A Tarde (BA)
Ilustrações:
ROGER FRY
(1866 - 1934. Londres / Reino Unido)
Reconhecida como extraordinária escritora,
principalmente entre leitores-escritores, e ainda mais valorizada com o passar
dos anos, a inglesa VIRGÍNIA WOOLF (1882 - 1941. Londres / Reino Unido) teve em vida uma atuação literária discreta
e morreu acreditando que fracassara no seu ofício. O êxito recente de “As Horas / The Hours” (2002), versão do romance de Michael Cunninghan indicado
ao Oscar de Melhor Filme, trouxe seu nome de volta ao mundo midiático. Citado
nas três histórias do filme de Stephen Baldry, o cativante “Mrs. Dalloway” (1925) pontuou pela
primeira vez a lista dos mais vendidos em muitos países. Como o James Joyce de “Ulisses / Ulysses” (1922), a narrativa se desenvolve em horas, das dez da manhã às três da madrugada. Um dia na vida da
esposa de um membro do Parlamento, a elegante Clarissa Dalloway, que prepara
mais uma de suas famosas recepções, enquanto questiona seu próprio casamento e
mergulha no passado.
virgínia e vanessa bell |
Há simetrias, ressonâncias e descontinuidades, numa trama
muito bem urdida. A autora é prodigiosa
na exploração dos desvãos da consciência e das ambiguidades entre os afetos e
as convenções sociais. Passado e presente se intercalam, e acessamos os vários
planos da subjetividade por meio de um elaborado uso do discurso indireto
livre. Muito se comentou sobre “Mrs. Dalloway” desde que o livro foi
publicado pela primeira vez. Foi considerado impressionista,
criticado pela falta de unidade e reverenciado por ser revolucionário em termos
de linguagem. Já se disse que a obra faz uso
de técnicas de justaposição e montagem, como no cinema. Há quem trate o livro como
um ensaio filosófico. Também pode ser lido como um documento das
transformações sociais e políticas dos anos 1920, ou como um romance
psicológico. Ou mesmo como uma história de amor, com final aberto.
VIRGÍNIA WOOLF foi o autor que mais me marcou. Ao ler “Passeio ao Farol / The Lighthouse” (1927), ainda adolescente, a ideia de literatura
deu uma reviravolta na cabeça. Considerada a sua criação mais autobiográfica, desenvolve-se através de efeitos psicológicos, símbolos, metáforas,
sensações. São páginas de tonalidades, cheiros, sons e sentimentos densos
falando da família Ramsay, em férias de verão num casarão próximo ao mar. Boa
parte dos familiares deseja visitar um farol do outro lado da baía, mas a
excursão só será concretizada muitos anos depois, quando vários personagens morreram
ou estão ausentes. “Passeio ao Farol” é emblemático na produção woolfiana: a
autora vasculha o passado familiar, refletindo sobre a vida e a morte.
Semana após semana, li tudo dela que encontrava: “Noite e Dia
/ Night and Day” (1919), “O Quarto de Jacob / Jacob´s Room” (1922), “Um Teto todo Seu / A Room for One´s Own” (1929), “As Ondas / The Waves”, (1931), “Os
Anos / The Years” (1936).
Considero “Um Teto Todo Seu” um
excêntrico (e realista) manual literário. Obra necessária e urgente para escritores.
Defende os direitos da mulher e da criação literária, recordando escritoras que
foram obrigadas a se camuflar com nomes masculinos para sobreviver, caso das
irmãs Bronte que usaram os pseudônimos Currer, Ellis e Acton Bell. Os “Diários” me serviram como
incentivo para o estudo literário, abrindo-os ao acaso noites sem fim e
lendo suas páginas durante anos. É o mais importante diário que li, superando os de André
Gide, Albert Camus, Anais Nin ou o belo legado do mineiro Lúcio Cardoso. Do
prazer de lê-lo veio o meu hábito de escrever diários abstratos.
De persona difícil, conflituosa, muitas
vezes mesquinha, ferina em seus comentários sobre a notável contista
Katharine Mansfield ou James Joyce, entre outras personalidades conhecidas (ou não), VIRGÍNIA WOOLF se revela na escrita com
excelência, angústia, densidade. Ela acreditava na arte como independência, jamais
desistindo de sua liberdade pessoal. Cultuava uma melancolia irrecuperável, podendo
ser notada ainda hoje em preciosas fotografias. Em 1925, publicou “O Leitor Comum / The Common Reader”, ensaios
literários. “Orlando / idem” (1928), sua obra mais ambiciosa e conhecida,
apresenta um belo aristocrata atravessando os séculos até surgir como mulher,
numa odisseia histórica através de costumes, fantasia e identidades. Acontece como se a narradora estivesse escrevendo uma biografia. Isso faz do texto mais leve e livre, pois ela conta a
história, dá sua opinião, oferece informações sobre teorias literárias e também
brinca com a possibilidade da biografia ser levada a sério ou não. Em
1992, Sally Potter faria uma versão impecável deste romance infilmável.
