a pai Antonio, que amava passarinhos
CHICO BUARQUE e FRANCIS HIME
Ei, pintassilgo
Oi, pintarroxo
Melro, uirapuru
Ai, chega-e-vira
Engole-vento
Saíra, inhambu
Foge asa-branca
Vai, patativa
Tordo, tuju, tuim
Xô, tiê-sangue
Xô, tiê-fogo
Xô, rouxinol, sem-fim
Some, coleiro
Anda, trigueiro
Te esconde colibri
Voa, macuco
Voa, viúva
Utiariti
Bico calado
Toma cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí
Ei, quero-quero
Oi, tico-tico
Toma cuidado
Anda, trigueiro
Te esconde colibri
Voa, macuco
Voa, viúva
Utiariti
Bico calado
Toma cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí
Ei, quero-quero
Oi, tico-tico
Toma cuidado
Anum, pardal, chapim
Xô, cotovia
Xô, ave-fria
Xô, pescador-martim
Some, rolinha
Anda, andorinha
Te esconde, bem-te-vi
Voa, bicudo
Voa, sanhaço
Vai, juriti
Bico calado
Muito cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí
Lançada no disco “Meus Caros Amigos”, em 1976, essa canção lembra
diversos nomes de pássaros. O refrão “bico calado, toma
cuidado, que o homem vem aí” embala este hino politizado. Nestes quase quarenta anos, algumas espécies
citadas na letra desapareceram, muito provavelmente para nunca mais. Carioca,
nascido em 19 de junho de 1944, CHICO BUARQUE é filho do historiador
Sérgio Buarque de Hollanda, autor de “Raízes do Brasil” (1936). Músico, compositor, dramaturgo e escritor. Na lista de sucessos da
música brasileira estão canções suas, entre elas “Passaredo”.
Revelou-se
ao público ao ganhar com a música “A Banda”, interpretada por Nara Leão, o II Festival de Música Popular Brasileira, em 1966. De ideologia de extrema esquerda, teve
várias músicas censuradas durante o regime militar. Exilou-se na Itália
em 1969. No teatro,
escreveu peças, como “Calabar”, que foi
proibida. Escreveu
também romances e algumas das suas
obras foram adaptadas ao cinema.
TODAS as AVES de PASSAREDO, de CHICO BUARQUE
Texto de Zé Edu Camargo
Seleção de fotos de Antonio Nahud
Seleção de fotos de Antonio Nahud
http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/blog/brasil-das-aves/todas-as-aves-de-passaredo-de-chico-buarque/2014/05/16/
Uma
pequena descrição da origem de cada ave da letra. Este não é um trabalho
científico, mas sim um esforço de curioso. Imprecisões, portanto, são mais que
prováveis. E correções, dicas e opiniões, muito bem-vindas. Até porque os nomes
comuns, ou populares, são coisa mais fluida e escorregadia para pesquisadores
do que cocô de passarinho. Porque mudam daqui para ali, de um tempo para outro.
Também
é um nome genérico associado á família Hirundinidae, com mais de uma dezenas de
espécies que ocorrem no Brasil, como a andorinha-pequena-de-casa (Pygochelidon
cyanoleuca) e a andorinha-serradora (Stelgidopteryx ruficollis).
O
anu-preto (Crotophaga ani) ou anum é uma ave que pode ser vista com facilidade
em áreas abertas, plantações e brejos, da Flórida à Argentina. Muitas vezes
reúne-se em bandos numerosos.
A canção “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e
Humberto Teixeira, faz referência
a uma pomba, ou pombão (Patagioenas picazuro), muito comum em diversas partes
do Brasil. Mas asa-branca também é o nome comum de uma marreca (Dendrocygna
autumnalis) encontrada em todo o território nacional.
Vanellus
vanellus, espécie da família Charadriidae (a mesma família do nosso
quero-quero), também conhecida como abibe-comum. É típica do Hemisfério Norte.
Pitangus
sulphuratus. O bem-te-vi é inconfundível pelo canto, do qual deriva seu nome
(em outros países também tem o nome onomatopeico associado ao canto, como
kiskadee, em inglês). Ave onipresente nas cidades de todo o país.
