A
história de cada homem
é essencial, eterna e divina,
e cada homem, ao viver em alguma parte
e cumprir os ditames da Natureza,
é algo maravilhoso e digno de toda a atenção.
Não sou um homem que saiba.
Tenho sido sempre um homem que busca.
HERMANN HESSE
é essencial, eterna e divina,
e cada homem, ao viver em alguma parte
e cumprir os ditames da Natureza,
é algo maravilhoso e digno de toda a atenção.
Não sou um homem que saiba.
Tenho sido sempre um homem que busca.
HERMANN HESSE
Ilustrações:
BAREND CORNELIS KOEKKOEK
(1803 – 1862. Midelburgo / Países Baixos)
Para o inglês Samuel Taylor Coleridge (1772 – 1834. Ottery St Mary / Reino Unido), “poesia são as melhores palavras em sua melhor ordem”. Para o alemão Novalis (1772 – 1801. Wiederstedt / Alemanha), “poesia é a arte de excitar a alma”. Para o norte-americano T. S. Eliot (1888 – 1965. St. Louis, Missouri / EUA), “toda verdadeira poesia é uma visão de mundo”. Três sublimes definições da poesia. Aqui vamos falar de um dos poetas que mais me identifico, quiçá iluminar sua criação poética. Eu me apaixonei por HERMANN HESSE (1877 – 1962. Calw / Alemanha) ainda na juventude. Ele me comove profundamente. A partir dos treze anos li tudo dele que caía nas minhas mãos, alguns livros duas vezes seguidas, como “Demian” (1917), “O Lobo da Estepe” (1927) e “Narciso e Goldmund” (1930). Muitos anos depois, morando em Barcelona, conheci sua poesia traduzida ao espanhol. Encantado, estive no pequeno museu dedicado a ele, em Montagnola, na Suíça. Esse pequeno vilarejo próximo a Lugano foi seu refúgio por mais de quarenta anos, até o súbito falecimento.
No local que um dia foi a residência do escritor, me emocionei diante da sua máquina de escrever, assim como ao ver o seu chapéu de palha, com o qual ele gostava de passear e que acabou se tornando uma marca registrada. Outros objetos pessoais exibidos são fotos, livros e aquarelas, que dão uma impressão da vida privada do escritor. Ao lado, no Café Literário Boccadoro, li em português para um atento público estrangeiro, um conto meu em sua homenagem, “Um Breve Assombro”. Suíço-alemão, sua literatura busca um sentido para a vida, levando o autor a preferir a solidão, longe das aglomerações urbanas que lhe eram penosas de suportar. Ele se dizia um poeta das nuvens, sem raízes e sem pátria-lar. Em 1918, no ensaio “Sobre Poemas”, afirmou que não existem poesias boas ou más, porém autênticas ou falsas. Começou a poetar aos doze anos de idade, confidenciando à irmã Adele, num bilhete de 1889: “Faz já algum tempo que me levanto às seis da manhã, e nas primeiras horas matinais escrevi duas poesias, Der fremde Jäger e Der Schwanenritter.”
Seu primeiro volume de poesias foi publicado, por sua conta, em 1899, “Canções Românticas”, com influências de Novalis e Heinrich Heine (1797 – 1856. Düsseldorf / Alemanha). Em 1902 saiu o seu segundo livro de versos, intitulado “Poesias”, já comparando as mutações da natureza com as do ser humano. Seu terceiro livro de poesias, “A Caminho”, circulou em 1911. Em 1913 publicou o volume de poemas “Viagem à Índia”. Com menos rigor formal, com menos apego a metrificação e à rima, sai em 1915, “Música do Solitário”. Em 1920, o poeta, que dois anos antes começara a pintar aquarelas, ilustra cada um dos dez poemas do livro “Poemas do Pintor”, um enorme sucesso de vendas. Daí por diante, não faltaram admiradores que lhe encomendassem poemas manuscritos e ilustrados, naturalmente muito bem remunerados. Em 1942 publica-se “Os Poemas”, com mais de seiscentos títulos, incluindo reflexões da guerra e da esperança de paz. Em 1963, no ano seguinte ao da morte do poeta, a Editora lnsel lançou “Os Derradeiros Poemas”.
