setembro 30, 2022

..................................................................... Um SENTIDO para a VIDA

dorian gray caldas e antonio nahud

 

Existe um quadro de Vermeer, datado de 1657-59 e que se encontra na Pinakothek de Dresden, intitulado “Moça Lendo uma Carta”. O quadro retrata um momento de profunda intimidade, no qual uma jovem, no interior de um quarto, lê uma carta. A partir de um conjunto de toques microscópicos, quase granulares, o pintor desvela a alma da moça. Ele não coloca sua protagonista em primeiro plano, nem se aproxima em demasia do seu rosto. Lançado a luz entre a cortina e a parede, Vermeer nos oferece a privacidade do quarto, para com delicadeza, revelar o que há de mais profundo e intenso no espírito daquela jovem.
 
Quando eu li o livro “Um Sentido para a Vida – Uma Biografia de Diogenes da Cunha Lima” (Editora Lidador, 2004), de autoria do escritor baiano Antonio Nahud, imediatamente me lembrei desse quadro de Vermeer. Uma biografia nunca é fácil. O autor sempre se encontra diante de dilemas terríveis quando chama para si a tarefa de retratar em palavras a abrangência de uma vida. Um dos principais riscos de uma biografia se situa no fato de que, às vezes, a força da personalidade do biografado consegue sugar o autor do texto, dominá-lo, lançá-lo de modo despudorado nos labirintos de sua própria complexidade. 

A grande virtude do texto de Antonio Nahud está em escapar dessa armadilha. O Poeta Diogenes da Cunha Lima é um personagem forte, polêmico, intenso. Sua vida retrata essa intensidade, típica daqueles que pautam os seus dias pelo calor das paixões e pela beleza da poesia. Seria muito difícil retratar essa intensidade tentando explicar a pessoa do poeta, tentando decifrá-lo, construir um discurso que buscasse desnudar os seus mistérios interiores e traçar a geometria das suas paixões. Antonio Nahud conseguiu, como Vermeer, trabalhar com grande domínio técnico a luz que deixaria à mostra a vida de Diogenes. Sem se amarrar excessivamente ao mundo interior, ao profundo da psicologia do poeta, direcionou a luz do seu texto para os arredores, para as circunstâncias da vida desse filho de Nova Cruz, no RN, que, desde cedo, apresentava a mais ambígua aflição que enraíza o homem a sua terra e que, ao mesmo tempo o lança, como uma antena, na aventura de captar a grandiosidade do mundo.


O livro de Antonio Nahud nos guia pelo mundo de Diogenes, pelos seus arredores e suas paisagens, físicas e afetivas, naturais e humanas. Ele aponta, com sua luz poderosa e delicada, para o universo do poeta e, apresentando esse universo, nos oferece, de modo inusitado e surpreendente o que há de mais profundo na intimidade desse homem apaixonado por Neruda e Saint-Exupéry. Fascinante perceber a lição de Vermeer transporta para o campo da literatura (sim, porque uma biografia não pode ser uma tese, uma biografia deve, sempre, ser uma peça de labuta poética, uma construção, uma criação literária). Deve oferecer a sutileza de um olhar que, direcionando-se as circunstancias que constituem o humano, deixa vazar o que há de mais privado, mais pessoal, mais velado e misterioso na alma de um homem.
 
Existem vidas tão complexas que não se deixam ver de perto. É preciso dar dois passos atrás para perceber a marca que deixam no cenário de sua narrativa. Elas se expandem, redimensionam os seus próprios arredores e ajudam a modelar o mundo em que se encontram. A vida do Poeta Diogenes deixa essa lição e o texto do poeta Nahud nos oferece o aprendizado de que fazer uma biografia é como olhar o mar:  captar o mais profundo na mais ampla superfície e no mais inusitado lugar.

PABLO CAPISTRANO
Escritor e Professor de Filosofia
Publicado na “Tribuna do Norte”, 16 de março de 2004

 
Em 2004, no dia 4 de março, foi lançado na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras (ANRL) “Um Sentido para a Vida – Uma Biografia de Diogenes da Cunha Lima”, de minha autoria. Com 220 páginas, o livro tem prefácio de Sanderson Negreiros e retrata a infância, carreira profissional, cargos públicos, obras literárias, viagens, casamentos e filhos, casos curiosos e polêmicos do Poeta do Baobá.
 
Confira as fotos do evento e matérias de jornais.















11 comentários:

Herci Bonini Bragança disse...


Parabéns Antonio Nahud

Ricardo Rezende disse...


muito bom patriota

Cleusa Verssuti disse...


Parabéns

Lourdinha Teles disse...


Parabéns!Como sempre,sábio e lindo!

Eva Gomes disse...


Parabéns

Leda Luiza Bottega Fenzke disse...


Parabéns ! Antônio Nahud

Ana Matilde Davo disse...


Mil parabéns Antonio Nahud ....você é merecedor de todas as homenagens e elogios......

Marly Leal disse...


Parabéns Antonio Nahud

Teresa Garcia Gonçalves disse...


Parabéns!!!

Mary Ferreira disse...


Parabéns, você merece todas as honrarias.

Josue Reis Dantas disse...


Parabéns guerreiro