Ameaçado,
o bicudo (Sporophila maximiliani) foi caçado à exaustão para servir de ave de
gaiola, graças ao seu canto melodioso. O desmatamento do cerrado e os
agrotóxicos também são ameaças á sobrevivência da espécie.
O
nome refere-se diretamente a duas aves da família Paridae comuns na Europa, o
chapim-azul e o chapim-real. No Brasil, o canário-da-terra-verdadeiro (Sicalis
flaveola) também é conhecido como canário-chapim ou canário-chapinha –
possivelmente é a ele que Chico se refere na letra.
Sporophila
caerulescens, coleiro ou coleirinho (nome comum mais conhecido), é um dos
papa-capins mais abundantes do Brasil, principalmente no Sul e Sudeste. Recebe
esse nome pela “coleira” branca na garganta.
Sinônimo
de beija-flor, nome de diversas espécies da família Trochilidae. São aves
encontradas apenas no continente americano.
Nome
que indica aves do Velho Mundo, da família Alaudidae (com apenas um
representante na América do Norte). A cotovia-comum (Alauda arvensis), a mais
conhecida delas, é considerada espécie nacional da Dinamarca.
Um
dos muitos nomes comuns da marreca irerê (Dendrocygna viduata), comum inclusive
nos lagos urbanos de muitas cidades brasileiras. Ocorre também em outros países
americanos e na África ocidental.
Nome
não muito comum para designar diversas espécies de bacuraus, ou curiangos. São
aves noturnas por excelência, encontradas em todo o Brasil. O termo
“engole-vento” pode derivar do hábito de apanhar insetos em voo, com a boca
aberta.
Nome
comum de várias aves da família Tinamidae, a maioria encontrada em ambientes
florestais. Duas delas deram origem ao nome da dupla sertaneja Chitãozinho e
Xororó: o inhambu-chintã (Crypturellus tataupa) e o inhambu-chororó
(Crypturellus parvirostris).
Nome
associado a quatro espécies de médio porte da família Columbidae (a mesma das
rolinhas). As mais comuns são a juriti-pupu (Leptotila verreauxi) e a
juriti-gemedeira (Leptotila rufaxilla).
Tinamus
solitarius, espécie florestal que povoa a Mata Atlântica. Sempre visada por
caçadores, também corre riscos em função do desmatamento.
Designação
em português para uma ave do velho continente, Turdus merula, do mesmo gênero
dos nossos sabiás (toda preta, lembra muito o sabiá-una da Mata Atlântica). No
Brasil também é nome popular de diversas espécies, de modo especial a graúna
(Gnorimopsar chopi).
Passer
domesticus, ave introduzida no Brasil, ocupa hoje quase todo o território
nacional. Também se espalhou por todo o mundo, graças ao grande poder de
adaptação. É muito comum em ambientes urbanos.
Sporophila
plumbea, espécie da família Thraupidae de vasta distribuição no Brasil e
América do Sul. Conhecida pelo canto melodioso, é capaz de imitar outras aves.
Uma de suas subespécies não ocorre no país (é restrita ao norte da Colômbia).
Martim-pescador,
nome que indica cinco espécies da família Alcedinidae no Brasil. Encontradas
sempre à beira-d’água, alimentam-se de peixes, crustáceos e insetos. O nome
deriva da estratégia de caça dessas aves.
Sporagra
magellanica. Ave comum em quintais e matas secundárias no sul e sudeste do
Brasil. Tem o corpo amarelo e a cabeça preta. Não confundir com o pintassilgo-europeu
(Carduelis carduelis), espécie introduzida nas Américas.
Nome
comum em português de várias aves da família Fringillidae, nenhuma delas com
ocorrência no Brasil. É possível que, por associação, em algumas regiões
brasileiras seja usado esse nome para designar uma ave local.
Chico
Buarque é um conhecido apaixonado pelo futebol. E já deve ter fugido de muito
quero-quero (Vanellus chilensis) nos campos do Brasil onde bate suas peladas: a
ave gosta de fazer o ninho em gramados ou áreas abertas de vegetação baixa.
