dezembro 07, 2015

............................................................................. PASSAREDO



a pai Antonio, que amava passarinhos

CHICO BUARQUE e FRANCIS HIME

Ei, pintassilgo
Oi, pintarroxo
Melro, uirapuru
Ai, chega-e-vira
Engole-vento
Saíra, inhambu
Foge asa-branca
Vai, patativa
Tordo, tuju, tuim
Xô, tiê-sangue
Xô, tiê-fogo
Xô, rouxinol, sem-fim
Some, coleiro
Anda, trigueiro
Te esconde colibri
Voa, macuco
Voa, viúva
Utiariti
Bico calado
Toma cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí

Ei, quero-quero
Oi, tico-tico
Toma cuidado
Anum, pardal, chapim
Xô, cotovia
Xô, ave-fria
Xô, pescador-martim
Some, rolinha
Anda, andorinha
Te esconde, bem-te-vi
Voa, bicudo
Voa, sanhaço
Vai, juriti
Bico calado
Muito cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí


Desde que foi lançada no disco “Meus Caros Amigos”, em 1976, a canção que lembra diversos nomes de pássaros fez história. O refrão icônico “bico calado, toma cuidado, que o homem vem aí” embala este hino politizado. Na época, mesmo tendo chamado a atenção do técnico de censura, que sublinhou o refrão, a música foi liberada. Nestes quase quarenta anos, algumas espécies citadas na letra desapareceram, muito provavelmente para nunca mais.

Carioca, nascido em 19 de junho de 1944, CHICO BUARQUE é filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda, autor de “Raízes do Brasil” (1936). Músico, compositor, dramaturgo e escritor, ele é um dos nomes expressivos da MPB. Na lista de sucessos que fazem a história da música brasileira estão muitas canções suas, entre elas “Passaredo”.


Revelou-se ao público ao ganhar com a música “A Banda”, interpretada por Nara Leão, o II Festival de Música Popular Brasileira, em 1966. Conquistou reconhecimento de crítica e público. De ideologia de extrema esquerda, teve várias músicas censuradas, e foi ameaçado pelo regime militar. Exilou-se na Itália em 1969. No teatro, escreveu peças importantes da dramaturgia brasileira, como “Calabar”, que foi proibida, assim como Roda Viva”.

Escreveu romances como “Estorvo” (1991), “Budapeste” (2004) e “Leite Derramado” (2009), que ganharam o prêmio Jabuti de Literatura. Algumas das suas obras foram adaptadas ao cinema.  


TODAS as AVES de PASSAREDO, de CHICO BUARQUE

Texto de Zé Edu Camargo
Seleção de fotos de Antonio Nahud
http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/blog/brasil-das-aves/todas-as-aves-de-passaredo-de-chico-buarque/2014/05/16/

Uma pequena descrição da origem de cada ave da letra. Este não é um trabalho científico, mas sim um esforço de curioso. Imprecisões, portanto, são mais que prováveis. E correções, dicas e opiniões, muito bem-vindas. Até porque os nomes comuns, ou populares, são coisa mais fluida e escorregadia para pesquisadores do que cocô de passarinho. Porque mudam daqui para ali, de um tempo para outro.

ANDORINHA

Também é um nome genérico associado á família Hirundinidae, com mais de uma dezenas de espécies que ocorrem no Brasil, como a andorinha-pequena-de-casa (Pygochelidon cyanoleuca) e a andorinha-serradora (Stelgidopteryx ruficollis).

ANUM

O anu-preto (Crotophaga ani) ou anum é uma ave que pode ser vista com facilidade em áreas abertas, plantações e brejos, da Flórida à Argentina. Muitas vezes reúne-se em bandos numerosos.

ASA-BRANCA

A canção “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, faz referência a uma pomba, ou pombão (Patagioenas picazuro), muito comum em diversas partes do Brasil. Mas asa-branca também é o nome comum de uma marreca (Dendrocygna autumnalis) encontrada em todo o território nacional.

AVE-FRIA

Vanellus vanellus, espécie da família Charadriidae (a mesma família do nosso quero-quero), também conhecida como abibe-comum. É típica do Hemisfério Norte.

BEM-TE-VI

Pitangus sulphuratus. O bem-te-vi é inconfundível pelo canto, do qual deriva seu nome (em outros países também tem o nome onomatopeico associado ao canto, como kiskadee, em inglês). Ave onipresente nas cidades de todo o país.

