abril 23, 2017

...... GÜNTER GRASS - a CONSCIÊNCIA CRÍTICA da NAÇÃO ALEMÃ



Ilustrações:

(Gera, Alemanha. 1891 - 1969)

Antonio Nahud entrevistou Günter Grass na Fnac de Madri, em 2000. A entrevista saiu no jornal “A Tarde” (BA) e no livro “ArtePalavra – Conversas no Velho Mundo” (2002).


Quando a maioria tenta esquecer-se do passado, um dos maiores intelectuais da Alemanha remexe o nazismo e denuncia o tema em entrevistas e em livros. Mais do que um gigante literário, GÜNTER GRASS é um tutor moral do pós-guerra. Autor de “A Ratazana” (1986) e prêmio Nobel de Literatura 1999, ele traduz a desordem humana oculta na história política da sua nação. Sua obra tem características dos murais históricos e sociais. Romancista, poeta, escultor e desenhista, é um dos autores definitivos da língua alemã e o principal porta-voz de sua geração.

Nascido em 1927, em Danzig, começou sua carreira literária em Paris, por volta de 1956, e teve o reconhecimento internacional com o barroco “O Tambor”, romance finalizado em 1959, quando ele contava 32 anos, e escrito em um porão da capital francesa. Com o livro, ele ganhou o papel informal de “consciência crítica da Alemanha”. Traduzido para 24 idiomas, relata o estado de quase apoplexia que teria levado homens e mulheres a aceitarem o nazismo como uma extensão de seu caráter. Em meio ao rastro de destruição, o protagonista - um menino interno de um hospício - se recusa a crescer e a entrar na sociedade dos adultos. Volker Schlondorff passou o argumento ao cinema, num filme premiado que divulgou mundo afora o escritor.

Nos anos 1960 e 1970, os romances de GÜNTER GRASS enfocaram a desilusão a pairar sobre a construção de uma nova sociedade alemã. Enquanto escrevia, produzia discursos para Willy Brandt, o primeiro chanceler social-democrata do país, e encontrava tempo para denunciar, por exemplo, a indústria de armamentos alemã ou a “cumplicidade moral” dos católicos e luteranos com o nazismo. Ele se diz “não um pessimista, mas um cético”. Sua missão parece ser a de alertar, por meio da escrita e também da persona pública, a má consciência dos que se esquivam e se desculpam por seus raramente assumidos pecados de guerra. O escritor usa a figura engajada para desmantelar seus compatriotas.


Para ele, o papel do escritor é rasgar feridas que não estejam curadas e é o que faz. Ano passado foi especialmente importante para a sua carreira inovadora. Ganhou o Nobel e o prêmio espanhol Príncipe das Astúrias de Letras. Foi o reconhecimento a um autor engajado politicamente, preocupado com temas como aborto, xenofobia e armas nucleares. Entre seus romances conhecidos estão “O Linguado”, “A Ratazana”, “Maus Presságios” e “Anos de Cão”. O mais recente, “Meu Século”, foi lançado recentemente no Brasil. Homem simples e agradável, 71 anos, incansável fumador de cachimbo, de passagem por Madri concedeu a entrevista publicada adiante.

O senhor provoca ao mesmo tempo amor e ódio entre sua gente. Talvez seja mais querido fora do seu país.

Não creio que tenha a ver especificamente com minha pessoa. Sucede em outros países com outros escritores. Por exemplo, Juan Goytisolo, um autor espanhol a quem aprecio muito. Ele é bastante incompreendido na Espanha e respeitado na Alemanha. Isso sempre acontecerá no universo literário. Não lamento. Estou bem, mesmo com os ataques sofridos no meu próprio país.


Tudo começou há 41 anos com a publicação de “O Tambor”, uma obra que abalou o establishment literário alemão. Esse romance é um clássico do século XX. Influenciou diversos escritores. Entre eles, Gabriel García Márquez.

Fico alegre. Comovente saber que autores mais jovens que eu, como Salman Rushdie ou John Irving, leram na juventude a tradução inglesa de “O Tambor” e que o livro os animou em sua carreira literária. Não como influência, mas como incentivo para seguir escrevendo. Naturalmente que me sinto feliz com o resultado de “O Tambor”.

Menos consensual foi a avaliação de muitos em relação a “Uma Longa História”, publicado em 1995, e o recente “Meu Século”.

A imprensa alemã os considerou ilegíveis e monstruosos. Não é fácil ser sincero em relação a unificação alemã e outros temas delicados, e agradar a todos.


Conhecido como um escritor profundamente politizado, defende, inclusive, minorias. Sua literatura chama a atenção para um mundo humanista, quase desaparecido. Vem daí a polêmica?