“As Ondas” é a sua criação mais radical, recebendo desde o lançamento o reconhecimento unânime dos críticos e de outros escritores. Marguerite Yourcenar, sua tradutora francesa, descreveu-o assim: “É um livro com seis personagens, ou melhor seis instrumentos musicais, pois consiste unicamente em monólogos interiores, cujas curvas se sucedem e entrecruzam com uma segurança que lembra A Arte da Fuga de Bach. Nesta narrativa musical, os breves pensamentos de infância, as rápidas reflexões sobre os momentos de juventude e de confiante camaradagem desempenham o mesmo papel dos allegros nas sinfonias de Mozart, abrindo espaço para os lentos andantes dos imensos solilóquios sobre a experiência, a solidão e a maturidade. Tanto como uma meditação sobre a vida, As Ondas são um ensaio sobre a solidão. Trata-se de seis crianças que vemos crescer, diferenciarem-se e envelhecer. Uma sétima criança, que nunca toma a palavra e que só conhecemos através dos outros, é o centro do livro ou melhor o seu coração.” Em 1930, Virginia anotou em seu diário: “Acho que este é o mais complexo e o mais difícil de meus livros. Como terminá-lo, a não ser por uma enorme discussão na qual cada vida terá sua voz, uma espécie de mosaico, não sei”.
Nascida Adeline Virginia Stephen, em 25 de janeiro de 1882, Londres, a escritora nunca estudou em escolas. Sofrendo de febres reumáticas e crises nervosas, completou a formação escolar na imponente biblioteca da família. Filha de classe rica, seu pai era o biógrafo e filósofo Sir Leslie Stephen, diretor do jornal “Cornhill Magazine”. Ele escreveu a afamada “História do Livre Pensamento Inglês no Século Dezoito”. A escritora perdeu sua mãe, Julia Duckworth, aos 13 anos de idade, sofrendo a primeira grave depressão que a levaria mais adiante a tentar o suicídio várias vezes, num deles se atirando de uma janela e noutra entrando em coma ao tomar soníferos. Da mãe herdou um harmonioso rosto oval, testa alta, nariz fino e expressivos olhos claros. Tinha sete irmãos (Laura, George, Gerald, Stella, Vanessa, Thoby e Adrian), três deles do primeiro casamento da mãe, e mesmo unidos escondiam segredos, como um possível estupro de VIRGÍNIA WOOLF por um deles, marcando-a. Uma de suas irmãs, e melhor amiga, Vanessa, casada com o crítico literário Clive Bell, pintava.
Desde garota ela demonstrava inclinação
para a literatura, editando “The Hyde
Park Gate News”, um jornal caseiro distribuído entre os familiares. Com
a morte do pai em 1905, mudou-se com os irmãos para uma casa no bairro
londrinense de Bloomsbury, Gordon Square, 46, começando a dar aulas de literatura a operárias no Morley College.
A nova residência era local de encontro de escritores, intelectuais e
companheiros de universidade do irmão mais velho, Thoby. Conhecido como o “Grupo de Bloomsbury” discutiam todas
as noites de quinta-feira sobre política, arte, costumes da burguesia e progressos
da classe operária. Ao longo de trinta anos, este bando receberia gente
do quilate do economista Maynard Keynes, o filósofo Bertrand Russell, os
escritores E. M. Forster e Lytton Strachey, o pintor Roger Fry e o historiador
e ensaísta Leonard Woolf, com quem a escritora se casou em 1912, estando ele sempre ao seu
lado mesmo nos piores momentos.
