novembro 15, 2025

............................... O IMAGINÁRIO POÉTICO de HORÁCIO PAIVA

 

 

 

Fotografias:
STEVE McCURRY
(1950. Filadélfia, Pensilvânia / EUA)

 
 
Um dos mais expressivos poetas do Rio Grande do Norte, HORÁCIO PAIVA (1945. Macau / RN) escreve desde a adolescência, publicando seu primeiro poema, “O Tempo”, aos 16 anos, no jornal macauense “O Nacionalista”. Aos 18, com outros jovens escritores, criou, em Natal, o Movimento dos Novíssimos, que mantinha uma coluna literária no jornal católico “A Ordem”. Lançou seu primeiro livro de poesia em 2002, “Navio Entre Espadas”. Depois de participar em antologias, publicou em 2012 “A Torre Azul” e, em 2017, “Caderno do Imaginário”. Figura ainda como um dos autores do livro “Clarões da Tela – O Cinema Dentro de Nós”, publicado em 2006. No seu trabalho, há temáticas líricas, sociais e de inspiração mística. Formado em Direito, membro da União Brasileira de Escritores do RN, fundador e presidente da Academia Macauense de Letras e Artes (AMLA). Aos 80 anos, conduz uma trilha literária repleta de nuances. Confira na nossa entrevista:
 
01
Quem é o poeta Horácio Paiva?
 
Posso dizer-lhe, um tanto metaforicamente, que sou um discípulo de Orfeu, essa figura mitológica e lendária, que ainda inspira o fazer artístico e tanto influenciou o pensamento e a religiosidade. A minha poesia é voltada ao mistério existencial e à expansão da consciência e temas como vida e morte nela aparecem constantemente. Schopenhauer chegou a dizer que “a morte é a musa da filosofia”, pensamento que também nos remete a Platão e Sócrates, que definiam a filosofia como “preparação para a morte”. E é inegável que a morte tem sido musa, também, na poesia. E quanto se aprende com a poesia, fonte inesgotável de conhecimento! Em minha trajetória existencial, sempre procurei descobrir, ampliar o conhecimento, quebrar paradigmas, enxergar mais longe, inconformado pela limitação de nossos cinco sentidos e percebendo ou crendo que o mundo real é bem maior. Nesta perspectiva, abandonei o materialismo e adotei o idealismo. Isto é, primeiro a ideia, depois a matéria (e esta, expressão da ideia). Procuro enriquecer o horizonte de minha percepção, e, neste rumo, digo que a poesia é profética, porque passa a ser mais ampla do que o simples e concreto. O tema da morte é um desafio, porque a morte é, como a vida, como tudo, um mistério. Mas, numa perspectiva de eternidade, como na visão agostiniana e platônica, não há morte, porque tudo continua existindo. O tempo metafórico que inventamos é o predador de todos nós. Por isso que a morte me interessa, como outros temas essenciais também me interessam. Minha poesia trata dessa minha mudança, até porque fui ajudado por ela. E gosto muito do tema da expansão da consciência, para sentir e pensar com mais intensidade. Por isso não creio que a realidade seja apenas o concreto. Sou, deste modo, um neoplatônico.


02
Como se deu o seu primeiro contato com a literatura?

Muito cedo, através das histórias que minha mãe me contava, algumas tiradas de leituras de Monteiro Lobato (
“O Sítio do Picapau Amarelo”), outras, mais antigas, da tradição europeia, de duendes e fadas. A sensibilidade em relação à vida e à arte cedo se manifestou em mim. Nasci em Macau, cidade marítima, salineira e portuária, com muitas histórias e tradições do mar e do ultramar. Lembro da emoção que senti quando, entre os 4 e 5 anos, vi a encenação de uma dessas cativantes histórias, a da “Nau Catarineta” (na realidade um bailado, cantado, a que chamamos Fandango), realizada em praça pública, num barco improvisado de madeira e lona. A certa altura cheguei a chorar, com a magia da dramatização poética daqueles cantares. Era poesia. Também eram poesia os pastoris, as danças folclóricas, como a dança do coco (que eu assistia no sindicato dos trabalhadores de salinas), a récita dos cantadores de cordel, na praça do mercado público em dias de feira, com suas rabecas de acordes fascinantes, e que, como os velhos aedos gregos, percorriam as cidades dos sertões, cantando as sagas de heróis populares, fictícios ou não, de uma memória quase perdida no tempo. Empolgavam-me, dentre tantos cordéis, o “Romance do Pavão Misterioso”, “A Prisão de Oliveiros, “A Morte dos Doze Pares de França”, “A Vida de Cancão de Fogo e o seu Testamento”, “A Chegada de Lampião no Inferno”, “O Cachorro dos Mortos”, “História da Donzela Teodora”, “O Verdadeiro Romance do Herói João de Calais”, “Roldão no Leão de Ouro, “A Força do Amor ou Alonso e Marina”. Neste último, o início é maravilhoso:

“Nestes versos eu descrevo
a força que o amor tem
que ninguém pode dizer
que não há de querer bem
o amor é como a morte
que não separa ninguém.” 

