novembro 18, 2018

........................................................................... O JARDIM de CLARICE




Fotografias: 
ERIC SANDER
(Fort de l'Eau /Argélia)


“Naquele jardim do leste havia flores estranhas, dotadas de rara vitalidade: cravos agressivos, com um perfume de “algum modo mortal”; eram de cor vermelha que berravam uma “violenta beleza”, ou brancos que recordavam “o pequeno caixão de criança defunta”. Havia também violetas “introvertidas e profundas”, que se escondiam “para poder captar o próprio segredo” e à diferença dos cravos, não gritavam nunca seu perfume: “Violeta diz levezas que não se podem dizer.” Naquele jardim podia-se ver também margaridas alegres, “de graça infantil”, orquídeas “antipáticas”, jasmins “de mãos dadas” e crisântemos de “profunda alegria” que falavam através de sua cor e de seu despenteado” porque o crisântemo “é flor que descabeladamente controla a própria selvageria”. E havia também rosas cujo perfume é “mistério doido”, que “quando profundamente aspirado toca no fundo íntimo do coração e deixa o interior do corpo inteiro perfumado”

CLARICE LISPECTOR 
“Água Viva” (1973)




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