O registro romântico dos membros do Bloomsbury, aliás,
demonstra que estavam muito a frente das convenções inglesas da época. Um emaranhado de relações amorosas se entrelaçava entre eles. As
paixões gays e bissexuais seriam o ponto alto. O escritor Lytton Strachey, mesmo gay, propôs casamento a
Virginia antes dela casar-se com Leonard Woolf. A vida social do grupo girava
em torno de várias casas de campo e os amigos costumavam passar as férias
juntos na França, Itália e Grécia. Entre as casas mais badaladas estavam a de
Virginia e Leonard e a de Lady Ottoline Morrell, uma rica mecenas das artes inglesas. Lady Morell inseriu no grupo
artistas como o coreógrafo e bailarino Frederick Ashton e a estrela do ballet
russo Lydia Lopokova.
vita sackville-west |
No
final dos anos 1920, VÍRGINIA WOOLF viveu uma tórrida paixão com a também escritora Vita
Sackville-West, participante do grupo e
casada com um diplomata. Este romance daria origem a “Orlando”, descrito pelo filho de Vita, Nigel Nicolson, como “a maior e
mais encantadora carta de amor da literatura”. Escritora, Vita era uma mulher muito
moderna para a época, viveu muitos casos de amor, gostava de viagens e tinha
uma desenvoltura muito natural para lidar com a sua vida e todos os seus
desejos. Virginia, por outro lado, era mais contida, porém sempre soube muito
bem o que queria em relação aos relacionamentos que teve, isso, talvez,
explique seu amor por Leonard Woolf que ficou imortalizado na sua carta suicida
“ninguém poderia ter sido mais felizes do que fomos”. A escritora não amou menos Leonard, ou Vita, ou outras, ela separava e retribuía os seus amores. Além de Vita, se apaixonou pela
prima Madge Vaughan (esboçada na personagem de Sally Seton em “Mrs. Dalloway”) e pela amiga Violet
Dickinson.
Em 1917 o casal Woolf fundou a
editorial “The Hogarth Press”,
lançando VIRGÍNIA WOOLF publicamente no mundo das letras e editando obras
importantes de Leon Tolstói, Gógol e Sigmund Freud. A política da editora:
publicar o que fosse inovador e de boa qualidade. A trajetória literária da
escritora se iniciou como crítica literária do “The Guardian”, em 1904, e como colaboradora do suplemento cultural
do “The Times”. Influenciada pelo filósofo francês Henri Bergson, embarcou no conceito
de tempo-memória, no embalo do francês Marcel Proust. Publicou o primeiro livro aos 37
anos de idade, não parando mais.
Ao lançar “Noite e Dia” provocou inquietação, perplexidade e tensão. O poeta
T. S. Eliot, amigo de VIRGÍNIA WOOLF e um de seus leitores mais apaixonados,
disse na ocasião que a autora havia encontrado o mais autêntico caminho.
Admiradora de Emily Bronte, Daniel Defoe, Laurence Sterne e Thomas De Quincey,
ela construiu uma literatura arriscada, intimista e poética. Uma escrita que
lhe levava ao pânico e ao desespero. Passava noites acordada perguntando se a
sua arte, o sentido e a intenção de sua vida não seriam frivolidades. De
precário equilíbrio físico e mental, os preparativos
para cada publicação motivavam uma angústia terrível, acentuando a ansiedade e
a depressão. Foi internada em 1915, dois dias antes do lançamento de “Fim de Viagem / The Voyage Out”. A protagonista deste
livro abandona a proteção doméstica para adentrar na efervescência da vida,
acabando por se apaixonar e morrer. “Escrever
é um supremo alívio e a pior condenação”, disse a autora, traduzida no
Brasil por Cecília Meireles, Mário Quintana e Lya Luft.
manuscrito de virgínia |
Quem foi realmente VIRGÍNIA WOOLF?
Deixou inúmeros testemunhos de sua vida: diários em 30 volumes, milhares de
cartas, novelas confessionais memoráveis. Ainda assim não é possível
decifrar completamente o enigma. Estava louca? Gostava sexualmente de
homens? Acreditava no feminismo? Qual a verdadeira natureza de sua agonia?
Avessa aos moldes tradicionais do masculino e feminino, a escritora acatava uma
mente andrógina. Jornalista, ensaísta, biógrafa e contista, temperamento mutante,
pouco estável e caprichoso. O sobrinho Quentin Bell lembra como momentos mais
preocupantes de sua existência quando a tia imaginou o rei Eduardo VII de
Inglaterra nu, no jardim, falando obscenidades, e ouviu pássaros cantando em
grego.
Na primavera de 1941, mais exatamente
no dia 28 de março, as notícias sobre a Segunda Guerra Mundial abalaram ainda
mais os nervos frágeis da escritora. Temia que a catástrofe a separasse dos
amigos. Aos 59 anos, vivendo com Leonard em Rodmell, há uns poucos quilômetros
do Canal da Mancha, após os bombardeios nazistas destruírem sua casa londrina.