Todos esses fatos foram precedentes poéticos, preparatórios ao meu ingresso na poesia sob a sua forma erudita. Não lembro bem a idade em que escrevi meus primeiros
“rascunhos” poéticos, mas sei que um livro foi fundamental para assegurar-me nesse caminho iluminado da poesia: uma antologia, uma bela antologia, editada em 1957, organizada por um grande intelectual brasileiro já falecido, escritor, ensaísta, pintor e também poeta, Sérgio Milliet, e intitulada “Obras Primas da Poesia Universal”. Tinha por volta de 12 anos de idade quando a recebi de presente de meu irmão mais velho, Graziani. Até hoje, gosto, particularmente, de antologias, e me encanta a universalidade da poesia, em seus variados estilos.


03

Escrevendo poemas se sente em paz, inquieto com seus pensamentos ou combatendo o bom combate?

Certa vez me perguntaram por que eu escrevia. E respondi:
“Escrevo porque não compreendo”. Acho que a angústia de não entender completamente o mistério da existência é o principal motor do ato de escrever, que é um ato de procura, de descoberta, sobretudo quando se trata de poesia, onde a linguagem é menos linear e onde o uso da metáfora é mais intenso, quebrando limites e facilitando o processo de expansão das ideias. Portanto é um bom e necessário combate que, embora interminável, tem momentos de conquista e de paz. Um grande poeta, Rubén Dario, escreveu:

“Ditosa a árvore que é apenas sensitiva,
e mais a pedra dura, porque essa já não sente,
pois não há dor maior que a dor de ser vivo,
nem maior pesar que o da vida consciente.”


Mas, grandes sábios, como Jesus, Sócrates e Buda, viviam a paz... e nada escreveram. Não quero, porém, encerrar a resposta sem citar também Novalis, esse original e notável pensador e poeta romântico alemão, que diz, em seus “Fragmentos”: “Se, como existe uma lógica, tivéssemos uma Fantástica, ter-se-ia descoberto a arte de inventar. A Poesia é talvez a mais importante fonte do diálogo do homem com Deus. O poeta cria de novo o mundo para os homens e essa criação é obra de conhecimento.”

04
Seus poemas surgem quando está escrevendo ou são planejados com antecedência?

Os meus poemas surgem nas mais diversas ocasiões. Às vezes, quando menos espero, eles chegam quase prontos. Às vezes, vem-me a ideia, que anoto e depois desenvolvo. Mas o surpreendente é que vários surgiram em sonhos. Para captá-los, memorizá-los ou salvá-los, devo fazer o esforço de levantar-me e logo anotá-los, senão se perdem no submundo da mente, retornando às sombras do subconsciente... 


05 
Como define um poema seu como bom, acabado, ou, ao contrário, deleta do computador?

Minha sensibilidade estética, vivência no universo da poesia e, ao mesmo tempo, autocrítica. Quando tenho dúvidas, coloco-o no limbo: numa gaveta por alguns dias. Depois, releio-o. Posso, então, aproveitá-lo, melhorá-lo ou, com ou sem piedade, deletá-lo. Essa ideia da gaveta é um símbolo muito bom. Acho que vi tal conselho em
“Itinerário de Pasárgada”, do grande Manuel Bandeira... ou teria sido em Fernando Sabino?

06
Como caracteriza sua poesia?

Minha poesia, existencial e reflexiva, é uma constante procura da beleza e da verdade - ambas irmãs, como já o disse Emily Dickinson. Uma busca afetiva do conhecimento. Vivo profundamente o mistério da vida e de Deus. Vivenciar, pois, a poesia, a arte e o conhecimento é o meu propósito e ofício. Minha poesia, preferentemente (mas não exclusivamente) é formulada em versos, mas sobretudo voltada para a valorização da imagem e da metáfora, explorando seu campo de juventude, originalidade e expressão. Mas não estou preso a formatos. Já fiz, embora raros, poemas visuais. Consegui até mesmo elaborar (ou seria inventar?), em quadrinhos geométricos coloridos, a tradução de um poema de Verlaine (
Colloque Sentimental). Já o meu poema “Górgona” associa forma visual à palavra escrita. 