Além de poeta, HERMANN HESSE foi romancista, ensaista, contista e pintor. Sua literatura explora temas como individualidade, espiritualidade e a busca por autoconhecimento, frequentemente se aprofundando na vida interior de personagens que lutam contra as expectativas sociais, a alienação pessoal e o anseio por uma existência autêntica. Poeta confessadamente lírico, introspectivo, evasivo e amargo quase sempre. Sua poesia é intimista, de homem afeito à solidão e à natureza, ainda mais à solidão em meio à natureza. Profundamente meditativa e filosófica, ela reflete a influência do Romantismo e do Simbolismo. Emprega imagens da natureza e explora temas de ensimesmamento, anseio e da condição humana, lidando com questões de identidade e a procura de significado em um mundo percebido como caótico ou desiludido. Com uma tiragem de vendas de mais de 100 milhões de exemplares, é o escritor mais lido de língua germânica. A obra do Prêmio Nobel de Literatura de 1946 foi traduzida em 54 idiomas e até hoje exerce um fascínio em todas as partes do mundo.
O seu livro mais popular é disparado “Siddhartha” (1922), inspirado numa de suas viagens ao Oriente. Depois de publicar com sucesso os primeiros livros, casou-se com Maria Bernoulli, mudando para junto do Lago Constança, perto da fronteira da Alemanha com Áustria e Suíça. Uma viagem à Índia, em 1911, deixa-o impressionado com o universo espiritual daquele país. A Primeira Guerra Mundial causa estragos no seu estado psicológico, mas não deixa de escrever. Em 1923, o casamento entra em crise, ele se afasta da mulher e no ano seguinte casa-se com Ruth Wenger, separando-se em 1927. Em 1931 une-se com aquela que será a sua companheira até ao final da vida: Ninon. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a escrita de HERMANN HESSE estagna. Desiludido com o nazismo, defende os judeus e suas obras são banidas. Mesmo depois da guerra, diminui o ritmo de publicações. Na parte final da sua vida se dedica mais à pintura e à correspondência abundante de leitores que lhe chega por causa da fama. Morre aos 85 anos, a 9 de agosto de 1962.
O LOBO da ESTEPE
DEZ
POEMAS de HERMANN HESSE
Tradutores:
Geir Campos, Ivo Barroso
e Lya Luft
01
A MEU IRMÃO
Quando revemos nossa casa, agora,
andamos encantados pelos cômodos,
ficamos longo tempo no jardim
onde – meninos levados – brincávamos.
E de todos os outros esplendores
que pelo mundo afora conquistamos,
nenhum mais nos alegra nem agrada
quando o sino da igreja faz-se ouvir.
Calados repisamos velhas trilhas
cruzando o verde terreno da infância:
e elas no coração tornam-se vivas,
grandes e estranhas, como um belo conto.
Mas tudo o que estaria à nossa espera
já não há de ter mais o puro brilho
de outrora – quando, ainda rapazolas
no jardim caçávamos borboletas.
02
DEGRAUS
Como emurchece toda flor, e toda idade
juvenil cede à senil – cada andar da vida
floresce, qual a sabedoria e a virtude,
a seu tempo, e não há de durar para sempre.
A cada chamado da vida o coração
deve estar pronto para a despedida e para
novo começo, com ânimo e sem lamúrias,
aberto sempre para novos compromissos.
Dentro de cada começar mora um encanto
que nos dá forças e nos ajuda a viver.
Devemos ir contentes, de um lugar a outro,
sem apegar-nos a nenhum como a uma pátria:
não nos quer atados, o espírito do mundo
- quer que cresçamos, subindo andar por andar.