Sempre estive ao lado das minorias. Provavelmente tem a ver o fato de ser de origem kachuba por parte de minha mãe, e os kachubos constituem, na Polônia, uma minoria eslava. Não entendo como a gente cruza os braços diante de massacres nos quais são vítimas centenas de pessoas. Muitas vezes me sinto consternado quando nossos pacifistas, que respeito, desconectam sua memória diante de um passado recente terrível. Eu não quero me calar diante dos horrores do meu tempo, diante das loucuras históricas de meus compatriotas.

Sétimo escritor de língua germânica a receber o Nobel. Desde os anos 70 considerado um sério candidato ao prêmio. Demorou pra chegar?

A verdade é que não acreditava que fosse possível. Pensava que não receberia o Nobel. Sinceramente, não esperava, foi uma surpresa. Posso dizer que sinto alegria e orgulho.


“Meu Século” já foi traduzido no Brasil. O senhor conta com admiradores no nosso país. Tem interesse em uma visita?

Há que contar com o tempo, são muitas as coisas que me caem em cima neste momento. Além disso, levo muitos anos escrevendo, estou velho. De modo que a liberdade de movimento nem sempre coincide com a vontade.


TODA a OBRA do ESCRITOR

DIE VORZÜGE DER WINDHÜHNER
(poemas, 1956)

DIE BÖSEN KÖCHE. EIN DRAMA
(peça de teatro, 1956)

HOCHWASSER. EIN STÜCK IN ZWEI AKTEN
(peça de teatro, 1957)

ONKEL, ONKEL. EIN SPIEL IN VIER AKTEN
 (peça de teatro, 1958)


O TAMBOR - Die Blechtrommel
(romance, 1959)

O GATO E O RATO - Katz und Maus
(romance, 1961)

O CÃO DE HITLER - Hundejahre
(romance, 1963)

GLEISDREIECK
(poemas, 1960)


DIE PLEBEJER PROBEN DEN AUFSTAND
(peça de teatro, 1966)

AUSGEFRAGT
(poemas, 1967)

ÜBER DAS SELBSTVERSTÄNDLICHE. REDEN – AUFSÄTZE – OFFENE BRIEFE – KOMMENTARE
(discursos, ensaios, 1968)

ÖRTLICH BETÄUBT
(1969)


DAVOR
 (peça de teatro, 1970)

AUS DEM TAGEBUCH EINER SCHNECKE
(1972)

DER BÜRGER UND SEINE STIMME. REDEN AUFSÄTZE KOMMENTARE 
(discursos, ensaios, 1974)

DENKZETTEL. POLITISCHE REDEN UND AUFSÄTZE 1965–1976 
(ensaios políticos e discursos, 1978)


O LINGUADO - Der Butt
(romance, 1977)

DAS TREFFEN IN TELGTE
(1979)

KOPFGEBURTEN ODER DIE DEUTSCHEN STERBEN AUS
(1980)

WIDERSTAND LERNEN. POLITISCHE GEGENREDEN 1980–1983 
(discursos políticos, 1984)


A RATAZANA - Die Rättin
 (romance, 1986)

MAUS PRESSÁGIOS - Unkenrufe
(romance, 1992)

UMA LONGA HISTÓRIA - Ein Weites Feld
(romance, 1995)

O MEU SÉCULO - Mein Jahrhundert
(memórias, 1999)


PASSO DE CARANGUEJO - Im Krebsgang
 (romance, 2002)

LETZTE TÄNZE
(poemas, 2003)

DESCASCANDO A CEBOLA - Beim Häuten der Zwiebel
(autobiografia, 2006)

DUMMER AUGUST
(poemas, 2007)


A CAIXA - Die Box
(autobiografia, 2008)

EM VIAGEM DE UMA ALEMANHA À OUTRA: DIÁRIO, 1990 
- Unterwegs von Deutschland nach Deutschland. Tagebuch 1990.
(diário, 2009)

PALAVRAS DE GRIMM - Grimms Worter
(ensaios, 2010)


GALERIA de FOTOS

GÜNTER GRASS
 

OTTO DIX

3 comentários:

Rita Atir Guedes disse...

O QUE DIRIA HOJE SOBRE O BRASIL SE VIVO FOSSE EM?

Miriam de Sales disse...

Obrigada por ter me marcado e poder ler sobre o grande escritor.O papel do escritor é observar,perceber e esclarecer. Bjs,Antonio Nahud

Gláucia Lemos disse...

alguem ja elogiou o Tambor em minha presença, mas nunca li este autor infelizme te. Anotarei o nome
obrigada. abraço.