07
Muita gente que faz mensagens sentimentais acredita que é poeta. O que é um poeta autêntico?

É o que produz poesia de qualidade, bela e profunda, muitas vezes dando respostas originais a velhos temas, levando-nos à emoção estética e contribuindo para a expansão da consciência humana.

08
A poesia é realmente necessária nessa época tão superficial?

A poesia, a arte de qualidade, é o que pode salvar-nos nessa maré de mediocridade. Novamente volto a Schopenhauer, filósofo que admiro e li muito na juventude, e que diz: A arte justifica o sofrimento da vida.

09
O que acha das teorias literárias? Elas de alguma forma lhe influenciam?

Encaro-as com naturalidade, mas sem exclusivismo. Fazem parte da diversidade e algumas até se complementam. Estão presentes no processo criativo literário e na diversidade de estilos, encontradas ao longo do desenvolvimento dos vários movimentos artísticos. Quanto a mim, zelo pelo meu parentesco com o expressionismo, o surrealismo e o ultraísmo (sobretudo na valorização da metáfora). Do ponto de vista filosófico, admiro a teoria do Élan Vital, desenvolvida por Bergson, que valoriza a intuição. Ainda muito jovem, cheguei a imaginar um caminho ou rota literária que lembrava o automatismo, e o chamei de “extratismo”, por buscar extrair a essência do tema lírico escolhido, com a força desbravadora da intuição. Até o título de um livro imaginei:
“Retrato do Extrato”... Um sonho inconcluso, mas que me deixou lições. 


10
Na sua trajetória, há a preocupação de compor uma obra literária personal?

A preocupação, na realidade, é em ser fiel ao meu subjetivismo e retratar minhas ideias com precisão e harmonia, neste idílio de beleza e verdade.

11
Qual a importância do estilo?

O estilo não é apenas importante, mas fundamental. Esteticamente, é a forma onde se desenvolve a ideia, cuja projeção na beleza, se maior ou menor, dependerá dele.

12
Quais os escritores e poetas brasileiros que tocam a sua sensibilidade?

Vários... mas não vou alongar-me. Cito apenas alguns: Castro Alves, Gonçalves Dias, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Lima, Manuel Bandeira, João Cabral de Mello Neto, Carlos Pena Filho, Auta de Souza, José Lins do Rego, Machado de Assis, Graciliano Ramos, Clarice Lispector, João Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, Mário Quintana, Adélia Prado, Gilberto Avelino, João Charlier Fernandes etc...


13
Como é o seu relacionamento com a poesia?

O melhor possível. Há muito amor! Mas também angústia na procura de sua melhor expressão, mesmo porque, sendo esta infinita, as escolhas são múltiplas. Mas logo aparecem outros desafios...

14
O poeta é diferente de outros homens?

Essencialmente, não. Afinal,
“de poeta, médico e louco, todos nós temos um pouco”, como diz o ditado. Mas o poeta é um celebrante, um oficiante da linguagem, e com ela constrói o seu caminho lírico, ampliando o universo da consciência, resgatando a beleza de seus esconderijos, até os mais insólitos.

15
Escrever é uma vaidade ou uma necessidade num mundo com tanta ignorância e miséria?

Não creio ser uma vaidade a verdadeira arte de escrever.  A arte é um dos campos abertos à exploração do belo, à criação, à realização de importantes descobertas existenciais. Dessa forma, é uma necessidade, e também um antídoto à ignorância e à miséria.


16
Percebo que nos últimos anos o poeta brasileiro vive numa espécie de bolha, uma panelinha de elogios, uma troca de poemas entre poetas, praticamente ignorando os leitores. Por que tem que ser assim?

Bolhas e panelinhas sempre existiram, mas não digo que deva ser assim, com essa banalidade que você aponta e que é fato. Por outro lado, mas sem exclusivismo, é saudável a formação de grupos de amigos, com críticas e sugestões, suas produções literárias, as quais, lançadas, passarão pelo crivo dos demais leitores.