Mal a um tipo de vida nos acomodamos
e habituamos, cerca-nos o abatimento.
Só quem se dispõe a partir e a ir em frente
pode escapar à rotina paralisante.
É bem possível que a hora da morte ainda
de novos planos ponha-nos na direção:
para nós, não tem fim o chamado da vida...
Saúda, pois, e despede-te, coração!
03
DIA na SERRA
Canta, coração meu:
é hoje o teu momento!
Amanhã estás morto:
estrelas brilham e tu não vês,
pássaros cantam e tu não ouves.
Canta, coração meu,
que é teu este momento:
o teu fugaz momento!
Sobre a neve irisada e resplendente sorri o sol,
nuvens ao longo pairam coroando a várzea,
tudo é novo, tudo é calor e brilho,
não há sombra que pese nem aflição que doa.
Respirar é tão bom: respirar é um dom,
é prece e cântico.
Alma, respira: abre-te bem ao sol,
enquanto dura o teu fugaz momento!
É doce a vida, a dor é doce, e o enlevo:
feliz de cada floco em pó ao vento,
feliz de mim – cerne de Criação,
dileto filho da Terra e do Sol,
por um momento,
por um risonho momento,
até que o floco se dissipe ao vento!
Canta coração meu:
é hoje o teu momento!
Amanhã estás morto:
estrelas brilham e tu não vês,
pássaros cantam e tu não ouves.
Canta, coração meu,
que é teu este momento:
o teu fugaz momento!
04
NEBLINA
Estranho é caminhar na densa névoa:
Solitária está cada planta ou pedra,
Nenhum arbusto enxerga o seu vizinho,
Cada um está só.
Cheio de amigos era, para mim, o mundo
Quando luminosa ‘inda era minha vida;
Agora, que a névoa caiu,
Ninguém mais é visível.
Não é deveras um sábio
Quem não conhece a escuridão
Que, suavemente, nos separa
De tudo inexorável.
Estranho é caminhar na densa névoa:
Viver é estar solitário
Entre gente que se ignora.
Todos estamos sós!
05
No CASTELO de BREMGARTEN
Quem um dia plantou os velhos castanheiros,
quem um dia bebeu a água a esguichar da fonte,
quem um dia dançou no salão enfeitado
- foram-se todos, esquecidos e enterrados.
Hoje é a nossa vez: para nós brilha o dia
e cantam para nós alegres passarinhos,
sentamo-nos à mesa e sob a luz das velas
brindamos ao dia que é para nós eterno.
Quando nós formos e estivermos esquecidos,
nas árvores altas ainda se há de escutar
o gorjeio do melro e o cântico do vento,
e lá embaixo entre as pedras o rio a espumar.
No vestíbulo, na hora do grito noturno
do pavão, hão de estar aqui outras pessoas:
falarão, louvarão a maravilha da hora,
embandeirados barcos estarão passando,
e o eterno presente há de rir como agora.
06
O POETA e
seu TEMPO
Fiel a imagens eternas, firme na contemplação,
tu estás pronto para o ato e para o sacrifício;
falta-te ainda, no entanto, um tempo desassombrado
de ofício e púlpito, confiança e autoridade.
Há de bastar-te, num posto perdido,
ante o deboche do mundo, compenetrado da fama que tens,
renunciando ao brilho e aos prazeres do mundo,
guardar aqueles tesouros que não azinhavram nunca.
Não te faz mal a zombaria das feiras,
enquanto ouves a voz sagrada, ao menos:
se ela entre incertezas cala, te sentes um renegado
do próprio coração – feito um bobo na terra.
Pois é melhor, por uma realização futura,
servir sofrendo, ser sacrificado,
do que ter grandeza e reino pela traição
ao sentido do teu sofrer – tua missão.