No jardim, escreveu cartas de despedida para o marido e a irmã Vanessa,
seguindo para o rio Ouse. Encheu os bolsos de pedras, afogando-se nas águas
gélidas. Na ribanceira deixou a bengala e o chapéu; o corpo, arrastada pela
corrente, foi encontrado três semanas depois por alguns garotos. “Queridíssimo:
tenho a certeza de enlouquecer novamente, sinto que não poderemos enfrentar
esses terríveis momentos. Desta vez não terei recuperação. Começo a ouvir
vozes. Não posso me concentrar. Assim que vou fazer o que me parece
melhor”, escreveu para Leonard. Depois de várias versões, havia acabado
de concluir “Entre os Atos / Between the Acts” (1941). O livro acentuou sua enfermidade, provocando ataques de loucura e a morte planejada.
VIRGÍNIA WOOLF deixou um conjunto de obras-primas. Invólucro translúcido, traduz cristalinamente a alma do leitor, numa ruptura em relação aos métodos tradicionais de criação ficcional. Através dela podemos compreender melhor as pequenas (grandes) questões do nosso cotidiano, que muitos críticos chamam de ausência de enredo, mas que transformam as nossas vidas quando menos percebemos.
VIRGÍNIA WOOLF deixou um conjunto de obras-primas. Invólucro translúcido, traduz cristalinamente a alma do leitor, numa ruptura em relação aos métodos tradicionais de criação ficcional. Através dela podemos compreender melhor as pequenas (grandes) questões do nosso cotidiano, que muitos críticos chamam de ausência de enredo, mas que transformam as nossas vidas quando menos percebemos.
FRAGMENTOS de “As ONDAS”
de Virginia Woolf
tradução de Lya Luft
“Qual a frase para a lua? E a frase para o amor? Com que nome
devemos designar a morte? Não sei. Preciso de uma linguagem reduzida como a dos
amantes, palavras de uma sílaba como a que as crianças falam quando entram no
quarto e encontram sua mãe costurando e apanham um pedacinho de lã colorida,
uma pluma ou uma tira de chintz. Preciso de um uivo; um grito. Quando a
tempestade vara o charco e passa por cima de mim, deitado na vala sem ser
notado, não preciso de palavras. De nada que seja exato. De nada que baixe com
todos os seus pés no chão. De nenhuma daquelas ressonâncias e adoráveis ecos
que se quebram e repicam de nervo em nervo em nossos peitos, formando música
selvagem e frases falsas. Acabei com a frase.”
“Ele me esquecerá. Deixará sem resposta minhas cartas […]. Eu lhe mandarei poemas, talvez ele responda com um cartão-postal. Mas é por isso que o amo. Proporei um encontro – debaixo de um relógio, ou numa encruzilhada; esperarei, e ele não virá. É por isso que o amo. Ele se afastará da minha vida, esquecido, quase inteiramente ignorante do que foi para mim. E, por incrível que pareça, entrarei em outras vidas; talvez não seja mais que uma escapada, um simples prelúdio. […] continuarei a deslizar para trás das cortinas, para o seio da intimidade, em busca de palavras sussurradas a sós. Por isso parto, hesitante mas altivo; sentindo uma dor intolerável, mas seguro de que vou triunfar nessa aventura após tanto sofrimento, seguro – quero crer – de que no fim descobrirei o objeto do meu desejo.”
“Ele me esquecerá. Deixará sem resposta minhas cartas […]. Eu lhe mandarei poemas, talvez ele responda com um cartão-postal. Mas é por isso que o amo. Proporei um encontro – debaixo de um relógio, ou numa encruzilhada; esperarei, e ele não virá. É por isso que o amo. Ele se afastará da minha vida, esquecido, quase inteiramente ignorante do que foi para mim. E, por incrível que pareça, entrarei em outras vidas; talvez não seja mais que uma escapada, um simples prelúdio. […] continuarei a deslizar para trás das cortinas, para o seio da intimidade, em busca de palavras sussurradas a sós. Por isso parto, hesitante mas altivo; sentindo uma dor intolerável, mas seguro de que vou triunfar nessa aventura após tanto sofrimento, seguro – quero crer – de que no fim descobrirei o objeto do meu desejo.”
