Diz a
sabedoria popular, “a primeira profissão foi a de prostituta”. Existem dezenas
de sinônimos para defini-la, nenhum deles é positivo. Desde a antiguidade,
trabalhadores do ramo se dedicam a proporcionar prazer sexual aos seus
clientes. Na Roma Antiga,
as prostitutas eram registradas e pagavam impostos, mas deveriam usar uma
vestimenta diferente (florida ou transparente) para não serem confundidas com
as mulheres “de família”. Apesar da atividade sempre ter sido marginalizada ao longo da história, muitas profissionais do sexo conseguiram se apoiar em seus talentos para conquistar um espaço no mundo. Entre elas
surgiram artistas, imperatrizes, revolucionárias, espiãs e até mesmo santas.
Celebrando o ofício, está em exibição no Museu d’Orsay, em Paris, uma mostra
imperdível: “Splendeurs & Misères”, com subtítulo “Images de la
Prostitution (1850-1910)”. Na época retratada na exposição, a ordem moral burguesa fazia jogo
duplo com o pedágio lascivo. O ofício das “belas da noite” dava vazão, com a
bênção da sociedade, à energia libidinal masculina, reprimida no recinto
dos lares, mas ao mesmo tempo o tráfico do orgasmo era sujeito a preceitos
rígidos em nome do perigo venéreo. Nesse entrechoque movimentado
de comércio carnal, a hipocrisia triunfava. Exigia-se a fiscalização dos lupanares, e as peritas do gozo eram submetidas
a exame periódico da saúde pública. As garotas que vagavam pelas ruas, incorriam em imediata suspeita, assim como
aquelas que desfilavam diante das vitrines dos cafés ou dentro deles se
instalavam, solitárias ou em pequenos grupos.
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andre derain |
A mostra descreve os contextos político, social, moral e econômico nos
quais se desenvolve a prostituição no século XIX. Desmonta os
mecanismos e descreve atores e lugares. Apresenta os esplendores e as misérias
das cortesãs até a primeira década dos 1900, coincidindo, então, com as
cintilações derradeiras da belle époque.
Destaque para a “L’Olympia”, de Edouard Manet, emblemático e agudo
encontro entre a arte e a prostituição, rejeitada que foi pelo Salon d’Art de
Paris, em 1865, e criticada pelos moralistas como uma obra “suja”. A melancolia e a aspereza
da clandestinidade forçada do ofício que, em
Paris, na segunda metade do século XIX, ocupava cerca de 30 mil profissionais, transparecem com clareza em obras de Henri de Toulouse-Lautrec, Édouard Manet e
Henri Gervex, entre outros. O meretrício era, para artistas e boêmios, teoria e prática na capital francesa alegremente convulsionada, metrópole da modernidade.
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pablo picasso |
O
poeta Charles Baudelaire via na prostituição uma forma cruelmente
ambígua de arte (“o belo no horrível”), e tratou também de inverter a equação: “O
que é a arte? Prostituição”, definiu. Nessa exposição do d’Orsay, os dois
universos convergem, as barreiras caem. A pintura revela um perfume de escândalo.
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edouard manet |
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constantin guys |
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henri de toulouse-lautrec |
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jean-louis forain |
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emile bernard |
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auguste chabaud |
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edouard manet |
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jean beraud |
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frantisek kupka |
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henri gervex |
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henri gervex |
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henri de toulouse-lautrec |
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henri de toulouse-lautrec |
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frantisek kupka |
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jean beraud |
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edouard manet |
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edvard munch |
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edouard manet |
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pablo picasso | | | |
DUAS FAMOSAS CORTESÃS da BELLE ÉPOQUE
LA BELLE OTERO
(Agustina Otero Iglesias)
(1868 – 1965. Valga / Espanha)
Nasceu na Galícia espanhola. Feitiço arrebatador das soirées
do Follies Bergère.
MATA HARI
(Margaretha Zelle)
(1876 - 1917. Leeuwarden / Netherlands)
Holandesa,
foi detida como espiã a serviço da Alemanha ao prestar outro gênero de serviço
a um oficial francês no luxuoso Plaza Athénée de Paris. À frente do pelotão de
fuzilamento, desnudou-se e gritou: “O que estão esperando? Atirem!”.
6 comentários:
Muito bom. Parabéns.
Fiquei louca pra ver a exposição!
La Belle Otero era maravilhosa.
As artes, todas, souberam e sabem quanto valeu e vale essa profissão. Não há um só momento de viradas artísticas, notadamente a partir da segunda metade do século 19, em que ela não se tenha apresentado sobranceira e galhardamente. O período das vanguardas (1905-1930), que o diga. O título da exposição no Museu D´Orsay parece reproduzir o de um romance de Balzac: "Esplendores e Misérias das Cortesãs".
Excelente.
Blog 10! Parabéns.
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