BICUDO

Ameaçado, o bicudo (Sporophila maximiliani) foi caçado à exaustão para servir de ave de gaiola, graças ao seu canto melodioso. O desmatamento do cerrado e os agrotóxicos também são ameaças á sobrevivência da espécie.

CHAPIM

O nome refere-se diretamente a duas aves da família Paridae comuns na Europa, o chapim-azul e o chapim-real. No Brasil, o canário-da-terra-verdadeiro (Sicalis flaveola) também é conhecido como canário-chapim ou canário-chapinha – possivelmente é a ele que Chico se refere na letra.

COLEIRO

Sporophila caerulescens, coleiro ou coleirinho (nome comum mais conhecido), é um dos papa-capins mais abundantes do Brasil, principalmente no Sul e Sudeste. Recebe esse nome pela “coleira” branca na garganta.

COLIBRI

Sinônimo de beija-flor, nome de diversas espécies da família Trochilidae. São aves encontradas apenas no continente americano.

COTOVIA

Nome que indica aves do Velho Mundo, da família Alaudidae (com apenas um representante na América do Norte). A cotovia-comum (Alauda arvensis), a mais conhecida delas, é considerada espécie nacional da Dinamarca.

CHEGA-E-VIRA

Um dos muitos nomes comuns da marreca irerê (Dendrocygna viduata), comum inclusive nos lagos urbanos de muitas cidades brasileiras. Ocorre também em outros países americanos e na África ocidental.

ENGOLE-VENTO

Nome não muito comum para designar diversas espécies de bacuraus, ou curiangos. São aves noturnas por excelência, encontradas em todo o Brasil. O termo “engole-vento” pode derivar do hábito de apanhar insetos em voo, com a boca aberta.

INHAMBU

Nome comum de várias aves da família Tinamidae, a maioria encontrada em ambientes florestais. Duas delas deram origem ao nome da dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó: o inhambu-chintã (Crypturellus tataupa) e o inhambu-chororó (Crypturellus parvirostris).

JURITI

Nome associado a quatro espécies de médio porte da família Columbidae (a mesma das rolinhas). As mais comuns são a juriti-pupu (Leptotila verreauxi) e a juriti-gemedeira (Leptotila rufaxilla).

MACUCO

Tinamus solitarius, espécie florestal que povoa a Mata Atlântica. Sempre visada por caçadores, também corre riscos em função do desmatamento.

MELRO

Designação em português para uma ave do velho continente, Turdus merula, do mesmo gênero dos nossos sabiás (toda preta, lembra muito o sabiá-una da Mata Atlântica). No Brasil também é nome popular de diversas espécies, de modo especial a graúna (Gnorimopsar chopi).

PARDAL

Passer domesticus, ave introduzida no Brasil, ocupa hoje quase todo o território nacional. Também se espalhou por todo o mundo, graças ao grande poder de adaptação. É muito comum em ambientes urbanos.

PATATIVA

Sporophila plumbea, espécie da família Thraupidae de vasta distribuição no Brasil e América do Sul. Conhecida pelo canto melodioso, é capaz de imitar outras aves. Uma de suas subespécies não ocorre no país (é restrita ao norte da Colômbia).

PESCADOR-MARTIM

Martim-pescador, nome que indica cinco espécies da família Alcedinidae no Brasil. Encontradas sempre à beira-d’água, alimentam-se de peixes, crustáceos e insetos. O nome deriva da estratégia de caça dessas aves.

PINTASSILGO

Sporagra magellanica. Ave comum em quintais e matas secundárias no sul e sudeste do Brasil. Tem o corpo amarelo e a cabeça preta. Não confundir com o pintassilgo-europeu (Carduelis carduelis), espécie introduzida nas Américas.

PINTARROXO

Nome comum em português de várias aves da família Fringillidae, nenhuma delas com ocorrência no Brasil. É possível que, por associação, em algumas regiões brasileiras seja usado esse nome para designar uma ave local.

QUERO-QUERO

Chico Buarque é um conhecido apaixonado pelo futebol. E já deve ter fugido de muito quero-quero (Vanellus chilensis) nos campos do Brasil onde bate suas peladas: a ave gosta de fazer o ninho em gramados ou áreas abertas de vegetação baixa.