17
Cite um momento seu de epifania literária?

Aqui conto uma história. Tive um sonho, um sonho extraordinário, altamente simbólico e belo, ambientado no Oriente, talvez na Índia, numa época antiga. Além de colorido (com destaque para o dourado), era sonoro, e passava-se num palácio, ricamente adornado para a festa que ocorria: o meu casamento! Eu era um príncipe e ia receber, como esposas, três lindas princesas. Chamava minha atenção a harmonia, o largo entendimento que havia entre elas, mesmo quando me acariciavam, e também a imensa compreensão e alegria que todos expressavam, como se o fato fosse de muita importância para a salvação do Reino. Acordei impressionado e procurando o sentido desse sonho. Uma das hipóteses que me ocorreu foi a do dogma da Santíssima Trindade: a trindade na unidade... Mas a sensação que me ficou foi a de posse de um tesouro, algo transcendental e libertador. Levantei-me e escrevi o poema
“Aquele Sonho”, publicado no meu  “Caderno do Imaginário”.


18
Quais são as coisas que o deixam desolado e as coisas que, eventualmente, o deixam animado?

Há poucos meses, ao completar oitenta anos, escrevi um texto (
“Oitent’anos - Comunicação Lírica em Prosa e Verso”), onde trato dessas questões: a esperança e a desolação. A esperança, que ressurgiu no pós-guerra e a atual desolação ante a possibilidade que se cria de nova catástrofe. Eis alguns breves excertos:

“(...) ao ultrapassar a barreira de meus quatro vinte anos, vejo que a humanidade volta a enfatizar a sua irracionalidade, a percorrer o perigo bélico e parece, ela própria, projetar-se noutro entardecer, sem minaretes e muezins, sem chamamentos à oração, mas ao sangue e à guerra. E isto faz-me lembrar o que dizia o pensador francês Edgar Morin sobre a complexidade do ser humano que, sendo racional, é também irracional. Quantos avisos inúteis ante a vocação apocalíptica para o desastre! Resta-nos, porém, algo maior: o sonho, com suas possibilidades ilimitadas, inclusive a de mudar esse rumo.” 

Mas vejo, na humanidade que não quer aprender, essa vocação trágica para o suicídio global.

19
Como encara a morte e o que espera da sua poesia para além dela?

Guardo sempre comigo esses versos de Calderón de la Barca:
“La vida es sueño / Y los sueños sueños son”. A morte, então, seria o fim de um sonho, ou a ilusão desse fim. E depois, haveria outros sonhos? O mistério não nos permite ir adiante, não abre o véu para que vejamos a legenda... Mas nos permite imaginar e até deduzir que somos parte da eternidade, onde nada finda. Encaro a morte com naturalidade, sem desespero ou apego... Afinal, somos todos viajantes... Bashô, mestre do haicai e grande poeta japonês, assim se manifesta logo no início de seu belíssimo livro de viagens (viagens que fez ao fim da vida), “Sendas de Oku”:

“Os meses e os dias são viajantes da eternidade. O ano que se vai e o que vem também são viajantes. Para aqueles que deixam flutuar suas vidas a bordo dos barcos, ou envelhecem conduzindo cavalos, todos os dias são viagem e sua casa mesma é viagem.”

Quanto a poesia, aos versos que descobri, vivi e expressei, estes não são apenas meus e permanecerão naqueles que os amarem. Mas não sei precisar até quando...


20
Pouco se fala no Brasil da literatura potiguar. É injustiça ou faltam bons escritores na terra de Cascudo?

Você tem razão, quanto ao pouco conhecimento que se tem no Brasil da literatura potiguar. Já Câmara Cascudo dizia:
“Natal não consagra nem desconsagra ninguém.” Mas nada disso quer dizer qualidade e, sim, divulgação. O Rio Grande do Norte tem bons escritores. Mas, apesar de sua excelente localização geográfica, é um estado novo de cabelos brancos. Embora com registros históricos antigos, sua população somente veio a se tornar expressiva recentemente. No começo do século vinte correspondia a pouco mais de 200 mil habitantes e a dependência de Pernambuco era muito grande. Até meados do século XX, os aspirantes potiguares a cursos superiores, como Direito e Medicina, teriam que procurar tais cursos em Recife ou Salvador. E ainda hoje, quanto à literatura, os escritores daqui são pouco divulgados, mesmo dentro do próprio estado.