07
Fiel a imagens eternas, firme na contemplação,
tu estás pronto para o ato e para o sacrifício;
falta-te ainda, no entanto, um tempo desassombrado
de ofício e púlpito, confiança e autoridade.
Há de bastar-te, num posto perdido,
ante o deboche do mundo, compenetrado da fama que tens,
renunciando ao brilho e aos prazeres do mundo,
guardar aqueles tesouros que não azinhavram nunca.
Não te faz mal a zombaria das feiras,
enquanto ouves a voz sagrada, ao menos:
se ela entre incertezas cala, te sentes um renegado
do próprio coração – feito um bobo na terra.
Pois é melhor, por uma realização futura,
servir sofrendo, ser sacrificado,
do que ter grandeza e reino pela traição
ao sentido do teu sofrer – tua missão.
07
PROVA TARDIA
Mais uma vez das larguezas da vida
volta o destino rude a constringir-me:
pretende, no aperto e na escuridão,
submeter-me à miséria e à provação.
O que a custo pareço ter obtido
– calma, sabedoria, um certo tato,
uma vida sem medo e sem remorso:
seriam coisas para mim, de fato?
Ah, cada um desses amáveis dons
me foi como que arrancado das mãos,
um após outro, pedaço a pedaço...
Foram-se os tempos de satisfação!
Montão de cacos e lugar de escombros
foi sempre o mundo e foi a minha vida:
talvez choramingando eu me rendesse,
não fosse esta minha obstinação!
Esta teima, do fundo de minha alma,
em fincar pé, lutar sem desistir;
esta crença em que o atual tormento
há de ceder à claridade antiga.
Esta inflexível e quase insensata
crença infantil que soem ter os poetas
em eternas e inapagáveis luzes
brilhando acima de qualquer inferno.
08
RABISCO na AREIA
Que encantamento e beleza
sejam brisa e calafrio,
que o delicioso e bom
tenha escassa duração
- fogo de artifício, flor,
nuvem, bolha de sabão,
riso de criança, olhar
de mulher no espelho,
e tantas outras coisas fabulosas
que, mal se descobrem, somem –
disso, com pena, sabemos.
Ao que é permanente e fixo
não queremos tanto bem:
gemas de gélido fogo,
ouros de pesado brilho,
por não falar nas estrelas
que tão altas não parecem
transitórias como nós
e não calam fundo na alma.
Não: parece que o melhor,
mais digno de amor, se inclina
para o fim, beirando a morte,
e o que mais encanta – notas
de música, que ao nascerem
já fogem, se desvanecem –
são brisas, são águas, caças
feridas de leve mágoa,
que nem pelo tempo de uma
batida de coração
deixam-se reter, prender.
Som após som, mal se tocam,
já se esvaem, vão-se embora.
Nosso coração assim
leal e fraternalmente
se entrega ao fugaz, ao vivo,
não ao seguro e durável.
Cansa-nos o permanente
- rochas, mundo estelar, joias –
a nós, transmutantes, almas
de ar e bolhas de sabão,
cingidos ao tempo, efêmeros
a quem o orvalho na rosa,
o idílio de um passarinho,
o fim de um painel de nuvens,
fulgor de neve, arco-íris,
borboleta que esvoaça,
eco de riso que só
de passagem nos alcança,
pode valer uma festa
ou razão de dor. Amamos
o que é semelhante a nós,
e entendemos os rabiscos
que o vento deixa na areia.
09
RAMO em FLOR
Para cá e para lá
sempre se inclina ao vento o ramo em flor,
para cima e para baixo
sempre meu coração vai feito uma criança
entre claros e nebulosos dias,
entre ambições e renúncias.
Até que as flores se espalham
e o ramo se enche de frutos,
até que o coração farto de infância
alcança a paz
e confessa: de muito agrado e não perdida
foi a inquieta jogada da vida.
10
os seus
dedos molhados,
tu vens a mim,
esguia corça hesitante,
dos territórios do sonho.
