenas de mensagens simpáticas de brasileiros que moram no Velho Continente.
12
O ROMANCE
Concluí “Homem Sem Caminho”, cerca de 150
páginas. Iniciado em 2004, em Barcelona, abandonado durante anos, retomado vez
ou outra. Parcialmente inspirado em “Carmen”, de Prosper Merimée. Vivi meses na
Andaluzia pesquisando cenários para a história esboçada.
Lugares de sonho: Estreito de Gibraltar;
bosque La Selva; bar El Caballo; ruínas romanas de Baello Cláudia; praia da
Ilha de Las Palomas etc. Também estive em Tanger, Marrocos, onde parte da trama
se desenvolve.
A saga de um imigrante brasileiro, músico,
protegido pela Virgem de la Luz (com quem faz confidências) e apaixonado por um
libertino cigano andaluz. Erotismo, como síntese do poético e do espiritual.
Desta forma, tal como o mar – ou a fatalidade, como prefiro - a narrativa
caminha inexorável para contidas explosões de sentimentos, para um auge entre a
linguagem lúdica e o vazio existencial.
Um anti-herói camusiano e o seu destino
impetuoso e arrebatador, apontando para um coração deserto, vitimado pela
ausência. Ao seu redor, personagens que habitam um bordel de luxo, imigrantes
ilegais, drogas, crimes, raros escrúpulos e desejos brutos.
Pretendo publicá-lo em 2016. Tenho fé.
13
SAGRADA FAMÍLIA
Respeito o que pula dentro do meu coração.
Dentro dessa fase/frase cabe tanto: sinto um turbilhão de coisas ao mesmo
tempo. Nas férias de final de ano em família, recordações de longa data, Terras
do Sem Fim, cheiro de mato, salitre, reencontros inesperados. Valores
enraizados na cumplicidade, proteção, companheirismo e amor, muito amor.
Gratidão e o sorriso mais íntimo as minhas
amadas e unidas famílias (falo também da Maron). Elas acariciam e respeitam
almas aventureiras, complexas, inquietas. Um brinde a todas as nossas
histórias, a tudo o que vivemos antes de chegarmos até aqui, a tudo o que a
vida ainda guarda pra gente, seja onde e como for.
Parti de peito aberto, espírito sentimental,
cheio de consciência, e isso é como multiplicar o amor por mil. Teremos e
seremos mais uns para os outros. Foi bárbaro. E palmas para Salvador, a capital
baiana ressurge das cinzas nas mãos de ACM Neto.
Meu coração deu cambalhotas como um cão fiel
e apaixonado, e ao mesmo tempo se transformou em animal das matas, em extinção,
mergulhando no passado simbólico, em objetos esquecidos e cenas emocionantes.
Bom demais compartilhar instantes mágicos do
primeiro ano de vida do sobrinho Bernardo; os quitutes e o amor iluminado de
Mamma; o humor e a fraternidade de todos os manos; a exuberância sentimental de
tia Dija; o reencontro inspirador com a alegria da prima Kátia; a vivacidade
artística das afilhadas Tarsila e Serena; o heroísmo emocionante do sobrinho
André e de sua mãe, Vel; as virtudes angelicais de Anita e Marc, meus irmãos
(tão lindos!); adoráveis tia Rita, sobrinho Raphael e prima Mariazinha. Um
beijo em cada um. Sim, as férias acabaram.
Amo todos vocês, família sagrada. Sinto
falta. Sempre. A distância é um sacrifício. Sem arrependimentos, aprendi que
ser nômade é ser insensato. Bom mesmo é estar perto da família. Cada um no seu
canto, mas perto.
Tenho lapidado neuroses. Quero uma maturidade
trajada de velhinho bonachão, poético, de bem com as impossibilidades. E cada
vez mais perto da família.
14
NOVO APARTAMENTO:
UMA CASA É UM TEATRO
Acredito que trocar de casa representa uma
chance de mudanças na própria vida, possibilitando largar hábitos que provocam
uma certa estagnação, e permitindo alguma renovação. Com essa intenção,
mudei-me este ano de apartamento.
Desejava um condomínio mais seguro e
organizado, e o distanciamento da paisagem sem encantos. Nesta mudança, na
arrumação e reorganização, desfiz-me de objetos, roupas, papéis e lembranças
que já não tinham serventia alguma, mas que insistia em guardar.
Passando a vida a limpo, pouco a pouco
esbocei o novo mundinho: exótico, artístico, clássico. Nada de chá de casa
nova, nada de reuniões festivas varando a madrugada. Apenas outro e discreto
apartamento: meu teatro, meu monólogo, meu asteroide.
15
QUADRANTES: ESCREVENDO CRÔNICAS
Num momento em que o jornalismo apresenta claros sinais de desgaste, em que a
chamada imprensa sensacionalista controla o mercado e em que as vendas das
publicações impressas caem vertiginosamente, ler crônicas alivia. A crônica, “fronteira” entre o jornalismo e a literatura, não se propõe a
transmitir informações novas, mas dar vida à opinião de quem a escreve. Uma
crônica legítima, ou seja, culta e honesta, pode ferir o orgulho de muita
gente. Para mim, incomoda-me a crônica vazia, sem estilo, desorganizada, que
nada diz ou diz em excessos enfadonhos. Aprecio crônicas desde sempre. Alegrou-me o convite de Carlos Peixoto, editor
da Tribuna do Norte, para escrever aos domingos na página “Quadrantes”.
Polêmicas à parte, com habilidade, crônicas se adaptam ao novo mundo
orwelliano.
16
LIVRO VOLUNTÁRIO:
OS IDOSOS
Aproveitei o trabalho voluntário num abrigo
de idosos, o Instituto Juvino Barreto, em Natal (RN), dando o mel do melhor no
projeto de um livro contando a história do local, documentando narrativas de
vida de moradores; e seus poemas, canções e desenhos.
Ilustrado por fotografias em preto e branco
de página inteira, estilo Dorothea Lange, que retratou a Grande Depressão
norte-americana, a obra supervisionada por Tamires Oliveira, membro do Conselho
Municipal do Idoso/Natal, tem como objetivo incentivar a cidadania e o trabalho
voluntário.
O trabalho voluntário é amplamente
transformador. Atuar em asilos, casas de apoio ou projetos voltados ao idoso,
traz uma nova perspectiva de vida para todos os envolvidos. Dando a atenção que
a família, por diversos motivos, deixou de dar, satisfazemos figuras solitárias
e suavizamos o nosso emocional. Recompensador.
GALERIA de FOTOS
6 comentários:
Um ano intenso e criativo. Parabéns.
Se não me engano J.P.Sartre disse algo como "Somos aquilo que nos esforçamos para ser." Parabéns.
Nahud, magistral! Como sempre. Muito bom começar o ano, que promete ser árduo, com a sua sapiência e belezura. Assim, a caminhada será mais leve. Vida longa, escritor!!! Feliz Ano Todo. Obrigada.
Feliz 2016 ...Obrigada por seus belas textos.
Criatividade e autenticidade é tudo de bom né!? Adorei!!
Você é demais, esses dias sonhei que nos tornamos amigos e saíamos para beber e conversar... Ah como queria que fosse realidade, ainda vou te conhecer pessoalmente, só pra rirmos e falarmos da vida.
Postar um comentário