21
Quem são os grandes poetas do Rio Grande do Norte?

Sempre que ouço essa pergunta, e talvez com receio de praticar alguma omissão, eu me lembro de Montaigne, ao dizer que só haveria justiça no julgamento de um homem após sua morte. Imagine esse pensamento aplicado em relação aos artistas que, muitas vezes, têm o reconhecimento, ou julgamento justo, da alta qualidade de suas obras somente após décadas de seu falecimento -   e isto por inúmeros e variados motivos. Um desses exemplos é o de Emily Dickinson, uma das maiores poetisas dos Estados Unidos, cuja obra só alcançou notoriedade muito tempo após sua morte. Assim, com os mortos ao meu lado, posso destacar alguns deles, dos que mais gosto, com solidez para atravessar os tempos: Auta de Souza, Othoniel Menezes (pelo poema
“Serenata do Pescador”), Edinor Avelino, Palmira Wanderley, José Bezerra Gomes, Jorge Fernandes, Zila Mamede, Luís Carlos Guimarães, Gilberto Avelino, Miguel Cirilo, Walfran de Queiroz, Sanderson Negreiros e João Charlier Fernandes. Não vou me alongar neste assunto, mas, para não frustrar a resposta de tão gentil pergunta, posso dizer, quanto aos vivos, que há um grande laboratório de potencialidades em gestação e, nele, vários e bons poetas potiguares já preparados e, portanto, com espaço para voar.


22
Qual a importância das Academias de Letras nos dias de hoje?

As academias têm um potencial de saber que pode ser muito útil à sociedade. Mas a sua importância maior se revela quando esse potencial passa a figurar em ações práticas e de interação educativa e cultural, que correspondam aos anseios de crescimento intelectual da população que representa. 

23
Tem livros inéditos?

Sim. Dois de poesia (
“Navio Azul Imaginário” e “O Som Imóvel”) e outros, de ensaios (“Encontro com a Poesia”) e memórias (“Gamboa das Barcas – Retratos da Memória”).

24
Em quais projetos poéticos está trabalhando?

Na ordenação desses próximos dois livros de poesia: o primeiro,
“Navio Azul Imaginário”, que reúne poemas novos, ainda não publicados nos livros que o antecedem, e, o segundo, “O Som Imóvel”, uma sinfonia literária em quatro movimentos, com uma seleção de poemas dos quatro livros anteriores.


25
Finalizo, perguntando se está lendo um livro de poesias agora. Ou qual o último que leu. Fale sobre ele.

Sim, sempre estou lendo poesia. O livro atual,
“A Poesia é Necessária, organizado por André Seffrin, é uma seleção de poemas de vários autores (alguns até pouco conhecidos) publicados pelo notável Rubem Braga, no espaço (também sob esse título) que utilizava na antiga revista Manchete (de 1953 a 1956) e na Revista Nacional (de 1979 a 1990). Muitos desses eu já conhecia, da época de sua publicação, e outros, ainda não. Boas escolhas, bons poemas. Obrigado.

26
Eu é que agradeço, caro poeta.


CINCO POEMAS de HORÁCIO PAIVA

AB AETERNO

Não tenhais pressa, irmão:
tudo já se viu
tudo já se disse
tudo já se fez.

A HORA RASA

não há mais onde abrigar-se
o quarto é um símbolo mudo
e a calmaria
sinal de perigo

os odres estão vazios
e muita cautela é preciso ao pisar
as nuvens de silêncios inflamáveis

outrora havia rumor de tambores
que anunciavam a chuva
mas os ventiladores pararam

o quarto está despido
sem sombras e sem luz
sem qualquer movimento de espera
exceto a expectativa
de que uma porta se abra
e exponha o jazigo                       
a exterioridade dos ruídos

Os PONTOS CARDEAIS

norte:
a ursa maior
e o lunário perpétuo

sul:
cardumes de prata

leste:
a barca do sol

oeste:
o fogo de santelmo

ao lado:
olhares primitivos
da noite

ao centro:
uma caverna incógnita
sob as estrelas

grilos

e

alguém
que sonha

SERAFIM

serafim da noite
serafim da morte
serafim do amor

será finda noite?
será finda morte?
será findo amor?

será fim da noite
será fim da morte
será fim do amor

TRISTIUM BAR

                        “Por isso no Bar Savoy
                        O refrão tem sido assim”
                          
Carlos Pena Filho

um poema sobre si mesmo
e em versos brancos
ele quis fazer

aqui está o poema
versos
              mais trancos
que brancos

quebrantos sim
voz seca da noite
quebrando
                     esvaziando
o encanto
                     e o encontro
pondo um ponto final

afinal
           ele estava num bar
iluminado pelos faróis
pela noite veloz
e em tragos sentimentais
                                               tragava
uma cerveja amarga

para molhar a palavra
e melhorar a voz
naquela hora amarga

a solidão matar

GALERIA de FOTOS de STEVE McCURRY
 

saddock albuquerque, horácio paiva e tião maia
lúcia helena pereira, horácio paiva e carlos miranda



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