“Mas se algum dia você não vier depois do café da manhã, se algum
dia avistar você em algum espelho, talvez procurando por outro homem, se o
telefone toca e toca em seu quarto vazio, então, depois de indizível agonia,
então – pois não tem fim a loucura do coração humano – procurarei outro,
encontrarei outro você. Nesse meio tempo, vamos abolir com um sopro o tiquetaque
dos relógios.”
“Por isso odeio espelhos que me revelam meu verdadeiro rosto.
Sozinha, muitas vezes mergulho no nada. Preciso firmar meu pé fortemente, se
não, caio do limite do mundo para dentro do nada. Preciso bater minha mão
contra uma porta rija, para me chamar de regresso a meu corpo.”
“Agora vou embrulhar minha angústia dentro do meu lenço. Vou
amassá-la numa bola apertada. Antes das aulas, quero ir sozinha ao bosque de
faias. Não ficarei sentada à mesa fazendo cálculos. Não me sentarei perto de
Jinny e perto de Louis. Vou levar minha angústia de depositá-la nas raízes sob
as faias. Vou examiná-la, pegá-la entre meus dedos. Não me encontrarão. Comerei
nozes e procurarei ovos entre as sarças, meu cabelo ficará emaranhado e vou
dormir sob as sebes, bebendo água das poças, e morrerei lá.”
“Mas espere. Enquanto somam a conta atrás do balcão, espere um
momento. Agora que me vinguei de você pelo golpe que me fez cambalear entre
migalhas e cascas e velhas lascas de carne, registrarei, em palavras de uma
sílaba, o modo como, também debaixo do seu olhar, com aquela minha compulsão,
começo a perceber isto, aquilo e outras coisas mais. O relógio tiquetaqueia; a
mulher espirra; o garçom chega – há um encontro gradual, uma reunião, uma
aceleração, uma unificação. Ouça: um apito soa, rodas disparam, a porta range
nos gonzos. Recupero a consciência da complexidade e da realidade e da luta,
pelo que lhe agradeço. E com alguma compaixão, alguma inveja e muita boa
vontade, pego sua mão e lhe desejo boa noite.”
“O nó na minha garganta vai diminuindo. Palavras juntam-se,
grudam-se, atropelam-se umas por cima das outras. Não importa quais sejam.
Empurram-se e trepam uma nos ombros das outras. As isoladas, as solitárias
acasalam-se, cambaleiam, multiplicam-se. Não importa o que digo. Como um
pássaro a esvoaçar, uma frase cruza o espaço vazio entre nós. Pousa nos lábios
dele.”
17 comentários:
Puxa, lindo post, Antonio Nahud!!! Grata por tão bela homenagem! Adoro Virginia! Bjos
Virgínia é uma das melhores leituras que já fiz na vida. Uma densidade de longo fôlego.
Amoooooo!! Excelente post!!
Que bela matéria ! Escritora fértil fecunda sensível, em páginas de tensão, utilizando diversos planos temporais num só momento. O filme As Horas, do livro homônimo, é belo exemplo da versatilidade dessa escritora genial !
Gostei de Orlando.
Falando em Orlando, também é linda a adaptação para o cinema com a Tilda. Ótima postagem.
Sou muito fã de Lady Dalloway. preciso ler mais sobre ela.
Beleza
Uma escritora envolvente...sua obra é genial!!!
Uma de minhas deusa
Orlando, Momentos de Vida e Mrs. Dalloway são meus favoritos..
Maravilhosa!!!!
Impressionante! Nunca li Virgínia Woolf. Na próxima ida à livraria ela estará presente. Agradeço com meu coração a dedicatória . Você é um belo, alguém apaixonante.
Perfeita descrição dessa personalidade da literatura e da vida. Parabéns, Nahud!... Afinal... "Quem tem medo de Virginia Woolf?"...
Como já dizia um certo revolucionário: não podemos perder a ternura jamais! É como você disse certa vez, Nahud, a resposta vem de dentro da alma. Você conseguiu mostrar a sua alma e os seu encantamento neste belo texto. Virginia Woolf é demais!
Nestes dias me peguei pensando em pessoas que admiro, e, independente da relação que vc tenha com seu ídolo, pq acho que esta relação e muito particular de cada pessoa, para mim são pessoas que despertam sentimentos. Seja sentimentos de amor, amizade e ate confusão. Para mim sao pessoas que fazem vc sentir la no fundo, no coração. E, sendo assim, posso afirmar que sou sua fã, Antopnio Nahud. Adoro seus textos.
ALGUM QUE TRANSCENDE O CONCEITO DE BELEZA, QUE PERFEIÇÃO!
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