Nome
usado para designar diversas espécies da família Columbidae (a mesma das pombas
e juritis), geralmente as de menor porte. Talvez a mais conhecida seja a
rolinha-roxa, ou caldo-de-feijão (Columbina tapalcoti), encontrada em ambientes
urbanos de todo o Brasil.
Ave
do Velho Mundo de canto melodioso, por associação emprestou o nome a uma
espécie amazônica, o rouxinol-do-rio-negro (Icterus chrysocephalus). Em algumas
regiões do Nordeste a corruíra (Troglodytes musculus) também é chamada de
rouxinol.
Indica
diversas aves do gênero Thraupidae, algumas muito ameaçadas, como a rara e bela
saíra-apunhalada (Nemosia rourei), hoje restrita a uma pequena área do Espírito
Santo.
O nome sanhaçu (ou sanhaço)
é usado para designar diversas espécies das famílias Thraupidae e Cardinalidae.
Um dos mais conhecidos é o sanhaçu-cinzento, comum no Sul, Sudeste e Nordeste.
Um
dos muitos nomes populares do saci (Tapera naevia), também conhecida como matita-perê,
matinta-pereira e outros inúmeros nomes. Deu nome a um dos mais belos discos de
Tom Jobim (e é citada na letra de “Águas
de Março”, além de dar nome a uma das músicas do álbum).
Comum
em todo o Brasil, só não é encontrado em áreas densamente florestadas da
Amazônia. O tico-tico (Zonotrichia capensis) também pode se visto em países da
América Latina – há mais de duas dezenas de subespécies. Espécie muito comum
mesmo em ambientes urbanos.
Espécie
endêmica do Brasil, Ramphocelus bresilius, chega a ser comum em trechos da Mata
Atlântica litorânea. O macho tem uma coloração vermelha intensa, que dá nome à
espécie. A plumagem da fêmea é mais discreta. Tiê-fogo é outro nome comum do tiê-sangue.
Uma
designação comum para aves do gênero Turdus, a mesma dos sabiás. O tordo-comum
é uma ave europeia. No entanto, diversas espécies desse gênero ocorrem no
Brasil, como o sabiá-laranjeira.
Provavelmente
refere-se ao Trigueirão (Emberiza calandra), espécie com distribuição na
Europa, norte da África e Europa.
Menor
representante da família Psittacidae (dos periquitos e papagaios) no país, o
tuim (Forpus xanthopterygius) é muito comum em boa parte do Brasil. Existem
cinco subespécies conhecidas.
Lurocalis
semitorquatus, ave noturna da mesma família dos bacuraus, a Caprimulgidae.
Ocorre do México até a Argentina.
Nome
comum de diversas aves por todo o Brasil, muitas delas entre as mais bonitas da
nossa avifauna, como o uirapuru-laranja. No entanto, o uirapuru-verdadeiro
(Cyphorhinus arada) parece ter inspirado a maioria das lendas em torno desse
nome. Ave amazônica, tem um canto belo e característico.
É o mesmo quiriquiri, um rapinante de pequeno porte comum em boa parte do Brasil.
Provavelmente
faz referência à viuvinha (Colonia colonus), um tiranídeo comum de áreas
abertas em boa parte do Brasil. É inconfundível, pelas penas longas da cauda e
pela mancha branca no alto da cabeça. Mas também pode indicar a saíra-viúva
(Pipraeidea melanonota).
10 comentários:
Lindo
Beleza natural
Linda homenagem para teu pai , Antônio
Lindas fotos !
Belíssimas fotos! !
Lindo
Queria ter conhecido seu pai. Também adoro.
Belíssimo!
Ah os pássaros! Admiro de paixão esses serzinhos multicores que aparentam uma fragilidade, mas que são ágeis e fortes plainando no infinito. Nos permitindo conhecer o sabor da liberdade e sua importância tanto para eles como para nós seres humanos. Seu canto ecoa em meus ouvidos como uma sinfonia. As aves são símbolo de delicadeza, liberdade e grandeza Divina!
Belo post.
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