Então andamos ou nadamos ou voamos
por entre bosques, rios, bandos de animais,
estrelas e nuvens com tintas de arco-íris:
tu e eu, a caminho da terra de origem,
rodeados de mil formas e imagens do mundo,
ora na neve, ora ao fogo do sol,
ora afastados, ora muito juntos
e de mãos dadas.
Pela manhã o sono se dissipa,
afunda dentro de mim,
está em mim e já não é mais meu:
começo o dia calado, descontente e irritadiço,
porém algures continuamos a andar,
tu e eu, rodeados de coleções de imagens,
a interrogar-nos entre os encantos da vida
que nos embroma sem saber mentir.
tu vens a mim,
esguia corça hesitante,
dos territórios do sonho.
Então andamos ou nadamos ou voamos
por entre bosques, rios, bandos de animais,
estrelas e nuvens com tintas de arco-íris:
tu e eu, a caminho da terra de origem,
rodeados de mil formas e imagens do mundo,
ora na neve, ora ao fogo do sol,
ora afastados, ora muito juntos
e de mãos dadas.
Pela manhã o sono se dissipa,
afunda dentro de mim,
está em mim e já não é mais meu:
começo o dia calado, descontente e irritadiço,
porém algures continuamos a andar,
tu e eu, rodeados de coleções de imagens,
a interrogar-nos entre os encantos da vida
que nos embroma sem saber mentir.
LIVROS de POESIA de HESSE
CANÇÕES ROMÂNTICAS (1899)
Romantische Lieder
POESIAS (1902)
Gedichte
A CAMINHO (1911)
Unterwegs
VIAGEM à ÍNDIA (1913)
Aus Indien
MÚSICA do SOLITÁRIO (1915)
Musik des Einsamen
POEMAS do PINTOR (1920)
Gedichte des Malers
TRANSFORMAÇÕES (1922)
Piktors Verwandlungen. Ausgewählte Gedichte
CONSOLO da NOITE (1923)
Trost der Nacht
ANDARES - ANTOLOGIA POÉTICA (1941)
Stufen - Ausgewählte Gedichte
Os POEMAS (1942)
Die Gedichte
FELICIDADE (1949)
Über das Glück: Betrachtungen und Gedichte
COM a MATURIDADE, FICA-SE
CADA VEZ MAIS JOVEM (1957)
Mit der Reife wird man immer jünger
Os DERRADEIROS POEMAS (1963)
Die Spaten Gedichte
FONTES
CONHECER HERMANN HESSE e sua OBRA (1965)
de José Maria Carandell
DEMIAN, de HERMANN HESSE: a DUALIDADE
Mit der Reife wird man immer jünger
Os DERRADEIROS POEMAS (1963)
Die Spaten Gedichte
FONTES
CONHECER HERMANN HESSE e sua OBRA (1965)
de José Maria Carandell
DEMIAN, de HERMANN HESSE: a DUALIDADE
LUZ e SOMBRA (2020)
de Lucilia Lúbia de Sousa Pinheiro
HERMANN HESSE, o HOMEM e o LOBO (2011)
de Ivo Barroso
O MUNDO INSONE e OUTROS ENSAIOS (1909 - 1941)
de Stefan Zweig
CURTA-METRAGEM
HERMANN HESSE'S LONG SUMMER (1997)
de Lucilia Lúbia de Sousa Pinheiro
HERMANN HESSE, o HOMEM e o LOBO (2011)
de Ivo Barroso
O MUNDO INSONE e OUTROS ENSAIOS (1909 - 1941)
de Stefan Zweig
CURTA-METRAGEM
HERMANN HESSE'S LONG SUMMER (1997)
direção
de Werner Weick
https://youtu.be/Wzb_W_kJNnI?si=eSyKWD-5h5Nie9R0
https://youtu.be/Wzb_W_kJNnI?si=eSyKWD-5h5Nie9R0
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