ROLINHA

Nome usado para designar diversas espécies da família Columbidae (a mesma das pombas e juritis), geralmente as de menor porte. Talvez a mais conhecida seja a rolinha-roxa, ou caldo-de-feijão (Columbina tapalcoti), encontrada em ambientes urbanos de todo o Brasil.

ROUXINOL

Ave do Velho Mundo de canto melodioso, por associação emprestou o nome a uma espécie amazônica, o rouxinol-do-rio-negro (Icterus chrysocephalus). Em algumas regiões do Nordeste a corruíra (Troglodytes musculus) também é chamada de rouxinol.

SAÍRA

Indica diversas aves do gênero Thraupidae, algumas muito ameaçadas, como a rara e bela saíra-apunhalada (Nemosia rourei), hoje restrita a uma pequena área do Espírito Santo.

SANHAÇO

O nome sanhaçu (ou sanhaço) é usado para designar diversas espécies das famílias Thraupidae e Cardinalidae. Um dos mais conhecidos é o sanhaçu-cinzento, comum no Sul, Sudeste e Nordeste.

SEM-FIM

Um dos muitos nomes populares do saci (Tapera naevia), também conhecida como matita-perê, matinta-pereira e outros inúmeros nomes. Deu nome a um dos mais belos discos de Tom Jobim (e é citada na letra de “Águas de Março”, além de dar nome a uma das músicas do álbum).

TICO-TICO

Comum em todo o Brasil, só não é encontrado em áreas densamente florestadas da Amazônia. O tico-tico (Zonotrichia capensis) também pode se visto em países da América Latina – há mais de duas dezenas de subespécies. Espécie muito comum mesmo em ambientes urbanos.

TIÊ-SANGUE

Espécie endêmica do Brasil, Ramphocelus bresilius, chega a ser comum em trechos da Mata Atlântica litorânea. O macho tem uma coloração vermelha intensa, que dá nome à espécie. A plumagem da fêmea é mais discreta. Tiê-fogo é outro nome comum do tiê-sangue.

TORDO

Uma designação comum para aves do gênero Turdus, a mesma dos sabiás. O tordo-comum é uma ave europeia. No entanto, diversas espécies desse gênero ocorrem no Brasil, como o sabiá-laranjeira.

TRIGUEIRO

Provavelmente refere-se ao Trigueirão (Emberiza calandra), espécie com distribuição na Europa, norte da África e Europa.

TUIM

Menor representante da família Psittacidae (dos periquitos e papagaios) no país, o tuim (Forpus xanthopterygius) é muito comum em boa parte do Brasil. Existem cinco subespécies conhecidas.

TUJU

Lurocalis semitorquatus, ave noturna da mesma família dos bacuraus, a Caprimulgidae. Ocorre do México até a Argentina.

UIRAPURU

Nome comum de diversas aves por todo o Brasil, muitas delas entre as mais bonitas da nossa avifauna, como o uirapuru-laranja. No entanto, o uirapuru-verdadeiro (Cyphorhinus arada) parece ter inspirado a maioria das lendas em torno desse nome. Ave amazônica, tem um canto belo e característico.

UTIARITI

É o mesmo quiriquiri, um rapinante de pequeno porte comum em boa parte do Brasil.

VIÚVA

Provavelmente faz referência à viuvinha (Colonia colonus), um tiranídeo comum de áreas abertas em boa parte do Brasil. É inconfundível, pelas penas longas da cauda e pela mancha branca no alto da cabeça. Mas também pode indicar a saíra-viúva (Pipraeidea melanonota).

10 comentários:

Luiz Barbosa disse...

Lindo

Edivaldo Martins disse...

Beleza natural

Angela Pieruccini disse...

Linda homenagem para teu pai , Antônio

Silvia Lopes disse...

Lindas fotos !

Elenice Sanches Lopes disse...


Belíssimas fotos! !

Aldina Sc disse...

Lindo

Chico Lopes disse...

Queria ter conhecido seu pai. Também adoro.

Maria do Perpétuo Socorro Vieira Braga disse...

Belíssimo!

Rita Atir Guedes disse...

Ah os pássaros! Admiro de paixão esses serzinhos multicores que aparentam uma fragilidade, mas que são ágeis e fortes plainando no infinito. Nos permitindo conhecer o sabor da liberdade e sua importância tanto para eles como para nós seres humanos. Seu canto ecoa em meus ouvidos como uma sinfonia. As aves são símbolo de delicadeza, liberdade e grandeza Divina!

Paulo Mangini disse...

Belo post.